TRINCAS EM EDIFICAÇÃO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10210301


Julia Santana


1. INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas os imperativos da qualidade e os direitos do consumidor foram mudanças que projetaram na construção civil, a necessidade de obter conhecimentos técnicos e científicos sobre o surgimento de patologias, a realização de estudos com ensaios com instrumentos eficientes tem favorecido aos engenheiros uma noção de como evitar as patologias e assegurar o aumento da vida útil da obra (ZANZARINI, 2016).

No Brasil, especialmente nas grandes cidades, a carência de cultura da manutenção predial e a existência de diversos tipos de patologias tem determinado um grande impacto sobre a estética e a qualidade das obras, de modo que o setor de construção civil, a partir da década de 90 passou por mudanças com a implementação de programas de qualidade, representando a necessidade de padrões por meio normatizações de produtos fabricados nos canteiros de obras (CAPORRINO, 2018)

Atualmente tem-se registrado a redução de acidentes com edificações causadas por falhas na fundação e no projeto, na medida em quer novos materiais foram surgindo, trazendo inovação ao mesmo tempo impondo a necessidade deum trabalho baseado em especificações de uso do produto a fim de obter um trabalho adequado, obedecendo os princípios de riscos de surgimento de patologias (GOMIDE ET AL, 2016).

A fabricação de estruturas de concreto, as condições ambientais e a mistura dos aglomerados na formação do cimento, tem gerado problemas, o que se denominam de patologias do concreto armado decorrente de vários fatores que produzem resultados complexos que exigem ao longo do tempo recuperação e tratamento adequado para evitar a reincidência das patologias (MACHADO, 2017)

O estudo trata de identificar aspectos referentes ao diagnóstico, prognóstico e recuperação de trincas, patologia comum em obras de alvenaria que determinam aberturas de 0,5 a 1,5 mm, resultantes de esforços de compressão, retração do concreto e sobrecarga acima do limite tolerado, consequente da falta de cálculo estrutural. As trincas, como manifestação patológica em relação à fundação da obra pode ser causada por recalque diferencial entre pilares e pela falha ao examinar o terreno da obra e sua inclinação (CAPPORINO, 2015).

Ao mesmo tempo, analisa a importância do papel dos profissionais de perícia e vistoria em construção, a fim de investigar as falhas existentes no empreendimento, assim como a natureza das avarias e suas condições de recuperação, bem como os ricos estruturais que possa causar desabamento. Os profissionais peritos em engenharia devem ser habilitados para reconhecer e apontar a causa dos problemas a partir da emissão de um laudo técnico (FIKER, 2011).

De modo que o estudo traz uma análise das causas, buscando as evidências de como evitar o surgimento da trinca horizontal, vertical e diagonal, a partir de um estudo bibliográfico e exploratório a fim de responder às hipóteses do estudo.

Assim, o objetivo geral do estudo é identificar as técnicas de evitar o surgimento de trincas nas estruturas de concreto, alvenarias e fundações. Como objetivo específicos, procura apontar as causas do surgimento de manifestações patológicas de trincas em concreto armado, alvenarias e fundações; reconhecer os tipos de trincas em concreto, alvenaria e fundações de edificações, determinar como evitar as trintas a partir dos conhecimentos de técnicas de ensaio e da especificação de produtos e apontar as técnicas e o uso de materiais;

O problema a ser investigado é: Quais as técnicas construtivas e materiais necessários para evitar o surgimento de trincas horizontais, verticais e diagonais?

O surgimento de trincas um é dos grandes problemas referentes ao surgimento de patologia enfrentados na construção civil decorrente de falhas humanas, reconhecendo-se que na construção civil existe carência de qualificação na mão de obra, carência de controle de regras de especificações de produtos, análise de solos durante a fase do projeto, a fim de detectar problemas como compactação do solo, considerando-se os riscos do surgimento de patologias nas fundações, nas alvenarias durante o processo de colocação de janelas, nos pisos, nos tetos, nas vigas e lajes de concreto (ZUCHETTI, 2015).

