TREINO COMBINADO DE FORÇA E AERÓBICO E COMPOSIÇÃO CORPORAL NO TRANSTORNO POR USO DE ÁLCOOL

COMBINED STRENGTH AND AEROBIC TRAINING AND BODY COMPOSITION IN ALCOHOL USE DISORDER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10066405


Sabrina Rodrigues da Silva
Camila Corrêa
Nicholas Kostopoulos Cardoso
Jonathas da Silva Moraes
Soheyla Mohd Souza Rabie
Angélica Nickel Adamoli
Cássio Lamas Pires


Resumo

Objetivo: Apresentar um protocolo de treinamento combinado de força e aeróbico e os efeitos na composição corporal e funções cognitivas de pessoas em tratamento do Transtorno por Uso de Álcool internados para desintoxicação. Metodologia: Trata-se de estudo longitudinal descritivo com medidas pré e pós período de participação em um treinamento combinado de força e aeróbico. A avaliação da composição corporal foi realizada por meio do Exame de Bioimpedância Elétrica. O desfecho para função cognitiva foi avaliado por meio do Mini Exame do Estado Mental. Resultados: Foram incluídos 19 pacientes, com idade média de 41,63 ± 12,49 anos. O peso inicial foi de 80,28 ± 19,08 kg, tendo uma variação média ao longo do período de 2,11 de ± 2,15 kg. O ganho de peso em percentual foi de 1.59% (0.92 – 6.51). A massa magra inicial foi aferida em 59,10 (54,80 – 70,20) kg e a final em 61,70 (56,60 – 72,20) kg, tendo a variação final de 2,32 ± 2,29 kg, com o p <0,001 quando comparados. Os valores de IMC, percentual de massa magra, gordura corporal, total e percentual, não apresentaram variações estatisticamente significativas. A frequência de sessões de treino não impactou no ganho de peso e/ou de massa magra. Conclusão: A partir dos achados, apesar dos pacientes apresentarem ganho de peso, às custas de massa magra, não foi possível associar esse efeito ao treino de força, uma vez que a frequência das sessões não impactou nas variações de peso e massa magra dos pacientes incluídos no estudo.

Palavras-chave: Transtornos Relacionados ao Uso de Álcool; Composição corporal; Impedância Elétrica; Treinamento de Força; Treino Aeróbico.

Abstract

Objective: To present a combined strength and aerobic training protocol and its effects on the body composition and cognitive functions of people undergoing treatment for Alcohol Use Disorder. Methodology: This is a descriptive longitudinal study with pre- and post-period participation measurements in combined strength and aerobic training. The assessment of body composition was performed using the Electrical Bioimpedance Examination. The outcome for the cognitive function was assessed using the Mini-Mental State Examination. Results: Nineteen patients were included, with a mean age of 41.63 ± 12.49 years. The initial weight was 80.28 ± 19.08 kg, with an average variation throughout 2.11 ± 2.15 kg. Percent weight gain was 1.59% (0.92 – 6.51). The initial lean mass was measured at 59.10 (54.80 – 70.20) kg and the final at 61.70 (56.60 – 72.20) kg, with a final variation of 2.32 ± 2.29 kg, with p <0.001 when compared. The values of BMI, percentage of lean mass, body fat, total, and percentage did not show statistically significant. The frequency of training sessions did not impact weight gain and/or lean body mass. Conclusion: Based on the findings, although the patients showed weight gain at the expense of lean mass, it was impossible to associate this effect with strength training, since the frequency of sessions did not impact the weight and lean mass variations of the patients included in the study.

Keywords: Alcohol-Related Disorders; Body composition; Electrical Impedance; Resistance Training; Endurance Training.

