TRATAMENTO ODONTOLÓGICO EM CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN: UMA REVISÃO SISTEMÁTICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409051601


Jocilene Pinheiro Barros1,
Orientador: João Victor Sousa Santos2


RESUMO

O tratamento odontológico em crianças com síndrome de Down é de extrema importância, pois essas crianças apresentam características que podem influenciar no desenvolvimento adequado da saúde bucal. O tratamento também contribui para o desenvolvimento de uma boa saúde oral, prevenindo futuras complicações e melhorando a qualidade de vida dessas crianças. Este artigo teve como objetivo geral: Analisar se as técnicas utilizadas no manejo odontopediátrico de pacientes com Síndrome de Down, auxiliam os pacientes no tratamento odontológico a fim de evitar-se um possível agravamento das doenças bucais. Para a realização deste artigo, foi realizada uma pesquisa de revisão Sistemática, na base de dados Google acadêmico a cerca do atendimento e manejo odontopediátrico em crianças com SD. A pesquisa abrangeu um período de 4 anos, de 2020 a 2024. Resultados e Discussões: Os pacientes pediátricos com Síndrome de Down apresentam algumas alterações bucais específicas que requerem atenção odontológica adequada. Eles podem ter atraso no desenvolvimento dos dentes permanentes, com erupção tardia e irregular. As práticas de cuidados odontológicos para crianças com Síndrome de Down devem ser adaptadas às suas necessidades específicas, respeitando suas limitações cognitivas e motoras. Conclusão: As técnicas de gerenciamento comportamental são fundamentais para o manejo odontopediátrico de crianças com Síndrome de Down. Elas contribuem para um tratamento odontológico mais efetivo, evitando um possível agravamento das doenças bucais e proporcionando uma melhor qualidade de vida para esses pacientes.

PALAVRAS-CHAVE: Tratamento odontológico. Crianças com Síndrome de Down. Manejo odontopediátrico. Doenças bucais.

ABSTRACT

Dental treatment in children with Down syndrome is extremely important, as these children have characteristics that can influence the proper development of oral health. The treatment also contributes to the development of good oral health, preventing future complications and improving the quality of life of these children. This article had the general objective: To analyze whether the techniques used in the pediatric dentistry management of patients with Down Syndrome help patients in dental treatment in order to avoid a possible worsening of oral diseases. To carry out this article, a systematic review research was carried out in the Google Scholar database regarding pediatric dental care and management in children with DS. The research covered a period of 4 years, from 2020 to 2024. Results and Discussions: Pediatric patients with Down Syndrome present some specific oral changes that require adequate dental attention. They may have delayed development of permanent teeth, with late and irregular eruption. Dental care practices for children with Down Syndrome must be adapted to their specific needs, respecting their cognitive and motor limitations. Conclusion: Behavioral management techniques are fundamental for the pediatric dentistry management of children with Down Syndrome. They contribute to more effective dental treatment, preventing a possible worsening of oral diseases and providing a better quality of life for these patient

KEYWORDS: Dental treatment. Children with Down Syndrome. Pediatric dental management. Oral diseases.

INTRODUÇÃO

O presente artigo tem como tema “Tratamento odontológico em pacientes com Síndrome de Down: Uma revisão sistemática”. A  condição genética Síndrome de Down  afeta todos os sistemas do corpo, foi apresentada pela primeira vez por Langdon Down em 1866 como uma condição clínica com características próprias. É a anomalia congênita mais comum e de maior prevalência, afeta todas as raças e níveis socioeconômicos e inclui alterações psicológicas e comportamentais, além de anormalidades físicas e orais (MOREIRA et al., 2015; PINI et al., 2016).

Portadores dessa síndrome são considerados excepcionais e deve-se entender que o conceito de paciente excepcional é para qualquer idade pois os mesmos se  desviam dos padrões de crescimento e desenvolvimento físico, social ou emocional, exigindo instrução suplementar, educação especial e comportamento adequado durante todo  a vida (PINI et al., 2016).

Quanto as principais técnicas utilizadas pelos odontopediatras no atendimento de pacientes com Síndrome de Down são: comunicação  não verbal e verbal, atuação narrativa, controle vocal, reforço positivo, distração e dessensibilização, ludoterapia e, se necessário, relacionamento pré-estabelecido com a pessoa em questão, estabilidade protetora (CALDAS JR ; MACHIAVELLI, 2013).

Além da respiração bucal e de uma dieta cariogênica, eles também podem ter dificuldade em manter uma higiene bucal adequada, o que explica os altos índices de cárie e gengivite (PINI et al., 2016). No entanto, alguns autores ainda consideram controversa a pesquisa sobre cárie dentária em pacientes com Síndrome de Down (MOREIRA et al., 2015).

