TRATAMENTO ENDODÔNTICO DO PRIMEIRO PRÉ-MOLAR SUPERIOR COM EXTRAVASAMENTO DE CIMENTO OBTURADOR – RELATO DE CASO

ENDODONTIC TREATMENT OF THE UPPER FIRST PREMOLAR WITH LEAKAGE OF FILLING CEMENT – CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202409181526


Rosana Maria Coelho Travassos1, William Wale Rodrigues Martins2, Lucas Godoy Martins3, Luca Pasquini4, Gustavo Moreira de Almeida5, Leonardo dos Santos Barroso6, Adriana Marques Nunes7, Renata Wiertz Cordeiro8, Fabrício Victer Ribeiro9, Maria Regina Almeida de Menezes10, Priscila Prosini11


RESUMO

Este estudo tem como objetivo descrever caso clínico de tratamento endodôntico  com extravasamento de cimento obturador. Paciente 30 anos, gênero masculino, leucoderma, encaminhado ao consultório particular para a realização do tratamento endodôntico do dente 14. No exame radiográfico foi comunicação com a câmara pulpar e ausência de radiotransparência óssea periapical.  Após anestesia e abertura coronária, realizou-se a neutralização do conteúdo tóxico com lima manual K-File 10 e  odontometria eletrônica co localizador apical (Root ZX Mini, Morita, Osaka, Japão_ e preparo do canal radicular com Logic 25.05 (Easy Equipamentos odontológicos- Belo Horizonte – Brasil), ampliação foraminal ultrapassando 1 milímeto do comprimento real do dente e, com auxílio da Easy Clean e desta vez solução irrigadora de clorexidina em gel 2% agitando-o 3 ciclos de 20 segundos, em seguida 3 ciclos com Edta 17%, finalizado com soro fisiológico. A obturação do sistema de canais radiculares com cone único e cimento Bio-C Sealer (Angelus –Londrina -Brasil)  e restauração com resina RC Flow Opallis.  A radiografia final foi realizada e demostrou o extravasamento de material obturador para a região apical. 

PALAVRAS-CHAVE:  Endodontia. Obturação do canal radicular. Periodontite apical

ABSTRACT

This study aims to describe a clinical case of endodontic treatment with leakage of filling cement. Patient 30 years old, male, Caucasian, referred to the private office for endodontic treatment of tooth 14. Radiographic examination showed communication with the pulp chamber and absence of periapical bone radiolucency.  After anesthesia and coronary opening, the toxic content was neutralized with a K-File 10 manual file and electronic odontometry with apical locator (Root ZX Mini, Morita, Osaka, Japan and root canal preparation with Logic 25.05 (Easy Equipamentos odontológicas- Belo Horizonte – Brazil), foraminal enlargement exceeding 1 millimeter of the real length of the tooth and, with the help of Easy Clean and this time 2% chlorhexidine gel irrigating solution, shaking it 3 cycles of 20 seconds, then 3 cycles with Edta 17 %, completed with saline. Filling the root canal system with a single cone and Bio-C Sealer cement (Angelus –Londrina -Brazil) and restoration with RC Flow Opallis resin. to the apical region. 

KEYWORDS:  Endodontics. Root canal filling. Apical periodontitis.

A endodontia é fundamental para a preservação dos dentes naturais, uma vez que tem como objetivo tratar as doenças e lesões na polpa dentária. O tratamento endodôntico consiste na remoção do tecido pulpar do dente afetado, seguida da desinfecção do canal radicular e posterior preenchimento com material obturador. O efeito do cimento obturador no limite apical da obturação está diretamente ligado ao sucesso da terapia endodôntica, existem diversos tipos de cimento endodônticos disponíveis no mercado, suas reações quando em contato com o tecido dentário tem sido amplamente discutido na literatura internacional. (Pereira, Salomão, 2023).

