REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202411160744
Sarah Vieira de Paula;
Orientadora: Prof Diego de Mattos Alves Silva
RESUMO
O trauma em pequenos animais, especialmente por atropelamentos, é uma das principais causas de lesões graves, incluindo fraturas e comprometimentos neurológicos. O tratamento de tais lesões demanda uma abordagem integrada, envolvendo diagnóstico preciso e protocolos terapêuticos adequados, que podem incluir cirurgia e fisioterapia. O presente estudo relata o caso de um cão atropelado, que, após intervenção cirúrgica, passou por um processo de reabilitação utilizando diferentes técnicas fisioterápicas, como acupuntura, eletroterapia, magnetoterapia e cinesioterapia. O tratamento iniciou-se logo após a estabilização póscirúrgica, com sessões de fisioterapia adaptadas às condições do paciente. Os resultados mostraram uma recuperação clínica satisfatória, destacando a eficácia das terapias complementares na melhoria da qualidade de vida e no controle da dor, além de otimizar a recuperação funcional. Este caso reforça a importância do início precoce da reabilitação e a necessidade de um protocolo individualizado para cada paciente, visando maximizar os resultados e reduzir complicações associadas ao trauma.
Palavras chaves: Trauma em pequenos animais, Atropelamento, Fraturas, Tratamento integrado, Protocolos terapêuticos, Fisioterapia, Reabilitação, Acupuntura, Eletroterapia, Magnetoterapia, Cinesioterapia, Recuperação clínica, Protocolo individualizado, Complicações do trauma.
INTRODUÇÃO
O trauma constitui hoje uma das causas mais frequentes de óbito em pequenos animais, em especial dentro de grandes centros devido a alta movimentação de veículos (DEWEY, 2000 e MUIR, 2006). O trauma é definido como uma lesão em um ou mais tecidos (que não necessariamente estão próximos visto que uma força quando exercida pode se dissipar) quando são lesionados de maneira aguda. A lesão pode levar a lacerações, fraturas, luxações, hematomas entre outros (MUIR, 2006).
Quando ocorre um trauma preconiza se algumas avaliações a fim de se aperfeiçoar o atendimento e priorizar órgãos e sistemas. É importante nesse momento, controle de dor, controle de sangramento, estabilização de injúrias que prejudiquem a troca ou a condução de oxigênio. Tal protocolo visa reduzir a mortalidade (RABELO,2015).
As injúrias da coluna vertebral são inúmeras e podem ser observadas de maneira recorrente na clínica de pequenos animais. As lesões ocasionadas por diversas causas podem levar ao comprometimento neurológico, paralisia, paresia entre outros que podem acontecer e necessitam de suporte (SANTOS et al., 2006). Segundo Araujo, B,M (2017) o trauma em coluna toracolombar tem alta ocorrência em machos não castrados e com acesso a rua, que sofrem trauma automobilístico.
O diagnóstico é baseado no histórico, nos sintomas apresentados, além dos exames de imagem (radiografia,ultrassom, tomografia e ressonância magnética). O tratamento pode variar: técnicas conservadoras ou cirurgia a depender da lesão, do estado geral do paciente etc (FINGEROTH; WILLIAM, 2015).
A fisioterapia veterinária é uma área que cresceu e continua a expandir, trabalhando em conjunto com a clínica no tratamento de diferentes afecções de origem ortopédica. A fisioterapia age através de um conjunto de técnicas: por meio do uso de terapias manuais, exercícios terapêuticos e agentes físicos, como os aparelhos de ultrassom, laser, eletroterapia e acupuntura (RIOS, 2016) (LEVINE; MILLIS, 2008).
O presente relato de caso a seguir visou relatar a reabilitação de um paciente canino, vítima de trauma por atropelamento automobilístico após cirurgia de …..
2 – REVISÃO DE LITERATURA
2.1 ANATOMIA
A coluna vertebral dos cães é segmentada em cinco regiões principais: cervical, torácica, lombar, sacral e caudal. Ela é composta por sete vértebras cervicais (C7), treze vértebras torácicas (T13), sete vértebras lombares (L7), três vértebras sacrais (S3) e aproximadamente vinte vértebras caudais (Cd20), conforme ilustrado na Figura 1. O osso sacro consiste em três vértebras fundidas, sendo classificado como um osso único, enquanto as demais vértebras são independentes e articuladas com as vértebras adjacentes, permitindo mobilidade (EVANS; DE LAHUNTA, 2013).