Nas diretrizes de recuperação da obra é importante identificar se a trinca conseguiu atingir a parte estrutural, ou seja, avaliar o grau de gravidade nos pilares, lajes e vigas comprometendo totalmente a estabilidade da obra De modo que o estudo é relevante para demonstrar as técnicas construtivas e materiais necessários para evitar o surgimento de trincas horizontais, verticais e diagonais que causam problemas na estética e na estabilidade da obra.

Conforme Zuchetti (2015) as trincas são patologias comuns tanto em vários tipos de construções causando prejuízo e necessidade imediata de avaliação diagnóstica para detectar a ponto nevrálgico do problema.

A Patologia das Estruturas é um novo campo da Engenharia das Construções que se ocupa do estudo das origens, formas de manifestação, consequências e mecanismos de ocorrência das falhas e dos sistemas de degradação das estruturas.

As construtoras atuais que realizam o gerenciamento de qualidade a diagnose de riscos buscam as devidas medidas preventivas para evitar qualquer tipo de patologia no processo de produção. Os projetos de construção que especificam claramente as diretrizes gerenciais da produção evitam futuros transtornos através de técnicas de aplicação de inibidores de corrosão na fase de construção da estrutura.

Ao realizar um empreendimento, o gerenciamento da qualidade é fundamental para a definição das características e qualidade do concreto, do uso de aditivos para a durabilidade do concreto, a agressividade do meio ambiente para evitar as trincas e fissuras nas paredes, averiguar as condições de impermeabilidade da construção, a questão das eflorescências e as patologias das fachadas revestidas de cerâmica e granito.

Os principais efeitos das trincas em estruturas de concreto podem ser também causados pelos defeitos originados no próprio processo construtivo (erro de projeto ou de execução) ou adquiridos ao longo do tempo causados por desgastes naturais, utilização, manutenção ineficiente e agressões ambientais.

O surgimento de uma patologia como a fissura em armaduras de concreto produz grandes problemas de desempenho em relação aos parâmetros adequados para realização da obra. Em termos de tipos de patologias, as fissuras podem ocorrer em alvenaria interna e externa e outras ocorrências que podem ter diversas causas diversas e poderão acontecer também no concreto armado, em fundações e em estruturas estéticas como fachadas com revestimento cerâmico.

A razão de focar no surgimento das trincas em armações de concreto, é um recorte da abrangência do problema patológico que se apresenta em diversas situações concretas diferenciadas que podem ocorrer em grandes dimensões em concretos que incluem a necessidade de exatidão em teores de materiais e revestimentos internos e externos.

Nessa conjuntura, é muito relevante conhecer as causas e relacionar o problema aos aspectos técnicos que podem favorecer um entendimento sobre o fenômeno que exige um quadro referencial efetivo de conhecimentos de como evitar e associar as falhas aos resultados que devem ser reavaliados, a partir de uma sistemática que possa conduzir à melhoria dos processos.

A metodologia da pesquisa orientou-se pelo estudo bibliográfico e exploratório com base nas contribuições teóricas de vários autores que realizaram artigos, dissertações e teses sobre os princípios da patologia nas fundações na área de Construção Civil abrangendo todas as atividades de produção de obras que apresentam patologias, notadamente, sobre trincas em edificações e formas de evitá-las. A pesquisa tem caráter exploratório se constitui na busca de maiores informações sobre o assunto com a finalidade formular problemas e hipóteses. O estudo tem base descritiva das características apresentadas pelos vários autores, bem como o estabelecimento de relações entre variáveis e fatos para determinar os fatores que geram as patologias nas fundações.

2. REFERENCIAL TEÓRICO

O referencial teórico apresentado nesse estudo é fruto de pesquisa bibliográfica com autores renomados sobre o tema, favorecendo os conhecimentos técnicos e científicos sobre como evitar as trincas como manifestação patológica.

2.1. CONCEITO DE PATOLOGIA

As patologias são manifestações conhecidas desde tempos remotos e se tornaram um grande problema a ser evitado, exigindo conhecimentos de técnicas específicas para cada tipo de patologia que pode ocorrer em qualquer fase da obra, do projeto à execução que podem gerar problemas estéticos e estruturais reduzindo o tempo útil da construção e produzindo custos de recuperação.

