Physical Therapy Treatment in Patients with Fibromyalgia: Prescription and Conducts Efficacy
Alberto Manoel Sarkis de Oliveira 1
Gabriel Villas-Boas da S. dos Santos 2
George Emílio Sampaio Barreto 3
1 Fisioterapeuta Especialista Traumato-Ortopedia. Professor da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC) , IAENE e FAN. Mestrando em Desenvolvimento Humano e Responsabilidade Social pela Fundação Visconde de Cairu. Feira de Santana – Bahia (fisiosarkis@yahoo.com.br).
2 Fisioterapeuta Especialista em Traumato-Ortopedia. Professor da Faculdade de Tecnologia e Ciência (FTC). Feira de Santana – Bahia (gabriel.fsa@ftc.br).
3 Fisioterapeuta, Especialista em Fisioterapia Pneumo-Funcional. Mestre em Ciências da Saúde (UFRN); Doutorando em Neurociências. Instituto Cajal, CSIC, Madrid – Espanha (gemilio.sampaio@cajal.csic.es).
* Correspondência: Instituto Cajal, CSIC – C01
Avda. Doctor Arce, 37.
28002
Madrid, España.
Email: gemilio.sampaio@cajal.csic.es
RESUMO
O objetivo deste trabalho foi de realizar uma revisão literária sobre as modalidades de intervenção fisioterapêuticas mais utilizadas no paciente portador de Fibromialgia, bem como sua prescrição e eficácia. Foi realizado levantamento bibliográfico com base em livros e periódicos no período de 1994 a 2003. A literatura consultada enfatiza a melhor resposta clínica destes pacientes a exercícios de baixa intensidade quando comparados aos de alta. Diversas modalidades de intervenção além dos exercícios físicos também são citadas na literatura como acupuntura, alongamento muscular, massoterapia, hidroterapia e Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS), entretanto, os autores consultados concordam que os exercícios físicos associados aos alongamentos são as melhores condutas em longo prazo para a reabilitação dos portadores da Fibromialgia. A fisioterapia utilizando-se destes exercícios físicos de baixa intensidade será para estes pacientes um agente promotor da melhoria na capacidade funcional e na qualidade de vida.
Palavras-chave: Fibromialgia, Fisioterapia, Reabilitação.
ABSTRACT
The aim of this work was to review the more used types of physical therapy intervention in patients with Fibromyalgia, as well as its prescription and efficacy. A bibliographic review was made using the information of books and periodicals from 1994 to 2003. The literature reviewed emphasizes the greater patient’s clinical response to low intensity physical exercises when compared to high intensity ones. Many types of interventions, besides physical exercises, were also described in literature, like acupuncture, muscular prolongation, massage, hydrotherapy and Transcutaneous Electric Nervous Stimulation (TENS), but consulted authors agree that physical exercises associated to the prolongations are the best conduct in the long term for the rehabilitation in patients who have Fibromyalgia. Physical therapy with low intensity physical exercises will be responsible for the improvement in functional capacity and health quality.
Key words: Fibromyalgia, Physical Therapy, Rehabilitation.
1- INTRODUÇÃO
As primeiras referências a quadros que lembram a Fibromialgia datam de 1824 e 1841, que descreveram pacientes com pontos musculares hipersensíveis à palpação e passíveis de desencadear dor irradiada [1,2]. Descreveu-se nesse tempo como sendo áreas musculares específicas e sensíveis a digito-pressão. Estudo realizado com biópsias dessa região observou-se que havia um processo inflamatório do tecido conjuntivo. No mesmo ano utilizou-se pela primeira vez o termo fibrosite, que desde essa época vem sendo usado para uma variedade de entidades clínicas que envolvem as partes moles. Alguns autores definem fibrosite como sendo um estado doloroso agudo, subagudo ou crônico dos músculos, tecido subcutâneo, ligamentos, tendões e aponeuroses. E posteriormente, propuseram o termo Fibromialgia que vem sendo adotado pela maioria dos autores até hoje [1].