Em pessoas com Síndrome de Down (SD), é comum verificar-se algumas alterações orais, tais como: Palato, língua, lábios, dentes e saliva. Os hábitos nocivos e a má oclusão também devem ser considerados aspectos muito importantes na avaliação bucal de pacientes com Síndrome de Down (CAMPOS; REBELLO, 2010).

Compreender e desvendar a individualidade de um paciente infantil com Síndrome de Down é crucial para construir uma  boa relação  entre o dentista, o paciente e até mesmo os familiares, pois isso facilitará um tratamento tranquilo e um resultado positivo (KALTENBACH,1999). De acordo com o ECA são considerados crianças quem tem até 12 anos incompletos (BRASIL, 1990a). Diante disso,  o objeto de estudo dessa  pesquisa analisar as técnicas de gerenciamento comportamentais adequadas para uma abordagem odontopediátrica com sucesso para crianças com Síndrome de Down (SD) de 2 a 11 anos.

O tratamento precoce é sempre a melhor opção e nesse caso pode evitar transtornos futuros. As habilidades gerenciais da odontopediatria, aliadas ao auxílio dos pais, proporcionarão a essa criança uma conexão com o profissional, permitindo que o filho se sinta confortável e confiante mesmo que ainda apresente alguma necessidade especial, o que facilitará o trabalho do dentista.

Dentro do exposto levantasse a seguinte problemática: “De que forma as técnicas de gerenciamento comportamental podem auxiliar no manejo odontopediátrico de crianças com Síndrome de Down?”.

A primeira hipótese é que : As técnicas de manejo objetivam desenvolver no paciente com SD um comportamento mais apropriado, nesse sentido algumas vezes é necessário dispor de diferentes técnicas comportamentais ou contenção na realização do tratamento odontológico.

A segunda hipótese é que: O manejo infantil visa desenvolver uma comunicação com a criança, de modo a  estabelecer a construção de confiança entre o profissional e o paciente, aliviando assim, o medo e a ansiedade durante o atendimento..

Diante da problemática levantada, o objetivo geral dessa pesquisa é Analisar se as técnicas utilizadas no manejo odontopediátrico de pacientes com Síndrome de Down, auxiliam os pacientes no tratamento odontológico a fim de evitar-se  um possível agravamento das doenças bucais.

Os objetivos específicos foram: Apontar a importância das técnicas de manejo odontopediátrico para qualidade de vida de crianças com Síndrome de Down; Descrever os principais procedimentos de abordagem de comportamento infantil utilizados na odontopediatria para crianças com Síndrome de Down; Discutir os desafios encontrados no atendimento odontológico de crianças com Síndrome de Down.

Para a realização deste artigo, foi realizada uma pesquisa de revisão Sistemática, na base de dados Google acadêmico a cerca do atendimento e manejo odontopediátrico em crianças com SD. A pesquisa abrangeu um período de 4 anos, de 2020 a 2024.

Os dados foram coletados na base de dados do Google acadêmico utilizando os seguintes descritores em português: Atendimento odontopediátrico, Crianças com Síndrome de down e Manejo odontopediátrico. As palavras chaves foram separadas pelo operador lógico booleano and com o intuito de que todos os resultados de busca apresentem os termos buscados.

Os critérios de inclusão foram: artigos, dissertações e teses e disponíveis na base de dados do Google acadêmico, em português; que apresentassem os termos de busca no título, palavras-chaves e/ou resumo publicados no período de 2020 a 2024.

Os critérios de exclusão dos artigos foram: artigos, dissertações e teses disponíveis na plataforma do Google acadêmico que não abordassem as palavras chaves no título, palavras-chaves e/ou resumo e que apresentassem duplicidade e que possuíssem um recorte temporal maior que 4 anos de publicação.

2. A SINDROME DE DOWN NA ODONTOLOGIA: LIMITAÇÕES FÍSICAS, MENTAIS E SOCIAIS

Estima-se que a Síndrome de Down (SD) ocorra em 1 a cada 700 nascimentos, totalizando aproximadamente 270.000 indivíduos com  essa condição genética no Brasil, enquanto no mundo a incidência estimada é de 1 /1.000 (BRASIL, 2020).