Segundo Sales et al (2013) as patologias representam um fenômeno complexo que exige um tratamento baseado em diagnóstico, que surge em consequência de erros e falhas em diferentes etapas das obras, desde o projeto à execução, e também a carência de manutenção predial.

As patologias surgem de multifatores nas edificações, colocando em risco as estruturas de alvenaria. Zuchetti (2016) avalia que as patologias são inúmeras e cada uma possui uma causa específica, ocorrendo em edificações residenciais, comerciais e industriais, sendo as mais comuns as trincas, fissuras, rachaduras, infiltrações, vazamentos, esfarelamento do concreto, bolores, eflorescências, carbonatação, corrosão, etc.

De modo que as patologias se manifestam em vários tipos de edificações causado custos e prejuízos adicionais que poderiam ser evitados com as técnicas construtivas adequadas e as medidas de prevenção para evitar o surgimento antes do projeto. Helene e Aragão (2017) consideram que as patologias na construção se tornaram um dos principais temas da engenharia que busca identificar o nexo causal e os mecanismos de prevenção, as origens dos problemas para determinar medidas preventivas.

Caporrino (2018) analisa que a Engenharia das Construções evoluiu nesse campo de análise sobre as formas de manifestação e as relações causais a partir da mistura de elementos de propriedade diferentes e que exigem cálculo de tensões nas estruturas principais a fim de evitar a ocorrências de falhas humanas nos processos que justificam a origem das patologias.

Caporrino (2015) analisa que as causas das patologias estão diretamente relacionadas às falhas técnicas de construção que exigem o reconhecimento do tipo de patologia por meio do diagnóstico, o que representa conhecer as causas, origens e mecanismos de evolução, medidas prognósticas e intervenção.

Conforme Militisky, Consoli e Schanaid (2015) as patologias surgem de uma grande diversidade de fatores que se conjugam ou ocorrem isoladamente que decorre de falhas construtivas, especificação de materiais inadequados, erros e falhas no detalhamento do projeto, carência de padronização e erros pela falta de cálculo de dimensões e de cargas e trações.

Helene e Aragão (2017) analisam que as patologias de execução podem ser causadas por falhas d do projeto, de modo que existe uma interdependência entre seus fatores, em projetos bem elaborados e sem falhas geralmente se reduzem drasticamente erros na fase de execução.

2.2. A PERÍCIA E A VISTORIA

Com os estudos referentes às patologias na construção, recorreu-se também à utilização e técnicas de Perícia, com a finalidade de determinar em um laudo técnico as ocorrências der patologias em imóveis para venda, locação e recuperação de edificações comerciais e residenciais (CAPPORINO, 2015).

De acordo com a Associação Brasileira de Normas Técnicas – ABNT por meio da Norma NBR 13752/96, foram determinadas as orientações para os peritos em construção civil, cujo foco é apurar as causalidades que determinaram o surgimento de patologias, bem como suas distinções e a asserção de direitos. De modo que a avaliação das patologias deve ser realizada por um profissional que tenha habilitação para periciar (MARQUES, 2015).

A perícia em construção exige a análise de técnicas construtivas por meio de ações empíricas (ensaios) e avaliações científicas com a finalidade de reconhecer devidamente a patologia e a causa. De modo que normativa NBR-13.752/96 determina o processo de apuração das causas das falhas construtivas, classificando a perícia de engenharia na construção civil em quatro etapas: o arbitramento, a avaliação, o exame e a vistoria técnica. Em cada fase se executa uma medida referente à responsabilidade de atribuir as patologias existentes (FIKER, 2011).