A Fibromialgia pode ser definida como sendo uma síndrome reumática de etiopatogenia desconhecida que acomete preferencialmente mulheres (75 a 95% das vezes). Anteriormente era conhecida como reumatismo não-articular ou reumatismo psicogênico, somente a partir de 1975, com base nos estudos de Moldofsky foi possível distinguir a Fibromialgia como entidade nosológica distinta. É uma síndrome caracterizada por dor musculoesquelética difusa e crônica, com sítios dolorosos específicos chamados tender points, associados freqüentemente a distúrbios do sono, fadiga, cefaléia crônica e distúrbios intestinais. Pode-se apresentar isolada ou associada a outras síndromes reumatológicas, como: lupos eritematoso, artrite reumatóide, dentre outras. Há relatos de casos de pacientes jovens com 12 anos, mas a faixa etária mais comum de aparecimento da doença é entre 40 e 55 anos. Algumas vezes o nível de dor é tão intenso que interfere no tratamento destes pacientes [3-6]. Freqüentemente outros fatores sociais e/ou emocionais estão envolvidos com o aparecimento da dor [7].
O critério diagnóstico foi proposto pelo Colégio Americano de Reumatologia em 1990, caracterizando a Fibromialgia por: dor muscular intensa em diversas regiões do corpo (dor difusa), por no mínimo três meses de duração, associada a maior sensibilidade dolorosa em pelo menos 11 dos 18 pontos dolorosos específicos, os denominados tender points [8-9] (Fig. I). Não existe correlação com substrato anatômico ou alterações bioquímicas características, porem é demonstrada alteração eletromiográfica com intrusão de ondas α durante as fases 3 e 4 do sono não REM. Alterações na secreção de serotonina e substância P3 também parece estar envolvida na patogênese, embora esses achados ainda não sejam conclusivos [9].
A – Occipital – inserção do músculo occipital.
B – Cervical baixa – espaço intertransverso de
C5-C7.
C – Trapézio – ponto médio da borda superior
D – Segunda costela – junção da segunda costocondral.
E -Supraespinhoso – acima da espinha da escápula.
Fig. I- Mapeamento dos pontos dolorosos mais freqüentes.
F – Epicôndilo lateral – a dois cm do epicôndilo
G – Glúteos – quadrante lateral e superior das nádegas
H – Grande Trocanter – posterior à proeminência trocantérica
I – Joelho – região medial próxima à linha do joelho.
A dor é o principal sintoma dos fibromiálgicos, e após meses ou anos, esta se torna crônica e pode levar o indivíduo a adotar atitudes antálgicas, necessitando de condutas que restabeleçam o equilíbrio e o bem-estar perdidos. No entanto rotular um paciente como fibromiálgico não trará repercussões negativas significativas no estado do paciente, pelo contrário o manejo do paciente torna-se um pouco mais fácil provavelmente por uma melhor compreensão da natureza benigna, porém crônica do problema; há uma redução na procura por diagnósticos diferenciais e um comprometimento maior do paciente a terapia [10].
Estudos mostram que a relação entre aspectos clínicos e repercussão sócio-econômica, revelam um certo grau de impacto na economia. Os pacientes fibromiálgicos são potencialmente susceptíveis a afastamento ou auxílio doença. Para pacientes com vida profissional ativa e conseqüentemente aptos ao trabalho há uma importante queda da renda familiar. Este será mais um fator promotor dos sintomas associados a Fibromialgia pela relação com a psique do paciente [10].
Além da terapia medicamentosa, hoje outros modelos alternativos de tratamento são propostos para se tratar o paciente portador de Fibromialgia. Assim, a fisioterapia exerce um papel importante no alívio dos sintomas destes pacientes através de exercícios físicos de baixo impacto, alongamento muscular, acupuntura, massagem e estimulação elétrica nervosa transcutânea (TENS) além de orientações posturais etc [10].
O presente estudo teve por objetivo fazer uma revisão dos conceitos pertinentes a Fibromialgia, bem como das técnicas fisioterapêuticas utilizadas no paciente fibromiálgico verificando suas indicações e o grau de eficácia. A escassez trabalhos que realmente mostrem a eficácia dos recursos, traçando um paralelo entre as técnicas e em que situações devem ser usadas, permeou a investigação do trabalho.
1.1- Desenvolvimento
A Fibromialgia é uma condição clínica extremamente comum que pode ser desafiante e de difícil manuseio. Embora a etiologia continue obscura, alterações características no padrão de sono e mudanças de neurotransmissores (serotonina, substância P, hormônio do crescimento, etc), sugerem que a desregulação do sistema autonômico e neuroendócrino parecem ser à base da síndrome. A diagnose é clínica e deve incluir outras entidades como: diabete mellitus, lupos, câncer, etc. O tratamento é essencialmente medicamentoso e baseado em outras terapias (acupuntura, exercícios físicos, fisioterapia, etc) [11-12.
