REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8000268
Jéssica Aguiar de Lima;
Priscila Pinto Brandão de Araújo;
José Onofre Alves Meira Rocha;
Tiago Drumond Valadares Freitas;
Carlos Eduarde Bezerra Pascoal.
RESUMO
Em 1935 foi criado o primeiro aparelho autoligado, por Russel Lock, com o objetivo de reduzir o tempo de tratamento. O diferencial dos braquetes autoligados quando comparados ao sistema convencional é o fato de dispensar o uso de ligaduras, tanto elásticas como metálicas. O braquete autoligado possui um mecanismo de fechamento através de um clipe metálico, que permite abertura e fechamento da canaleta. Existem três modelos de braquetes autoligados: passivos, ativos e interativos, dentre eles os braquetes passivos permitem menor atrito. No entanto, devem-se avaliar os princípios básicos da ortodontia, o diagnóstico, o domínio da biomecânica e o plano de tratamento, pois são fundamentais para um correto tratamento ortodôntico. Neste estudo foi relatado o tratamento ortodôntico em uma paciente jovem utilizando aparelho autoligado, na Clínica de Especialização em Ortodontia da Ceproeducar – Manaus – AM. O objetivo deste trabalho é relatar um tratamento ortodôntico utilizando o sistema de braquetes autoligados, observando as vantagens e desvantagens do uso do aparelho. Com a discussão, foi possível observar as vantagens e desvantagens do uso do aparelho autoligado comparado ao uso de braquetes convencionais. Pôde-se concluir que aplicamos forças mais leves durante todo o tratamento devido ao baixo atrito e apesar do alto custo torna-se eficaz a utilização do sistema de braquetes autoligados.
Palavras–chave: Ortodontia. Ortodontia Corretiva. Braquetes Ortodônticos. Atrito.
ABSTRACT
In 1935, the first self-ligating device was created by Russell Lock, with the aim of reducing treatment time. The differential of self-ligated brackets when compared to the conventional system is the fact that they do not require the use of ligatures, both elastic and metallic. The self-ligating bracket has a closing mechanism through a metal clip, which allows opening and closing of the channel. There are three models of self-ligating brackets: passive, active and interactive, among them passive brackets allow less friction. However, the basic principles of orthodontics, diagnosis, mastery of biomechanics and treatment plan must be evaluated, as they are fundamental for correct orthodontic treatment. In this study, the orthodontic treatment of a young patient using a self-ligating appliance was reported, at the Clinic of Specialization in Orthodontics, Ceproeducar – Manaus – AM. The objective of this paper is to report an orthodontic treatment using the self-ligating bracket system, observing the advantages and disadvantages of using the appliance. With the discussion, it was possible to observe the advantages and disadvantages of using the self-ligating device compared to the use of conventional brackets. It was concluded that we applied lighter forces throughout the treatment due to low friction and despite the high cost, the use of the self-ligating bracket system becomes effective.
Keywords: Orthodontics. Corrective Orthodontics. Orthodontic brackets. Friction.
INTRODUÇÃO
Criados no início do século XX, os braquetes autoligáveis não são novidades no tratamento ortodôntico (SATHLER et al., 2011). O conceito de braquetes sem ligaduras surgiu na década 30 com o aparelho Russel Lock, no qual foi uma tentativa de reduzir o tempo gasto com a utilização dos braquetes (SATHLER et al., 2011).
No momento atual, o sistema de braquetes autoligados tem sido associado a tratamentos mais rápidos e eficazes, o que nos dar curiosidade de compará-los ao sistema de braquetes convencionais (SATHLER et al., 2011). Ao contrário dos braquetes tradicionais, os braquetes autoligados não necessitam de ligaduras, sejam metálicas ou elásticas (SATHLER et al., 2011). O aparelho autoligado possui um clipe metálico que se apresenta com mecanismo de abertura ou fechamento, para que possa ser introduzido o fio dentro da canaleta com o clipe aberto, após o fechamento da canaleta, o fio é mantido no interior do braquete (NETO et al., 2013).
O uso de um clipe metálico permite uma diminuição nos níveis de atrito, cerca de 30% a 50% do atrito causado pelas ligaduras elásticas (SATHLER et al., 2011). A diminuição do atrito permite uma redução dos níveis de força aplicada durante a execução da mecânica biológica, sendo assim, os braquetes autoligados podem expressar suas vantagens, como movimentos dentários mais compatíveis biologicamente (NETO et al., 2013).