As vértebras desempenham um papel crucial na proteção da medula espinhal e das raízes nervosas dos nervos espinhais dentro do canal vertebral. Embora os movimentos entre elas sejam limitados, a coluna vertebral possui considerável flexibilidade (EVANS; DE LAHUNTA, 2013).
Dentro do canal vertebral, a medula espinhal e as raízes nervosas dorsal e ventral estão presentes; essas estruturas são envolvidas por três camadas conhecidas como meninges. A dura-máter, uma membrana fibrosa espessa, cobre a camada mais externa. A aracnoide fica adjacente à dura-máter e abaixo dela encontra-se o líquido cefalorraquidiano, também chamado de líquor. A camada mais interna, a pia-máter, está ligada às células gliais que revestem a superfície da medula espinhal (EVANS; DE LAHUNTA, 2013).
Os corpos celulares dos neurônios motores inferiores (NMIs) estão localizados na substância cinzenta da medula espinhal. Seus axônios saem da medula espinhal através das raízes ventrais para formar parte dos nervos periféricos e terminam nos músculos. Os NMIs que controlam os membros torácicos têm seus corpos celulares nos segmentos medulares de C6 a T2, enquanto os que controlam os membros pélvicos originam-se dos segmentos medulares L4-S1. Os neurônios motores superiores (NMSs), cujos corpos celulares estão no cérebro, enviam axônios descendo pela medula espinhal para fazer sinapse com os interneurônios, que por sua vez se conectam aos NMIs. Os NMSs têm a função de modular, inibir e controlar os NMIs (KORNEGAY, 2006).
2.2 DIAGNÓSTICO
2.2.1 RAIO X
O diagnóstico de condições da coluna geralmente começa com radiografias, devido à sua técnica amplamente difundida, baixo custo e alta disponibilidade, sendo frequentemente utilizadas como exame de triagem em pacientes politraumatizados e/ou com suspeita de lesões na coluna. Em casos suspeitos de fraturas, luxações ou discospondilite, radiografias ventrodorsais e laterais podem ser realizadas sem anestesia, pois tais lesões geralmente são facilmente identificáveis nessas projeções. O controle da dor continua sendo essencial (BURK; FEENEY, 2003).
O uso de radiografia digital facilita a identificação de lesões em comparação com a radiografia convencional. Durante o exame radiográfico da coluna vertebral, são analisados os processos espinhosos, transversos e articulares das vértebras, o alinhamento do canal vertebral, os forames intervertebrais, o arco vertebral, a densidade óssea e a forma do corpo vertebral, além dos espaços intervertebrais (THRALL, 2007).
2.2.2 MIELOGRAFIA
A mielografia é indicada para avaliar a medula espinhal e a cauda equina, é uma técnica que consiste em uma série de radiografias após a punção e administração de contraste no espaço subaracnoide. No exame a medula é caracterizada por colunas de contraste finas e delineadas no espaço subaracnoide (KEALY; McALLISTER; GRAHAM, 2012).
O exame é indicado para confirmar ou descartar lesões em radiografias convencionais e definir localização e extensão dessa lesão. Para correta interpretação do exame, o conhecimento apurado da anatomia (medula espinhal,meninges etc) se faz necessário (THRALL, 2007).
Sua maior vantagem é o baixo custo. Poderá ser contraindicada em pacientes com injuriais renais, ou que tenham tido reação adversa ao uso de contraste anterior. Atualmente o uso desta técnica perdeu espaço para os exames mais específicos (THRALL, 2007).
2.2.3 TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA
A tomografia computadorizada (TC) dentro Medicina Veterinária foi introduzida em 1980; seu uso so foi concentro a partir de 1990 (FERNÁNDEZ; BERNARDINI, 2010).
A TC é uma técnica radiográfica que produz cortes seccionais do corpo do paciente para análise. Consiste em uma técnica radiográfica tridimensional através de uma fonte de raios-x (SANTOS, 2006). Ao lado oposto da fonte de raios-x são localizados diversos detectores que captam essa radiação e transmitem a informação ao computador. Sua vantagem inclui maior sensibilidade para detectar pequenas diferenças na atenuação dos raios-x e a capacidade de evitar sobreposição de estruturas adjacentes. No entanto, requer anestesia geral e tem um custo mais elevado em comparação com radiografias simples (LORIGADOS, 2008).