Introdução

Os impactos psicossociais e os efeitos adversos do consumo agudo e crônico do álcool na fisiologia humana são bem conhecidos pela comunidade científica e incluem o comprometimento de funções neurais, metabólicas, cardiovasculares e termorregulatórias1-5. O álcool é um depressor do sistema nervoso central6, seu uso recorrente pode evoluir para o Transtorno de Uso de Álcool (TUA) leve, moderado ou grave, em que o usuário desenvolve um padrão patológico de comportamento. O TUA é um dos transtornos mentais mais prevalentes na sociedade. As consequências na saúde do indivíduo com comportamento aditivo ao álcool ocasionam inúmeras perdas biopsicossociais. O advento do prazer é afetado, pois é comum as pessoas que sofrem com o TUA afastarem-se de atividades que antes lhes eram agradáveis e faziam parte de seu cotidiano, como convívio com familiares, trabalho, estudo, lazer e atividades físicas7,8. A Organização Mundial de Saúde (OMS), relata que não existe limite seguro para o consumo do álcool9 e o dano à saúde é proporcional à quantidade consumida, podendo seu uso regular causar tolerância e dependência10.

Por outro lado, o exercício físico está relacionado positivamente com o tratamento de pessoas que sofrem com o TUA em geral11. Ele auxilia na diminuição da ansiedade, no manejo da fissura e no aumento da autoestima, bem como influência na melhora do humor, auto eficácia, liberação de endorfinas e sensação de bem-estar12. Apesar de encontrar uma vasta gama de estudos sobre TUA e exercício físico, há poucas evidências na literatura sobre a relação do treino combinado e o ganho de massa magra em pessoas com TUA.

 Dessa forma, visando verificar o impacto do treino combinado de força e aeróbico sobre a composição corporal de pacientes internados para o tratamento de TUA, o presente estudo teve como objetivo descrever os efeitos de um plano estruturado de treino combinado de força e aeróbico na composição corporal e funções cognitivas de pacientes internados com TUA que participaram do Programa de Exercício Físico (PEF) que compõe o tratamento na Psiquiatria de Adições do Hospital de Clínicas de Porto Alegre.

Métodos 

Delineamento do estudo

Estudo longitudinal descritivo com medidas pré e pós período de intervenção.

População e amostra

A população foi composta pelos pacientes internados para o tratamento de TUA, no Hospital de Clínicas de Porto Alegre, na Unidade de Internação do Serviço de Psiquiatria de Adições. Foi calculado um tamanho de amostra de 30 sujeitos para estimar a média de ganho de massa magra com margem de erro de 3 Kg. O cálculo considerou nível de confiança de 95% e desvio padrão esperado para massa magra igual a 7.94Kg13. Este cálculo foi realizado por meio da ferramenta PSS Health versão on-line14.

Critérios de inclusão

Foram incluídos os indivíduos que atenderam aos seguintes critérios: estar internado na unidade de Psiquiatria de Adição do Hospital de Clínica de Porto Alegre, obter o diagnóstico de TUA, concordar em participar da pesquisa e assinar o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Critérios de exclusão

Foram excluídos da pesquisa pacientes que estavam incapacitados de participar do programa de exercícios físicos, seja por apresentarem sintomas psicóticos ou problemas osteomioarticulares, bem como os que apresentavam problemas clínicos ou lesões que impossibilitaram a prática do exercício físico.

Análise de dados

Os procedimentos estatísticos foram analisados por meio do programa Statistical Package for the Social Sciences (SPSS), versão 18.  As variáveis quantitativas foram descritas como, média e desvio padrão ou mediana e intervalo interquartil, e as variáveis categóricas foram descritas como frequência simples e percentual. Foi gerada a variável quantitativa da diferença das medidas pré e pós participação do paciente no PEF.

Para avaliar a diferença dos valores iniciais e finais das variáveis bem como as diferenças entre os grupos de frequência de sessões, foram aplicados teste t para amostras dependentes ou Mann-Whitney conforme a natureza da distribuição das mesmas. 

Aspectos éticos

 A pesquisa foi submetida e aprovada pelo Comitê de Ética e Pesquisa do Hospital de Clínicas de Porto Alegre (HCPA) com parecer consubstanciado número 5.514204 em consonância com o disposto na Declaração de Helsinki, na resolução n. 196/96 e 466/12 do Conselho Nacional de Saúde e demais dispositivos normativos vigentes. Todos os pacientes que aceitaram participar assinaram o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido.

