TREATMENT OF GENERALIZED CHRONIC PERIODONTITIS SERIOUS WITH SURGICAL INTERVENTION: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411271945
Vanclepheson Alencar da Silva1
Sabrina Castilho Bessa da Silva2
Anderson Gabriel Maia3
RESUMO
A periodontite crônica generalizada grave é uma doença inflamatória que causa a destruição progressiva dos tecidos periodontais e ósseos, comprometendo a função mastigatória e a estética dental. A periodontite crônica é geralmente associada à má higiene bucal e fatores sistêmicos como diabetes e tabagismo, exige intervenções cirúrgicas quando os tratamentos convencionais não são suficientes. O objetivo do trabalho foi relatar e analisar o tratamento cirúrgico de um caso de periodontite crônica grave, destacando a importância da intervenção precoce e a manutenção da saúde periodontal. A metodologia envolveu a avaliação clínica e radiográfica detalhada de uma paciente de 41 anos que compareceu a Clínica Odontológica da Faculdade Metropolitana localizada em Porto Velho – Ro, em que foi diagnosticada com periodontite grave. Após confirmação do diagnóstico, foi realizada raspagem em campo aberto. A paciente foi orientada quanto aos cuidados pós-operatórios e prescritos medicamentos como antibióticos e anti-inflamatórios. Após 28 dias, a paciente retornou com boa cicatrização, e foi realizado acompanhamento com profilaxia e orientações sobre a higiene bucal. O estudo evidencia a necessidade de abordagens multidisciplinares e a importância de um tratamento adequado, além da importância do controle da higiene bucal.
Palavras-chave: Saúde periodontal, Doença, Cirurgia.
ABSTRACT
Severe chronic generalized periodontitis is an inflammatory disease that causes progressive destruction of periodontal and bone tissues, compromising chewing function and dental aesthetics. Chronic periodontitis is generally associated with poor oral hygiene and systemic factors such as diabetes and smoking, requiring surgical interventions when conventional treatments are not sufficient. The objective of the study was to report and analyze the surgical treatment of a case of severe chronic periodontitis, highlighting the importance of early intervention and maintenance of periodontal health. The methodology involved the detailed clinical and radiographic evaluation of a 41-year-old patient who attended the Dental Clinic of Faculdade Metropolitana located in Porto Velho – Ro, where she was diagnosed with severe periodontitis. After confirming the diagnosis, scraping was performed in an open field. The patient was advised on post-operative care and prescribed medications such as antibiotics and anti-inflammatories. After 28 days, the patient returned with good healing, and follow-up with prophylaxis and guidance on oral hygiene was carried out. The study highlights the need for multidisciplinary approaches and the importance of adequate treatment, in addition to the importance of controlling oral hygiene.
Keywords: Periodontal health, Disease, Surgery.
1. INTRODUÇÃO
As doenças bucais têm um impacto na qualidade de vida dos pacientes com problemas dentários, como cáries, gengivites e periodontites pois vão além do desconforto relacionado na autoestima, impactando a mastigação e fonação, sendo que, a dor e a sensibilidade geradas por essas doenças muitas vezes restringem a ingestão de determinados alimentos, impactando esteticamente e funcionalmente (KREVE, ANZOLIN, 2016).
A gengivite é uma condição inicial e reversível caracterizada por uma inflamação nas gengivas causada, em grande parte, pelo acúmulo de biofilme dental, no entanto, se não tratada, pode progredir para a periodontite. A doença periodontite se caracteriza por uma infecção bacteriana que afeta as estruturas de suporte dos dentes, incluindo a gengiva, o osso alveolar e o ligamento periodontal, em que, com o avanço da infecção, há destruição do osso de suporte, resultando em mobilidade dentária e, eventualmente, na perda dos dentes (DEL BUONO, 2022).