Segundo alguns autores, a TC sem contraste não fornece informações adequadas para identificar alterações em tecidos moles da medula espinhal. Nesses casos, a combinação de TC com mielografia pode proporcionar uma avaliação mais detalhada (BURGESE, 2006; WHEELER e SHARP, 1995).
2.2.4 RESSONÂNCIA MAGNÉTICA
A ressonância magnética (RM) desempenha um papel crucial no diagnóstico de doenças que afetam a coluna vertebral, permitindo uma caracterização detalhada de tecidos moles, fluidos e ar, além de identificar alterações inflamatórias iniciais como edemas e tecido de granulação. Com base nas imagens da medula espinhal, é possível fazer prognósticos sobre a extensão da lesão. A RM é considerada o melhor método de diagnóstico para gerar imagens da medula espinhal, do espaço epidural, e dos ligamentos espinhais (FERNÁNDEZ,2004).
Embora seu custo elevado e a necessidade de anestesia possam representar desafios, a RM está se tornando cada vez mais difundida na medicina veterinária (SHARP e WHEELER, 2005). Este método possui como vantagem adquirir imagens primárias em qualquer plano e não necessitar de injeções de meio de contraste no espaço subaracnoide, pois o próprio LCR funciona como tal (35).
2.3 TRATAMENTO FISIOTERÁPICO
A fisioterapia pode ser de grande auxílio para muitos animais e tem por objetivo restaurar, manter e promover a melhora da função, bem-estar, qualidade de vida, quando estes estão relacionados a distúrbios locomotores e de saúde. Em cães é oferecida para ênfase na prevenção ou diminuição de sinais clínicos, na progressão de disfunções, limitações funcionais e/ou na incapacidade que pode proceder de algumas doenças, lesões e traumas. Dessa maneira, a formação de um programa de reabilitação será adaptada para atender às situações e levar em conta os diversos fatores podem acometer o paciente, cabe ao fisiatra estabelecer o melhor protocolo (LEVINE et al.,2008)
São utilizadas diversas técnicas tais como: movimento (mobilização, alongamento, exercícios, massagem), agentes térmicos (frio, calor), corrente elétrica, ondas sonoras (ultrassom terapêutico), luz (laser), campos magnéticos (magnetoterapia), entre outras técnicas que visam auxiliar e complementar a fisioterapia (RIVIÈRE, 2007).
2.3.1 MAGNETOTERAPIA
A magnetoterapia é a aplicação terapêutica de campos magnéticos (CM) produzidos por uma corrente elétrica, onde haverá desenvolvimento de uma terapia nos tecidos submetidos a essa técnica (AGNE, 2016).
Os mecanismos terapêuticos indicados incluem um aumento no fluxo sanguíneo regional, possível liberação de endorfinas e efeitos antiinflamatórios e analgésico bem como efeito de reparação e regeneração (LEVINE et al., 2008; AGNE, 2016)
A força do campo magnético é mensurada em gauss (G), sendo que a sua amplitude magnética pode variar entre 2500 e 6000G. Os magnetos devem ser aplicados diretamente sobre a área a ser tratada, pois nestes quadros de lesão costuma ocorrer uma redução significativa do campo magnético (LEVINE et al., 2008).
Podem ser aplicado de diversas maneiras: como em placas quadradas ou campos redondos (AGNE, 2016). O tratamento com magnetoterapia é indicado para tratamento de diversas injúrias como fraturas, prevenção de perda de massa óssea, osteoartrites, tendinites, periostites, feridas crônicas e necrose asséptica da cabeça do fêmur (PEDRO; MIKAIL, 2009). No entanto ressalta se que tal técnica deve ser considerado como um complemento ao tratamento, ou seja, deve ser associado a outros tratamentos fisioterápicos para que haja um resultado eficiente. Caracterizando a magnetoterapia como uma terapia adjuvante. Existe restrição ao seu uso em caso de marca passo ou presença de algum objeto metálico (LEVINE et al., 2008).
2.3.2 CINESIOTERAPIA
O termo refere-se a um tratamento feito através da estimulação do movimento. Podendo ser passivo, quando auxiliado e realizado pelo fisiatra; ativo, quando executado pelo paciente; ativo assistido, o paciente executa com o suporte do fisiatra; ou ainda como alongamento, fortalecimento com ou sem sobrecarga a depender do quadro e avaliação do paciente (PEDRO; MIKAIL, 2009).