Instrumentos de Coleta

Composição corporal 

Para a avaliação da composição corporal, o aparelho utilizado em nosso estudo foi o Bodystat 1500 Body Composition Monitoring Unit. As coletas de bioimpedância foram realizadas em dois momentos: a primeira coleta antes do paciente ingressar no PEF; a segunda coleta após o término de sua participação no PEF de acordo com seu plano de alta da internação. Para a coleta os pacientes deveriam estar em jejum ou sem o consumo de alimentos ou bebidas até 4 horas antes do teste, retirar objetos de metal presos ao corpo, como anéis e brincos, suspender o uso de medicamentos diuréticos no mínimo 24 horas antes da realização do teste, urinar pelo menos 30 minutos antes do teste, deve ser evitada a prática de exercícios até 8 horas anteriores. O avaliado deve permanecer em decúbito dorsal em repouso por pelo menos 10 minutos antes do exame15.

Funções cognitivas

Para realizar a avaliação cognitiva utilizamos o Mini Exame do Estado Mental (MEEM). O escore do MEEM pode variar de 0 ponto, indicando maior grau de comprometimento cognitivo, até 30 pontos, que corresponde melhor capacidade cognitiva. Para a interpretação do MEEM, é atribuída uma pontuação para cada domínio e a nota final deve estar relacionada à escolaridade do avaliado16. Considerando como valor de corte 20 pontos para indivíduos analfabetos, 25 pontos para (1 a 4 anos de estudo), 26,5 pontos para (5 a 8 anos de estudo), 28 pontos com (9 a 11 anos de estudo), 29 pontos com mais de 11 anos de estudo17. As coletas do Mini Exame do Estado Mental foram realizadas em dois momentos: a primeira coleta antes do paciente ingressar no PEF; a segunda coleta após o término de sua participação no PEF de acordo com seu plano de alta da internação. 

Plano estruturado do treino combinado de força e aeróbico

O plano estruturado de treino combinado foi realizado pelo paciente ao longo do período de internação, foram ofertadas até 4 sessões por semana com duração de 1 hora cada com acompanhamento de profissional de educação física da unidade.  Para a realização do treino de força foram utilizados os aparelhos de musculação: leg press, supino articulado e remada alta da marca World. O treino aeróbico foi realizado em um cicloergômetro da marca Embreex.

Exercício aeróbico

Foi realizado em cicloergômetro e sistematizado em progressão de intensidade a partir da frequência cardíaca (FC) conforme Tabela 1. Além disso, foi registrada a potência em watts durante cada semana de treino, bem como a cadência medida pelas rotações por minuto (RPM). Para a prescrição do treino aeróbico foram aferidos e definidos os valores da FC Máxima (FCmáx) e FC de Repouso (FCrep). A FC de Treino (FC treino) foi estipulada através da fórmula de Karvonen18, (FCtreino = FCrep + (Intensidade/100) x (FCmáx – FCrep). Na fórmula acima, a FCmáx foi estimada através da fórmula de Tanaka, Monahan e Seals19: FCmáx = 208 – 0,7 x (idade). A FCrep foi coletada na sessão inicial. A FC foi medida por meio de um frequencímetro Polar RS400. A intensidade do exercício também foi avaliada pela Escala Subjetiva de Percepção do Esforço (Escala de Borg)20 a cada três minutos durante a execução do exercício aeróbio. O tempo previsto para o treino aeróbico foi de vinte minutos.

Aos participantes que não foram capazes de cumprir os vinte minutos continuamente, foi permitido intervalos de um a dois minutos para se recuperarem e completarem o tempo total previsto.

Treino de Força

O treino de força seguiu uma progressão conforme a Tabela 2. Onde foi utilizado o protocolo de avaliação de uma repetição máxima (1RM), amplamente utilizado pela comunidade científica para aferição de força muscular.  O teste foi realizado nos aparelhos de musculação já supracitados. Os participantes da pesquisa realizaram uma sessão de familiarização para a execução do movimento e aquecimento articular. Logo, foram orientados a levantar um peso estimado pelo pesquisador e realizar no máximo 10 repetições. O 1RM é determinado por tentativa e erro, com a utilização da tabela de Lombardi (1989) para estimar a carga mediante cada tentativa21,22. O volume do treino de força também está descrito na Tabela 2. 

