TRATAMENTOS MEDICAMENTOSOS DE CRIANÇAS COM TDAH: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

DRUG TREATMENTS OF CHILDREN WITH ADHD: A SYSTEMATIC REVIEW

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202410151722


Paulo Luy Alencar Vieira Mariano1
Adriano Pontes Pereira2
Jara Couceiro Soares3
Rogélio Rocha Barros4


Resumo

A Ritalina, enquanto monoterapia no tratamento de crianças com Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH), ocupa um papel central na psicofarmacologia pediátrica. Este estudo visa contextualizar essa abordagem dentro de um panorama abrangente do tratamento do TDAH, por meio de uma revisão sistemática dos desfechos terapêuticos associados ao uso do Metilfenidato. A pesquisa foi realizada utilizando bases de dados como PubMed, Scielo e o Portal Regional da BVS, aplicando descritores em português e inglês relacionados ao TDAH em crianças e ao uso do Metilfenidato. Foram incluídos artigos publicados entre 2018 e 2024, com a devida consideração para estudos relevantes anteriores a esse período. Os resultados da revisão sistemática indicam que o Metilfenidato, quando administrado na infância, traz benefícios significativos no desenvolvimento psicossocial, especialmente na melhora da atenção e no controle dos impulsos. No entanto, destaca-se a importância de uma abordagem cautelosa devido aos possíveis efeitos adversos no sistema nervoso central (SNC), como aumento da ansiedade, elevação da frequência cardíaca e potenciais impactos sobre os astrócitos. Em conclusão, o uso do Metilfenidato como monoterapia tem se mostrado eficaz no manejo dos sintomas do TDAH, e embora efeitos colaterais estejam presentes, estes não superam os benefícios substanciais oferecidos pelo tratamento.

Palavras-chave: TDAH, Crianças, Psicofarmacologia, Metilfenidato.

1. INTRODUÇÃO

O Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica comum que afeta crianças e adolescentes, caracterizada por sintomas de desatenção, hiperatividade e impulsividade. Apresentando uma incidência de aproximadamente 7,6% na faixa etária 3-12 anos, o TDAH configura-se como um problema de saúde significativo que requer intervenções adequadas (SALARI et al., 2023).

Dentre as opções de tratamento para o TDAH, os tratamentos medicamentosos são amplamente utilizados e considerados uma abordagem de primeira linha (National Institute for Health and Care Excellence, 2018). O metilfenidato, um medicamento estimulante, é frequentemente prescrito para reduzir os sintomas principais do TDAH, melhorando a atenção, diminuindo a hiperatividade e controlando a impulsividade (KRINZINGER et al., 2019).

No entanto, apesar da ampla utilização de medicamentos no tratamento do TDAH, ainda existem questões relevantes a serem consideradas. Dúvidas persistem em relação à eficácia a longo prazo, à segurança do uso contínuo e ao impacto desses medicamentos no desenvolvimento cognitivo e emocional das crianças (CARUCCI et al., 2021).

Com isso em mente, o presente trabalho visa realizar uma revisão sistemática dos estudos publicados sobre tratamentos medicamentosos de crianças com TDAH, a fim de investigar a eficácia desses tratamentos, bem como avaliar a segurança, os efeitos colaterais e o impacto a longo prazo. A compreensão aprofundada dessas questões é fundamental para fornecer informações atualizadas e embasar decisões clínicas que visem um tratamento adequado e individualizado para crianças com TDAH.

2. METODOLOGIA 

Neste estudo, foi realizada uma revisão sistemática utilizando as principais bases de dados online de artigos científicos e clínicos indexados, a saber: o Public Medical Literature Analysis and Retrieval System Online (PubMed) e o Scientific Electronic Library Online (Scielo). Foram empregados os seguintes descritores para a seleção de artigos relacionados ao Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) em crianças e ao uso de Metilfenidato, tanto de forma isolada quanto em combinação: “TDAH em crianças” e “Metilfenidato”. Adicionalmente, essas palavras-chave também foram utilizadas em inglês: “ADHD in children”, “Methylphenidate”, e suas combinações: “ADHD in children and Methylphenidate”, com o intuito de incluir estudos publicados em periódicos internacionais.

