REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8302810
Renata dos Santos Bueno1
Laís Rodrigues Gerzson2
Sara Caroline Fontoura Dall’Alba3
Carla Skilhan de Almeida4
RESUMO
Objetivo: Identificar evidências científicas dos últimos cinco anos sobre sífilis congênita (SC), incluindo tratamentos farmacológicos, manifestações clínicas e desenvolvimento dos bebês. Métodos: Trata-se de uma revisão de escopo, realizada através das bases de dados MEDLINE (via PubMed), Embase, Scientific Electronic Library Online, EbscoHost e PEDro, durante o mês de novembro de 2022. Descritores: “Sífilis Congênita” associada ao “Tratamento Farmacológico”; “Sinais e Sintomas”; “Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos Globais do Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos do Neurodesenvolvimento”. Resultados: 14 estudos foram selecionados. A maioria era da América Latina, especificamente do Brasil. As manifestações clínicas evidenciadas foram icterícia, hepatomegalia e esplenomegalia. O tratamento mais observado foi com Penicilina G. Foi observado prevalência do tratamento inadequado da mãe e seu parceiro e poucos estudos mencionaram o desenvolvimento dos bebês. Conclusões: Neste estudo, observou diferentes manifestações clínicas, seguida da ausência do tratamento adequado durante o pré-natal e da escassez de estudo que relatasse sobre o desenvolvimento desses bebês.
Descritores: Desenvolvimento infantil; Sífilis congênita; Tratamento Farmacológico; Sinais e sintomas; Saúde Pública.
ABSTRACT
Objetive: Identify scientific evidence from the latest five years on Congenital Syphilis (CS), including drug treatment, clinic manifestation and child development. Methods: It is a literature review, made through MEDLINE database (via PubMed), Embase, Scientific Electronic Library Online, EbscoHost and PEDro, during november of 2022. Descriptors: “Congenital Syphilis” associated with “Pharmacological Treatment”; “Signs and Symptoms”; “Child Development”; “Children facing global development disorders”; “Neurodevelopmental Disorders”. Results: 14 studies were selected. Most originated from Latin America, specifically, Brazil. The clinic manifestations in evidence were jaundice, hepatomegaly, splenomegaly. The biggest share of treatment was observed with Penicillin G. It was observed the prevalence of inadequate treatment from the mother and the partner, and few studies mentioned the baby development. Conclusion: In this study, it was detected different clinic manifestations, followed by the absence of appropriated treatment during antenatal and lack of study that acknowledge the development of these children.
Descriptors: Child Development; Syphilis Congenital; Drug Therapy; Signs and Symptoms.
RESUMEN
Objetivo: Identificar la evidencia científica de los últimos cinco años sobre sífilis congénita (CS), incluyendo tratamientos farmacológicos, manifestaciones clínicas y desarrollo infantil. Métodos: Se trata de una revisión de alcance, realizada a través de las bases de datos MEDLINE (vía PubMed), Embase, Scientific Electronic Library Online, EbscoHost y PEDro, durante el mes de noviembre de 2022. Descriptores: “Sífilis congénita” asociada a “Tratamiento farmacológico”; “Signos y síntomas”; “Desarrollo infantil”; “Trastornos Globales del Desarrollo Infantil”; “Trastornos del Neurodesarrollo”. Resultados: se seleccionaron 14 estudios. La mayoría eran de América Latina, específicamente de Brasil. Las manifestaciones clínicas evidenciadas fueron ictericia, hepatomegalia y esplenomegalia. El tratamiento más observado fue con Penicilina G. Se observó un predominio de tratamiento inadecuado de la madre y su pareja y pocos estudios mencionaron el desarrollo de los bebés. Conclusiones: En este estudio se observaron diferentes manifestaciones clínicas, seguidas de la ausencia de un tratamiento adecuado durante el prenatal y la escasez de estudios que informen sobre el desarrollo de estos bebés.
Descriptores: Desarrollo Infantil; Sífilis Congénita; Quimioterapia; Signos y Síntomas.