A  obturação  dos  canais  radiculares  tem  o  objetivo  de  inibir  o  acesso  de  fluidos  de  tecidos periapicais ou de saliva que podem entrar para dentro do sistema de canais radiculares, inclusive de bactérias  que  persistem  junto  com  os  seus  fatores  de  virulência e  consequentemente  antígenos  no preparo químico mecânico juntamente aos tecidos periapicais  (JARDINE, 2021). Sendo crucial para um tratamento de canal bem feito, e de grande importância fazer uma boa escolha do material a ser empregado nesta faze, devendo estar atento a não interferência do que ele pode acometer, e também o quanto ele pode acarretar na reparação tecidual, para isso é de importância ter o conhecimento das  suas  peculiares  característica  biológicas,  físico-químicas  do  material  a  ser  usado  na  obturação podendo até interferir no sucesso do tratamento endodôntico (LIMA, 2022), quando não há ausência de  sinais  clínicos  negativos  no  pós-tratamento  endodôntico  nem  sempre  pode  ser  considerada  um fator de sucesso, o agente patológico pode demorar a se manifestar após um grande período de tempo para ser averiguada clinicamente.

A escolha de um cimento obturador pode ser considerada uma das mais importantes fases neste processo restaurador, uma vez que este material será o responsável por impermeabilizar e eliminar a interface dos cones de guta-percha e as paredes dos canais radiculares. (Canova et al. 2002). Sendo assim, o cimento de escolha deve apresentar uma vasta gama de características desejadas, como por exemplo: biocompatibilidade, atoxicidade e capacidade de escoamento adequado. Com relação a esta última, se um cimento se apresentar muito viscoso, ele não conseguirá penetrar em todos os canais radiculares, entretanto, se ele apresentar baixa viscosidade, o cimento pode extravasar para a área periapical. (Faraon et al.2013).

A aplicação de cimentos biocerâmicos na odontologia vem sendo bem-sucedida em diversas áreas, principalmente no que diz respeito aos tratamentos endodônticos. Baseando-se principalmente na capacidade de promover regeneração tecidual. O seu escoamento favorece a aplicação efetiva, penetrando em fissuras, trincas e canais acessórios, impedindo que ocorra progressão de lesões (Colombo, 2022).

RELATO DO CASO

Paciente S.S.B, 30 anos, gênero masculino, leucoderma, encaminhado ao consultório particular para a realização do tratamento endodôntico do dente 14. O paciente não apresentava nenhuma alteração sistêmica, e os exames físicos e extrabucal apresentaram-se normais.  Ao exame clínico, o dente   apresentava restauração em resina. (Figura 1). Com base nas informações obtidas o diagnóstico foi de necrose pulpar.

Figura 1 -Comunicação com a câmara pulpar e ausência de radiotransparência óssea periapical.

A terapia endodôntica foi realizada em única sessão. Anestesia infiltrativa (Lidocaína 2% com adrenalina 1:100.000); remoção da restauração provisória com broca diamantada esférica 1014; isolamento absoluto do dente com o grampo 209 ; irrigação abundante com hipoclorito de sódio 2,5% e aspiração dos excessos de líquido do canal; introdução de lima convencional (#10) (Maillefer – DentsplyÒ) para neutralização do conteúdo tóxico do canal, até a medida de 23 mm (Comprimento Aparente do Dente – 2 mm); odontometria eletrônica  com localizador apical (Root ZX Mini, Morita, Osaka, Japão_ e preparo do canal radicular com Logic 25.05 (Easy Equipamentos odontológicos- Belo Horizonte – Brasil), ampliação foraminal ultrapassando 1 milímeto do comprimento real do dente e, com auxílio da Easy Clean e desta vez solução irrigadora de clorexidina em gel 2% agitando-o 3 ciclos de 20 segundos, em seguida 3 ciclos com Edta 17%, finalizado com soro fisiológico. A obturação do sistema de canais radiculares com cone único e cimento Bio-C Sealer (Angelus –Londrina -Brasil)  e restauração com resina RC Flow Opallis.  A radiografia final foi realizada e demostrou o extravasamento de material obturador para a região apical. (Figura 2).

Figura  2 – Extravasamento de material obturador para a região apical

A radiografia de proservação foi realizada após 2 anos  evidenciando reabsorção do cimento extravasado (Fig. 3).