No arbitramento, os profissionais tomam decisões acerca de medidas técnicas que apresentam controvérsias e de natureza subjetiva, no processo de avaliação se apresentam indicações de valor monetário do empreendimento e no caso da existência de patologia, o valor de depreciação. Na fase de exame realiza-se a análise dos fatos buscando a causa, a existência de patologias implica na sua diferenciação (trinca, fissura, rachadura) e de sua forma (vertical, horizontal, diagonal), bem como a gravidade da patologia para a estrutura do empreendimento. A vistoria técnica exige uma descrição minuciosa dos fatos e dos elementos que formaram a situação do empreendimento (GOMIDE et al, 2016)

2.3. PATOLOGIAS ORIGINADAS DE FALHAS NO PROJETO

O projeto é um documento importante que na construção civil expressa o plano detalhado de uma estrutura que tem como fator essencial a segurança contra as intempéries e as rupturas provocadas pelas pressões que tendem a deformar a estrutura de construção. Para evitar essas condições de riscos e de iminência do surgimento de patologias como trincas, fissuras e rachaduras é relevante determinar as medições corretas nas junções de vigas e lajes durante a execução, com vistas à durabilidade e segurança da estrutura de alvenaria do empreendimento (MARQUES, 2015).

Gomide et al. (2016) avalia que se define como um instrumento de trabalho que envolve uma atividade integrante do processo de construção, portanto, é imbuído de desenvolver, organizar, registrar e assegurar que as propriedades físicas e tecnológicas sejam realizadas de forma correta dentro das especificações técnicas e os domínios científicos necessários para uma obra na etapa de execução. De modo que as falhas decorrentes desta etapa comprometem a atuação geral da obra no futuro.

As patologias que decorrem de falhas no Projeto a partir de seu detalhamento ocorrem logo na fase de início, a partir da carência de avaliação detalhada do terreno, grande parte dos problemas patologias decorrem do surgimento de fissuras, trincas e rachaduras causados pelo terreno da obra.

Capporino (2015) avalia que a fragmentação do trabalho e a carência de comunicação podem gerar desafios durante os processos construtivos e falhas que podem determinar o surgimento de problemas futuros na obra, com o surgimento de patologias.

Figura 1: Principais falhas no desempenho das edificações

Fonte: Silva e Jonov (2011)

Acima demonstra-se que a falha de projeto representa cerca de 18% do total de falhas no desempenho da obra, sendo o maior índice na fase de execução com 51%, devido à falta de qualificação dos profissionais; falhas de utilização perfazem 13%, uso inadequado de materiais 7%, falhas de manutenção 3% fortuitos 6% e outros 2%.

De acordo com Gomide (2016) as falhas mais evidentes na fase do projeto que podem colocar em questão o desempenho do empreendimento se constitui de falhas no detalhamento do projeto, erros no processo de dimensionamento, desconsiderar os efeitos térmicos, falta de compatibilidade entre os projetos, prever incorretamente as cargas; especificar de forma errada o traço específico do concreto, não avaliação das especificações do produto e as propriedades em relação ao meio ambiente e suas mudanças.

Nesse sentido, Helene e Aragão (2017, p. 98) consideram que

As estruturas de concreto são submetidas a diversas ações do tempo, as reações químicas entre os vários elementos podem desencadear mudanças nas propriedades dos elementos, produzindo as condições para o surgimento de patologias em ações produzidas pelos elementos da natureza, como o vento, a terra e a água, estas difusas e atuantes em várias direções.

De modo que todas essas condições devem ser apresentadas corretamente na etapa do projeto de forma a ampliar os conhecimentos necessários para a realização da obra.

2.4. PATOLOGIAS ORIGINADAS DE FALHAS E ERROS NA EXECUÇÃO DA OBRA

As falhas de execução compreendem um dos problemas mais sérios e envolve cerca de 51% do total de riscos dos empreendimentos, esse tipo de erro pode ser falta de interpretação em relação ao projeto e carência de mão de obra com qualificação, portanto, geralmente não existem experiências e conhecimentos necessários para o desenvolvimento da obra de forma a favorecer o desempenho excelente (SILVA E JONOV, 2011).

Nessa conjuntura, a etapa de execução da obra, pode apresentar diferentes tipos de erros e falhas decorrentes de desconhecimentos de como executar determinados detalhes que podem trazer prejuízos futuros e se não existem as condições ideais para a realização do trabalho (FIKER, 2011).