INTRODUÇÃO
A Sífilis é uma infecção sexualmente transmissível (IST), de caráter sistêmico, causada pela bactéria gram-negativa Espiroqueta Treponema Pallidum. Trata-se de uma doença passível de tratamento e prevenção. No entanto, quando não tratada, pode evoluir para complicações mais graves, acometendo diferentes órgãos e sistemas1. Sua principal forma de contaminação é adquirida por meio do contato sexual, podendo ocorrer também por meio vertical, ou seja, quando a gestante com Sífilis não é tratada ou realiza o tratamento de forma inadequada, a transmissão ocorre para o feto através da corrente sanguínea por via transplacentária, denominada Sífilis Congênita (SC)2.
Dentre as possíveis consequências que a sífilis pode gerar durante o período gestacional estão: risco de aborto espontâneo, óbito fetal e nascimento pré-termo3. Entretanto, no período pós-parto, cerca de 60% a 90% dos recém-nascidos com diagnóstico de SC não apresentam sintomas da doença, podendo ter as primeiras manifestações da doença até os dois anos de vida, quando não tratada. Os sintomas comumente apresentados na SC são: distúrbios dermatológicos, distúrbios ósseos, alterações cognitivas, neurológicas, motoras, auditivas e visuais4.
A transmissão da doença entre a gestante e o feto acontece em qualquer fase da gestação, sendo influenciada pelo estágio da doença na mãe e pelo tempo de exposição intra útero. Contudo, a taxa de infecção nesse período é de 70% a 100%, podendo ocorrer óbito fetal, nascimento prematuro ou morte neonatal em cerca de 30% a 50% dos bebês acometidos pela SC. Diante disso, pode-se considerar que a SC é um grave problema de saúde pública, principalmente em países de baixa e média renda5;6.
Somente durante o ano de 2021, foram notificados no Brasil 167.523 casos de Sífilis adquirida, ou seja, 78,5 casos para cada 100.000 habitantes. Destes, 74.095 casos eram de Sífilis em gestantes, demonstrando a maior taxa de detecção da doença já observada no país, com 27,1 casos para cada 1.000 nascidos vivos. A taxa de incidência nacional da SC também foi a maior já detectada, com 9,9 casos para cada 1.000 nascidos vivos durante o mesmo ano, totalizando 27.019 casos notificados de SC. Em contrapartida, foi observado que as taxas de aborto e natimortalidade decorrente da SC manteve-se com um percentual estável, sendo observado apenas 3,8% e 2,8% respectivamente7.
Diante da necessidade de compreender melhor os casos de SC no Brasil e no mundo, e, principalmente, verificar as características do desenvolvimento neuropsicomotor nos estudos atuais, o presente manuscrito tem como objetivo realizar uma revisão de escopo com as evidências científicas dos últimos cinco anos sobre a sífilis congênita (SC), incluindo os tratamentos farmacológicos, as manifestações clínicas e o desenvolvimento dos bebês afetados.
MÉTODOS
Trata-se de uma revisão de escopo da literatura, que utilizou a seguinte pergunta norteadora: “Como a Sífilis Congênita tem afetado o desenvolvimento infantil da criança acometida pela infecção e quais manifestações foram apresentadas no período pós-parto e o tratamento realizado?”. Diante da seguinte questão, o presente estudo utilizou os artigos que abordassem os tratamentos realizados durante o período intrauterino pela gestante e os efeitos pós-parto; as manifestações clínicas da SC apresentadas na criança; e o desenvolvimento infantil da criança com SC como critério de elegibilidade.
Como estratégia de busca, foi realizada pesquisas nas bases de dados MEDLINE (via PubMed), Embase, biblioteca digital Scientific Electronic Library Online (Scielo), EbscoHost e PEDro, publicado nos últimos cinco anos, além de busca manual em referências de estudos já publicados sobre o assunto. A busca foi realizada através de uma associação do descritor “Sífilis Congênita” ou “Syphilis Congenital” com os seguintes: “Tratamento Farmacológico”; “Sinais e Sintomas”; “Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos Globais do Desenvolvimento Infantil”; “Transtornos do Neurodesenvolvimento”; “Drug Therapy”; “Signs and Symptoms”; “Child Development”; “Child Development Disorders”; “Neurodevelopmental Disordera”.