A periodontite apresenta diferentes tipos, classificados principalmente pela forma como a doença se desenvolve, sendo os principais tipos a periodontite crônica e a periodontite agressiva, em que, ambos podem ser classificados em diferentes estágios de severidade, de leve, moderada e grave, dependendo da extensão da perda óssea e do comprometimento das estruturas periodontais (ANTONINI et al., 2013)
A periodontite agressiva é uma forma rara de doença periodontal definida por um avanço rápido e severo na destruição dos tecidos de suporte dos dentes, geralmente afetando adolescentes e adultos jovens, mesmo em indivíduos com boa higiene bucal, e normalmente associada a fatores genéticos e a uma resposta imunológica exacerbada tornando o diagnóstico precoce e o tratamento especializado fundamental para evitar a perda precoce dos dentes. (FEITOSA, AMORIM, NOVAES, 2018; BARBOSA et al., 2012).
A periodontite crônica é a doença mais prevalente, sendo de caráter inflamatório e multifatorial que afeta os tecidos de suporte dos dentes, levando à destruição progressiva e lenta do osso alveolar e, eventualmente, à perda dentária, sendo mais comum em adultos e idosos com má higiene bucal (NAIFF, ORLANDI, SANTOS, 2012).
A principal diferença entre a periodontite crônica e a agressiva reside nos fatores etiológicos e na velocidade de progressão da doença, pois a periodontite crônica, mais comum em adultos e idosos, está associada principalmente à má higiene bucal e pode ser associada a fatores sistêmicos, enquanto a periodontite agressiva, que acomete principalmente adolescentes e adultos jovens, envolve fatores genéticos e imunológicos (STEFFENS, MARCANTONIO, 2018).
Para todas as classificações de periodontite crônica e agressiva, é definido se a periodontite é generalizada ou localizada, que se diferencia com base na extensão e no número de dentes afetados. A periodontite generalizada compromete pelo menos três dentes permanentes, enquanto a forma localizada afeta apenas dois dentes, sendo um deles o primeiro molar. Para definir corretamente a extensão dos dentes acometidos, realiza-se uma análise em que, se até 30% dos dentes estiverem afetados, considera-se uma periodontite localizada. Caso mais de 30% dos dentes sejam acometidos, considera-se uma periodontite generalizada. (GIUDICISSI, 2018; STEFFENS, MARCANTONIO, 2018).
A periodontite também é classificada com base no estágio e no grau da doença. O estágio refere-se à severidade e à extensão do comprometimento periodontal representado o dente mais afetado. No Estágio I, observa-se uma perda de inserção dentária de 1 a 2 mm, caracterizando uma periodontite inicial. No Estágio II, a perda de inserção aumenta para 3 a 4 mm. No Estágio III, a perda de inserção é de 5 mm ou mais, afetando até 4 dentes. No Estágio IV, a perda óssea e de inserção atinge níveis críticos, com perda de inserção de 5 mm ou mais e comprometimento de mais de 5 dentes, o que pode prejudicar severamente a estabilidade dentária e a função mastigatória (STEFFENS, MARCANTONIO, 2018).
A avaliação do estágio da periodontite também leva em consideração a perda óssea observada na radiografia, bem como a presença de lesões de furca. No Estágio I, há uma perda óssea horizontal de aproximadamente 15% no terço coronário da raiz. No Estágio II, a perda óssea horizontal varia de 15% a 33%. No Estágio III, a perda óssea atinge o terço médio das raízes, com a presença de lesões de furca nos graus II ou III. Já no Estágio IV, a perda óssea envolve o terço apical das raízes, e as lesões de furca são severas (RODRIGUES, BARBOZA NETO, BARBOZA JÚNIOR, 2023)
No que diz respeito ao grau da periodontite, refere-se à evolução da doença. O Grau A apresenta uma progressão lenta, com nenhuma perda óssea evidente em 5 anos. O Grau B apresenta uma progressão moderada, com até 2 mm de perda dental em cinco anos. O Grau C apresenta uma progressão acelerada, com mais de 2 mm de perda em 5 anos (SILVA-BOGHOSSIAN, DOS SANTOS, BARRETO, 2018).