De modo que as falhas e erros não percebidos há tempo de favorecer a correção, podem colocar em risco a estética e a estrutura da obra, criando muitos prejuízos e problemas. De acordo com Fiker (2011) as falhas tem sido caracterizadas como: carência de controle de tecnologias, utilização e manuseio do concreto sem reparar as especificações do produto, uso irregular de formas, mal posicionamento das armaduras, carência de espaçadores para assegurar um cobrimento perfeito das armaduras; permitir durante o trabalho que o concreto se espalhe para além do espaço determinado, falta de conhecimento sobre o processo de cura, carência de controle no momento de elaboração do traço do concreto, falta de monitoramento do trabalho por um profissional competente.

2.5. PATOLOGIAS DECORRENTES DE FALHAS NA ETAPA DE USO DA EDIFICAÇÃO

Denominam-se Fundações as partes da obra que são estruturais e portanto, representam a parte mais importante, pois asseguram a segurança do empreendimento, evitando o desmoronamento. De modo que se trata de elementos que sustentam as cargas da obra e se encontram firmadas no solo (MARQUES, 2015).

Na construção civil há duas classificações para as fundações e a partir dessa classificação se avalia o peso da carga e em relação à tipologia do solo. As fundações com pouca rasura possuem uma perfuração de cerca de 2,5 m, para sustentar cargas mais leves, já as fundações que possuem maior profundidade no solo e se destinam às obras de maior peso e exigem uma estrutura resistente (GOMIDE ET AL, 2016).

As patologias mais comuns que surgem das fundações se constituem de rachaduras, fissuras, fendas e trincas.

Figura 2 : Patologias mais comuns decorrentes de falhas de fundações

Fonte: Desimone (2010)

Capporiuno (2018) relata que os construtores devem ter certos cuidados que os profissionais da construção devem observar durante a execução do projeto de fundações para evitar patologias, na medida em que há elementos fundamentais para a elaboração do projeto de fundações, como a observância dos aspectos topográficos, a obtenção de fontes de dados sobre geologia do solo e os aspectos geotécnicos. As informações colhidas devem ser estudadas de modo a análise do terreno determine os riscos durante a execução da obra e a necessidade de aplicar medidas alternativas para proteção da edificação.

Para evitar falhas e erros é fundamental que a observação e análise do ambiente seja realizado pelos profissionais envolvidos nas etapas do projeto e na execução, a fim de serem determinados os níveis deslocamentos tolerados em termos de segurança, de acordo com as cargas necessárias para a sustentação da estrutura da obra (CAPPORINO, 2015).

2.6. A QUESTÃO DOS RECALQUES DAS FUNDAÇÕES

Nas estruturas de edificações, os construtores demonstram grande preocupação com os recalques, visto que esses problemas podem resultar em patologias. Os efeitos negativos são categorizados em três situações distintas. Primeiramente, podem surgir danos estruturais que comprometem a obra, derivados de recalques em pilares, vigas e lajes, além de infiltrações que, conforme o estado de manutenção, podem representar riscos à estrutura da construção (GOMIDE, 2016).

Outra situação se refere aos danos de ordem arquitetônica, impactando a estética da edificação, incluindo o aparecimento de patologias como trincas em janelas, lajes, tetos e paredes de acabamento, bem como fissuras em paredes, lajes e vigas, reduzindo o valor monetário do ambiente construído (FIKER, 2011).

Finker (2011) discute a situação que causa danos funcionais, abrangendo problemas sanitários, questões relacionadas ao esgoto e outros problemas que acarretam prejuízos aos usuários. Todos esses danos têm origem nos recalques, decorrentes de problemas no solo, como rebaixamento por conta da proximidade de rios ou lençóis freáticos. Quando há compressão excessiva no solo, pode indicar pressões geostáticas subterrâneas, representando um risco à estrutura da construção.

Assim, solos com alta porosidade quando em contato com a água perdem gradativamente sua firmeza, sofrendo erosão e favorecendo o colapso do solo, tornando a estrutura da obra vulnerável a desmoronamentos.

