REGISTRO DOI:10.69849/revistaft/th102411301340
Izadora Ribeiro Castro
Aliandro Willy Duarte Magalhães
Rodolfo Augusto Alves dos Santos
Aneci Calixto da Rocha Barbosa
Diogo dos Santos Viotti Bernardes
João Alberto Dalla Vechia
Eveline Alana Seidel
João Victor Alves De Aragão
Arthur Rickson Nunes Dias
Elder Francisco Latorraca
RESUMO
Introdução: A Síndrome de Capgras é um transtorno raro caracterizado pela crença delirante de que pessoas próximas foram substituídas por impostores idênticos. Embora seja mais comumente associada a transtornos psiquiátricos, como esquizofrenia, ela também pode surgir em decorrência de lesões cerebrais traumáticas (LCT), sugerindo uma possível base neurobiológica. As lesões cerebrais podem impactar regiões responsáveis pelo reconhecimento facial e pelo vínculo emocional, interferindo na capacidade do indivíduo de associar familiaridade com resposta emocional, o que leva ao desenvolvimento da síndrome. Esse fenômeno pode ser particularmente devastador para os pacientes e seus familiares, uma vez que a perda da capacidade de reconhecer entes queridos de forma emocionalmente apropriada gera sofrimento significativo. Objetivo: Este artigo visa revisar os mecanismos e a correlação entre LCT e a manifestação da síndrome de Capgras, bem como explorar as implicações diagnósticas e terapêuticas, destacando os fatores que podem influenciar o desenvolvimento do quadro após traumas neurológicos. Metodologia: Foi realizada uma revisão narrativa da literatura utilizando bases de dados como PubMed e
Recebido: 00/00/2024 | Aceito: 00/00/2024 | Publicado: 00/00/2024
Scielo, focando em estudos clínicos e revisões publicadas nos últimos 15 anos. Foram analisados artigos que descrevem casos de síndrome de Capgras associada a LCT, discutindo aspectos de neuroimagem, localizações das lesões, trajetórias clínicas dos pacientes, e intervenções terapêuticas descritas. Resultados e Discussão: A revisão sugere que a síndrome de Capgras em LCT está frequentemente relacionada a lesões no córtex frontal e nas regiões temporais, áreas implicadas no reconhecimento facial e no processamento de memória emocional. Esses danos podem interferir nos circuitos que ligam a percepção visual à resposta emocional, levando ao fenômeno de “desconexão afetiva”. Pacientes com lesões nessas regiões demonstram dificuldades em associar a familiaridade com a resposta emocional adequada, o que reforça a ilusão de substituição por impostores. Além disso, a síndrome parece estar associada a um prognóstico complexo, com necessidade de abordagens multidisciplinares envolvendo neuropsicologia, psiquiatria e neurologia. Casos graves podem exigir intervenções farmacológicas e reabilitação neuropsicológica prolongada, além de terapias de apoio ao paciente e seus familiares para melhorar o ajustamento emocional. Considerações Finais: A associação entre LCT e a síndrome de Capgras destaca a importância de um diagnóstico precoce e de intervenções terapêuticas específicas. A compreensão da localização e extensão das lesões pode auxiliar na personalização do tratamento e melhorar a qualidade de vida dos pacientes, ressaltando a importância de equipes multidisciplinares para o manejo eficaz.
Palavras-chave:Síndrome de Capgras; Lesão Cerebral Traumática; Delírio de Impostor.
INTRODUÇÃO
A Síndrome de Capgras é um transtorno neuropsiquiátrico raro e intrigante, caracterizado pela crença ilusória de que uma pessoa próxima, geralmente um familiar ou intermediário, foi substituída por um impostor idêntico. Este aspecto, descrito inicialmente pelo psiquiatra francês Joseph Capgras em 1923, insere-se no grupo das síndromes delirantes de identificação equivocada, nas quais há uma dissociação entre o reconhecimento visual e o reconhecimento emocional. Embora o paciente reconheça fisicamente a pessoa, ele acredita firmemente que esta foi trocada por outra com aparência idêntica, mas sem o vínculo emocional característico (CARRASCO et al., 2021).