O Grau da periodontite também considera a presença de fatores de risco como tabagismo e diabetes. Pacientes no Grau A não fumam e possuem níveis normais de glicemia. Já no Grau B, o indivíduo fuma menos de 10 cigarros por dia e apresenta hemoglobina glicada (HbA1c) inferior a 7%. Por fim, o Grau C caracteriza-se por indivíduos que fumam mais de 10 cigarros por dia e possuem HbA1c superior a 7%, o que indica o descontrole da diabetes (HOLZHAUSEN et al., 2019).
Os sintomas da doença periodontal incluem sangramento gengival ao realizar a sondagem, perda de inserção gengival onde pode apresentar recessão gengival visível, onde a raiz do dente fica exposta. Em estágios mais graves, podem surgir lesões de furca nos molares, agregado com a mobilidade dental, além de mau hálito persistente. Em alguns casos, a inflamação pode levar ao aparecimento de abscessos periodontais, causando dor e desconforto adicionais (DA SILVA SOUSA et al., 2020)
A etiologia da periodontite está associada a fatores microbianos e imunológicos, sendo exacerbada por condições sistêmicas, sendo iniciada principalmente pelo acúmulo de biofilme bacteriano provocando uma resposta inflamatória nos tecidos periodontais, em que, é modulada por fatores imunológicos pelo próprio organismo, resultando em uma destruição progressiva. Fatores sistêmicos, como tabagismo, diabetes e predisposição genética torna o indivíduo mais suscetível à inflamação e à perda óssea. Outros fatores, como estresse e deficiências nutricionais, também podem influenciar o desenvolvimento e a evolução da doença (STEFFENS, MARCANTONIO, 2018).
As bactérias associadas à periodontite, como Porphyromonas gingivalis, Aggregatibacter actinomycetemcomitans, Tannerella forshytia e Treponema denticola, são altamente patogênicas, se localizando nas camadas mais profundas da bolsa periodontal do dente acometido, sendo bactérias anaeróbias e gram-negativas que desencadeiam intensa resposta inflamatória, podendo também agravar a inflamação sistêmica (LEON et al., 2016)
O diagnóstico da periodontite envolve uma avaliação minuciosa que vai além dos exames radiográficos e da anamnese, realizando uma anamnese detalhada, utilizando uma sonda periodontal para medir a profundidade dos bolsos gengivais e verificar a presença de sangramento. Além disso, a análise do histórico médico do paciente, incluindo hábitos de higiene bucal e fatores de risco como o tabagismo, auxilia no diagnóstico e no planejamento do tratamento (CASTRO, TREVISAN, TABA JUNIOR, 2016)
Periograma é o exame fundamental realizado para o diagnóstico preciso da periodontite, que se conclui através da sondagem de todas as faces dos dentes, verificando a presença de cálculo, placa bacteriana, a perda da inserção do periodonto e sangramentos. Essa avaliação minuciosa permite classificar a periodontite de acordo com sua gravidade, extensão e distribuição, orientando o planejamento terapêutico mais adequado (PRIMO et al., 2013).
Ao realizar o periograma, o cirurgião dentista obtém todos os dados precisos através da sondagem, em que permite obter o diagnóstico da periodontite, se possui uma periodontite crônica, que normalmente é associado a escovação deficientes, ou a periodontite agressiva, assim como diagnosticar se possui uma doença generalizada ou localizada e seus graus e estágios (PEREIRA, 2022).
A periodontite crônica generalizada grave é uma forma particularmente severa da doença, afetando múltiplas regiões da boca e está associada a uma resposta inflamatória por conta do biofilme bacteriano subgengival. O tratamento envolve tanto intervenções cirúrgicas não invasivas, quanto tratamentos superficiais com menos invasividade como raspagem e alisamento radicular. Contudo, em casos avançados, são necessários procedimentos cirúrgicos mais invasivos para regeneração tecidual e correção de defeitos ósseos (STEFFENS, MARCANTONIO, 2018).