Na busca dos estudos, foram identificados 23 artigos que abordassem os temas acima citados, sendo destes, cinco foram excluídos pois se tratava de estudos de caso, três por abordarem somente a sífilis gestacional e um por focar no tratamento de outras patologias. Inicialmente, foram avaliados todos os títulos e resumos, localizados através da nossa estratégia de busca. Os artigos que não forneciam informações suficientes em seu resumo, foram selecionados para avaliação do texto completo, sendo avaliados posteriormente. A extração dos dados ocorreu através de um formulário onde foram coletadas informações sobre os autores, objetivo do estudo, metodologia utilizada, participantes, resultados e desfechos.
O nível de evidência das investigações foi ordenado por meio da avaliação do seu desenho metodológico, sendo utilizada a maioria dos estudos no nível III, ou seja, evidências derivadas de ensaios clínicos bem delineados sem randomização.
RESULTADOS
A estratégia utilizada identificou 66 artigos com os temas descritos, dos quais foram selecionados 23 artigos considerados relevantes e selecionados para análise. No entanto, somente 14 artigos preencheram os critérios de elegibilidade e foram selecionados para participar do presente estudo (Figura 1). Abaixo, pode-se observar na Tabela 1 as principais características dos estudos selecionados.
Tabela 1 – Principais características dos estudos selecionados.
Estudo | Objetivo | Metodologia | Resultados | Desfechos |
Freitas et al.8 | Verificar se os RNs de risco para atraso no desenvolvimento motor apresentaram neuroimagem e avaliação neurológica alteradas durante sua internação na UCIN. | Transversal, UCIN de hospital público. Escala avaliativa: HNNE e GM37 | 37 RNs de risco, predominou: meninos, parto cesáreo, raça branca. Prematuridade e sífilis congênita foram os principais diagnósticos. Associação da SC com menor número de consultas pré- natal. HNNE com pontuação “alterada” e GMA a classificação “subótimo”. | Realização de exame de imagem é um recurso limitado no hospital deste estudo. Destacam sobre a necessidade de ampliar a atenção para RNs a termo e acompanhar os casos de SC, assim como os bebês com baixo peso e Apgar menor. |
Aleem et al. 9 | Descrever uma série de casos graves de SC na UTIN | Revisão retrospectiva com lactentes com diagnóstico de SC internados no Duke Intensive Care Nursery, de Junho de 2016 a Fevereiro de 2020. Participaram 5 lactentes com manifestações graves decorrente da SC | Todos precisaram de ventilação mecânica invasiva. Uma teve hidropisia fetal e veio a óbito. Quatro bebês sobreviventes tiveram encefalopatia hipóxicoisquêmica, hipertensão pulmonar persistente grave, hepatite e convulsões, foram tratados com penicilina G. Três bebês sobreviveram. | A SC pode estar associada a encefalopatia hipóxicoisquêmica, hipertensão pulmonar persistente grave e coagulopatia intravascular disseminada em lactentes afetados. Importância da triagem durante o terceiro trimestre da gestação, no momento do parto e tratamento adequado. |
Almeida et al.10 | Investigar em gestantes com Sífilis, fatores associados a ocorrência de SC e descrever os casos dessa doença quanto à justificativa para notificação e aspectos relativos ao recém-nascido. | Coorte, município de Botucatu/SP. Participaram 158 gestantes com sífilis, notificadas entre 2013 e 2015. | 74 (46,8%) casos de SC nos RNs. Associação da SC com o menor número de consultas prénatais. O não tratamento da mãe e do parceiro foram as justificativas mais frequentes para definição do caso de SC. As intercorrências foram: icterícia; Restrição de crescimento intrauterino; Anemia; Baixo peso ao nascer; Cardiomegalia; Coarctação de aorta; Esplenomegali; Hepatomegalia eOsteocondrite. | Os autores sugerem que o município deverá qualificar o seguimento, com oferta de consultas,desenvolvimento de ações de educação em saúde, implementação de investigação diagnóstica e de tratamento adequado para gestante, e parceiro quando necessário. |