Na odontologia, os pacientes com essa síndrome requerem cuidados individualizados e diferenciados, pois são considerados especiais e apresentam alterações orais significativas como: alterações oclusais, tônus muscular alterado, mucosa oral ressecada, bruxismo, macroglossia, etc (CAMERA et al., 2011)

De acordo com Al-Maweri e Al-Sufyani (2014), a síndrome de Down é uma condição genética em que ocorre a trissomia do cromossomo 21, também conhecida como Trissomia 21, Trissomia G ou Mongolismo. Os pacientes com essa síndrome apresentam características físicas distintas, como baixa estatura, cabeça achatada, fendas palpebrais oblíquas e anomalias dentárias. Essas peculiaridades exigem uma consideração especial no tratamento odontológico desses indivíduos. 

Indivíduos com síndrome de Down (SD) estão predispostos a uma série de problemas de saúde bucal devido a características orofaciais específicas e a condições médicas associadas. Por exemplo, eles têm um risco aumentado de prolapso da válvula mitral, o que aumenta as chances de desenvolver endocardite bacteriana. Portanto, é recomendado que o dentista administre profilaxia antibiótica antes de procedimentos invasivos(FALCÃO et al., 2019).

Além disso, o hipotireoidismo é uma condição comum em pacientes com SD, afetando o desenvolvimento dos ossos e dentes e causando atraso na erupção dental. Também é observado com frequência alterações neurológicas e nas vias respiratórias, principalmente na garganta, ouvido e vias aéreas, devido à deficiência imunológica, hipotonia muscular e anatomia alterada, o que pode levar a um acúmulo maior de bactérias(FALCÃO et al., 2019).

As características orofaciais das pessoas com SD podem ser impactadas, afetando o desenvolvimento normal das estruturas, como tamanho reduzido dos dentes, erupção tardia, agenesia e alterações na anatomia da coroa. Isso também pode prejudicar funções essenciais, como fala, mastigação, deglutição e sucção. Além disso, esses indivíduos têm maior predisposição a distúrbios orofaciais, como doença periodontal, má oclusão e problemas nos tecidos moles, incluindo protrusão da língua ou lábios invertidos. Esses problemas orais e os sintomas associados, como dor e dificuldade ao mastigar, podem causar um grande impacto na vida dos pacientes, afetando sua qualidade de vida de maneira social e emocional (ALJAMEEL et al., 2020).

Estudos mostraram que a giroversão, agenesia e dentes cônicos são as anomalias de desenvolvimento mais comuns em indivíduos com SD. Também são frequentes a presença de dentes extras, atraso na erupção dos dentes permanentes devido à retenção prolongada dos dentes decíduos, macroglossia, taurodontia, maxila estreita, microdontia, hipotonia muscular da língua, oligodontia, bruxismo, queilite angular, hipodontia, língua fissurada, respiração bucal, defeitos no esmalte e problemas periodontais (NACAMURA et al., 2015).

Existem diferentes perspectivas na literatura sobre a ocorrência de cárie em pacientes com síndrome de Down. Alguns estudos, como os de Pini et al. (2016) e Ghaith et al. (2019), argumentam que esses pacientes têm uma alta incidência de cárie devido à falta de higienização adequada, falta de orientação profissional e às limitações motoras e mentais que podem dificultar o cuidado bucal.

Por outro lado, Scalioni et al. (2017) defendem a ideia de que esses pacientes têm um baixo índice de desenvolvimento de lesões de cárie, devido à tendência ao bruxismo, que desgasta as superfícies oclusais dos dentes, evitando o acúmulo de alimentos e a instalação de cáries. Silva & Trabaquin (2019) também mencionam que a maior capacidade tampão da saliva e a presença de espaços interproximais decorrentes de agenesia dentária dificultam o acúmulo de restos alimentares e bactérias cariogênicas.

Além disso, a erupção dentária pode ser tardia em pacientes com síndrome de Down, ocorrendo até o 12º mês de vida, enquanto o molar permanente geralmente começa a aparecer aos 8 anos de idade. O prognatismo mandibular é frequente nesses pacientes, causando obstrução da oclusão e possíveis mordidas invertidas, abertas ou cruzadas. A presença de macroglossia, real ou aparente devido à diminuição do espaço bucal, pode levar ao hábito de respiração oral e vazamento salivar. A gengivite também é comum e, portanto, a higiene bucal diária e o acompanhamento odontológico regular são de extrema importância (GALLO et al., 2019).

2.1 ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), 10% da população mundial sofre de algum tipo de deficiência, mas apenas 3% recebem cuidados adequados. Atualmente, a demanda por profissionais da odontologia para prestar cuidados adequados aos pacientes com necessidades especiais, incluindo Síndrome de Down (SD), é crescente, mas, ao mesmo tempo, esses profissionais sofrem com uma grave falta de preparo e conhecimento (BRASIL, 2019).