Em pesquisa realizada por Rodrigues et al. (2020), foram avaliados e analisados 173 pacientes, desses, haviam 62 diagnosticados com periodontite e 110 apresentavam gengivite. Quanto aos problemas sistêmicos, das 62 pessoas avaliadas e diagnosticadas com periodontite, 17 pacientes tinham hipertensão, 9 diabetes, 5 com alguma doença cardíaca, 17 faziam uso de algum medicamento e 18 são fumantes. O estudo demonstrou que os pacientes com problemas sistêmicos, principalmente os diabéticos, apresentam maior perda óssea e periodontite mais severas se for comparado aos pacientes que não apresentavam doenças sistêmicas. Esses dados corroboram a associação entre as doenças sistêmicas e periodontite, indicando a necessidade de uma equipe multidisciplinar para um tratamento completo e eficaz, que aborde tanto as questões bucais quanto as doenças sistêmicas.
A periodontite crônica grave exige uma abordagem multidisciplinar, envolvendo periodontistas, cirurgiões dentistas e, em muitos casos, médicos de outras especialidades. A intervenção cirúrgica é frequentemente indicada quando as terapias não invasivas, como a raspagem e alisamento radicular, não são suficientes para controlar a progressão da doença, em que visam a redução de bolsas periodontais profundas e a regeneração de tecidos ósseos perdidos (DE OLIVEIRA et al., 2024).
O objetivo deste estudo de caso é relatar e analisar o tratamento de periodontite crônica generalizada grave por meio de intervenção cirúrgica, escolhido devido à extensão da destruição óssea e à ineficácia das terapias convencionais. Pretende-se discutir a importância da intervenção precoce e da manutenção adequada da saúde periodontal, à luz da literatura científica atual, destacando o papel essencial da abordagem cirúrgica em casos avançados.
2. METODOLOGIA
Este caso clínico foi realizado na Clínica Odontológica da Faculdade Metropolitana localizada em Porto Velho – RO. O paciente foi submetido a uma avaliação clínica detalhada, na qual foi diagnosticado com periodontite crônica em estado crítico, em que, os tratamentos convencionais incluindo raspagens iniciais, não foram suficientes para controlar a progressão da doença, tornando necessária uma intervenção cirúrgica.
Inicialmente, cumprindo com os protocolos de anamnese, foi feita uma investigação do histórico médico e odontológico do paciente, como também, aferidos os sinais vitais, incluindo pressão arterial, frequência cardíaca e temperatura, assegurando que o paciente estava em condições clínicas adequadas para o procedimento. Para obter um diagnóstico preciso, foram realizadas 14 radiografias periapicais, além de uma radiografia panorâmica, que proporcionou uma visão abrangente da estrutura óssea e das áreas afetadas.
Foi realizado um levantamento periodontal detalhado na paciente, que incluiu a medição da profundidade de sondagem, o índice de placa, a avaliação da perda óssea e a mobilidade dentária. Esses parâmetros periodontais foram essenciais para confirmar o diagnóstico e estabelecer uma linha de base do estado clínico do paciente antes da intervenção cirúrgica. Com o diagnóstico confirmado e as condições clínicas estabelecidas, o procedimento cirúrgico foi realizado.
3. RELATO DE CASO
O paciente I.N.A, do gênero feminino com 41 anos de idade, compareceu à Clínica Odontológica da Faculdade Metropolitana para a avaliação de um tratamento periodontal. Realizou-se a anamnese, a avaliação e o periograma (Figura 1), por meio dos quais se constatou a presença de cálculo (IC) em todas as faces palatinas dos dentes superiores e em todas as faces dos dentes inferiores assim como a presença de Placa Visível (IPV). O Nível de Inserção Clínica (NCI), que avalia o tamanho da perda de inserção periodontal, foi apresentado perda em todas as faces de todos os dentes, sendo que, o índice mais grave que apresentou foi na face palatina distal do dente 27 e na face vestibular distal do dente 45, com ambos apresentando 7 mm de perda de inserção periodontal.