Esta técnica é aplicada a disfunções musculoesqueléticas por exemplo: luxação patelar, osteossinteses, osteoartrose, insuficiência ligamentar, tendinites, displasias, fraturas, e doenças musculoesqueléticas agudas ou crônicas. A cinestesiologia pode ser indicada também na profilaxia de lesões em casos de animais atletas, pacientes acamados, tanto para doenças musculoesqueleticas agudas ou crônicas (KLOS et al., 2020).
2.3.4 ACUPUNTURA E ELETROACUPUNTURA
A acupuntura, é um dos procedimentos médicos inseridos na medicina tradicional chinesa mais antigo e mais utilizado no mundo (Nestler 2002).
O primeiro livro a relatar a possibilidade desta terapia para animais, em especial os equinos domésticos, foi escrito pelo médico Zhou Hou Bei Ji Fang, que abrangeu um capítulo com tratamentos de acupuntura para animais(Winkle 2001)
A acupuntura envolve a aplicação de agulhas finíssimas de aço inoxidável banhado a cobre, ouro ou outro metal, seu tamanho pode ser variável, promovendo a analgesia, recuperação motora, e ativação de processos reparadores. Tais benefícios se devem principalmente pela capacidade neuromodeladora da técnica (Day 2000).
Tanto na medicina tradicional chinesa clássica como na moderna, o conceito acupuntura, agrupa diferentes métodos de estimulação neural periférica: dentre eles a manual (com agulha seca) e mais comum, a electroacupuntura (com electroestimulação), moxabustão (com sensação térmica – calor), laserpuntura (com estimulação por laser) e hemopuntura (com injeção de sangue autogolo no ponto) (Glória, 2017).
A eletroacupuntura é um método que consiste na transmissão de energia elétrica sob diferentes intensidades e frequências nos pontos de acupuntura, permitindo que o nível de analgesia seja maior e o efeito da acupuntura seja prolongado através do aumento da estimulação do ponto tratado (Faria e ScognamilloSzabóo, 2008). Luna (2002) recomenda a utilização de corrente de baixa e alta frequência de forma sequencial e alternada para haver uma melhor resposta analgésica.
A moxabustão é o aquecimento em pontos de acupuntura, queimando uma erva (Artemisia vulgaris) acima da pele (MA 2000). A erva utilizada na combustão é processada até ser obtido uma “lã de moxa” que pode ter apresentações distintas como: cones, charutos, cigarros ou ao natural (SCHOEN 2001). A estimulação térmica tem como função ativar a circulação sanguínea, dissolver a estagnação, tonificar o QI, desobstruir e aquecer meridianos e aliviar a dor (DENG AND SHEN, 2013).
2.3.5 Fotobiomodulação
A técnica de laser com baixa potência, tem efeito biomodulador, não-térmico e as reações fotoquímicas geradas agem no metabolismo das células. As principais indicações são cicatrização de feridas, tratamento de áreas com inflamação ou edema, controle de dor, tratamento de lesões osteoarticulares e lesão de nervo periférico (KARU, 1999).
É importante usar a terapia com laser adequadamente e sempre em conjunto com intervenções cirúrgicas, exercícios, massagem e medicamentos. Sendo uma terapia, portanto adjuvante. É comum que o laser proporcione conforto suficiente aos pacientes para permitir que eles iniciem ou aumentem certos protocolos de exercícios, diminua a dose e/ou frequência de medicamentos (tudo deve ser avaliado em um protocolo individualizado). É indicado: tratamento pós-cirúrgico: controle de edema e cicatrização,lesão muscular, ligamentar, tendinosa não operatória: controle da dor e redução da inflamação, distensões e entorses musculares, ligamentares,injúria nervosa: regeneração nervosa, manejo da dor (PRYOR, B., & MILLIS, D. L.,2015).
2.3.6 ELETROTERAPIA
A eletroestimulação é uma vertente da fisioterapia que incentiva a contração muscular com objetivo de gerar fortalecimento muscular e analgesia para o paciente. Sua indicação se dá em pós-operatório de injurias ortopédicas, alterações neurológicas e atrofias musculares. Essa terapia é feita em pacientes onde exista restrição do movimento, atrofias e lesões ortopédicas de uma maneira geral. (BARCELO e KLEIN, 2021).
A eletroterapia consiste na aplicação de níveis reduzidos de corrente elétrica, através de eletrodos que são dispostos na fibra muscular e tem como finalidade gerar analgesia, alívio de contraturas, diminuição de edema, espasmos musculares, diminuição da atrofia e otimização da cicatrização (PEDRO E MIKAIL, 2009).