Foram considerados artigos publicados entre 2018 e 2024, incluindo exclusivamente triagens clínicas, ensaios clínicos controlados e meta-análises. Artigos publicados antes desse período não foram descartados, desde que apresentassem relevância significativa para o tema em questão. Estudos incompletos ou que não fornecessem informações suficientes para abordar o tema proposto foram excluídos.

Foi realizada, em seguida, uma leitura seletiva dos resumos dos materiais bibliográficos encontrados, com base no tema e nas combinações dos descritores. Após o acesso aos textos completos, os estudos foram submetidos a uma análise crítica. A partir desse processo, foram selecionadas as produções científicas pertinentes para a composição do presente trabalho.

Para a análise dos resultados, as informações foram coletadas por meio de uma ficha de registro contendo título, ano de publicação, autores e principais considerações dos artigos. O conteúdo foi, então, minuciosamente analisado e utilizado para o desenvolvimento deste estudo.

Ao todo, foram utilizados um total de 20 artigos para a composição da presente revisão, todos disponíveis na língua inglesa. Os artigos analisados tratam acerca da saúde mental, dos transtornos mentais, das características gerais do TDAH, métodos diagnósticos e abordagens terapêuticas desse transtorno.

Figura 1 – Fluxograma dos resultados de busca das publicações segundo os objetivos do presente estudo

Fonte: Autores (2024).

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES

Os resultados obtidos foram separados nos seguintes tópicos: TDAH, TDAH em crianças, TDAH no ambiente familiar, Diagnóstico do TDAH, Abordagem medicamentosa no tratamento do TDAH, Como a Ritalina age no Sistema Nervoso Central, Benefícios da Ritalina para o controle do TDAH em crianças, Principais efeitos adversos do uso de Ritalina por crianças e Medidas para o controle dos efeitos adversos.

3.1 TDAH

Caracterizado por um padrão persistente de desatenção, hiperatividade e impulsividade, o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) é uma condição neuropsiquiátrica de relevância significativa, já que interfere no desenvolvimento e funcionamento social, acadêmico e ocupacional do indivíduo. Este não apresenta uma etiopatogenia simples, sendo o resultado da interação complexa de múltiplos fatores, sendo eles genéticos, neurobiológicos e ambientais (SCIBERRAS et al., 2019).

Sendo mais evidente na população pediátrica, seu diagnóstico se baseia em critérios clínicos, de acordo com as diretrizes estabelecidas por manuais de referência, como o Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5). É certo que, para identificar a desordem, é necessário observar a presença de sintomas por um período mínimo de seis meses, em pelo menos dois ambientes diferentes, de forma desproporcional ao nível de desenvolvimento da criança (KOYUNCU et al., 2022).

Nesse sentido, o caráter complexo da doença exige a caracterização dos indivíduos em dois subgrupos principais, sendo eles a desatenção e a hiperatividade/impulsividade. No primeiro grupo, observam-se sinais como dificuldade em manter o foco em tarefas ou atividades, esquecimentos frequentes, dificuldade em organizar atividades e erros por descuido. Em contrapartida, o segundo grupo é marcado pela dificuldade em manter a posição sentado, interrupções constantes em conversas e atividades, além de impulsividade, que pode se manifestar em ações impensadas ou na incapacidade de aguardar sua vez (SALVI et al., 2019).

O diagnóstico diferencial é essencial, uma vez que outras condições, como transtornos de ansiedade, depressão e dificuldades de aprendizagem, podem apresentar sintomas semelhantes. A avaliação clínica envolve a coleta de informações detalhadas com pais, professores e a própria criança, complementada, quando necessário, por escalas de avaliação e testes neuropsicológicos. A correta identificação do TDAH é crucial para o manejo adequado e a implementação de intervenções terapêuticas, como tratamento medicamentoso e psicoterapia, visando minimizar o impacto dos sintomas no desenvolvimento global da criança (LEFFA; CAYE; ROHDE, 2022).

3.2 TDAH NO AMBIENTE FAMILIAR

Pacientes com diagnóstico de TDAH, em geral, apresentam características comuns, contudo, o comportamento de cada indivíduo com o transtorno varia de acordo com o contexto em que a criança vive. Um dos pontos de vista analisados, é justamente a exclusão dessas crianças, que muitas vezes são alvo de críticas frequentes e excessivas quando comparadas a outras crianças ou membros da família. Muitas das vezes as críticas excessivas e falta de paciência vêm justamente dos progenitores, o que acaba reprimindo a criança, fazendo com que apresente autoestima diminuída ou manifeste comportamento agressivo e impulsivo (JANGMO et al., 2019).