O tratamento odontológico envolve eliminar e / ou controlar as dificuldades que esses pacientes vivenciam devido às suas limitações. Eles deveriam receber mais atenção em relação ao tratamento periodontal, lesões cariosas, má oclusão entre outros. E, embora existam muitas formas de melhorar a higiene oral, os procedimentos mecânicos por si só não são suficientes. As técnicas utilizadas no manejo odontopediátrico de pacientes com Síndrome de Down apresentam muitos benefícios e podem prevenir a progressão da doença bucal (CHÁVEZ et al., 2014).

Em certos pacientes os dentistas acabam optando pela anestesia geral porque é difícil realizar tratamentos mais invasivos (como cirurgia), facilitar a reabilitação oral e tratar o paciente em uma sessão. Porém, esta opção só é indicada quando tudo mais falhar (USUI et al., 2020).

Orientações sobre como cuidar da alimentação (evitando obesidade e saúde bucal) e demonstração de métodos de higiene bucal devem ser repassadas com o apoio da família, hábitos precoces estabelecidos e monitorados por profissionais adequados e qualificados (CHÁVEZ et al., 2014).

É importante ressaltar que a ansiedade e as reações emocionais de cada criança são o que mais dificulta o atendimento odontológico, por isso os pais hesitam em levar os filhos, tornando os tratamentos futuros mais caros e complicados(KANDELWAL et al., 2019).

Segundo Brandenburg e Marinho (2013), os pais desempenham um papel importante nas consultas odontológicas dos filhos. A partir do momento de cooperação entre os responsáveis, não só no consultório, mas também no ambiente doméstico, a cooperação da criança no tratamento dentário torna-se mais fácil, aumentando assim a taxa de sucesso.

Para melhor atender os pacientes com SD, os profissionais de odontologia devem compreender suas personalidades. Anamnese bem elaborada, uso de reforço positivo, atenção às expressões, gestos, reações, atendimento pontual, consulta breve e preferencialmente procedimentos mais simples no primeiro encontro são os cuidados básicos que devem ser priorizados (FALCÃO et al., 2019).

Pacientes pediátricos com SD apresentam dificuldades na procura por atendimento odontológico devido a falta de preparo de alguns profissionais em atender às pessoas com necessidades especiais (PNE). Isso se dá devido a negligência, preconceito, precariedade nos serviços odontológicos prestados, ou despreparo dos profissionais da área com essa especialidade (USUI et al., 2020).

Portanto, uma das principais medidas para mudar esta situação é fazer com que esses pacientes recebam consulta odontológica o mais cedo possível para evitar danos bucais e a necessidade de tratamentos invasivos. Além disso, o conhecimento técnico no manejo desses pacientes é um dos pontos do processo de cuidado que cria um vínculo de confiança entre profissionais e pacientes (USUI et al., 2020).

A partir do comportamento apresentado pela  criança durante o atendimento odontológico, o profissional  deve  procurar a melhor  técnica para controlar as emoções e  impulsividades desse paciente no consultório odontológico. É importante que o atendimento seja conduzido de uma forma divertida, afim de  que se viabilize o atendimento  e  que as interações profissionais com o paciente sejam atraumáticas e proporcionem segurança e tranquilidade(DIAS, 2013).

Na comunicação verbal, o procedimento é expresso ao paciente e explica -se o que será feito no tratamento, enquanto na comunicação não verbal são observados os toques, posturas, expressões faciais e corporais, reforçando o que é repassado primeiro (DIAS, 2013).

O atendimento aos pacientes com SD deve ser abrangente e multidisciplinar, e a presença de profissionais da odontologia é importante para a motivação, supervisão e tratamento desses pacientes(CAMERA et al., 2011).

É de grande relevância estar sempre em contato com outros profissionais responsáveis ​​pela criança, como médicos e psicólogos, para buscar um tratamento inclusivo e de qualidade, baseado em todas as especificidades e adaptações necessárias exigidas pela criança necessidade.

2.2 A IMPORTÂNCIA DAS TÉCNICAS DE MANEJO ODONTOPEDIÁTRICO PARA QUALIDADE DE VIDA  DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

A Síndrome de Down é uma alteração genética causada pela presença de um cromossomo a mais no par 21, o que resulta em características físicas e cognitivas distintas. Essas crianças possuem necessidades específicas, inclusive no cuidado com a saúde bucal (VILELA et al., 2018).

A saúde bucal é fundamental para a qualidade de vida de qualquer indivíduo, mas as crianças com Síndrome de Down enfrentam desafios adicionais nesse aspecto. Estudos mostram que elas apresentam maior incidência de problemas dentários, como atraso na erupção dos dentes, má oclusão e maior suscetibilidade à cárie (GALLO et al., 2019).