A síndrome de Capgras está frequentemente associada a condições que afetam o sistema nervoso, como esquizofrenia, demência, lesões traumáticas e, em alguns casos, pode ocorrer em distúrbios neurodegenerativos como a doença de Alzheimer. É frequentemente observada em condições psiquiátricas e neurológicas que afetam o reconhecimento e o processamento emocional, incluindo esquizofrenia, particularmente em seus subtipos paranoides (NG et al., 2020). Ela também é relatada em distúrbios neurodegenerativos, como a doença de Alzheimer e outras demências, devido ao comprometimento das áreas cerebrais que lidam com memória e reconhecimento facial. Outras doenças associadas incluem lesões cerebrais traumáticas, especialmente quando há danos no lobo temporal ou em regiões límbicas que processam emoções, e algumas formas de epilepsia. Além disso, a síndrome pode ocorrer em pacientes com doença de Parkinson, particularmente na presença de demência associada ao Parkinson, e em doenças cerebrovasculares que resultam em lesões nas conexões cortico-límbicas. Essas condições compartilham uma característica comum: disfunções nas vias neurais que conectam a percepção visual ao sistema límbico, levando à dissociação entre a identidade física e o reconhecimento emocional, que é central para o desenvolvimento da síndrome (MATIAS et al., 2023).
A fisiopatologia da Síndrome de Capgras em casos de lesões cerebrais traumáticas (TCE) envolve a interrupção das conexões neurais responsáveis por integrar o reconhecimento visual e a resposta emocional. Nas lesões traumáticas, danos em regiões específicas do cérebro, especialmente no lobo temporal e nas vias que conectam o córtex fusiforme (responsável pelo reconhecimento facial) ao sistema límbico
(envolvido no processamento emocional), comprometem essa associação entre identidade visual e familiaridade emocional (DARBY et al., 2016).
Especificamente, o giro fusiforme, localizado no lobo temporal, permite a identificação dos rostos, enquanto a amígdala, uma estrutura do sistema límbico, gera a resposta emocional correspondente ao reconhecimento. Em lesões cerebrais traumáticas, quando essas áreas são afetadas direta ou indiretamente, ocorre uma falha na ativação emocional ao ver uma pessoa conhecida, resultando na sensação de que a pessoa é visualmente idêntica, mas emocionalmente “estranha”. Esse descompasso cria a ilusão de que a pessoa conhecida foi “substituída”. Além disso, o lobo frontal, que auxilia no raciocínio lógico e na integração de informações, também pode ser afetado em TCEs, prejudicando o julgamento crítico e facilitando a formação de delírios, como o de Capgras (MATIAS et al., 2023).
Desta forma, este artigo visa revisar os mecanismos e a correlação entre LCT (lesões cerebrais traumáticas) e a manifestação da Síndrome de Capgras, bem como explorar as implicações diagnósticas e terapêuticas, destacando os fatores que podem influenciar o desenvolvimento do quadro após traumas neurológicos.
METODOLOGIA
Tipo de Estudo
Este artigo adota o formato de uma revisão narrativa da literatura, que visa sintetizar informações disponíveis sobre a correlação entre lesões cerebrais traumáticas e a Síndrome de Capgras, destacando fatores diagnósticos, terapêuticos e prognósticos. Esse tipo de revisão permite uma abordagem ampla e descritiva, facilitando a compreensão contextual dos achados e possíveis variações nas manifestações clínicas.
Seleção de Fontes e Estratégia de Busca
A seleção de fontes foi realizada em bases de dados como PubMed e Scielo, abrangendo publicações dos últimos 15 anos (2008–2024) para garantir a inclusão de pesquisas atualizadas e relevantes. Foram utilizadas palavras-chave combinadas, como “lesões cerebrais traumáticas”, “Síndrome de Capgras” e Delírio do Impostor”.
Critérios de Inclusão e Exclusão
Para selecionar os estudos, foram aplicados critérios que assegurem a relevância para o tema proposto:
- Critérios de Inclusão: Artigos e estudos revisados por pares que exploram a relação entre LCT e a Síndrome de Capgras, incluindo relatos de casos, revisões anteriores, e estudos com discussões sobre mecanismos neurológicos, fatores de risco, diagnóstico e intervenções terapêuticas. Publicados em idiomas como portugues, inglês, espanhol e italiano.
- Critérios de Exclusão: Estudos que abordam a Síndrome de Capgras sem relação com lesões cerebrais traumáticas, artigos com foco exclusivamente psiquiátrico sem evidência de trauma neurológico, e estudos sem acesso ao texto completo ou publicados em idiomas fora do escopo de análise (como línguas menos acessíveis).
População e Amostra
A revisão abrange estudos que incluem pacientes de todas as faixas etárias que desenvolveram a Síndrome de Capgras após sofrerem uma lesão cerebral traumática, independente da gravidade. Essa abordagem permite examinar diferentes tipos de LCT e variações no surgimento dos sintomas de Capgras, promovendo uma visão ampla sobre o tema.