Devido às dificuldades que crianças com TDAH passam, os médicos e profissionais se tornam extremamente importantes para avaliação e tratamento destes pacientes, são eles que devem analisar as dificuldades enfrentadas pela própria criança. Também são responsáveis por enfatizar o impacto positivo do apoio familiar e social, e como isso pode amenizar os efeitos do transtorno. Desse modo, com os estímulos adequados e o apoio dos progenitores, a criança é capaz de participar ativamente do tratamento, o que se traduz no aumento da criatividade e entusiasmo em relação ao enfrentamento de dificuldades relacionadas ao transtorno (SCIBERRAS et al., 2019).

3.3 ABORDAGEM MEDICAMENTOSA NO TRATAMENTO DO TDAH

O tratamento do Transtorno do Déficit de Atenção e Hiperatividade (TDAH) fundamenta-se em uma compreensão da fisiopatologia subjacente, que envolve disfunções nos circuitos frontoestriatais e na regulação de neurotransmissores como a dopamina e a noradrenalina. Essas alterações são responsáveis pelos sintomas cardinais do transtorno, como desatenção, impulsividade e hiperatividade. O manejo terapêutico do TDAH engloba tanto intervenções psicossociais quanto o uso de medicamentos, sendo que o tratamento farmacológico é particularmente relevante em casos moderados a graves (CAYE et al., 2019).

O metilfenidato, amplamente reconhecido como o tratamento farmacológico de primeira linha para o TDAH, visto sua atividade benéfica sobre o controle dos sintomas derivados do transtornos, o grau de segurança da droga e a sua disposição em formulações de liberação imediata e prolongada, que permitem uma adaptação individualizada das doses de acordo com as necessidades do paciente. Ele atua como um inibidor da recaptação de dopamina e noradrenalina, sendo seu principal efeito o aumento da disponibilidade desses neurotransmissores nas sinapses das regiões cerebrais responsáveis pela regulação da atenção e do controle comportamental. Esse aumento nos níveis de dopamina e noradrenalina leva à melhora na capacidade de foco, controle inibitório e planejamento, atenuando os sintomas de desatenção e hiperatividade (POSNER; POLANCZYK; SONUGA-BARKE, 2020).

Além do metilfenidato, outras opções farmacológicas incluem a atomoxetina (um inibidor seletivo da recaptação de noradrenalina) e agonistas alfa-2-adrenérgicos, como a guanfacina e a clonidina. Esses medicamentos são especialmente indicados em casos de intolerância ou resposta inadequada aos estimulantes. Entretanto, o metilfenidato continua a ser a terapia mais amplamente utilizada devido ao seu perfil de eficácia superior em diversas faixas etárias, tanto em crianças quanto em adultos (STOREBØ et al., 2023).

Do ponto de vista dos efeitos adversos, o metilfenidato apresenta um perfil bem definido. Entre os mais comuns estão a redução do apetite, insônia e, em alguns casos, sintomas de irritabilidade ou aumento da ansiedade. Embora esses eventos adversos sejam geralmente leves e manejáveis, é crucial o monitoramento contínuo do paciente durante o tratamento, especialmente em longo prazo (GROOM; CORTESE, 2022).

3.4 BENEFÍCIOS DA RITALINA PARA O CONTROLE DO TDAH EM CRIANÇAS

O uso do metilfenidato, particularmente sob a formulação de liberação imediata ou prolongada (Ritalina), no controle do TDAH em crianças, demonstra efeitos robustos na modulação dos circuitos neurobiológicos afetados, com impactos notáveis em parâmetros comportamentais e cognitivos. Para além de melhorar os sintomas centrais do transtorno, como a desatenção e a impulsividade, a ação do metilfenidato em crianças oferece um conjunto de benefícios que vão além do simples alívio dos sintomas, promovendo mudanças funcionais importantes (O’CONNOR et al., 2023).