Araújo et al.11 | Analisar os fatores associados à prematuridade nos casos notificados de SC no município de Fortaleza, no Ceará, Brasil. | Transversal,10 maternidades públicas. Participaram 478 casos de SC notificados em 2015. | 73 (15,3%) foram partos prematuros, sendo que 52 (71,2%) realizaram prénatal. Esteve associado a maiores chances de prematuridade: titulação do teste VDRL >1:8 no parto; o não tratamento da gestante ou tratamento com outras drogas além da penicilina durante o prénatal. | A prematuridade decorrente da SC é uma condição evitável. Observou fragilidades na assistência prénatal, destacando a importância de políticas voltadas para a melhoria da qualidade da assistência prénatal. |
Garcia et al.12 | Analisar os casos de SC entre os anos de 1987 a 2019 que ocorreram no Hospital Infantil de Buenos Aires, na Argentina. | Corte prospectiva com coleta retrospectiva de dados. Incluídos 61 prontuários de pacientes com SC atendidos no Servicio de Parasitología -Chagas, Hospital de Niños “Ricardo Gutierrez”, na Argentina. | Pico de casos durante os anos 1992-1993 e em 2014-2017. A média de idade no momento do diagnóstico foi de 2 meses. Manifestações clínicas: alterações ósseas(59%), hepatoesplenome galia (54,1%), anemia (62,8%), lesões cutâneas (42,6%) e comprometimento renal (33,3%). 60 participantes receberam Penicilina G endovenosa, enquanto 1 recebeu ceftriaxona. 1,6% dos lactentes morreram, 6,5% apresentaram distúrbios renais persistentes e 1,6% apresentaram sequelas ósseas. | A morbidade esteve relacionada com o diagnóstico tardio. Observaram boa resposta terapêutica ao tratamento. A SC requer um maior esforço do sistema de saúde para rastrear adequadamente durante a gravidez e detectar os casos mais precocemente, a fim de fornecer o tratamento adequado. |
Lim et al.13 | Analisar as manifestações e a evolução da SC, incluindo o tratamento e o seguimento, com base em um estudo nacional. | Corte, estratificado por ano. Dados obtidos através do Banco de dados do Serviço Nacional de Seguro de Saúde da Coreia do Sul. Identificados 548 bebês acompanhado s durante o primeiro ano de vida, entre 2013 e 2018. | 148 tiveram diagnóstico confirmado, altamente provável ou possível de SC e receberam tratamento por 10 dias. 66 tiveram suspeita de SC ou menos propensos a ter, e receberam tratamento por apenas 1 dia. Manifestações clínicas: icterícia (56%), deficiência auditiva (14%), doença renal (8%) e alterações neurológicas (8%). Ocorreram 14 casos de neurossífilis. Associado a neurossífilis: bebês que apresentaram alterações neurológicas, envolvimento ocular, deficiência auditiva ou doença renal. 73% receberam tratamento com Penicilina benzatina. | Deve ser estabelecido diretrizes para padronizar a avaliação da SC, o tratamento realizado e os planos de acompanhamento, melhorando os cuidados maternos e neonatais na Coréia do sul. |
Rocha et al.14 | Identificar as evidências científicas sobre as complicações e manifestações clínicas da SC e aspectos relacionados a sua prevenção | Revisão integrativa, com publicações entre os anos de 1996 e 2017. | Os desfechos negativos, as alterações laboratoriais e as manifestações clínicas da SC, foram: baixo peso ao nascer, anemia, hepatoesplenomegalia e alterações dentárias. A falta de tratamento das gestantes no prénatal foi a ocasião mais comum em que se perdeu a oportunidade de prevenir as complicações da SC. | As evidências analisadas, identificaram complicações graves que poderiam ser prevenidas se a doença fosse diagnosticada durante o prénatal. |
Rocha et al.15 | Avaliar todos os nascidos vivos, notificados com SC durante 2015, a fim de identificar os diferentes regimes terapêuticos utilizados em recém-nascidos durante este período de escassez de penicilina. | Transversal, com dados extraídos de prontuários. Incluídos 469 prontuários de casos de SC durante 2015 em Fortaleza/CE. | 210 (44,8%) foram tratados com um tratamento recomendado nacionalmente. Os tratamentos alternativos observados foram: ceftriaxona (13,8%), cefazolina (3,2%) e a associação de mais de um medicamento (38,2%). A maior probabilidade de ser tratado compenicilina foi observada nos: RNs sintomáticos com títulos de VDRL elevados, prematuros, baixo peso ao nascer, icterícia e hepatomegalia. | Durante o período de escassez da penicilina, em Fortaleza, menos da metade dos RNs notificados com SC foram tratados com o esquema recomendado nacionalmente. |