Procedimentos de Análise
Para a análise dos dados, foi adotada uma abordagem descritiva e qualitativa, permitindo a interpretação narrativa dos achados. Os estudos incluídos foram organizados em temas principais:
- Mecanismos Neurológicos: Foram analisadas hipóteses e achados sobre os mecanismos cerebrais associados à Síndrome de Capgras em pacientes com LCT, considerando fatores como lesões em áreas específicas do cérebro e suas implicações funcionais.
- Aspectos Diagnósticos: A revisão também explorou os desafios diagnósticos, incluindo métodos de identificação e diagnóstico diferencial da Síndrome de Capgras em contextos de trauma neurológico.
- Abordagens Terapêuticas: As abordagens terapêuticas descritas nos estudos foram categorizadas, considerando as intervenções medicamentosas, psicoterapêuticas e reabilitação neuropsicológica.
Integração e Síntese dos Resultados
Os dados foram organizados de forma a proporcionar uma narrativa coesa sobre a relação entre LCT e a Síndrome de Capgras, com ênfase em:
- Comparação entre diferentes tipos de lesões cerebrais e o impacto nos sintomas de Capgras;
- Descrição dos fatores de risco e condições que podem predispor o desenvolvimento do quadro após LCT;
- Exploração dos tratamentos mais mencionados e suas possíveis eficácia e limitações.
Considerações Finais e Limitações
A metodologia de revisão narrativa permite uma síntese ampla, mas não realiza uma análise quantitativa rigorosa dos dados, o que limita a capacidade de generalizar os achados. No entanto, essa abordagem é adequada para estabelecer uma base teórica sólida e identificar lacunas e direções futuras de pesquisa sobre o tema.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Síndrome de Capgras em lesões cerebrais
A Síndrome de Capgras é um transtorno psiquiátrico raro e complexo, caracterizado pela crença delirante de que uma pessoa próxima, geralmente um membro da família ou amigo, foi substituída por um impostor idêntico. Esse fenômeno, conhecido como delírio de identificação, é particularmente intrigante devido à sua relação com lesões cerebrais traumáticas (LCT), o que sugere que certas áreas do cérebro, quando danificadas, podem alterar profundamente a percepção de familiaridade e reconhecimento.
Estudos recentes e casos clínicos têm evidenciado que a Síndrome de Capgras pode ser desencadeada após um traumatismo craniano, especialmente quando ocorrem
lesões nas regiões frontal e temporal do cérebro, predominantemente no hemisfério direito. Danos ao lobo frontal parecem comprometer habilidades críticas para a identificação de rostos familiares e o processamento da emoção associada ao reconhecimento, prejudicando o julgamento que distingue um rosto conhecido de um desconhecido. Essa interferência no circuito de reconhecimento e afeto cria uma espécie de “desconexão” emocional, fazendo com que o paciente sinta que está diante de um “impostor”, e não de um ente querido (ALI, 2023).
A Síndrome de Capgras resulta de uma falha na comunicação entre os sistemas cerebrais de reconhecimento facial e de respostas emocionais. Em pacientes com lesões cerebrais, há uma alteração no sistema límbico – estrutura central para a regulação das emoções – o que impede a associação emocional típica que o cérebro realiza ao reconhecer um rosto conhecido. Em outras palavras, embora o paciente reconheça o rosto em termos visuais, ele não sente a ligação emocional correspondente, o que o leva a interpretar erroneamente essa pessoa como um impostor (DARBY; CAPLAN, 2016).
Implicações diagnósticas
O diagnóstico dessa síndrome em pacientes com LCT exige uma avaliação clínica e neuropsiquiátrica detalhada. Inicialmente, é fundamental obter um histórico completo do paciente, considerando os eventos associados ao trauma e o surgimento de sintomas neuropsiquiátricos subsequentes. A Síndrome de Capgras pode manifestar-se de forma isolada, mas é mais comum que seja acompanhada de outros sinais de comprometimento cognitivo, como desorientação, alterações de memória e, ocasionalmente, alucinações (DARBY et al., 2016b).