Além disso, essas crianças também podem ter dificuldades em relação ao comportamento durante o tratamento odontológico. Muitas vezes, são mais sensíveis aos estímulos táteis, visuais e sonoros, o que pode gerar grande ansiedade e medo durante as consultas(GALLO et al., 2019).

Diante desses desafios, as técnicas de manejo odontopediátrico ganham extrema importância para garantir que essas crianças recebam o tratamento odontológico adequado e tenham uma melhor qualidade de vida. Essas técnicas envolvem abordagens diferenciadas, como o uso de reforços positivos, comunicação clara e objetiva, adaptação do ambiente e realização do tratamento de forma gradual e contínua ( NAKAMURA et al., 2015).

O manejo adequado permite que a criança com Síndrome de Down se sinta mais segura e confiante durante as consultas odontológicas. Isso contribui para a prevenção e tratamento dos problemas bucais, evitando o desenvolvimento de complicações futuras ( NAKAMURA et al., 2015).

Além disso, a saúde bucal adequada também influencia na alimentação e na fala dessas crianças, fatores que são essenciais para o seu desenvolvimento global. Portanto, as técnicas de manejo odontopediátrico são fundamentais para garantir uma melhor qualidade de vida às crianças com Síndrome de Down (MOREIRA et al., 2015).

Ao proporcionar um atendimento odontológico adaptado às suas necessidades, é possível promover a saúde bucal e contribuir para o bem-estar e inclusão social desses indivíduos.  

2.3 AS PRINCIPAIS TÉCNICAS GERENCIAIS COMPORTAMENTAIS UTILIZADAS NA ODONTOPEDIATRIA PARA CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN

Cabe ressaltar algumas técnicas gerenciais comportamentais utilizadas no atendimento de pacientes com  SD.

As técnicas de dizer – mostrar – fazer incluem explicar a idade e a condição do paciente de maneira simples e apropriada (dizer), demonstrar com modelos visuais e táteis para tranquilizá-los (mostrar) e realizar o procedimento no próprio paciente (fazer). No controle de voz, o volume e o altura da voz são ajustados conforme necessário para direcionar ou influenciar o comportamento desejado(SILVA et al., 2016).

O tom de voz e a expressão facial de um profissional são fatores importantes que contribuem e refletem uma atitude confiante e controladora. Dessa forma, além da orientação da criança, haverá também a cooperação da criança, ademais deve se destacar que  essa técnica,  só não será aplicada em casos como o de pacientes com deficiência auditiva (SILVA et al., 2016).

O reforço positivo é caracterizado pelo processo de motivar uma criança por meio de elogios, expressões faciais positivas, gestos positivos e lembranças. Se ocorrer comportamento negativo, slogans como ‘pare’ e ‘não faça isso’ devem ser evitados para não ameaçar e prejudicar a cooperação do paciente. É importante que os profissionais mantenham a calma e peçam a sua cooperação de boa fé. Pressupõe-se ainda que esta técnica,  possa ser utilizada em todos os pacientes (SILVA et al., 2019).

O objetivo da dessensibilização é colocar o paciente em estado de relaxamento, expondo gradativamente o procedimento odontológico a um ambiente livre de distrações e simplificando a sala de tratamento. No processo de distração, são introduzidos estímulos atrativos para desviar a atenção dos fatores aversivos que geram medo e tensão no escritório para situações imaginadas agradáveis.

A técnica  distração consiste em utilizar durante o atendimento coisas que possam causar distração ao paciente durante procedimentos odontológicos  tais como música, desenhos e  objetos. O objetivo é distrair o paciente pediátrico de comportamentos não cooperativos que podem desencadear medo e estresse. Portanto, o odontopediatra deve utilizar recursos que ajudem a distrair o paciente e proporcionem um ambiente menos estressante( MATOS ; VIEIRA, 2018).

A ludoterapia envolve o uso de brinquedos para desviar medos, desejos e vontades, e as crianças podem aprender brincando em seu próprio ritmo e habilidade. Essa técnica pode facilitar o aprendizado, aumentando assim a autoestima, resultando na redução da ansiedade e maior motivação para participar de atividades e cuidados (MOREIRA et al., 2015).

Os resultados de um estudo realizado em 2017 pela Fundação Cindes de Pereira entre 12 pessoas com diagnóstico de SD com idades entre 8 e 49 anos podem destacar a eficácia da implementação de estratégias interessantes como ferramenta essencial para alcançar uma aprendizagem significativa. Portanto, além de melhorar a execução e a autonomia das técnicas de escovação dentária, essa população também aprende a reconhecer as estruturas bucais e os riscos de não praticar a higiene bucal adequada (RAMÍREZ et al., 2021).