Com base nos dados obtidos no levantamento periodontal, foi diagnosticada periodontite crônica generalizada grave. Esse diagnóstico foi fundamentado em cálculos matemáticos e critérios clínicos. A periodontite crônica é identificada quando mais de 20% dos sítios apresentam presença de placa visível (IPV). Dos 162 sítios avaliados, 135 exibiam IPV, correspondendo a 83% dos sítios acometidos, confirmando o diagnóstico de periodontite crônica.
A classificação como periodontite generalizada baseia-se na presença de nível de inserção clínica (NCI) positivo em mais de 30% dos sítios. No caso em questão, dos 162 sítios analisados, 160 apresentaram NCI positivo, o que corresponde a 98% dos sítios, caracterizando a condição como generalizada. Por fim, a gravidade da periodontite foi determinada pelo sítio mais comprometido, que apresentou 7 mm de perda de inserção, configurando o diagnóstico de periodontite crônica generalizada grave.
Figura 1 – Periograma.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Durante a sondagem (Figura 2) para a avaliação do NCI e a profundidade da bolsa, em todas as faces foi apresentado sangramento supragengival e subgengival, além desses fatores, nos dentes 21 e 22 apresentou supuração nas faces palatinas.
Figura 2 – Sondagem
Fonte: Elaborado pelo autor.
Foi analisado a panorâmica (Figura 3) e dado início a raspagem supragengival e diagnosticado a necessidade da raspagem em campo aberto do quinto sextante pois o tratamento convencional não foi o suficiente para o tratamento da periodontite, com isso, foi realizado a aferição dos sinais vitais, que se encontravam dentro dos parâmetros normais, e foto de antes do procedimento (figura 4), dando início a preparação cirúrgica.
Figura 3 – Panorâmica.
Fonte: Elaborado pelo autor.
Figura 4 – Antes do procedimento
Fonte: Elaborado pelo autor.
Para a antissepsia oral inicial, o paciente realizou um bochecho com clorexidina a 0,12%, em seguida, procedeu à assepsia das mãos da equipe e à colocação de luvas cirúrgicas, utilizando um kit cirúrgico estéril e realizada a organização da mesa cirúrgica (figura 5), com todos os instrumentos devidamente esterilizados e dispostos para fácil acesso durante a intervenção, e deu início a assepsia da face do paciente com clorexidina a 0,2%.
Figura 5 – mesa cirúrgica organizada com instrumentos necessários
Fonte – Elaborado pelo autor.
Para a anestesia local, foi administrada articaína a 4%, associada à epinefrina na concentração de 1:100.000, o que incluiu o bloqueio do nervo alveolar inferior e do nervo mentoniano bilateralmente (Figura 6). Com o paciente devidamente anestesiado, procedeu-se à incisão do tecido gengival utilizando bisturi nº 5, seguida do descolamento com o descolador de Molt, para obter acesso direto à raspagem, realizando o retalho de widman modificado.
Figura 6 – Anestesiando nervo mentual
Fonte – Elaborado pelo autor.
A raspagem do tártaro no quinto sextante foi realizada com cureta Gracey 5-6 e ponta Morse 00, o qual foi minuciosamente raspado e limpo (Figura 7). Finalizada a raspagem, o local foi lavado com soro fisiológico e a intervenção foi concluída com uma sutura em ponto simples (Figura 8).
Figura 7 – Raspagem do quinto sextante
Fonte – Elaborado pelo autor.
Figura 8 – sutura
Fonte – Elaborada pelo autor
Depois do procedimento, o paciente recebeu as seguintes orientações para garantir uma recuperação apropriada: evitar alimentos duros e quentes; escolher alimentos líquidos e frios nos primeiros dias; descansar após a cirurgia; evitar exercícios físicos por cerca de sete dias e ter cuidado ao escovar os dentes, evitando o contato direto da escova com a gengiva.