Na avaliação do paciente, a neuroimagem desempenha um papel crucial. Exames como a ressonância magnética (RM) e a tomografia computtadorizada (TC) são recomendados para identificar lesões em áreas específicas do cérebro, particularmente nas regiões temporoparietal e frontal. O giro fusiforme, responsável pelo reconhecimento facial, e as áreas frontais, envolvidas no processamento de emoções e no julgamento de familiaridade, são frequentemente afetados em pacientes que desenvolvem esse tipo de delírio após uma LCT (CALANDRA et al., 2013).
Além disso, é essencial realizar uma avaliação neuropsicológica abrangente para medir o impacto do trauma nas funções cognitivas do paciente. Testes de memória,
atenção e funções executivas podem revelar déficits importantes que corroboram a presença de alterações neurocognitivas relacionadas ao trauma, ajudando a diferenciar a Síndrome de Capgras de outras condições psiquiátricas, como esquizofrenia e demências, onde delírios semelhantes também podem ocorrer. Finalmente, uma avaliação psiquiátrica é fundamental para compreender a extensão do delírio e suas repercussões emocionais e sociais para o paciente. Um psiquiatra pode identificar a intensidade do delírio, determinar se há comorbidades psiquiátricas e estabelecer um plano terapêutico adequado. O manejo da Síndrome de Capgras, especialmente quando associada a LCT, costuma envolver uma abordagem multidisciplinar (RODRÍGUEZ; MADOZ-GÚRPIDE; USTÁRROZ, 2011).
Abordagem terapêutica
O tratamento da Síndrome de Capgras em pacientes com lesões cerebrais traumáticas é complexo e requer uma abordagem integrada e multidisciplinar, devido às peculiaridades neuropsiquiátricas e ao histórico de trauma que esses pacientes apresentam. Cada intervenção é planejada para abordar o delírio de “impostores” e para melhorar a qualidade de vida e a funcionalidade do paciente (SPIEGEL et al., 2023).
No campo da farmacoterapia, os antipsicóticos de segunda geração, como a risperidona e a olanzapina, são frequentemente utilizados para reduzir a intensidade dos sintomas delirantes. Esses medicamentos atuam ajustando os níveis de dopamina e serotonina no cérebro, que estão comumente desequilibrados em quadros neuropsiquiátricos. Nos casos em que o paciente apresenta ansiedade e agitação significativas, a adição de ansiolíticos pode ajudar a estabilizar o quadro. Para pacientes que apresentam sintomas depressivos, podem ser prescritos antidepressivos, como os inibidores seletivos da recaptação de serotonina (ISRS). Porém, devido à sensibilidade dos pacientes com LCT aos efeitos colaterais dos psicotrópicos, a escolha das medicações e suas doses precisa ser cuidadosamente monitorada (KNEZEVIC et al., 2024)..
A reabilitação neuropsicológica é outro pilar do tratamento e envolve intervenções focadas na restauração das funções cognitivas prejudicadas, especialmente aquelas ligadas ao reconhecimento facial, à memória e à atenção. Nessa fase, exercícios de memória e técnicas de remediação cognitiva são empregados para ajudar o paciente a desenvolver estratégias que o ajudem a distinguir percepções delirantes das reais. Esse
processo é geralmente longo e exige paciência e adesão do paciente, sendo importante para a recuperação de sua percepção da realidade (RODRÍGUEZ; MADOZ-GÚRPIDE; USTÁRROZ, 2011).
A Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC) também desempenha um papel significativo. Na TCC, o paciente é incentivado a questionar suas crenças delirantes, investigando evidências que sustentem ou refutem essas ideias. Essa prática de autoquestionamento pode, ao longo do tempo, reduzir a intensidade do delírio. Além disso, a TCC trabalha para aliviar o estresse e a ansiedade causados pela síndrome, ensinando técnicas de enfrentamento e de regulação emocional, o que contribui para uma vida emocional mais equilibrada e menos impactada pelo delírio.
O apoio à família é um aspecto central do tratamento, já que são geralmente os familiares que aparecem como “impostores” na percepção do paciente. A psicoeducação para a família permite que compreendam melhor a síndrome, reduzindo o estigma e facilitando a convivência com o paciente. Além disso, orientações sobre como responder ao comportamento do paciente de maneira empática e sem julgamento ajudam a construir um ambiente de apoio e segurança. Esse tipo de suporte familiar também é essencial para a adesão ao tratamento, favorecendo a estabilidade emocional do paciente (KNEZEVIC et al., 2024b).