Ferro et al.16 | Descrever o tratamento terapêutico de crianças com SC, bem como as alterações clínicas, radiológicas e laboratoriais associadas a esta doença. | Retrospectivo, descritivo, exploratório, quantitativo, realizado através de 204 fichas de notificações de SC de uma maternidade da região metropolitana de Vitória/ES, durante o período de janeiro de 2016 a dezembro de 2017. | 88,7% das puérperas realizaram o acompanhamento pré-natal. 85,3% dos RNs eram assintomáticos. As manifestações clínicas presente foram: icterícia (20,59%) e lesões cutâneas (0,98%). 63,7% realizou tratamento com penicilina G e 27,5% utilizou outro esquema terapêutico. | O tratamento realizado na instituição do presente estudo, está de acordo com as diretrizes do MS. |
Oloya et al.17 | Descrever a prevalência, fatores associados e apresentação clínica dos casos de SC em Mbarara, na Uganda. | Transversal, com mães e crianças RNs. Identificadas 2.500 mães e 2.502 RNs. Realizado entre junho e setembro de 2015, em Mbarara. | 4,1% das mães tinham sífilis e 3,8% dos RNs SC. Associado aos fatores de risco para SC: idade materna < 25 anos, histórico de úlcera genital, histórico de corrimento vaginal anormal e histórico de tratamento para úlcera genital, coceira genital, corrimento vaginal ou dor abdominal inferior na gravidez. Asmanifestações clínicas foram: esplenomegalia (58,3%), hepatoesplenomegalia (52,4%), lesões na pele (16,5%),descamação da pele (16,5%), icterícia (2,9%) e pesudoparalisia (2,9%). | Observou uma prevalência para sífilis acima do esperado. Destacam a importância da política nacional para o controle dasífilis na Uganda ser fortalecida para incluir uma triagem universal de sífilis em mães e RNs. |
Ribeiro et al.18 | Analisar as variáveis associadas a neurossífilis em RNs brasileiros de gestantes com Sífilis. | Caso controle, com 21 casos de RNs com neurossífilis e 42 casos controle de SC. | Não houve alterações na radiografia de ossos longos. 42,8% dos RNs com neurossífilis apresentaram hiperproteína na análise do LCR, 28,6% tinham elevados números de leucócitos e 28,6% apresentaram VDRL positivo. As seguintes manifestações clínicas foram observadas: baixo peso ao nascer (12,7%, n=8/63) e prematuridade (34,9%,n=22/63). | A cobertura prénatal não é suficiente para prevenir a neurossífilis. Recomendam melhorar a qualidade dos serviços de saúde,tornando o atendimento mais eficaz, a fim de identificar e tratar a sífilis durante a gestação, reduzindo os casos de SC e neurossífilis em RNs. |
Cavalcante et al.19 | Analisar os fatores associados ao acompanhamento ambulatorial de crianças com SC | Coorte não concorrente. Identificaram 460 crianças com SC, que realizava acompanham ento em UBS e em três maternidades de referência em Fortaleza/CE. | 332 crianças buscaram acompanhamento, sendo 45 retornaram ao ambulatório hospitalar, 108 a UBS e ambulatório e 179 somente a UBS. 236 crianças que compareceram naUBS, | A maioria das crianças notificadas com SC comparecem a uma UBS, porém nesse nível da atenção não são seguidas as recomendações do MS para o seguimento adequado. Tornase necessário amelhoria dos sistemas de referências, a fim de proporcionar um atendimento adequado |
Pastro et al. 5 | Analisar a qualidade do prénatal e as condições clínicas dos neonatos expostos à sífilis em uma maternidade pública de Rio Branco-Acre | Transversal, maternidade pública de Rio Branco/AC. Participaram 92 gestantes com Sífilis, durante o período de julho a dezembro de 2017. | Dois participantes tiveram óbito fetal. Predominou parto normal (65,5%). 16 (17,8%) apresentaram sofrimento fetal agudo e 10 (11,2%) necessitaram de manobras de reanimação. 10% foram prematuros e 12,2% eram PIG. 29,5% das puérperas realizaram o prénatal completo. 29,3% das gestantes realizaram o tratamento de forma adequada e 58% dos parceiros sexuais não aderiram ao tratamento. | A qualidade do pré-natal das gestantes com sífilis, foi inferior ao que o MS recomenda. |