Os grupos musculares trabalhados durante a atividade foram: peitorais, dorsais e quadríceps. Em caso de dificuldade dos participantes para executar os movimentos com as cargas estimadas, pequenas diminuições na carga foram realizadas a fim de que o exercício fosse corretamente executado.

Na primeira semana, o treino de força contou com 1 série de 10 repetições de aquecimento articular no exercício específico, seguido de 2 séries de 12 repetições com a carga leve a moderada, que foram avaliadas pela Escala de Borg, ao final de cada série, com 1 minuto de intervalo entre as séries. 

A Escala de Borg permite avaliar a percepção subjetiva do esforço23. Composta pela ordem numérica de 6 a 20 considerando 6 (muito fácil) a 20 (exaustivo), onde o paciente sinaliza como percebe a intensidade do esforço naquele momento. O paciente recebeu orientações sobre a Escala de Borg antes de iniciar a sessão de treinamento, e após esta lhe foi apresentada ao final de cada série para que fosse estimada a carga ideal para o treinamento. Nas semanas seguintes, o treino contou com 1 série de 10 repetições de aquecimento articular no exercício específico, seguidos de 2 séries de 12 repetições que foram estimadas anteriormente pelo teste de 1 RM.

Ao final da sessão de treinamento, os pacientes realizaram uma série de alongamentos com enfoque nos grupos musculares trabalhados, com tempo previsto de cinco minutos. O tempo da sessão completa do PEF foi estimado em sessenta minutos.

Para avaliar a frequência de participação de cada paciente no Programa de Exercícios Físicos, o número de sessões realizadas por cada paciente em relação ao seu tempo de internação foi calculado um índice de sessões/dias de internação. O número de sessões de treino físico combinado foi dividido pelo número de dias internados. Optamos por utilizar pontos de corte para auxiliar nas análises dos desfechos para cada subgrupo. Pacientes que obtiveram índice de frequência inferior a 2 sessões por semana (índice inferior a 0,28) e superior a 2 sessões por semana (índice igual ou superior a 0,28). Tomando como base as recomendações da OMS sobre atividade física para que adultos realizem atividades de fortalecimento muscular que envolvam grandes grupos musculares em pelo menos 2 dias da semana e se exercitem aeróbicamente por pelo menos 150 minutos na semana.  

Resultados

Vinte quatro pacientes foram elegíveis para o estudo, entretanto, cinco foram excluídos da pesquisa por receberem alta a pedido antes do ingresso no Programa de Exercícios Físicos. Por se tratar de uma internação voluntária a solicitação de alta é um direito do paciente. A alta, a pedido, acontece quando o paciente desiste do tratamento no formato de internação.

A Tabela 3 apresenta a caracterização da amostra. O presente estudo contou com a participação de 19 pacientes, com idade média de 41,63 ± 12,49 anos. Uma vez que a unidade de internação onde o trabalho foi desenvolvido contar apenas com leitos masculinos, 100% da amostra era do sexo masculino. A escolaridade foi classificada de acordo com o ponto de corte utilizado no Mini Exame do Estado Mental que foi utilizado para a avaliação cognitiva dos pacientes. O tempo de internação foi em média de 21,94 ± 9,44 dias. A mediana do número de sessões realizadas no PEF foi de 6 (4 – 11) sessões.  O índice do número de sessões/dias de internação foi utilizado para o conhecimento da quantidade de participação de cada paciente no PEF, visto que a sua participação não poderia ser controlada pelos pesquisadores devido ao tempo de permanência do paciente na internação, onde poderiam ocorrer alta por indicação médica ou a pedido do paciente por desistência do tratamento no formato de internação. A média do índice de número de sessões/dias de internação foi de 0,32 ± 0,17. Considerando que 4 (21 %) pacientes realizaram menos de 2 sessões na semana (índice < 0,28), dos quais, 1 paciente foi excluído da análise por apresentar variações na composição corporal destoantes dos demais e indicando provável falha de aferição na bioimpedância, e 15 (79 %) pacientes realizaram 2 ou mais sessões na semana (índice  0,28).