Fatores de Influência
O desenvolvimento da Síndrome de Capgras em pacientes com traumas neurológicos é influenciado por diversos fatores que, em conjunto, criam condições propícias para o surgimento desse tipo de delírio. A localização da lesão cerebral é um dos elementos centrais: lesões que atingem áreas específicas, como as regiões temporoparietal e frontal, estão mais associadas a essa síndrome, pois essas áreas são fundamentais para o reconhecimento facial e o processamento emocional. Em particular, danos no giro fusiforme e nas conexões com o sistema límbico podem provocar uma desconexão entre o reconhecimento visual e a sensação de familiaridade, levando o paciente a acreditar que pessoas próximas são impostoras (PREVE et al., 2016) .
A gravidade do trauma é outro fator importante. Traumatismos cranioencefálicos graves, especialmente os de alta intensidade ou que envolvem múltiplas áreas, podem
comprometer de maneira mais severa os circuitos neurais responsáveis pela integração da percepção visual com as emoções, facilitando o surgimento de sintomas delirantes como o da Síndrome de Capgras. Além disso, pacientes que possuem uma predisposição neuropsiquiátrica, como aqueles com histórico de transtornos psiquiátricos, incluindo esquizofrenia, transtorno bipolar ou depressão, têm maior propensão ao desenvolvimento de delírios após um trauma cerebral. Essas condições já envolvem alterações neuroquímicas que podem tornar o cérebro mais vulnerável a quadros delirantes após uma lesão (GÚRPIDE; RODRÍGUEZ, 2010).
A idade do paciente também desempenha um papel significativo. Pacientes mais jovens geralmente possuem uma plasticidade cerebral maior, o que facilita a recuperação. Em contraste, pacientes idosos, com reserva cognitiva reduzida devido ao desgaste natural das estruturas neurais, tendem a ter uma recuperação mais lenta e estão mais propensos a desenvolver delírios após um trauma. Comorbidades neurológicas, como demência, lesões vasculares prévias ou infecções no sistema nervoso central, também aumentam a suscetibilidade à Síndrome de Capgras. Essas condições, ao comprometerem ainda mais o funcionamento cerebral, tornam o cérebro menos capaz de integrar informações visuais e emocionais de forma precisa (MARGARITI; MIRCEA, 2024).
CONCLUSÃO
Em resumo, os resultados deste estudo apontam que a Síndrome de Capgras pode ser precipitada por lesões cerebrais traumáticas (LCT), especialmente quando ocorrem em áreas cerebrais responsáveis pelo reconhecimento facial e processamento emocional. A identificação precoce e precisa dessas lesões mostrou-se essencial para a escolha de intervenções terapêuticas mais eficazes, favorecendo uma abordagem personalizada que pode melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir o impacto do delírio.
Entre as limitações encontradas, destaca-se a variabilidade nos tipos e extensões das lesões cerebrais, o que dificultou a padronização de critérios específicos de tratamento. Além disso, a complexidade das manifestações clínicas e a necessidade de maior tempo de acompanhamento limitam a generalização dos resultados obtidos. Outra limitação foi a ausência de um número maior de estudos comparativos que correlacionaram a localização exata das lesões com a gravidade dos sintomas
Sugere-se que futuras pesquisas explorem de maneira mais aprofundada os mecanismos neurobiológicos envolvidos na Síndrome de Capgras após LCT, com especial atenção para as conexões entre as regiões temporoparietais e o sistema límbico. Estudos longitudinais com amostras maiores e controladas também são recomendados, de modo a permitir uma melhor compreensão da progressão dos sintomas e avaliar a eficácia de diferentes abordagens terapêuticas.
Por fim, o estudo reforça a importância de equipes multidisciplinares no manejo da Síndrome de Capgras em pacientes com LCT, envolvendo neurologistas, psiquiatras e neuropsicólogos para intervenções mais abrangentes. Essa abordagem colaborativa é essencial para desenvolver tratamentos mais eficazes e adaptados às necessidades de cada paciente, promovendo avanços na reabilitação neuropsiquiátrica.
REFERÊNCIAS
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Graduanda em medicina pela Faculdade de Ciências da Saúde Pitágoras de Codó
Graduado em medicina pelo Centro Universitário do Estado do Pará
Graduando em medicina pela Universidade Nove de Julho
Médica na Secretaria de Saúde do Estado do Acre
Graduado em medicina pela Faculdade de Medicina de Itajubá
Graduando em medicina pela Universidade Católica de Pelotas
Graduada em medicina pela Universidade Católica de Pelotas
Graduando em medicina pela FAMP
Graduando de medicina na Universidade Federal do Maranhão
Doutor em morfologia pela Universidade de São Paulo