Verghes e et al.20 | Relatar os resultados do neurodesenvolvim ento na primeira infância de crianças expostas a Sífilis gestacional. | Coorte, de conveniência, revisão de prontuários. Identificadas 39 mulheres gestantes com sífilis entre 2002 e 2010, em Edmonton, no Canadá. Escalas avaliativas: Bayley Scales of Infant Development II, Wechsler Preschool and Primary Scale of Intelligence, Full Scale Intelligence Quotient e Preschool Language Scale. | Das gestantes, 4 tiveram sífilis latente tardia, 2 natimortos e 3 óbitos neonatais. 10 realizaram tratamento adequado durante a gestação e as crianças não apresentavam SC. Perdeu-se contato com 12 crianças. 11 crianças com SC e 7 crianças sem SC realizaram o teste. 27% das crianças com SC apresentaram comprometimento do neurodesenvolvimento e 14% nas sem SC. O atraso de linguagem foi observado em 36% das crianças com SC e em 42% das crianças sem SC. | Crianças expostas à Sífilis na gestação apresentam alto risco de comprometimento do neurodesenvolvimento. Destacam a importância de todos receberem avaliações do neurodesenvolvimento e encaminhamento precoce para serviços, conforme necessário. |
Ao analisar a Tabela 1, observa-se que a metade das publicações selecionadas foram de estudos realizados no Brasil (50% n=7), com uma predominância de estudos realizados na cidade de Fortaleza no Ceará (n=3). Além disso, observou-se predominância de estudos com delineamento transversal (35,71%; n=5) e de coorte (35,71%; n=5). Pode-se destacar que os dados dos estudos apresentados mostram diferentes achados com relação às manifestações clínicas apresentadas na SC, os tratamentos realizados e o desenvolvimento neuropsicomotor dessas crianças.
Dos artigos analisados, nove apresentaram as manifestações clínicas e complicações decorrentes da SC na população do estudo, oito abordaram questões relacionadas com os tratamentos realizados na SC durante a gestação e, somente dois, trouxeram sobre as avaliações da função neurológica e do neurodesenvolvimento. No entanto, observou-se que outros dois estudos abordaram sobre a presença da neurossífilis em pacientes com SC. Além disso, constatamos que cinco estudos relataram questões relacionadas ao pré-natal.
Manifestações Clínicas e Complicações decorrentes da SC:
A SC é uma infecção sistêmica que pode atingir diferentes órgãos e sistemas, podendo ocasionar aborto espontanêo, natimortalidade e prematuridade. Em contrapartida, apenas três estudos analisados nesta revisão apresentaram a presença da prematuridade em recém-nascidos com SC. No entanto, outras complicações estão comumente presentes nessas crianças, entre as mais observadas na presente pesquisa foram: icterícia (44,44%; n=4/9), hepatomegalia (44,44%; n=4/9), esplenomegalia (44,44%; n=4/9), anemia (33,33%; n=3/9), baixo peso ao nascer (33,33%; n=3/9), lesões cutâneas (33,33%; n=3/9), alterações ósseas (22,22%; n=2/9), alterações renais (22,22%; n=2/9), restrição de crescimento intrauterino (11,11%; n=1/9), cardiomegalia (11,11%; n=1/9), coarctação da aorta (11,11%; n=1/9), alterações auditivas (11,11%; n=1/9), alterações neurológicas (11,11%; n=1/9), alterações dentárias (11,11%; n=1/9), descamação da pele (11,11%; n=1/9), pseudoparalisia (11,11%; n=1/9) e pequeno para idade gestacional (11,11%; n=1/9).
Perante o exposto, podemos afirmar que as manifestações e complicações apresentadas no recém-nascido com SC são de amplo espectro, podendo apresentar em casos mais graves encefalopatia hipóxico-isquêmica, hipertensão pulmonar persistente grave, hepatite e convulsões. Diante disto, torna-se necessário a equipe de saúde hospitalar realizar uma triagem adequada, a fim de identificar precocemente as complicações e iniciar o tratamento medicamentoso.