Após esclarecimento ao responsável, poderão ser utilizadas medidas protetoras de estabilização com pacientes não cooperantes que ainda não se adaptaram a outras formas de gestão do comportamento e que não conseguem cooperar devido ao seu estado emocional (RAMÍREZ et al., 2021).

A vantagem desta tecnologia é a redução ou eliminação de movimentos indesejados e descontrolados, protegendo o paciente, dentista e acompanhantes. Isto é entendido como a colocação suave das mãos do auxiliar sobre a criança, o que pode se estender ao uso de acessórios de contenção eficazes como abridores de boca e  bolsas pediátricas envolvendo imobilizadores específicos para crianças (SANT’ANNA et al., 2020).

2.4 DESAFIOS ENCONTRADOS NO ATENDIMENTO ODONTOLÓGICO DE CRIANÇAS COM SÍNDROME DE DOWN.

O paciente com Síndrome de Down (SD) é considerado especial e requer um atendimento odontológico individualizado e diferenciado. A SD não é uma doença, mas sim uma condição do indivíduo que pode afetar seu crescimento e desenvolvimento físico, social e emocional. Esses pacientes necessitam de instrução suplementar, educação especial e cuidados específicos ao longo de suas vidas (MOREIRA et al., 2015).

Em relação à saúde bucal, os pacientes com SD apresentam diversas alterações, como problemas oclusais, diminuição da tonicidade muscular, boca seca, bruxismo, língua aumentada, entre outros. Além disso, eles podem ter dificuldade em manter uma higiene oral adequada, respirar pela boca e seguir uma dieta cariogênica, o que contribui para a alta incidência de cárie e gengivite nesse grupo (PINI et al., 2016).

No Brasil, estima-se que ocorra um caso de SD a cada 700 nascimentos, totalizando cerca de 270 mil pessoas com a síndrome. Globalmente, a incidência estimada é de 1 em cada 1.000 nascidos vivos. No entanto, há controvérsias em relação aos estudos sobre cárie dentária em indivíduos com síndrome de Down ( BRASIL, 2020).

Assim, para proporcionar uma odontologia adequada a esses pacientes, é fundamental uma abordagem individualizada, compreendendo suas necessidades específicas e oferecendo o tratamento necessário para o controle das condições bucais decorrentes da síndrome (VILELA et al., 2018).

A emoção e o comportamento de uma criança durante o tratamento odontológico são uma preocupação significativa para os odontopediatras e cientistas. O comportamento de medo e não colaborativo, como choro, gritos e movimentos corporais, pode dificultar e atrasar a qualidade do atendimento odontológico. Se esse problema não for adequadamente solucionado, pode resultar em uma resposta negativa persistente, dificultando o atendimento odontológico de rotina  (BRANDENBURG; MARINHO-CASANOVA, 2013)

Para lidar com essa questão, os cirurgiões dentistas, especialmente os odontopediatras e sua equipe, devem estar preparados para realizar técnicas de manejo comportamental e lidar com situações que gerem ansiedade, medo ou outros comportamentos negativos apresentados por esses pacientes (KHANDELWAL et al., 2019)

A falta de colaboração do paciente geralmente está relacionada a fatores como traumas passados, ansiedade e condições fisiológicas. É fundamental que o profissional da odontologia tenha habilidade para lidar e compreender as particularidades de cada criança, levando em consideração sua história, costumes e dificuldades individuais (ALBUQUERQUE et al., 2010).

No caso de crianças com necessidades especiais, como a Síndrome de Down, é ainda mais importante realizar uma anamnese detalhada e contar com a colaboração de profissionais de diferentes áreas. Além disso, os pais ou responsáveis devem preparar a criança de maneira adequada, utilizando ferramentas positivas para minimizar a incerteza em relação ao tratamento odontológico (MOURA et al., 2015).

Ao se tratar de crianças com Síndrome de Down, é crucial ter uma abordagem individualizada e diferenciada, levando em consideração as diversas modificações orais e alterações específicas que esses pacientes apresentam.

O objetivo deste estudo foi caracterizar as técnicas de gerenciamento comportamental utilizadas no atendimento odontopediátrico de crianças com Síndrome de Down e identificar os principais pontos acerca da conduta do cirurgião dentista durante o atendimento a esses pacientes, incluindo a descrição das principais alterações/condições relacionadas à síndrome na área da odontologia.