Figura 3 –  Reabsorção do cimento extravasado

DISCUSSÃO

A taxa de sucesso dos tratamentos endodônticos varia de 86% a 98%. Travassos et al. 2024. Mesmo em dentes com lesões periapicais, a taxa de sucesso é alta, em aproximadamente 94%, quando o preenchimento do canal radicular permanece dentro da faixa de 0–2 mm do ápice.  relataram em uma revisão recente da literatura que as causas da falha do tratamento endodôntico permanecem praticamente inalteradas ao longo do tempo, com ênfase na persistência de microrganismos intra e extra-radiculares, preenchimento inadequado dos canais radiculares e superextensão dos materiais de preenchimento da raiz Tabassum, Khan, 2016.  Ao avaliar dentes com falhas endodônticas, observou-se que 65% dos casos apresentaram obturação de baixa qualidade. Hoen, Pink, 2002. Além disso, o preenchimento excessivo do canal foi um fator de falha do tratamento endodôntico quase quatro vezes maior do que os canais preenchidos aquém do forame radiográfico,  o que pode atrasar o reparo do tecido periapical e aumentar a incidência de periodontite periapical  (Segura-Egea et al. 2004)

A obturação é a fase final que tende a selar e vedar os canais radiculares evitando que ocorra uma recolonização de bactérias e causando o insucesso do tratamento, o material deve preencher todo espaço vazio entre as paredes dos condutos radiculares (Colombo, 2022).

Para que se consiga o selamento tridimensional é utilizado guta-percha e cimento com propriedades biológicas que estimulem o reparo. A guta-percha é um cone que não possui adesividade necessitando do cimento para preencher e selar totalmente os espaços (lima, 2020). Sobreobturação ocorre quando se tem um extravasamento de material além do ápice do dente em questão isso pode acontecer quando não se tem um bom preparo apical para o apoio do batente apical e travamento do cone principal. Este acidente pode ocorrer em virtude de extravasamento de cimento endodôntico, cone de guta-percha principal e secundário, cone de prata ou cimento e cones. Quando for extravasamento de cimento obturador sua retirada é muito difícil, portanto a escolha do material deve levar em consideração boas propriedades físicas e biológicas, porém, de modo geral o cimento acaba sendo reabsorvido sem danos maiores. (Marin et al. 2016).

A escolha do material para o tratamento endodôntico é crucial para um resultado bem-sucedido. No mercado existe diversos cimento obturadores, e para ser um cimento ideal deve ter propriedades de biocompatibilidade, ser bacteriostático, estabilidade, ser radiopaco, ser de fácil remoção, não ser condutor térmico e nem cariogênico (Moreira, 2022).

O cimento  biocerâmico  é  mais  eficaz quando  comparado  ao  cimento  de  óxido  de  zinco  e eugenol, tendo como benefícios: ótima vedação, propriedades antibacterianas e antifúngicas, relação com a citoxidade, boa bioatividade,  resultando em menor toxicidade e uma grande biocompatibilidade. O cimento  de óxido  de  zinco  e  eugenol, apresenta  propriedades  antibacterianas, porém apresenta malefícios como o  escurecimento  da  coroa  do  dente, um  fator  estético  que  os  pacientes  requerem bastante, longo tempo de  presa.  Sendo reabsorvíveis  se  a  extrusão  for  aplicada  aos  tecidos perirradiculares,  apresentam desconforto  quando não tomados  presa  e  solubilidade, mas  boa plasticidade, fixação razoável e dissolução rápida em meio úmido. Contudo, é importante que os profissionais procurem se orientar e estudar as qualidades ou os malefícios dos cimentos disponíveis no mercado, para saber quais reações possível que podem lhe proporcionar, os estudos dos cimentos obturadores dentro da endodontia se fazem necessário, devido ao  crescimento  gradativo  dessa  área, beneficiando tanto os  graduandos  como  os  profissionais  já atuantes na área. (Pereira, Salomão, 2023).

No presente caso, paciente relatou dor por um período de 3 dias, sendo recomendado medicação analgésica por esse período. De acordo com, Da Silva, et al. 2023, os pacientes relataram falha endodôntica relacionada à presença de dor. A fonte da dor foi possivelmente diagnosticada ou mal interpretada, levando-os a exigir uma extração dentária. Infelizmente, muitos dentistas realizam extrações sem o auxílio de exames radiográficos.

REFERÊNCIAS

Canova GC, Taveira LAA, Dezan-Jr E, Nishiyama CK, Spalding M. Estudo do poder flogógeno de quatro cimentos obturadores de canais radiculares por meio do teste edemogênico. Rev. Fac. Odontol. Bauru. 2002; 10(3): 128-33.