Os braquetes autoligados são apresentados de três formas: passivos, ativos e interativos (NETO et al., 2013). O autoligado ativo é quando o sistema pressiona o fio dentro da canaleta (PRIETO et al., 2016). Já os autoligados passivos o sistema permite uma liberdade maior, a canaleta dos braquetes é fechada por meio de uma trava que desliza na superfície externa das aletas, transformando os braquetes em tubos e criando paredes nas canaletas, sendo rígidas e passivas (PRIETO et al., 2016). Os braquetes passivos apresentam um atrito ainda menor, devido ao clipe que prende o fio no braquete não ter contato tão grande com o fio, como acontece com os braquetes ativos (PRIETO et al., 2016). Os braquetes autoligados interativos exercem pressão em fios mais calibrosos, mas permitem liberdade de fios menos espessos (SATHLER et al., 2011). O sistema de braquetes autoligados, devido as suas características, propõe tornar possível o tratamento ortodôntico mais controlado e eficiente (NETO et al., 2013).
Por ser uma alternativa de tratamento atrativa ao ortodontista que procura oferecer um tratamento de excelência aos seus pacientes, este trabalho tem como objetivo relatar a condução de um tratamento ortodôntico em uma paciente jovem através do uso de braquetes autoligados.
RELATO DE CASO
Paciente J.S.F., do gênero feminino, 12 anos de idade, cor feoderma, não apresentando nenhuma comorbidade, compareceu a Clínica de Especialização em Ortodontia da Ceproeducar – Manaus – AM, a fim de iniciar um tratamento ortodôntico, com a queixa principal de “ajeitar” os seus dentes tortos. Durante o exame clínico extrabucal, notou-se biotipo facial equilibrado (mesofacial), perfil convexo, ligeira assimetria facial e vedamento labial passivo (Figuras 1 A-C).
Figura 1 (A-C): fotografias extraorais
Ao exame intrabucal (Figura 2 A-E), observou-se dentadura permanente ainda em formação (segundos molares em processo de erupção), relação molar de Classe lI do lado direito e Classe l lado esquerdo, classificando-o como Classe ll divisão primeira, subdivisão direita, linha média inferior desviada quase 1mm para esquerda, pôde-se observar um bom contorno do arco superior e inferior, segundos molares superiores e inferiores em processo eruptivo, vestibularização do dente 25, giroversão do dente 31 e apinhamento antero-inferior.
Figura 2 (A-E): fotografias intraorais
Na radiografia panorâmica foi possível observar os dentes 18, 28, 38 e 48 em formação e intra-ósseos e os dentes 17, 27, 37 e 47 em processo de erupção.
Figura 3 – Radiografia panorâmica
Figura 4 – Telerradiografia lateral
Figura 5 – Traçado cefalométrico inicial
Tabela 1 – Análise cefalométrica inicial – Padrão USP
Descrição | Padrão | Valor | Resultados |
PADRÃO DO ESQUELETO CEFÁLICO | |||
NS.Gn | 67º | 67º | Tendência de crescimento vertical equilibrado |
NS.GoM | 32º | 33º | Tendência de crescimento levemente vertical |
NS.PLO | 14º | 23º | Tendência de crescimento vertical |
FMA | 25º ± 5º | 24º | Tendência de crescimento equilibrado |
RELAÇÃO DAS BASES APICAIS | |||
SNA | 82º ± 2º | 84º | Maxila bem posicionada |
SNB | 80º ± 2º | 81º | Mandíbula bem posicionada |
ANB | 2º ± 2º | 4º | Classe l esquelética |
SND | 76º | 76º | Mandíbula bem posicionada |
DENTES X BASES APICAIS | |||
1.NA | 22º | 26 º | Incisivos superiores vestibularizados |
1.NB | 25º | 21º | Incisivos inferiores lingualizados |
1-NA | 4 mm | 5 mm | Incisivos superiores levemente protruídos |
1-NB | 4 mm | 5 mm | Incisivos inferiores levemente protruídos |
Linha l | 0 mm | -2 mm | Incisivos inferiores protruídos |
FMIA | 68º | 60º | Incisivos inferiores vestibularizados |
IMPA | 87º ± 5º | 82º | Incisivos inferiores bem posicionados |
PERFIL ÓSSEO X PERFIL MOLE | |||
NAP | 0º a 2º | 10º | Perfil ósseo convexo |
H.NB | 9º a 12º | 22º | Perfil mole convexo |
H-Nariz | 9 a 11 mm | 4 mm | Perfil de convexidade facial |
Na análise cefalométrica feita por meio da telerradiografia lateral (Figura 4), se confirma que a paciente com perfil convexo (NAP: 10º), maxila bem posicionada em relação à base do crânio (SNA: 84º), mandíbula bem posicionada em relação à base anterior do crânio (SNB: 81º), Classe l esquelética (ANB: 4º), incisivos superiores vestibularizados (1.NA: 26º) e incisivos inferiores lingualizados (1.NB: 21º).