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Após a busca nas bases de dados Google acadêmico, foi encontrado um total de 321 artigos, onde foi feita uma triagem com a leitura de títulos e resumos, sendo 248 excluídos por não abordarem a temática, resultando em 73 artigos que foram analisados na íntegra, 67 deles excluídos por não responderam à problemática restando assim um total de 6 artigos considerados úteis, para composição dessa  revisão Sistemática.

A compilação sintética dos seis artigos selecionados para o desenvolvimento da pesquisa com numero de estudo constam no Quadro 1.

Quadro 1: Número de estudos encontrados nas bases de dados Google acadêmico e Scielo utilizando o critério ano de publicação (2020 a 2024), título, palavras-chave e /ou resumo

Fonte: Autoral, 2024.

No quadro 2  abaixo, encontra-se a listagem dos artigos analisados segundo ano, autores e títulos dos 6 artigos.

Quadro 2 : Listagens de artigos analisados segundo ano, autores, título.

Fonte: Autoral, 2024.

O quadro 3  abaixo, apresenta  a listagem dos artigos analisados  segundo ano, autores, objetivo.

Quadro 3 : Listagens de artigos analisados segundo ano, autores, objetivo.

Fonte: Autoral, 2024.

As práticas de cuidados odontológicos oferecidos para crianças com síndrome de Down devem ser adaptadas às necessidades específicas dessa população. É importante realizar uma abordagem individualizada, respeitando as limitações cognitivas e motoras da criança (RIBEIRO et al., 2024). Além disso, é necessário oferecer um ambiente acolhedor e calmo, com profissionais especializados em odontopediatria, que tenham conhecimento sobre a síndrome de Down e sua influência na saúde bucal (RIBEIRO et al., 2024).

Alguns dos principais problemas bucais em crianças com Síndrome de Down na fase oral de desenvolvimento incluem atraso na erupção dentária, hipoplasia do esmalte dental, má oclusão e maior suscetibilidade a cáries. Esses indivíduos também estão em maior risco de desenvolver problemas periodontais (PIMENTA, 2023). O tratamento odontológico preventivo deve incluir orientações sobre higiene bucal adequada, dieta equilibrada e visitas regulares ao dentista para monitorar e tratar problemas bucais precocemente (PIMENTA, 2023).

A síndrome de Down é uma condição genética que afeta o desenvolvimento físico e cognitivo dos indivíduos. Na cavidade oral, características orofaciais comuns incluem língua protrusa, palato estreito e lábios hipotônicos. As anomalias orais frequentemente observadas são má oclusão, atraso na erupção dos dentes permanentes e maior prevalência de cárie e doença periodontal(ROSA, 2023).

O acompanhamento odontológico desde a primeira infância é essencial para prevenir e tratar essas condições. Durante as consultas, técnicas de manejo devem ser utilizadas para garantir o conforto e tranquilidade do paciente. Cuidados diários, como escovação adequada, uso de fio dental e uma dieta equilibrada, também são fundamentais para manter a saúde bucal em dia (ROSA, 2023).

Os pacientes pediátricos com Síndrome de Down apresentam algumas alterações bucais específicas que requerem atenção odontológica adequada. Eles podem ter atraso no desenvolvimento dos dentes permanentes, com erupção tardia e irregular. Além disso, podem ter alterações na forma e na estrutura dos dentes, como microdontia e forma côncava (DE AZEVEDO, 2022).

Outra questão importante é a maior predisposição a doenças periodontais, devido à baixa resistência imunológica e dificuldade na higiene bucal. É fundamental que esses pacientes sejam incentivados e instruídos desde cedo sobre a importância da escovação e do uso do fio dental (DE AZEVEDO, 2022).

O atendimento odontológico para pacientes com Síndrome de Down requer uma abordagem personalizada e adaptada às suas necessidades e limitações. A equipe odontológica deve estar preparada para lidar com a ansiedade e a resistência ao tratamento, além de utilizar técnicas de comunicação adequadas para estabelecer uma relação de confiança com o paciente(DE AZEVEDO, 2022).

O atendimento odontológico para pacientes pediátricos com Síndrome de Down deve envolver acompanhamento regular, instrução sobre higiene bucal, tratamento personalizado e abordagem cuidadosa para garantir a saúde bucal e o bem-estar desses indivíduos (DE AZEVEDO, 2022).

Conhecimento sobre a condição do paciente: é essencial entender as características da síndrome de Down e sua influência na saúde bucal. Isso inclui a compreensão dos problemas dentários comuns em pessoas com síndrome de Down, como atraso na erupção dentária, má oclusão dentária, maior propensão a cáries e maior frequência de problemas de gengiva (VIEIRA E CAMPOS, 2021).