Tratamentos da SC realizados durante a gestação e após o nascimento
A sífilis é uma infecção causada pela bactéria Treponema Pallidum, portanto seu tratamento deve ser administrado com doses de antibioticoterapia, mais em específico, com a penicilina G. Quando a presença de sífilis é identificada na fase gestacional, a administração da medicação de forma correta na gestante e no seu parceiro sexual, pode prevenir a incidência da SC nos recém-nascidos. Entretanto, dois estudos observados nesta pesquisa (25%; n=2/8) relataram a prevalência da SC em crianças em que a mãe e o parceiro não realizaram o tratamento adequado, estando o mesmo associado a prematuridade também.
Além disso, 62,5% (n=5/8) abordam sobre o uso da Penicilina G critalina e/ou Penicilina G benzatina como forma de tratamento indicado pelo Ministério de Saúde (MS). No entanto, um estudo aborda sobre a escassez da matéria prima da Penicilina durante o ano de 2015, onde foram administrados outros medicamentos, como a Ceftriaxona e Cefazolina, mesmo ambos não tendo indicações de eficácia no tratamento da SC ou sífilis gestacional. Também foi observado nesta revisão, um estudo que analisa o acompanhamento na Unidade Básica de Saúde (UBS) ou no ambulatório hospitalar de crianças com SC. Em contrapartida, este estudo observou que das 287 crianças com SC que compareceram na UBS, 236 não tinham informações sobre o diagnóstico de SC em seu prontuário, não realizando o acompanhamento de forma adequada, como o MS orienta.
Desenvolvimento Neuropsicomotor
Apesar de saber que a SC pode levar a alterações músculo esquelética e neurológicas, pouco se tem estudos que avaliaram este público e observaram seu desenvolvimento. Nesta revisão integrativa, foram identificados somente dois estudos que abordam esse tema, sendo um deles específico para SC e outro um estudo que avaliou RN’s com risco para atraso no desenvolvimento motor.
Ao analisar os RN’s com risco para atraso no desenvolvimento motor, os autores do estudo observaram que crianças nascidas a termo com diagnóstico de SC apresentavam a avaliação alterada pela escala Hammersmith Neonatal Neurological Examination (HNNE), que visa avaliar a função neurológica de recém-nascidos. Neste estudo, foi observado que as crianças com SC apresentaram uma média de 26,5 pontos na escala, sendo o recomendado para a idade mais de 30,5 pontos. Já, outro estudo realizado no Canadá, observou que as crianças expostas à sífilis durante o período gestacional, apresentaram comprometimento do neurodesenvolvimento e atraso na linguagem aos 18 meses, mesmo aquelas que não desenvolveram a SC. Diante disto, torna-se necessário a realização de novos estudos que abordam este tópico.
DISCUSSÃO
No presente artigo, realizou-se uma revisão integrativa no que se refere às manifestações clínicas, tratamentos e desenvolvimento neuropsicomotor na SC. Estudos têm demonstrado que as infecções maternas estão associadas às complicações fetais e neonatais, principalmente quando se refere à Sífilis gestacional. Isso pode ser demonstrado na literatura, uma vez que a infecção por sífilis é considerada a segunda causa de morte fetal evitável no mundo3.
Apesar da SC ser uma doença infecciosa que pode desencadear sintomas graves, levando ao óbito neonatal, a mesma, na maioria das vezes, apresenta-se assintomática, ou seja, cerca de 60% a 90% dos RNs com diagnóstico de SC não apresentaram sintomas da doença ao nascimento, tendo os primeiros sinais e sintomas das doenças somente após os três meses de vida, podendo delongar até os 2 anos4. Na pesquisa, observou-se um amplo campo de manifestações clínicas decorrentes da SC, acometendo diferentes órgãos e sistemas. Isto ocorre porque, durante a transmissão vertical da doença, a bactéria Treponema Pallidum é liberada através da via transplacentária, diretamente na circulação sanguínea do feto, ocasionando diferentes respostas inflamatórias decorrentes da disseminação das espiroquetas pelos órgãos e sistemas4.