O plano de tratamento proposto foi realizar alinhamento e nivelamento com aparelho ortodôntico autoligado, seguido de mecânica com elásticos para correção da Classe ll e elásticos cruzados para correção da linha média.
Para a condução do tratamento ortodôntico, foi escolhido o Aparelho Autoligado (OrthoClipe SLB Ultra-P – Orthometric), prescrição Roth slot 22, para a arcada superior e inferior.
Inicialmente foi realizada a colagem do aparelho no arco superior na primeira consulta e em seguida a colagem no arco inferior (Figura 6 A-D). Houve a necessidade do uso de mola aberta de NiTi para obtenção de espaço e posterior correção da giroversão do dente 31, foi ainda realizada a confecção de batentes oclusais nos dentes 35, 36, 45 e 46, pois o levantamento de mordida permite o destravamento da oclusão, facilitando a movimentação dentária no início do tratamento.
Figura 6 (A-D): fotografias intraorais após a colagem do aparelho
Durante a fase de alinhamento e nivelamento do arco superior, foi utilizado a sequência de fios desde o 0.014” NiTi Thermal até o fio 0.019” x 0.025″ de NiTi e no arco inferior do fio 0.014” Niti Thermal até o fio 0.014” x 0.025” NiTi Thermal, obteve- se como resultado o ganho de espaço e a correção da giroversão do dente 31, sendo assim foi realizada a remoção da mola aberta de NiTi (Figura 7 A-E).
Figura 7 (A-E): fotografias intraorais após a fase de alinhamento e nivelamento
Após a fase de alinhamento e nivelamento, foi observada uma mordida profunda devido os batentes oclusais e como tratamento para esta má oclusão foi colocado um arco de curva reversa inferior utilizando o fio 0.014’’ NiTi (Figura 8 A-C).
Figura 8 (A-C): fotografias intraorais após a inserção do arco de curva reversa.
Depois de corrigido a mordida profunda foi inserido o fio 0.016’’ NiTi no arco inferior e colado tubos simples nos dentes 37 e 47 e no arco superior foi mantido o fio 0.019’’ x 0.025’’ de NiTi (Figura 9 A-E). Neste momento, foi solicitada uma nova documentação ortodôntica para avaliar as conquistas terapêuticas e dar sequência ao plano de tratamento com o uso de elásticos intermaxilares para a Classe ll e elásticos cruzados para correção da linha média, para essa nova fase do tratamento (Figura 10 A-H). A paciente encontra-se ainda em tratamento ortodôntico na Clínica da Ceproeducar.
Figura 9 (A-E): depois de corrigido a mordida profunda.
Figura 9 (A-H): fotografias extraorais e intraorais finais.
Figura 10 – Radiografia panorâmica
Figura 11 – Telerradiografia lateral
Figura 12 – Traçado cefalométrico final
Tabela 2– Análise cefalométrica final – Padrão USP
Descrição | Padrão | Valor | Resultados |
PADRÃO DO ESQUELETO CEFÁLICO | |||
NS.Gn | 67º | 71º | Tendência de crescimento vertical |
NS.GoM | 32º | 38º | Tendência de crescimento vertical |
NS.PLO | 14º | 25º | Tendência de crescimento vertical |
FMA | 25º ± 5º | 25º | Tendência de crescimento equilibrado |
RELAÇÃO DAS BASES APICAIS | |||
SNA | 82º ± 2º | 81º | Maxila bem posicionada |
SNB | 80º ± 2º | 77º | Mandíbula levemente retruída |
ANB | 2º ± 2º | 3º | Classe l esquelética |
SND | 76º | 74º | Retrusão mandibular |
DENTES X BASES APICAIS | |||
1.NA | 22º | 23º | Incisivos superiores levemente vestibularizados |
1.NB | 25º | 27º | Incisivos inferiores vestibularizados |
1-NA | 4 mm | 7 mm | Incisivos superiores protruídos |
1-NB | 4 mm | 8 mm | Incisivos inferiores protruídos |
Linha l | 0 mm | -3 mm | Incisivos inferiores protruídos |
FMIA | 68º | 58º | Incisivos inferiores vestibularizados |
IMPA | 87º ± 5º | 97º | Inclinação dos incisivos Inferiores para vestibular |
PERFIL ÓSSEO X PERFIL MOLE | |||
NAP | 0º a 2º | 6º | Perfil ósseo convexo |
H.NB | 9º a 12º | 15º | Perfil mole convexo |
H-Nariz | 9 a 11 mm | 4 mm | Perfil de convexidade facial |
Tabela 3– Análise cefalométrica – Comparação – Padrão USP
Descrição | Padrão | Inicial | Final | Resultados |
PADRÃO DO ESQUELETO CEFÁLICO | ||||
NS.Gn | 67º | 67º | 71º | Passou a ter tendência de crescimento vertical |
NS.GoM | 32º | 33º | 38º | Aumento da tendência de crescimento vertical |
NS.PLO | 14º | 23º | 25º | Aumento da tendência de crescimento vertical |