Figura 3 : Resultado de recalque Diferencial nas estruturas de uma edificação

Fonte: Caczan (2017)

Na figura acima, é apresentado o conceito de recalque diferencial ou assentamento, referente a um rebaixamento no solo que resulta em um desnível, causando uma variação no nível da estrutura construída. Esse desnível pode levar a uma pressão estrutural, potencialmente levando ao colapso da estrutura.

Quando ocorrem recalques diferenciais, a obra frequentemente perde grande parte do seu valor estrutural e econômico, manifestando rachaduras, trincas e fissuras extremas.

Na fase pós-ocupação, a estrutura continua a enfrentar pressões ambientais significativas. Esses recalques diferenciais são causadores de patologias, como trincas, fissuras e rachaduras (GOMIDE et al, 2016).

Gomide et al (2016) enfatiza que essas patologias impactam severamente a estrutura da construção, resultando de falhas na etapa de construção, como falta de manutenção preventiva e preditiva, sobrecargas não consideradas durante o projeto inicial. O autor observa que tais situações danificam a estrutura da construção devido a solos instáveis e à presença de condições ambientais que propiciam a carbonatação e a corrosão das armaduras de concreto por agentes químicos agressivos.

Os recalques, portanto, propiciam o surgimento de sintomas comuns de diversas patologias que afetam a estrutura da construção na fase pós-ocupação. Essas patologias comprometem a estética do empreendimento e incluem manchas, mofo, fissuras, trincas e rachaduras nas estruturas e alvenarias (CHE YEE, 2016). O recalque diferencial pode resultar em ruptura do concreto, esfarelamento e desagregação, expondo as armaduras aos efeitos da carbonatação.

2.7. A PATOLOGIA TRINCA E SEUS FATORES E MANIFESTAÇÕES

As fissuras são problemas comuns encontrados em diversas estruturas de construção, manifestando-se em alvenarias, fundações e estruturas de concreto, como lajes, vigas, pilares e revestimentos externos. O surgimento dessas fissuras está associado a várias causas, afetando a qualidade e a estética do empreendimento. Elas representam um desafio significativo para a construção civil em edifícios, residências e outras construções, mesmo com os avanços tecnológicos e de qualidade dos materiais, destacando-se a necessidade de mão de obra qualificada (MARQUES, 2015).

Os mecanismos que provocam a ocorrência de fissuras decorrem de falhas construtivas (falhas técnicas) resultantes de negligência ou falta de conhecimento, erros no projeto estrutural, cálculos inadequados de cargas e pressões, ou desconhecimento dos limites técnicos, uso inadequado de materiais na construção civil ou execução deficiente do projeto (CAPPORINO, 2018).

A presença de fissuras em estruturas de concreto acarreta sérios problemas de desempenho, desviando-se dos padrões adequados de construção. Elas podem ocorrer em vários locais, como em alvenaria interna e externa, concreto armado, fundações e estruturas estéticas, como fachadas com revestimento cerâmico, afetando tanto a parte externa quanto interna das edificações (CAPPORINO, 2015).

As fissuras, geralmente com abertura entre 0,5 a 1,5 mm, são originadas de esforços mecânicos, podendo levar ao aparecimento de outras patologias, como eflorescências e descolamento de placas cerâmicas, devido à ação de infiltrações em ambientes de alvenaria e estrutura de concreto (GOMIDE ET AL, 2016).

Conforme evidenciado na figura abaixo, as fissuras podem decorrer de diversas falhas, manifestando-se em diferentes locais e direções de forma aleatória:

Figura 4 : As trincas como Patologia em estruturas de concreto e de fundação

Fonte: Vetor Engenharia (2017).

A aplicação de placas de revestimento cerâmico em fachadas demanda técnicas precisas e conhecimentos específicos para prevenir problemas patológicos, como deslocamentos, surgimento de fissuras, rachaduras e trincas, especialmente diante de condições de umidade e variações de temperatura que possam afetar a dilatação ou retração da superfície do revestimento.

As trincas resultam de uma variedade de processos que exigem compreensão detalhada, bem como o domínio das técnicas adequadas para evitar falhas e erros, evitando o uso inadequado por profissionais e a falta de prática na determinação do padrão correto de aplicação, que posteriormente podem demandar reparos, nem sempre eficazes na recuperação da estrutura (GOMIDE ET AL, 2016).