Dentre os acometimentos da SC mais grave estão os casos em que a espiroqueta se dissemina no sistema nervoso central, ocasionando a neurossífilis. No estudo realizado por Lim et al.13, esteve relacionado com a presença da neurossífilis os recém-nascidos que apresentavam alterações neurológicas, deficiência ocular, deficiência auditiva ou doença renal. No entanto, para o diagnóstico da neurossífilis, deve ser realizada a análise do líquor cefalorraquidiano (LCR). Porém, por se tratar de um exame de alta complexidade e custo, ainda é alta a porcentagem de crianças sintomática com SC que não realizam a análise. Pastor et al.5 identificaram que 28,2% da sua amostra não realizou o exame, enquanto, na pesquisa de Lopes; Albernaz21, essa porcentagem reduziu para 24,9%. Além disso, o estudo de Ribeiro et al.18 concluíram que a cobertura pré-natal realizada no território brasileiro não é suficiente para prevenir a ocorrência de neurossífilis nos recém-nascidos de mães com sífilis.
Embora a SC possa ser evitada através do tratamento precoce da gestante, durante o acompanhamento pré-natal, ainda é observado a não adesão do tratamento pelas gestantes com sífilis ou a adesão incorreta do mesmo. É considerado como tratamento adequado quando a gestante e seu parceiro sexual realizam todo o tratamento com penicilina benzatina, pois é o único medicamento eficaz, que atravessa a barreira transplacentária4. Em contrapartida, a presente revisão evidenciou que estava associada com a presença de SC no recém-nascido o não tratamento da gestante com sífilis e de seu parceiro de forma adequada. Além disso, observou-se que esteve associado com a prevalência da SC o menor número de consultas pré-natais, ou seja, quanto mais consultas pré-natais a gestante realiza, menor será a chance de o feto desenvolver SC8;10.
Apesar do amplo conhecimento a respeito da SC, ainda há uma escassez significativa de estudos que abordem os aspectos motores e do neurodesenvolvimento das crianças acometidas pela doença. O estudo de Verghese et al.20 concluiu que crianças expostas à sífilis congênita durante a gestação apresentam risco elevado para comprometimento do neurodesenvolvimento e atraso na aquisição da linguagem aos 18 meses, mesmo naqueles que não desenvolveram a doença congênita. Dados como este devem servir de justificativa para a realização de novos estudos nesta área.
Além disso, a maioria dos estudos da presente revisão, tanto os nacionais quanto os internacionais concluíram que há uma necessidade de estabelecer diretrizes eficazes no acompanhamento pré-natal, a fim de reduzir o número de casos relacionados à SC e estabelecer normas para o tratamento adequado dessas gestantes e dos recém-nascidos. Com isto, a SC torna-se um problema de saúde pública mundial, afetando principalmente a população de baixa e média renda. No entanto, é responsabilidade dos profissionais de saúde, realizarem estratégias de intervenção eficaz, a fim de reduzir a incidência da SC, tanto na atenção primária quanto na atenção terciária.
A presente pesquisa, apresentou como limitação a escassez de estudos que abordassem sobre o desenvolvimento infantil em crianças acometidas pela SC, destacando a necessidade de novos estudos sobre o assunto.
CONCLUSÕES
O presente estudo apresentou uma revisão integrativa dos últimos cinco anos sobre as manifestações clínicas, tratamento farmacológico e desenvolvimento infantil das crianças acometidas pela SC. No entanto, foi possível concluir que, na literatura atual, há diferentes manifestações clínicas, resultante da disseminação da infecção no sistema circulatório do feto. Em contrapartida, todas essas manifestações poderiam ser evitadas com o acompanhamento e tratamento adequado da gestante. Porém, há uma escassez quando nos referimentos ao desenvolvimento neuropsicomotor desses bebês, sendo necessário novos estudos para avaliar seu desenvolvimento.
Contudo, pode-se concluir que o sistema de saúde mundial ainda é falho na detectação precoce da sífilis em gestantes durante o acompanhamento pré-natal, para tratar de forma adequada, prevenindo então as complicações decorrentes da SC, principalmente em países em desenvolvimento.
REFERÊNCIAS
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