Primeiramente, há um efeito bem estabelecido na melhoria da função executiva. Crianças tratadas com metilfenidato mostram ganhos significativos na capacidade de planejamento, organização e memória de trabalho, habilidades essenciais para o desempenho acadêmico e social. Esse efeito se dá pela ação do metilfenidato na via mesocortical dopaminérgica, onde há um aumento da disponibilidade de dopamina e noradrenalina no córtex pré-frontal, uma região intimamente ligada ao controle de impulsos e regulação da atenção. Essa melhora é observada em tarefas que exigem concentração prolongada, como resolver problemas complexos ou completar sequências lógicas, reduzindo significativamente os erros por descuido (GROOM; CORTESE, 2022).

Além disso, há uma diminuição nos comportamentos disruptivos, como agressividade e explosões emocionais, diretamente relacionada ao melhor controle inibitório proporcionado pela medicação. O metilfenidato não apenas melhora a capacidade de autocontrole, mas também modula os níveis de excitação do sistema nervoso simpático, o que reduz reações emocionais exageradas frente a estímulos estressores. Esse controle da hiperatividade emocional tem impacto positivo nas relações interpessoais, tanto em casa quanto na escola, onde o comportamento desregulado pode causar isolamento social e prejuízos no desenvolvimento socioemocional (O’CONNOR et al., 2023).

Outro aspecto importante é a melhora na adaptação social e na qualidade das interações interpessoais, frequentemente comprometidas em crianças com TDAH. O metilfenidato contribui para um aumento significativo na percepção da criança sobre normas sociais e comportamentos adequados, facilitando a integração em grupos e reduzindo os conflitos com colegas e familiares. Estudos de longo prazo indicam que crianças tratadas com metilfenidato apresentam maior estabilidade em suas interações sociais, com menos rejeição por parte dos colegas e um desenvolvimento mais saudável da autoestima (FARAONE, 2018).

No que se refere aos efeitos cognitivos, o metilfenidato tem demonstrado ser particularmente eficaz na modulação da memória de trabalho e da atenção seletiva. Em contextos de alta demanda cognitiva, como tarefas escolares que requerem raciocínio abstrato e tomada de decisões rápidas, o tratamento proporciona uma melhora substancial na capacidade de manter o foco em informações relevantes enquanto filtra estímulos distratores. Isso é essencial para crianças com TDAH, cuja dificuldade em gerenciar múltiplas informações simultâneas frequentemente compromete o desempenho acadêmico (VAN VYVE et al., 2024).

3.5 PRINCIPAIS EFEITOS ADVERSOS DO USO DE RITALINA POR CRIANÇAS

Assim como qualquer droga, o uso do metilfenidato não está isento de efeitos adversos, esses que precisam ser plenamente manejados, a fim de garantir um tratamento assertivo. Tido como um dos mais comuns, a perda de apetite pode representar um obstáculo importante na adesão da droga, já que esta pode resultar em um comprometimento nutricional significativo, levando à perda de peso e, em casos prolongados, à desaceleração do crescimento. Tendo isso em vista, estratégias como a modificação do horário da medicação (administrando-a após as refeições) ou a introdução de suplementos nutricionais são frequentemente utilizadas para mitigar este efeito sem a necessidade de interrupção da medicação (CHILDRESS et al., 2022).

A insônia é outro efeito adverso comumente relatado é de particular relevância no manejo pediátrico do TDAH. Sua relação com o metilfenidato é dose-dependente e, muitas vezes, exacerbada pelo uso de formulações de liberação imediata. Pacientes que experimentam insônia frequentemente beneficiam-se de formulações de liberação prolongada, que oferecem uma liberação mais controlada do fármaco, diminuindo o pico de estimulação próximo ao período noturno. Ademais, a modificação do horário de administração para o início da manhã, junto com intervenções comportamentais, como o estabelecimento de uma rotina rígida de sono, tem demonstrado eficácia em reduzir a interferência do medicamento no ciclo sono-vigília (SOLMI et al., 2020).