O aparecimento de trincas em edifícios demanda uma investigação minuciosa de suas causas mais comuns, especialmente aquelas relacionadas à umidade do solo, que pode resultar em corrosão em estruturas de concreto armado, ou falhas na avaliação das tensões em regiões de suporte, entre outros fatores.

As trincas em concreto armado são frequentes tanto em construções recentes quanto em estruturas antigas, sendo mais críticas quando não há manutenção adequada.

A natureza patológica das fissuras apresenta diversas causas recorrentes em alvenaria, revestimento cerâmico e estruturas de concreto armado, tornando essencial a execução cuidadosa da junção de elementos que compõem a argamassa e o processo de vedação (ZUCHETTI, 2016).

A classificação das trincas é um critério fundamental para entender suas causas, consequências e para investigar a estabilidade dos elementos antes de proceder a intervenções. A classificação conforme a atividade tem relevância ao determinar a abordagem mais adequada para a recuperação, uma vez que a ação de abertura e fechamento das trincas depende da escolha correta do sistema (MACHADO, 2017)

Essas fissuras podem ser classificadas como transversais, horizontais, verticais e diagonais. As trincas transversais são resultado de deformação transversal, muitas vezes devido a erros na manipulação da argamassa ou a forças de tensão/compressão ou de flexão na alvenaria. Já as trincas horizontais decorrem de sobrecargas concentradas em uma região específica, gerando essa patologia (CAPORRINO, 2018).

Tabela 1: Análise das causas de trincas em edificações.

SITUAÇÃOCAUSAS DO SURGIMENTO DE TRINCAS
Fase de projetoCausas: Carência de detalhes, erros de dimensionamento, desconhecimento do efeito térmico, previsão incorreta dos carregamentos e tensões, especificação errada do traço do concreto, agressividade ambiental.
Paredes de AlvenariaCausas: recalque de fundação, sobrecarga de carregamento de compressão, variação térmica, retração, movimentação hidroscópica, reações químicas.
Recalque de FundaçõesRecalque diferencial de fundação com maior amplitude nas extremidades, deformações de balanços. Recalque de fundações por falha na homogeneidade do solo. Trincas causadas por expansão vertical, expansão de argamassa de assentamento. Trincas: recalque diferencial, flexão de elementos estruturais por retração ou variação térmica.
Materiais de construçãoCausas: reações químicas, hidratação retardada de cales e ataque de sulfetos.
Trincas em portas e janelas de esquadriasCausas: dimensões do painel de alvenaria, dimensões da abertura, posicionamento da abertura no painel, rigidez de vegas e contravegas, concentrações de tensões nos vértices das aberturas das portas e janelas, ações térmicas, retração ou ainda relacionadas a sobrecarga de estruturas.
Trincas em lajes e alvenariasCausas: variação térmica diária, umidade, problema de dosagem da argamassa, excesso de cimento, deficiência de sal, movimentação higroscópica, impermeabilização malfeita.

Fonte: Zanzarini (2016)

Os dados apresentados na Tabela 1 indicam que trincas podem se manifestar de diversas formas: aberturas nas paredes, formato horizontal próximo ao teto, tanto no teto quanto no piso, inclinadas na parede de alvenaria, verticais em vigas, pilares, lajes e estacas de fundação. Referente aos problemas na dosagem dos componentes, os três artigos destacam a necessidade de cuidados e conhecimentos adequados durante a execução dos procedimentos de junção de materiais (ZANZARINI, 2016).

Os resultados evidenciam que as manifestações patológicas causadoras de trincas representam uma gama de falhas, erros e desequilíbrios entre os materiais construtivos e outros componentes presentes na argamassa, bem como a importância de equilibrar as tensões nos suportes.

É notável que o projeto desempenha um papel crucial na qualidade dos processos, pois contribui no planejamento e na formulação de soluções para evitar problemas futuros que possam comprometer a obra. Esta etapa na construção representa a oportunidade de manter as diretrizes de conformidade, evitando erros e falhas (MACHADO, 2017).