A fisioterapia como o próprio nome sugere, consiste no tratamento por agentes físicos, que compreende diversos tipos de aparelhagem, mais também o ato físico de contato com o paciente. O tratamento fisioterapêutico deve ser um real complemento psicossomático no manuseio destes pacientes, pois o relacionamento médico/fisioterapeuta/paciente é renovado sempre que se fazem as sessões de fisioterapia [13]. As condutas são propostas em função da sintomatologia a-presentada:
1. Dor localizada (tender points) – TENS e massoterapia.
2. Fadiga: programas de condicionamento físico.
3. Dores músculo-esqueléticas difusas, cefaléia crônica, rigidez matinal, parestesias: exercícios globais e exercícios de alongamento.
O presente estudo foi baseado em coleta de dados a partir de literatura existente e concernente ao tema.
2- Matérias e Métodos
2.1- Procedimento de Coleta
Este trabalho foi elaborado a partir de uma revisão literária do período de 1994 a 2003, realizada através do uso de livros, revistas e periódicos. Usou-se a base de dados PubMed, e as palavras chaves utilizadas foram: fibromyalgia, physical therapy, exercises, como também documentos eletrônicos disponíveis na INTERNET (site: www.fibromialgia.com.br) Foram selecionados aqueles artigos pertinentes ao estudo, ou seja, aqueles que faziam referência aos principais métodos de tratamento para a Fibromialgia.
Os artigos foram agrupados com base nas modalidades terapêuticas pesquisadas: a) exercícios físicos e alongamento muscular; b) acupuntura; c) massoterapia; d) hidroterapia e Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS):
a) Exercícios físicos e Alongamento muscular
Embora exercícios de alongamentos, manutenção de força muscular e condicionamento aeróbico geralmente sejam considerados benéficos a pacientes com Fibromialgia, não há nenhuma evidência segura para explicar porque o exercício deveria ajudar a aliviar o sintoma primário da Fibromialgia, isto é a dor. Resultados de estudos são variados e não provêem um consenso uniforme, de que o exercício é benéfico, ou qual o tipo, duração, intensidade que são melhores [14]. Existe uma insuficiência de dados na literatura pertinente ao assunto e declarações conclusivas relativas à prescrição de exercícios e o impacto concomitante na sintomatologia da Fibromialgia [15].
Estudos foram desenvolvidos com o objetivo de avaliar o grau de bem-estar dos pacientes submetidos a programas de exercícios e alongamentos [16]. O estudo foi randomizado e paralelo com avaliação cega, foram divididos dois grupos o primeiro recebeu um programa de exercícios aeróbico individual e o segundo aulas de alongamento e relaxamento muscular. Embora este seja um estudo simples, com resultados relativamente modestos, ele possui uma validade externa interessante: aponta-se que a atividade aeróbica é melhor que os exercícios de alongamento e relaxamento. A prática, no entanto, demonstra que na verdade os dois exercícios se completam. Baseado em evidências clínicas e observações foi demonstrado que a fisioterapia tem sido eficaz em combater os sintomas tais como: dor, fadiga geral e a sobrecarga do sistema muscular, melhorar a postura, distúrbios do sono entre outros [17].
Outros estudos demonstram que não existe diferença significativa na capacidade aeróbica dos pacientes portadores de Fibromialgia, que são submetidos a exercícios físicos, embora se tenha constatado que há um maior nível de percepção de esforço durante e após os exercícios. O fato de a capacidade aeróbica do paciente não estar afetada na Fibromialgia, demonstra que a melhora na capacidade aeróbica não deve ser o objetivo principal do treinamento físico. Contudo os resultados destes estudos continuam pouco conclusivos. Há uma tendência sugestiva de que a caminhada (atividade aeróbica) seja benéfica, pois promove uma diminuição da dor e uma melhora da condição psicológica [18]. Além disso, são utilizadas escalas de avaliação de esforço como parâmetros para se atingir o limiar dos exercícios aeróbicos; entretanto, os níveis de percepção de esforço são alcançados em baixa intensidade de exercícios, sendo insuficiente para o ganho de capacidade aeróbica [18-19].