No que diz respeito aos efeitos cardiovasculares, como aumento da frequência cardíaca e pressão arterial, o metilfenidato tem sido alvo de debates, principalmente em pacientes com predisposições genéticas ou história familiar de doenças cardiovasculares. Estudos longitudinais indicam que essas elevações tendem a ser modestas e clinicamente insignificantes na maioria dos casos. Contudo, o monitoramento contínuo de parâmetros cardiovasculares durante o tratamento é imprescindível, especialmente em pacientes com outros fatores de risco. Avaliações regulares, incluindo eletrocardiogramas e medições seriadas de pressão arterial, fazem parte das boas práticas clínicas para minimizar possíveis complicações a longo prazo (GARCIA-ARGIBAY et al., 2024).

A relação entre o uso prolongado de metilfenidato e a modulação do crescimento tem recebido atenção considerável. Embora estudos mais recentes indiquem que a desaceleração do crescimento inicial tende a se estabilizar com o tempo, as implicações desse fenômeno em crianças pré-púberes ainda são objeto de pesquisa. A introdução de “férias medicamentosas” (drug holidays) tem sido sugerida como uma abordagem viável para minimizar o impacto sobre o crescimento, especialmente durante os meses de férias escolares, quando o controle sintomático rigoroso pode não ser tão essencial quanto no ambiente escolar (CARUCCI et al., 2021).

A dependência e o potencial de abuso do metilfenidato são preocupações predominantes, sobretudo em adolescentes e adultos jovens. Embora o risco de dependência em pacientes pediátricos tratados para TDAH seja baixo, a administração inadequada ou o uso recreativo do fármaco pode levar a desfechos negativos, como o abuso de substâncias. A conscientização dos pais e o acompanhamento regular por parte dos profissionais de saúde são essenciais para mitigar esse risco. Nas práticas clínicas, o uso de formulações de liberação prolongada, que possuem menor potencial de abuso em comparação às de liberação imediata, pode ser uma estratégia eficaz para reduzir a chance de desvio (SOLMI et al., 2020).

Por fim, os efeitos adversos comportamentais, como tique motores e compulsões, são mais raros, mas não devem ser ignorados. Em pacientes predispostos a distúrbios do movimento, o metilfenidato pode exacerbar esses sintomas, exigindo ajustes na terapia ou até a suspensão da medicação em casos mais graves. A introdução de um regime terapêutico com medicamentos alternativos ou o uso combinado de terapia comportamental são estratégias utilizadas nesses casos (OSLAND; STEEVES; PRINGSHEIM, 2018).

4. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

Com base na análise dos dados apresentados, pode-se concluir que o tratamento medicamentoso para o Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade em crianças, embora eficaz, exige uma abordagem cuidadosa e multidisciplinar. A Ritalina, ou metilfenidato, mostra-se como uma das principais intervenções farmacológicas, promovendo benefícios significativos no controle dos sintomas de desatenção, impulsividade e hiperatividade, resultando em melhorias acadêmicas e sociais. Contudo, os efeitos adversos a curto e longo prazo, como insônia, perda de apetite e possíveis implicações cardiovasculares e de crescimento, indicam a necessidade de monitoramento rigoroso.

O tratamento ideal para o TDAH deve envolver não apenas o uso de medicação, mas também o acompanhamento psicológico e comportamental, visando um desenvolvimento mais saudável e equilibrado da criança. A importância do apoio familiar é um fator determinante para o sucesso do tratamento, uma vez que a relação entre pais e filhos pode influenciar diretamente na resposta terapêutica. Portanto, intervenções educativas e psicológicas que envolvam o ambiente familiar são fundamentais.

Ademais, estudos reforçam que, apesar dos benefícios da Ritalina no controle do TDAH, a adesão ao tratamento ainda apresenta desafios, sobretudo em termos de continuidade a longo prazo. A falta de adesão pode comprometer a eficácia terapêutica, ressaltando a necessidade de abordagens integradas que considerem as particularidades de cada paciente e as necessidades específicas de intervenção. Em suma, o tratamento medicamentoso do TDAH, quando aliado a práticas psicossociais e familiares, pode oferecer melhores resultados no manejo do transtorno.

REFERÊNCIAS

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1Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA, E-mail: paulo.fimca@gmail.com
2Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício Carvalho – FIMCA, E-mail: adrirano@gmail.com
3Discente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício de Carvalho – FIMCA, E-mail: jaracouceiro@gmail.com
4Docente do curso de Medicina do Centro Universitário Aparício de Carvalho – FIMCA, E-mail: rogeliorochabarros@gmail.com