Colombo, B. M. Cimentos Biocerâmicos – Revisão de Literatura. 2022. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2022.

Da Silva, C. C et al. Root canal filling material in periapical lesions: A polarized and fluorescent light microscopy case series. Saudi Endodontic Journal 2023. 13(2):p 197-203. 

Faraoni G, Finger MS, Masson MC, Victorino FR. Avaliação comparativa do escoamento e tempo de presa do cimento MTAfillapex. RFO. 2013; 18(2): 180-4.

Hoen MM, Pink FE. Contemporary endodontic retreatments:An analysis based on clinical treatment findings. J Endod 2002;28:834–6.

JARDINE AP. Fatores que interferem na qualidade técnica de tratamentos endodônticos realizados por alunos de graduação: estudo observacional. Porto Alegre: UFRGS; 2021

LIMA  FLF. Cimentos  biocerâmicos  como  materiais  seladores  emPerfurações  radiculares:  uma revisão da literatura. São Luís: UNDB: 2020.

Marin, R. M. C., Merenda, A. D., Ogata, M., Pezati, N. C., & Moreti, L. C. T. Acidentes e Complicações em Endodontia: Sobreobturação. Relato de Caso Clínico. (2016). Arch Health Invest 2016. V.  5 p. 28.

Moreira, C.A. Propriedades dos cimentos biocerâmicos aplicados em endodontia. Orientador: João Agadir Pinto Jr. 2022. 25 p. Trabalho de Conclusão de Curso (Graduação em odontologia) – Centro Universitário Uniguairacá, Guarapuava, 2022.

Pereira, J., Cruz, W., & Salomão, M. (2023). Consequências do extravasamento do cimento de óxido de zinco e eugenol e o cimento biocerâmico. Revista Cathedral5(3), 129-136.

Segura-Egea JJ, Jiménez-Pinzón A, Poyato-Ferrera M, Velasco-Ortega E, Ríos-Santos JV. Periapical status and quality of root fillings and coronal restorations in an adult Spanish population. Int Endod J 2004;37:525–30.

Tabassum S, Khan FR. Failure of endodontic treatment:The usual suspects. Eur J Dent 2016;10:144–7

Travassos, R.M.C. et al. Retratamento endodôntico em dente portador de fístula e lesão periapical – Relato de caso clínico Ciências Biológicas, 2024 V. 28 – Edição 137.


1ORCID: https://orcid.org/0000-0003-4148-1288
Universidade de Pernambuco, Brasil
E-mail: rosana.travassos@upe.br

2ORCID: https://orcid.org/0009-0009-0993-4905
Prof. Parceiro da Easy Equipamentos Odontológicos
E-mail: drwiliammartins@hotmail.com

3ORCID: https://orcid.org/0009-0000-3985-3754
Universidade Uninassau Cacoal-RO
E-mail: lucasgodmartins@gmail.com

4ORCID: https://orcid.org/0009-0005-6009-6248
Faculdade São Leopoldo Mandic
E-mail: endodontialuca@gmail.com

5ORCID: https://orcid.org/0000-0002-1404-099X
Faculdade do instituto de pesquisa e ensino
E-mail: drgustavoalmeida01@gmail.com

6https://orcid.org/0000-0002-1273-5800
Centro Universitário de Volta Redonda-RJ (UNIFOA)
Email: leosbarroso@gmail.com

7ORCID: https://orcid.org  /0000-0002-6708-1197
E-mail: adrianaju@icloud.com
Centro Universitário de Volta Redonda-RJ

8ORCID: https://orcid.org/0009-0007-7664-4207
Faculdade São Leopoldo Mandic
E- mail: renata.wccordeiro@gmail.com

9ORCID: https://orcid.org / 0009-0007-3449-1951
Faculdade São Leopoldo Mandic
fvicterodonto@outlook.com

10ORCID: http://orcid.org/0000-0003-3012-3979
Universidade de Pernambuco-Brasil 
E-mail: regina.menezes@upe.br

11Universidade de Pernambuco, Brasil
ORCID:  https://orcid.org/0000-0002-7199-0414
E-mail: priscila.prosini@upe.br