Os programas de exercícios aeróbicos são rotina dos grandes centros de reabilitação e são objeto de vários estudos em Fibromialgia [15, 18]. A maioria dos estudos mostra resultados benéficos, no entanto a variedade de protocolos existentes torna necessário se fazer um quadro comparativo (Tabela I). A duração e intensidade destes exercícios dos programas de exercícios variam de oito a vinte semanas de tratamento [14-15, 17-18]. Martin et al [20] administraram um programa de exercícios que incluía atividades aeróbicas, treino de flexibilidade e fortalecimento muscular por seis semanas com melhora da dor. No início, os exercícios físicos para esses pacientes aumentaram as dores, o que e faz com que os pacientes desistam facilmente, porque também aumenta o cansaço físico. Antes dos exercícios deve-se aplicar calor local, fazer massagens e evitar outros tratamentos impessoais, fazendo esse início de atividades físicas, como um preparo para uma melhor qualidade de vida.
De maneira geral os exercícios de baixa intensidade, associados aos alongamentos, são segundo os autores os mais benéficos. O alongamento permite que o músculo recupere o seu comprimento necessário para manter um alinhamento postural correto, manter a estabilidade articular, e principalmente garantir a integridade muscular. Trabalhos realizados por Marques et al [21] comprovam a eficácia dos alongamentos musculares a partir da avaliação prévia das cadeias musculares. Com base nesta avaliação foi realizado um programa de alongamento global e conscientização corporal. Os pacientes relataram melhora dos sintomas e ganho de flexibilidade. Estas modalidades terapêuticas constituem-se no principal recurso da fisioterapia para promover a melhora da função física em pacientes fibromiálgicos.
b) Acupuntura
A acupuntura vem sendo bastante utilizada no tratamento de síndromes dolorosas, levando a diminuição da dor assim como a um aumento no limiar doloroso. Embora a acupuntura já tenha sido usada para tratar uma infinidade de condições dolorosas, faltam evidências científicas que comprovem a sua eficácia. Há uma dificuldade na execução de estudos que comprovem a ação da acupuntura, pois há uma incerteza na perícia da acupuntura assim como na escolha dos pontos de acupuntura. A acupuntura parece, no entanto ser efetiva para o tratamento de condições dolorosas agudas e crônicas como: cotovelo de tenista, dor nas costas e Fibromialgia [22].
Os acupunturistas usam agulhas para estimular o organismo a produzir endorfinas, que são substâncias naturais (opiáceos endógenos) que reduzem a dor. Desta forma, a acupuntura é indicada para o tratamento da dor. Na acupuntura é feito, inicialmente, avaliação energética no paciente, quando é verificado qual, ou quais, os meridianos, (canais como rios que vão fluindo pelo corpo para irrigar e nutrir os tecidos) em desequilíbrio, causando a doença. O tratamento com acupuntura tem o objetivo de retirar a causa deste desequilíbrio [22].
O efeito benéfico do tratamento com acupuntura, geralmente, inicia logo após algumas sessões, ou mesmo na primeira sessão. Os sintomas diminuem progressivamente durante o tratamento, que pode ser de alguns meses, podendo o tratamento ser tradicional (com agulhas) ou sem agulhas.
Em um estudo de Marques [21] foi avaliada a eficácia da eletroacupuntura no tratamento de pacientes com Fibromialgia. Os autores constataram que a eletroacupuntura é eficaz a curto prazo no alívio dos sintomas da Fibromialgia.
Goldenberg [2] elaborou um estudo – o primeiro aceito pelo Colégio de Reumatologia – que mostra os benefícios que a acupuntura pode trazer no tratamento da doença. As vantagens do tratamento da Fibromialgia com acupuntura são inúmeras. Além da redução da dor e da depressão, talvez o mais importante seja a diminuição da quantidade de medicamentos que o paciente precisa ingerir o que certamente traz melhor qualidade de vida e menos agressão ao organismo, avalia a médica. A acupuntura consegue ser eficaz com a inserção de agulhas finíssimas em pontos bastante precisos no corpo, ou então com estimulação por equipamentos nesses pontos sem agulhas, o que é particularmente útil em crianças. O resultado final é que a acupuntura estimula as habilidades curativas naturais do organismo, promovendo o bem estar físico e emocional [2].