O paciente também recebeu a receita para tomar os medicamentos prescritos e indicação de manter uma hidratação apropriada. Também foram dadas orientações para identificar sinais que possam sinalizar complicações, como sangramento contínuo, dor severa ou indícios de infecção, como febre, inchaço exagerado, presença de pus ou odor desagradável na boca e o paciente foi aconselhado a entrar em contato com os estudantes de odontologia imediatamente caso tenha alguma complicação.
Os medicamentos prescritos para o pós-operatório foram amoxicilina 500 mg por 7 dias, Toragesic 10 mg por 5 dias e ibuprofeno. Além disso, antes do procedimento cirúrgico, o paciente foi orientado a utilizar Periogard durante sete dias, a fim de preparar a cavidade oral e reduzir o risco de infecções pós-operatórias e contribuir para a cicatrização.
Após 28 dias do procedimento, a paciente retornou para avaliação da cicatrização e evolução do tratamento (Figura 9) e relatou sensibilidade desde o período pós-cirúrgico. Para minimizar essa sensibilidade, foram realizados profilaxia devido ao acúmulo de placa, aplicação de flúor e indicado uma pasta dental para auxílio da sensibilidade, além disso, foi realizada uma orientação prática para ensinar técnicas corretas de escovação dental.
Observou-se a ausência de tártaro, além da diminuição significativa da inflamação gengival. O retorno foi agendado, porém, ainda não foi realizado até o momento, sendo importante que o paciente compareça à consulta de acompanhamento para garantir a continuidade do tratamento e a manutenção da saúde bucal.
Figura 9 – Pós-cirúrgico cicatrizado
Fonte – Elaborada pelo autor
4. DISCUSSÃO E RESULTADOS
A periodontite é uma enfermidade inflamatória que causa a degradação progressiva dos tecidos periodontais, incluindo o osso alveolar, e é causada pela reação inflamatória do hospedeiro ao biofilme bacteriano subgengival (Papapanou et al., 2018). De acordo com a classificação mais recente das doenças periodontais, a periodontite é categorizada em fases, baseadas na severidade, extensão e graus, de acordo com o avanço da enfermidade. A forma generalizada grave é uma das mais desafiadoras, por conta de sua severidade e da exigência de intervenções terapêuticas complexas (TONETTI et al., 2018).
A periodontite crônica, especialmente em sua forma generalizada grave, tem implicações não apenas locais, mas também sistêmicas, em que, há relação entre doenças periodontais graves e condições sistêmicas como doenças cardiovasculares, diabetes mellitus e complicações na gravidez, sugerindo que a inflamação periodontal crônica pode ter repercussões além da cavidade oral (DA CRUZ PEREIRA, 2011)
Para o tratamento, abordagens não cirúrgicas como a raspagem de tártaro, tanto supra (acima da gengiva) quanto subgengival (abaixo da gengiva), aliadas ao alisamento radicular, são recomendadas de acordo com a severidade da periodontite da paciente. Esses procedimentos visam remover o acúmulo de tártaro, melhorando o aspecto da periodontite, no qual, diminui sangramento espontâneo, reduz a profundidade da bolsa gengival recuperando a inserção dos tecidos periodontais (NUNES et al., 2016).
Santana et al. (2016) descrevem a terapia fotodinâmica como um tratamento auxiliar à terapia periodontal convencional, na qual emprega o laser para eliminar as bactérias presentes na bolsa periodontal que danifica a membrana da bactéria que são resistentes aos tratamentos tradicionais, como o alisamento radicular e a raspagem, promovendo um controle mais eficaz da infecção, potencializando os resultados da terapia periodontal.