A Tabela 4 descreve as variáveis da composição corporal, onde se observou resultados significativos para o aumento peso e massa magra. O peso inicial foi de 80,28 ± 19,08 kg, tendo uma variação média ao longo do período de 2,11 de ± 2,15 kg. O ganho de peso em percentual foi de 1.59% (0.92 – 6.51), com p <0,001.  A massa magra inicial foi de 59,10 (54,80 – 70,20) kg e a final de 61,70 (56,60–72,20) kg, tendo a variação final de 2,32 ± 2,29 kg, com p <0,001 quando comparados. Os valores de IMC, percentual de massa magra, gordura corporal, total e percentual, não apresentaram variações estatisticamente significativas ao longo do tempo de seguimento. 

O Mini Exame do estado Mental teve o escore inicial de 26,89 ± 2,44 pontos e o escore final foi de 27,47 pontos ± 2,43 pontos, uma variação de 0,57 ± 1,80 pontos, sem diferença estatisticamente significativa (p 0,144). A fim de avaliar o impacto do número e frequência de sessões de treino combinado na composição corporal dos pacientes, foram considerados pontos de corte para o índice número de sessões/dias de internação e os pacientes agrupados conforme seus valores. Quatro pacientes realizaram menos de duas vezes na semana (índice < 0,28), dos quais, 1 paciente foi excluído da análise por apresentar variações de composição corporal destoantes dos demais e indicando provável falha de aferição na bioimpedância.  Quinze pacientes realizaram 2 ou mais sessões na semana (índice  0,28). A Tabela 5 apresenta os resultados de variação de peso e composição corporal de acordo com índice dias de internação e o número de sessões que foram realizadas no Programa de Exercícios Físicos. Não houve diferença entre os grupos quanto a variação de peso e composição corporal. Para avaliação das funções cognitivas os resultados foram semelhantes para os dois grupos: 0,50 ± 1,00 para o grupo de menor frequência de sessões e 0,86 ± 0,00 para os demais pacientes; p = 0,092.  

 Discussão

O presente estudo teve como objetivo descrever os efeitos do treino combinado de força e aeróbico na composição corporal e nas funções cognitivas de pacientes internados para o tratamento por TUA. O principal achado desse estudo foi o ganho de peso corporal total e o ganho de massa magra identificado entre os pacientes da nossa amostra. Entretanto, não encontramos alterações na gordura corporal e funções cognitivas. Além disso, o número de sessões e a frequência não parecem estar associadas aos resultados da composição corporal.

Os resultados sugerem que o ganho de peso tenha sido através do ganho de massa magra, uma vez que não houve alterações significativas nos valores de gordura corporal, porém não foi possível mostrar uma associação entre o número de sessões e a frequência dessas sessões com esse resultado, o que pode ter sido impactado pelo tamanho pequeno de indivíduos incluídos no grupo com menor frequência de sessões. Estudos que avaliaram a composição corporal em pacientes internados para desintoxicação de álcool identificaram que o consumo de álcool pode ser um potencial fator de risco para a perda de massa muscular, considerando que os indivíduos que sofrem com TUA apresentam menor massa muscular.

Igualmente, foi identificado que os pacientes que apresentavam baixo índice de massa corporal também contavam com alguma disfunção cognitiva24,25. Por outro lado, não encontramos estudos recentes que descrevessem as alterações de peso e de composição corporal em pacientes internados para tratamento de TUA.  