Como evidenciado na Tabela 1, na fase do projeto podem surgir problemas como falta de detalhes, erros de dimensionamento, desconhecimento do efeito térmico, previsão incorreta de carregamentos e tensões, especificação inadequada do traço do concreto, e agressividade ambiental. Essas questões resultam no aparecimento de fissuras de diferentes espessuras e complexidades de recuperação.

As trincas em paredes de alvenaria surgem de fenômenos que podem impactar a estrutura, advindas de falhas técnicas que afetam o desempenho da obra tanto internamente quanto nas fachadas. Elas podem surgir de várias causas, incluindo recalque de fundação, sobrecarga de compressão, variação térmica, retração, movimentação hidroscópica e reações químicas (MACHADO, 2017).

Recalque de fundações é consequência do afundamento vertical da edificação devido ao adensamento do solo, provocando trincas verticais mais amplas nas extremidades. Já trincas inclinadas ocorrem quando há recalque de fundações devido a falhas na homogeneidade do solo.

Trincas horizontais são causadas por expansão vertical e de argamassa, enquanto fissuras transversais surgem de recalques diferenciais, flexão estrutural ou variações térmicas.

As trincas e fissuras decorrem de esforços de tração que ultrapassam a resistência do concreto. Outros fatores no concreto, como retração durante a secagem, movimentos de expansão ou retração térmica, além da reação associada à cura do concreto, também contribuem para o surgimento de trincas.

Em relação a variações térmicas, retração, movimentação hidroscópica e reações químicas, Marques (2015) observa que trincas tendem a surgir em ambientes agressivos devido a movimentações higroscópicas causadas por intempéries. Estes problemas podem se tornar complexos para recuperação sem uma manutenção adequada das estruturas.

As variações térmicas podem provocar alterações e o surgimento de fissuras se os materiais utilizados não apresentarem resistência e tração adequadas, resultando em reações químicas quando misturados a outros elementos como argamassas e cimentos (CAPPORINO, 2015). Os autores concordam que a movimentação da fundação é um problema sério, pois coloca em risco a segurança estrutural devido a processos que permitem tal movimento, como o recalque de fundações, resultado da má escolha do terreno.

As trincas são patologias frequentes no concreto armado e decorrem de várias falhas nos procedimentos de dosagem dos elementos construtivos. Garantir uma vida útil prolongada e evitar o surgimento de fissuras na obra demanda uma execução adequada na preparação dos materiais.

Os procedimentos recomendam uma preparação meticulosa dos materiais, incluindo o correto dimensionamento, manuseio e processo de cura. Essas práticas visam assegurar a qualidade dos processos, eliminando falhas na execução.

As trincas de flexão podem surgir devido à deformação transversal da argamassa, após submeter-se a tensões ou flexão dos elementos de alvenaria. Além disso, podem resultar de rupturas por compressão na argamassa ou na própria alvenaria, bem como sofrer mudanças devido a fortes esforços de compressão exercidos na parede ou viga de concreto.

3. CONCLUSÃO

Cada patologia tem uma subcategoria e é necessário que cada uma seja estudada de forma individual para melhor entendimento e melhor resolução dos problemas encontrados. As trincas fissuras e rachaduras apesar de serem semelhantes, são distintas em suas causas e soluções e cabe um estudo sobre cada uma de forma individual. Diante de todo estudo apresentado, pode-se identificar tais patologias, seja na parte do projeto, na execução ou durante o uso da edificação, com a finalidade de aplicar as devidas medidas corretivas, para assim evitar a ruptura da estrutura.

4. REFERENCIAS BIBLIOGRAFICAS

https://www.mapadaobra.com.br/inovacao/entendendo-as-trincas-e-fissuras/

https://monografias.brasilescola.uol.com.br/engenharia/principais-manifestacoes-patologicas-encontradas-em-uma-edificacao.htm

Estudo de caso a respeito das manifestações patológicas em edificação na cidade de Brumado-Ba

https://www.edificaconsultoria.com.br/post/entendendo-as-trincas-e-fissuras