A Organização Mundial da Saúde já reconheceu a eficácia da acupuntura para 104 condições médicas diferentes entre elas a Fibromialgia (World Health Organization. Viewpoint on Acupuncture. Geneva, Switzerland: World Health Organization, 1979) Na verdade, nos últimos 2000 anos, mais pessoas foram tratadas com sucesso pela acupuntura que a soma de todas as outras pessoas tratadas por todos os outros métodos de tratamento no mundo inteiro [2].
c) Massoterapia
Embora a dor muscular seja a reclamação primária de pacientes com Fibromialgia, há sintomas associados que os levam a buscar cuidados médicos. Alguns indivíduos tentam tratamentos alternativos quando medicamento convencional não promove alívio dos sintomas. Um questionário foi desenvolvido para colecionar informação que considera tratamentos complementares e a efetividade deles/delas. Sessenta indivíduos foram investigados e completaram um questionário on-line sobre Fibromialgia. Literatura, calor, andar, vitaminas, e massagem eram as intervenções mais freqüentemente descritas pela maioria dos pacientes. Literatura, aromoterapia, grupos de apoio, calor, e massagem foram avaliados como os mais efetivos [23].
Existem muitos tipos de massagens que o nome por si só as definem: deslizamento, amassamento, fricção, vibração, etc. E outras técnicas de massagens especiais (específicas) como: rolfing, massagem reflexa, massagem transversa. As manobras mais lentas são descritas como sendo mais relaxantes e calmantes, enquanto que as manobras mais rápidas são descritas como tendo um efeito estimulante, circulatório [13].
Os pacientes portadores de dores crônicas tipo a da Fibromialgia, apresentam pontos dolorosos que quando massageados lentamente, produzem uma sensação de relaxamento muscular e de alívio da dor, que não pode ser desprezada no tratamento fisioterapêutico. Os músculos fatigados com a retenção de resíduos pelo sangue, têm uma recuperação mais intensa com a massagem, pois a ativação circulatória e a remoção desses detritos permitem um melhor desempenho muscular [13].
Os resultados de outros estudos revelaram que os pacientes estavam altamente satisfeitos com as medidas terapêuticas não medicamentosas que tinham sido adotadas. O cuidado psicológico, treinando os pacientes para contender melhor com a doença deles/delas, e instrução em técnicas de relaxamento recebeu atenção especial dos envolvidos no tratamento. Na análise dos fatores, quatro que contribuíram para a satisfação do paciente: 1) regime médico geral, 2) métodos de massagem especiais, 3) o médico e psicólogo e 4) técnicas de relaxamento [24].
O tipo de massagem aplicada ao paciente irá depender da intensidade de dor que o paciente referir e da sensibilidade do paciente. A massagem deve ser vista como um complemento importante da terapia do paciente. A massagem que reduz a tensão muscular pode ser prescrita em conjunto com outros métodos de tratamento [13].
d) Hidroterapia
A hidroterapia é a utilização dos efeitos físicos, fisiológicos e cinesiológicos advindos da imersão do corpo ou parte dele, em meio aquático, como recurso auxiliar na reeducação musculoesquelética, visando o restabelecimento da saúde, sua manutenção ou ainda na prevenção de sua alteração funcional orgânica [25].
Tanto em exercícios aquáticos, como em exercícios em terra a capacidade física pode ser aumentada. Mesmo que a atividade física seja realizada em piscina com a água aquecida, observa-se um aumento na capacidade física (capacidade cardiovascular, tempo de caminhada, resistência a fadiga). Nos grupos submetidos a exercícios aeróbicos na água houve ainda uma melhora na dor, na ansiedade e depressão, quando comparados a exercícios terrestres [26]. Nota-se uma superioridade em efeitos adicionais no que se refere aos sintomas da Fibromialgia.
A reabilitação aquática parece oferecer um suporte ao tratamento de pacientes com o diagnóstico de Fibromialgia. O tratamento seria dirigido para o condicionamento geral, alívio da dor e melhora dos padrões do sono através de esforço físico e relaxamento. O relaxamento obtido a partir do exercício e o suporte fornecido pela água são capazes de levar a importantes melhoras nos relatos subjetivos de dor e rigidez. È um objetivo primordial do exercício aquático que o alívio dos sintomas produza uma inclinação positiva aos exercícios aquáticos e ajude na manutenção em longo prazo. Esse pode ser o mais importante benefício ao tratar pacientes com Fibromialgia na água [27].
A fisioterapia aquática pode fornecer muitos benefícios adicionais a longo e curto prazo da terapia tradicional por exercício ativo regular e supervisionado. A assiduidade às sessões de hidroterapia e a combinação de componentes e vantagens de numerosas teorias de tratamento, tornam-se relevantes nos resultados. Em alguns trabalhos fica evidente a eficácia da hidroterapia como técnica fisioterapêutica na melhora dos sintomas relacionados a Fibromialgia, obtendo-se melhora não só da dor, mas do quadro clínico geral, refletindo-se positivamente na qualidade de vida do paciente [28-29].