FMA | 25º ± 5º | 24º | 25º | Permaneceu a tendência de crescimento equilibrada |
RELAÇÃO DAS BASES APICAIS | ||||
SNA | 82º ± 2º | 84º | 81º | Maxila permaneceu bem posicionada |
SNB | 80º ± 2º | 81º | 77º | Teve a mandíbula retruída |
ANB | 2º ± 2º | 4º | 3º | Permaneceu Classe l esquelética |
DENTES X BASES APICAIS | ||||
1.NB | 25º | 21º | 27º | Mudou os incisivos inferiores de lingualizados para vestibularizados |
IMPA | 87 ± 5 | 82º | 97º | Passou a ter aumento da inclinação dos incisivos inferiores para vestibular |
Com base na comparação dos resultados cefalométricos (Tabela 3), alguns valores tornaram-se relevantes, mostrando que a paciente passou a ter tendência de crescimento vertical (NS.Gn: 71º) e observamos um aumento da vestibularização dos incisivos inferiores (IMPA: 97º) que se devem a expansão pelo autoligado para correção do apinhamento inferior e o uso da mola de NiTi.
DISCUSSÃO
Neto et al. (2014), apontam os braquetes autoligados como um sistema completo de tratamento devido à variedade de características que tornam possível um tratamento ortodôntico mais controlado e eficiente. O baixo nível de atrito traz a possibilidade de aplicação de forças leves, compatíveis com a movimentação necessária e com a fisiologia dos tecidos envolvidos.
No caso dos braquetes passivos, o atrito é menor ainda, devido ao clipe metálico não apertar tanto o fio dentro do slot como ocorre nos braquetes ativos (NETO et al., 2014). De acordo com Estel et al. (2016), que realizaram uma revisão de literatura comparando os modelos de braquetes, observaram que uma das maiores vantagens destacada realmente é a diminuição da força de atrito, porém, constatou que esta diminuição está diretamente ligada a espessura do fio, ou seja, quanto maior o diâmetro do arco a ser utilizado maior também será a força de atrito gerada. Outro estudo que comparou os sistemas de braquetes, afirma que a vantagem do baixo atrito nos braquetes autoligados está diretamente ligado ao fato de dispensar o uso de ligaduras (SATHLER et al., 2011). Buzzoni et al. (2011), afirmam que os fios mais calibrosos produzem valores mais altos de fricção, e geralmente arcos de secção retangular geram maior atrito do que os arcos de secção redonda, isto porque nos fios de secção retangular há maior superfície de contato com os braquetes. Com base nas informações, devido à vantagem do baixo atrito, este foi um dos motivos de escolha dos braquetes autoligados passivos, para realizar o tratamento ortodôntico deste caso.
Neto et al. (2014), avaliaram que o sistema autoligado favorece no controle de certos movimentos dentários como por exemplo: angulação, rotação e torque; pois a flexibilidade do clipe diminui o efeito das forças pesadas e dissipa parte da força aplicada. Durante o tratamento ortodôntico da paciente deste estudo, percebemos que não houve queixas da paciente referente à dor durante as ativações do aparelho, no período entre as consultas do tratamento ortodôntico. Existem ainda vantagens biológicas com a utilização de braquetes autoligados, pois possibilita usar forças mais leves estimulando a atividade celular, sem obstruir por completo os vasos sanguíneos e o ligamento periodontal; favorecendo assim a movimentação ortodôntica do ponto de vista biológico (TREVIZAN et al., 2017).
O baixo atrito e o uso de forças leves do sistema autoligado são indicados por Trevizan et al. (2017), como os principais fatores responsáveis por um alinhamento e nivelamento mais rápido quando comparados ao sistema convencional, que afirmam reduzir em média 4 meses de tratamento, devido ao baixo atrito. A fase de alinhamento e nivelamento da paciente deste relato de caso, levou em torno de 8 meses. No entanto de acordo com Martins (2014), os braquetes autoligados não alinham os dentes mais rapidamente, a rapidez do alinhamento e nivelamento para o autor, depende de como os dentes estão posicionados. Concordamos com Martins de que o sistema de braquetes autoligados para realizar um alinhamento e nivelamento mais rápido depende de como os dentes estão posicionados, quanto maior o grau de dificuldade maior será o tempo de alinhamento e nivelamento.