A eletroestimulação é indicada em quadros onde existe perda muscular e se busca hipertrofia, otimização de força e amplitude de movimento, e prevenir a atrofia (DOUCET; LAM; GRIFFIN, 2012).
RELATO DE CASO
Paciente deu entrada no hospital na data de 12 de janeiro de 2023. Histórico de trauma por atropelamento.
Foi realizado analgesia com metadona 0,3mg/kg e dipirona 25mg/kg intramuscular.
Exame físico: Paciente alerta, temperatura retal de 38,5ºc, hidratação adequada,linfonodos mandibulares normais,algia em segmento torácico de coluna, reflexo a dor profunda diminuído emambos os membros pélvicos, reflexo a dor superficial diminuído em ambos os membros pélvicos, esocriaões emmembro pélvico direito e em cabeça, cavidade oral sem alterações, frequência cardíaca de 160 bpm, frequência respiratória de 24 mpm, ACP abafada em lado direito, PAS 170mmhg, mucosa jugal e peniana normocoradas
Após analgesia paciente foi conduzido para o raio x de coluna torácico conforme figura número 2.
Figura 2) Raio x, evidenciando fratura em epífise caudal de T7 com perda de eixo ósseo (seta amarela) Fraturas também em processos espinhosos de T5 e T6 (seta laranja)(Arquivo pessoal,2023).
Em laudo baseado nas projeções: Laterolateral direita e ventrodorsal, foi observado: Calcificação de disco intervertebral entre T4-T5, T8-T9 e T9-T10. Fratura em epífise caudal de T7 com perda de eixo ósseo por deslocamento cranioventral à direita de segmento ósseo caudal conferindo desvio cifótico regional além de redução dorsoventral do eixo do canal vertebral. Fraturas também em processos espinhosos de T5 e T6.
Foi coletado exames hematológicos (hemograma, função renal [creatinina e ureia], função hepática [ALT e FA]). Feito venóclise com cateter 22G em membro torácico direito, onde foi mantido em fluidoterapia com ringer lactato e feito administração intravenoso de dexametasona 0,3mg/kg.
Exame de sangue com anemia, metarubricitos, anisocitose por macrocictose, policromasia, córpusuclo de Howell Jolly, leucocitose por neutrofilia.Aumento de Fa e soro lipemico.
Paciente foi conduzido a internação onde foi mantido medicado com dexametasona 0,3mg/kg IV SID, Morfina 0,3mg/jg IM TID, Dipirona 25mg/kg IV TID, Agemoxi 22mg/kg SC EDA.
Mantido em fluidoterapia com ringer lactato 5ml/kg/hr além de sonda uretral para conforto.
Paciente passou pelo procedimento cirúrgico no dia 13 de janeiro de 2023, sem intercorrências. Na internação se manteve estável, se alimentou espontaneamente, defecou (fezes pastosas), bebeu água sozinho. Diante da estabilidade do quadro e recuperação paciente foi liberado no dia 14 de janeiro de 2023 com encaminhamento para fisioterapia e acupuntura. Receituário com amoxicilina com clavulanato 22mg/kg VO BID por 7 dias, Prednisolona 0,5mg/kg SID por 5 dias, tramadol 5mg/kg TID por 05 dias, dipirona 25mg/kg TID por 5 dias, gabapentina 5mg/kg/TID por 1 mês. Além de limpeza da ferida e aplicação de vetaglós pomada.
No dia 17 de janeiro veio em retorno com ortopedista, onde foi liberado para reabilitação e previsão de retirada de pontos no dia 25 de janeiro.
Em avaliação com fisiatra: paciente com reflexo e tonus, recomendado fisioterapia 2x na semana.Realizado acupuntura e inicio de cinesioterapia. Na segunda sessão iniciou a esteira (7 minutos), feito eletroacupuntura e eletroestimulação.Na terceira sessão: realizado esteira 15 minutos, magnetoterapia, eletroacupuntura, moxabustão e fotobiomodulação. 4º sessão de fisio- > realizado fotobiomodulação, eletroacupuntura, eltroestimulação e cinesioterapia.
Em retorno com ortopedista feito retirada dos pontos. Observado mioclonais em face, pedido teste rápido de cinomose: negativo.