Sendo assim, fica claro que o programa de hidroterapia é mais um importante recurso na busca da melhoria da qualidade de vida dos pacientes, bem como no combate aos sintomas da doença.
e) Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS)
O desenvolvimento da Estimulação Nervosa Elétrica Transcutânea (TENS), está baseada diretamente nos conceitos de Melzack e Wall [30] que constitui a teoria da comporta para explicar o controle e modulação da dor. È importante verificar que a TENS poderá se constituir em apenas parte do programa terapêutico para o paciente com dor crônica. A utilização e eficácia da TENS na diminuição da sensibilidade dolorosa dos tender points em pacientes com Fibromialgia, é verificado clinicamente e através de estudos que ratificam o seu emprego [31].
Várias são as técnicas descritas e utilizadas no paciente portador de Fibromialgia. O alongamento desempenha junto a os exercícios físicos, um importante fator de melhora da sintomatologia do paciente fibromiálgico. Apesar de ser eficaz na melhora da flexibilidade o alongamento não promove a diminuição da sensibilidade dolorosa específica dos tender points, logo se necessitou de outro recurso para desempenhar tal função, associando este recurso aos exercícios e alongamentos [32].
A Estimulação Elétrica Nervosa Transcutânea (TENS), é um recurso utilizado na fisioterapia para aliviar a dor e controlá-la em determinadas situações onde ela é limitante do movimento. Trata-se de uma técnica não-invasiva feita por meio de eletrodos que são colocados nos pontos álgicos, promovendo assim um bloqueio da mensagem dolorosa desta área ao sistema nervoso central [32].
Em trabalho de Gashu et al [33] considerou-se dois aspectos para a avaliação da dor: avaliação da dor após a aplicação da TENS e tolerância à aplicação da TENS. Os resultados obtidos com a aplicação da TENS, sobre os tender points, apontam para o seu efeito local e imediato, sugerindo a liberação de endorfinas. Os resultados mostram ainda que apesar da redução considerável da dor, após a aplicação da TENS, permanece certo grau de sensibilidade dolorosa nos tender points. Nenhum paciente do estudo referiu ausência de dor. O mesmo trabalho sugere que a TENS pode ser um recurso eficaz a ser utilizado para auxílio no alívio da dor. Mesmo não tendo ficado assintomáticos os pacientes referiram uma melhora considerável da sensibilidade dolorosa logo após a aplicação e ao longo do tratamento. Contudo, a aplicação da TENS isoladamente não é uma prática comum, pois a Fibromialgia com sua característica sindrômica, necessita de uma abordagem multifatorial.
A TENS propicia uma modalidade terapêutica não invasiva e barata para o alívio da dor. É essencial que a TENS seja apropriadamente monitorada e avaliada, e esta modalidade deve sempre ser considerada no contexto de um programa de reabilitação completo para o tratamento da dor crônica. Uma inadequação de explicações e passagem de informações e instruções ao paciente, bem como a falta de acompanhamento e monitoração, poderá privar o paciente portador de dor crônica dos benefícios da técnica [31].
3- Conclusão
A fisioterapia não deve somente ser um meio de alívio da dor, deve primar pelo restabelecimento da função, promovendo bem-estar e melhorando a qualidade de vida dos portadores de Fibromialgia. É fundamental que o paciente se incorpore ao tratamento e seja elemento participativo deste processo.
Abordou-se neste estudo quais as modalidades mais utilizadas da fisioterapia em pacientes fibromiálgicos. Os autores consultados convergem, no entanto para a opinião de que os exercícios físicos de baixa intensidade associados a alongamentos globais são as condutas mais eficazes em longo prazo para minimizar os sintomas da Fibromialgia. Outras condutas como massagens, TENS, e acupuntura serão recursos potencializadores que se somaram às atividades de alongamento e exercícios, com o intuito de promover uma melhora na qualidade de vida para o fibromiálgico, porém mostram os seus efeitos mais a curto prazo.
Do estudo ficou clara a importância de tratar a Fibromialgia como uma síndrome multifatorial, logo as técnicas revisadas no estudo, na verdade irão se completar no combate aos sintomas da Fibromialgia. Com estes recursos é que a fisioterapia poderá auxiliar o tratamento da Fibromialgia, promovendo melhora da dor, restabelecendo a função melhorando a qualidade de vida destes pacientes.
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