Em um estudo in vitro, através da máquina Instron Universal, onde comparou níveis de forças necessárias para a movimentação dentária, foram comparados os dois sistemas de braquetes (autoligado e convencional), obtiveram como resultado uma redução no nível de força para a movimentação dentária de até 15 vezes, quando utilizado o sistema autoligado, independente do tipo de fio utilizado (PAULA, PAULA, 2012). Pode-se acrescentar também que a velocidade do tratamento também pode estar atrelada diretamente a curva de aprendizado do operador, visto que não adianta fornecer o melhor sistema de tratamento e o mesmo não saber utilizá-lo.
Quanto ao torque, uma das desvantagens observadas por Neto et al. (2014), é que os braquetes autoligados passivos podem dificultar o controle de torque na fase de finalização podendo ser necessário o uso de amarrilho para aumentar a fricção entre o braquete e o fio. Para contornar este problema, a experiência do profissional é mais uma vez apontada como um diferencial.
Quanto à reabsorção radicular, que é considerado um efeito colateral, que acomete diversos pacientes que fazem tratamento ortodôntico; Begosso et al. (2017), compararam o grau de reabsorção radicular entre o sistema autoligado e o sistema convencional, no qual foram analisados dois grupos, cada um com um tipo de sistema, em média na faixa etária entre 16 a 18 anos, com aproximadamente 2 anos de tratamento e chegou ao resultado que a diferença dos níveis foi quase que imperceptível entre os dois sistemas, sendo quase equivalentes os níveis de reabsorção. Para Prieto et al. (2016), não há comprovação de que os braquetes autoligados reduzam o risco de reabsorção radicular ou doenças periodontais durante
o tratamento ortodôntico. Na radiografia panorâmica final foi possível observar que não houve alterações de reabsorção radicular, concordando de acordo com os autores anteriores.
A literatura também comparou interação dos tipos de braquetes de aparelho ortodôntico com os tecidos periodontais, por exemplo, no estudo realizado por Castro (2009), em que foi avaliada a retenção de placa bacteriana durante o tratamento com braquetes autoligados e convencionais (utilizando ligaduras elásticas), mostrou que os braquetes autoligados produzem menores índices de placa bacteriana quando comparados ao outro sistema. Na paciente do relato de caso deste trabalho foi possível observar grande acúmulo de placa bacteriana nos braquetes autoligados, o que resultava em uma inflamação da gengiva da paciente, porém era observado que faltava colaboração por parte da paciente para realização de uma boa higiene.
Já em outro estudo, realizado por Unuzer et al. (2014), que avaliaram o efeito de diferentes tipos de braquetes sobre os níveis de Streptococcus mutans (SM) e Lactobacillus (LB) na saliva, na placa e na condição periodontal e chegaram à conclusão de que não ocorreram diferenças significativas na colonização entre os grupos. Os referidos autores concluíram então que os braquetes autoligados não apresentaram vantagem com respeito ao índice periodontal e colonização de SM e LB.
Apesar de o sistema autoligado ser vantajoso para a condução da maioria dos tratamentos ortodônticos, o alto custo ainda é apontado como uma desvantagem quando comparado ao custo dos braquetes convencionais (PERGHER et.al., 2017). Foi visível ao longo do tratamento da paciente a dificuldade de reposição de braquetes, em virtude do seu alto custo, pois não era possível a compra por unidade no mercado, o que nos induz a compra de um novo aparelho. Uma das formas que encontramos de reduzir este custo foi através da utilização da máquina de jateamento de óxido de alumínio nos braquetes que vieram a descolar. Outra desvantagem encontrada no decorrer do tratamento foi à quebra de aletas dos braquetes, durante o movimento de abertura e fechamento.
CONCLUSÃO
De acordo com o relato de caso deste trabalho, podemos concluir que:
O sistema de braquetes autoligados se apresentou como um sistema eficaz no tratamento ortodôntico da paciente desde estudo.
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Jéssica Aguiar de Lima – Especialista em Ortodontia.
Priscila Pinto Brandão de Araújo – Doutora em Ortodontia.
José Onofre Alves Meira Rocha – Especialista em Ortodontia.
George Otto Florêncio Pereira – Especialista em Ortodontia.
Tiago Drumond Valadares Freitas – Especialista em Ortodontia.
Carlos Eduarde Bezerra Pascoal – Especialista em Ortodontia.