Quinta sessão foi realizado esteira, cinesioterapia e acupuntura. Na sexta sessão realizado eletroestimulação, acupuntura, cinesioterapia, magneto e fototerapia. Paciente apresentou leve evolução. Sétima sessão até a décima terceira sessão onde foi iniciado cadeirinha com pedalo. Na 15º sessão paciente começou a apresentar “andar medular”, está levantando algumas vezes. Realizado esteira 20min, fotobiomodulação em toda a coluna, magnetoterapia toracolombar 15 min e eletroacupuntura em membros pelvicos. Mantido até 19º, nessa sessão paciente veio caminhando e sem uso de fralda. Na 21º sessão, sugerido fisioterapia 1 x na semana.
Mantido com seguinte protocolo até 30º sessão: esteira 20min, fotobiomodulação em toda a coluna, magnetoterapia.
Veio em retorno para avaliação de musculatura no dia 18 de setembro de 2023, tendo alta da fisioterapia.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
O trauma automobilístico dentro da medicina veterinária é bem frequente, suas consequências podem ser inúmeras e precisam sempre de um bom exame físico, exames de imagem e complementares afim de se identificar os danos e instituir a melhor maneira de tratamento. Como observado por Araújo (2017) existe predominância das lesões vertebrais localizadas no segmento T12-T13 da coluna vertebral (32,4%), seguido dos segmentos T11-T12 (21,6%), T13-L1 (10,8%) e L3 -L4 (8,1%). Bem como em outro estudo, de Jeffery (2010), que constatou que a junção toracolombar (T10-L2 ) é um local muito comum de fratura e luxações vertebrais, constituindo aproximadamente 50% de todas as fraturas de coluna vertebral em cães.
O raio x constitui hoje o método mais comum e de menor custo para injúrias de coluna ainda que sua sensibilidade seja baixa quando falamos de lesões medulares. Tais lesões podem ser observadas em exames específicos como ressonância magnéticas, mas o exame físico é de suma importância para acompanhar qual estágio da lesão e sua progressão.
O tratamento proposto foi baseado no que a literatura orienta e gerou resultados satisfatório o que indica a importância de identificar as alterações de maneira precoce, para otimizar a recuperação. Pacientes submetidos a tratamento cirúrgico podem iniciar a fisioterapia 48 horas após a cirurgia (LECOUTEUR E GRANDY, 2004; MILLIS; LEVINE; TAYLOR, 2004). Entretanto, Johnson e Dunning (2005), afirmam que a reabilitação pode ser iniciada logo após a dor aguda pósoperatória cessar, o que ocorre geralmente em 24 horas. No caso do paciente foi liberado para fisioterapia após 4 dias de pós cirúrgico. A decisão deve ser tomada em conjunto com o ortopedista e o fisiatra, e deve ser levado avaliando o caso individualmente. Entretanto as literaturas apontam que início precoce está associada a melhor e mais rápida recuperação.
Para Santos (2017) a eletroterapia iniciada desde a primeira sessão deste relato, associada ou não a outras terapias fisioterápicas, mostrou-se útil no auxílio para controle álgico. Em estudo prospectivo no pós operatório de osteotomia de elevação de platô tibial a eletroterapia associada a laserterapia alcançou níveis satisfatórios de controle de dor (FORMENTON, 2015)
Segundo Perez (2012) no início deve se preconizar exercícios passivos entendendo como paciente irá responder para evolui; entretanto se possível exercícios ativos devem ser feitos. No caso, vimos que inicialmente o tratamento foi focado na acupuntura e cinesioterapia e já na segunda sessão paciente estava na esteira, o que naturalmente foi evoluindo. Como toda terapia seu uso deve ser avaliado por um profissional e deve ser integrado ao tratamento como modo de complementar a terapia, a fim de se obter melhores resultados O paciente supracitado obteve melhora clínica com o tratamento proposto e segue em acompanhamento.
CONCLUSÃO
No caso relatado o paciente teve uma boa resposta frente ao tratamento instituído que corrobora com os estudos apresentados, ainda que o ideal seja que cada paciente tenha um protocolo de tratamento individualizado a fim de se promover maior sucesso na conduta.
As terapias complementares visam otimizar a recuperação do paciente, seu uso ainda que não exclua a terapia convencional tem se mostrado vantajosa em diminuir doses e frequência de medicamentos, além de auxiliar na autonomia e qualidade de vida dos pacientes.
Atualmente a fisioterapia e as terapias complementares são um importante alicerce para reabilitação dos pacientes acometidos por injúrias ortopédicas advindos de traumas. Ainda que essa não seja sua única indicação.
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