Para auxiliar no atendimento odontológico o odontopediatra poderá utilizar algumas técnicas que ajudam a controlar o comportamento da criança, como: reforço positivo, distração, uso de brinquedos e recompensas (VIEIRA E CAMPOS, 2021).

As técnicas de manejo odontopediátrico incluem a técnica de dizer – mostrar – fazer, em que o profissional explica de forma simples e apropriada a idade e a condição do paciente, demonstra com modelos visuais e táteis para tranquilizá-los e realiza o procedimento no próprio paciente (SANTOS E POHLMANN, 2020).

O controle de voz também é importante, ajustando o volume e a altura conforme necessário. Além disso, o reforço positivo é utilizado para motivar a criança, enquanto a distração consiste em utilizar estímulos atrativos, como música e desenhos, para desviar a atenção dos fatores aversivos(SANTOS E POHLMANN, 2020).

As práticas de cuidados odontológicos para crianças com Síndrome de Down devem ser adaptadas às suas necessidades específicas, respeitando suas limitações cognitivas e motoras. É importante oferecer um ambiente acolhedor, com profissionais especializados em odontopediatria que tenham conhecimento sobre a síndrome e seus impactos na saúde bucal.

O tratamento preventivo deve incluir orientações sobre higiene bucal, dieta equilibrada e visitas regulares ao dentista. É comum que essas crianças apresentem atraso na erupção dentária, hipoplasia do esmalte, má oclusão, maior suscetibilidade a cáries e problemas periodontais.

O acompanhamento odontológico desde a infância é essencial para prevenir e tratar essas condições. O uso de técnicas de manejo, como reforço positivo e distração, também pode ser útil durante o atendimento.

CONCLUSÃO

As técnicas de gerenciamento comportamental têm um papel fundamental no manejo odontopediátrico de crianças com Síndrome de Down. A primeira hipótese levantada foi confirmada, pois é necessário utilizar diferentes técnicas comportamentais ou até mesmo contenção durante o tratamento odontológico desses pacientes. Isso ocorre devido a dificuldades de comunicação e de adaptação ao ambiente odontológico que são características da Síndrome de Down.

O estabelecimento de uma comunicação efetiva e a construção de confiança entre o profissional e o paciente foram fatores essenciais para o sucesso do manejo infantil, confirmando a segunda hipótese levantada.

Os profissionais de odontopediatria devem buscar estratégias de comunicação não verbal e verbal, além de utilizar o reforço positivo e a distração como técnicas comportamentais adequadas para lidar com o medo e a ansiedade dos pacientes com Síndrome de Down durante o atendimento odontológico.

A partir da revisão sistemática dos estudos realizados, foi possível verificar que as técnicas utilizadas no manejo odontopediátrico de pacientes com Síndrome de Down auxiliam no tratamento odontológico, contribuindo para evitar um possível agravamento das doenças bucais. Essas técnicas promovem uma melhor qualidade de vida para essas crianças, possibilitando uma abordagem mais tranquila e confortável durante o atendimento odontológico.

No entanto, é importante destacar que existem desafios no atendimento odontológico de crianças com Síndrome de Down. As alterações orais características da síndrome, como o palato, língua, lábios, dentes e saliva, devem ser consideradas na avaliação bucal.

Além disso, há a dificuldade em manter uma higiene bucal adequada, o que pode contribuir para os altos índices de cárie e gengivite. Portanto, é necessário que os profissionais estejam preparados para lidar com esses desafios, utilizando as técnicas de manejo adequadas e oferecendo um tratamento precoce, visando evitar futuros transtornos.

Em conclusão, as técnicas de gerenciamento comportamental são fundamentais para o manejo odontopediátrico de crianças com Síndrome de Down. Elas contribuem para um tratamento odontológico mais efetivo, evitando um possível agravamento das doenças bucais e proporcionando uma melhor qualidade de vida para esses pacientes.

No entanto, é necessário que os profissionais estejam preparados para enfrentar os desafios específicos do atendimento odontológico de crianças com Síndrome de Down, adaptando suas abordagens e utilizando técnicas de manejo adequadas.  

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1Graduanda do curso de odontologia da Faculdades Integradas Aparício de Carvalho – FIMCA, 2024. Email: Jocilene pinheiro70@gmail.com.

2Especialista em Saúde Coletiva e Pós Graduado em Docência do Ensino Superior. Orientador deste artigo e Professor Esp. do Curso de Odontologia da Faculdades Integradas Aparício de Carvalho – FIMCA, 2024. E-mail. joao.santos@metropolitana-ro.com.br