Em uma recente revisão bibliográfica, que buscou reunir as descobertas sobre os efeitos do treinamento aeróbico no tratamento de Transtornos por Uso de Substâncias, foram encontrados resultados que mostraram uma correlação entre a redução no consumo de álcool e a adesão ao tratamento daqueles que participavam de um programa de exercícios. Também foi constatado que os participantes de um programa de exercícios aeróbicos dispuseram de uma redução no consumo de álcool e melhoraram a saúde em geral. Foram encontrados resultados positivos na redução do desejo por uso de álcool durante e após uma única intervenção de exercícios aeróbicos, em comparação ao grupo controle. Entretanto, não descrevem sobre os efeitos do treinamento na composição corporal dos pacientes26

Em pacientes idosos não alcoolistas, uma revisão sistemática que buscou investigar os efeitos do treinamento resistido no ganho de massa magra, encontrou um aumento da massa magra de 0,50 a 1,10 kg em seus participantes27. Porquanto não encontramos na literatura estudos que avaliassem o ganho de massa magra em pacientes internados para o tratamento de TUA, nossas buscas sugerem que a nossa amostra teve ganho de massa magra semelhante ao ganho de pacientes não alcoolistas.

Embora nossos achados em relação aos efeitos do exercício físico nas funções cognitivas não tenham sido significativos, existem estudos que evidenciam efeitos positivos do exercício físico na plasticidade cerebral, proporcionando alterações na cognição e bem estar que contribuem para uma melhor adesão ao tratamento por uso de substâncias28.   Indivíduos que foram submetidos a 12 semanas em um programa de exercícios, a fim de examinar os seus efeitos na função cognitiva de pessoas com epilepsia, forneceram evidências de que o treinamento combinado teve efeitos positivos na melhora de tarefas de atenção e linguagem29. Em um outro estudo que buscou investigar os efeitos do treinamento de força e aeróbico por 4 semanas em idosos com demência em uma casa de repouso, encontraram melhorias significativas ao avaliar as funções cognitivas30.  

O presente estudo possui algumas limitações, como o reduzido número da amostra e o curto tempo médio do período de internação, que não nos permitiu ter um maior número de sessões de treinamento. Além disso, a falta de um grupo controle sem a participação no PEF não permite que seja feita a associação única do treino de força com os resultados obtidos. Torna-se importante salientar que os pacientes da amostra, por estarem em uma internação hospitalar, recebiam sua dieta balanceada e estruturada para essa população, e dessa forma, bastante similar entre os indivíduos, o que minimiza o impacto da não avaliação do aporte energético-proteico e seu efeito na composição corporal dos indivíduos.  Também contavam com horas de descanso e sono adequados para a recuperação das sessões de treinamento, levando em consideração a importância desses fatores para a obtenção de bons resultados.

Há uma lacuna existente na literatura relacionada ao ganho de massa magra em pacientes internados para o tratamento do TUA. Não encontramos estudos que avaliassem o ganho da massa magra nessa população. Logo, destaca-se o ineditismo desse trabalho nos tempos atuais, que busca descrever os efeitos do treino combinado de força e aeróbico na composição corporal de pacientes internados para o tratamento por TUA.

Contudo, o mencionado estudo apresenta resultados que sugerem efeitos significativos em relação ao ganho de massa magra. Isso demonstra o fato de que a prática do treino combinado de força e aeróbico realizado de forma estruturada e bem orientada é capaz de colaborar para a melhora da composição corporal e, consequentemente, na qualidade de vida da população estudada.

Conclusão

Conclui-se que os pacientes internados para o tratamento de TUA que participaram do PEF apresentaram uma diferença significativa no ganho de peso total e ganho de massa magra. Esse resultado sugere que o ganho de peso total foi em consequência do ganho de massa magra, considerando que não houve diferenças significativas no ganho massa gorda.

Todavia, devido a algumas limitações do estudo, como o reduzido número da amostra, a ausência de um grupo controle e o tempo médio de internação, não podemos afirmar que o ganho de peso e massa magra tenha ocorrido como resultado do treino combinado.

De acordo com os resultados encontrados, podemos concluir que a presente pesquisa corrobora com os estudos anteriores que consideram o exercício físico uma importante ferramenta no tratamento de pessoas com TUA. Com o propósito de contribuir para a consolidação do treino combinado como adjuvante no tratamento e, com isso, ampliar as possibilidades de intervenções e abordagens terapêuticas não medicamentosas, desejamos que os resultados encontrados nesta pesquisa possam servir de disparador para estudos futuros, com objetivos semelhantes, com um número maior de participantes, um grupo controle e um período maior de treinamento, para que se possa obter resultados ainda mais significativos.

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