A raspagem e o alisamento radicular e um procedimento fundamental para o tratamento periodontite, consistindo na remoção mecânica do cálculo, no entanto, em bolsas periodontais mais profundas e lesões ósseas mais severas deve-se avaliar a necessidade de um tratamento cirúrgico complementar, pois esta abordagem mais invasiva proporciona acesso mais preciso a superfície subgengival (RAMOS, 2023).
A técnica cirúrgica no tratamento periodontal deve ser considerada após tentativas da raspagem que não exibiu resultados. Para iniciar a cirurgia, o retalho em envelope proporciona acesso ao campo operatório, permitindo a realização da terapia periodontal em campo aberto proporcionando a diminuição das bolsas periodontais profundo, remover biofilme bacteriano e cálculo subgengival, além de permitir a regeneração dos tecidos periodontais (DE OLIVEIRA et al., 2024).
Deve-se iniciar o planejamento cirúrgico de um tratamento periodontal após 1 mês da tentativa do tratamento convencional não cirúrgico, caso não tenha sido eficaz na redução da periodontite. As técnicas invasivas cirúrgicas são indicadas em casos de bolsas periodontais com profundidade superiores a 4 mm pois mostram mais efetividade na remoção do cálculo subgengival ao tratamento. A escolha da técnica cirúrgica mais adequada dependerá das características individuais de cada paciente e da severidade da doença periodontal (MELANI, 2018).
A raspagem e alisamento radicular em campo aberto consistem em um procedimento cirúrgico que permite melhor acesso à raiz do dente, realizando o retalho gengival, é possível remover completamente o tártaro nas bolsas periodontais, proporcionando limpeza mais eficaz se for comparado a uma raspagem sem o acesso cirúrgico. Esta técnica é apenas indicada em casos mais avançados que a raspagem convencional não trata a infecção (LANZZARIN et al., 2013).
Após a raspagem em campo aberto, pode-se avaliar a necessidade de outras intervenções cirúrgicas complementares, como o enxerto gengival livre ou pediculado, que se apresenta como uma técnica cirúrgica que visa cobrir o defeito do tecido gengival danificado, melhorando a recessão gengival e promovendo a regeneração dos tecidos periodontais, proporcionando uma melhor inserção. Além disso, o enxerto gengival contribui para a melhoria da estética do sorriso, uma vez que uniformiza a linha gengival e disfarça raízes expostas (DOS SANTOS VICENTE et al, 2021).
A regeneração tecidual guiada é uma técnica cirúrgica que utiliza uma membrana para promover a regeneração dos tecidos periodontais perdidos em casos de periodontite severa, que possui defeitos ósseos e gengivais profundos. A técnica favorece o crescimento de novas células ósseas e ligamentares, permitindo a reconstrução dos defeitos ósseos e a reposição do tecido perdido (VIEIRA et al., 2018)
O uso pré-operatório da clorexidina 0,12% na preparação para a cirurgias periodontal, pois tem sua eficácia na inibição da formação de biofilme e cálculo, além de atuar como um antisséptico reduzindo significativamente a carga bacteriana na cavidade oral. Essa redução bacteriana minimiza o risco de infecções pós-operatórias, contribui para uma cicatrização mais rápida e eficiente dos tecidos (LEÓN-RODRÍGUEZ, VARGAS-CASANA, MILLONES-GÓMEZ, 2020).
5. CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito deste estudo foi apresentar e examinar um caso de tratamento cirúrgico em uma paciente com periodontite crônica generalizada severa, enfatizando a relevância de uma intervenção precoce e da preservação da saúde periodontal. A experiência relatada enfatiza que a periodontite é uma condição multifatorial que requer um tratamento completo e constante, que vai além da simples eliminação de fatores etiológicos.
A realização de procedimentos como a raspagem em campo aberto demonstra ser uma técnica eficaz no tratamento da periodontite, pois facilita a remoção completa de cálculo subgengival e biofilme dental em áreas de difícil acesso e demonstrou ser eficiente no controle do avanço da doença e apresentando boa cicatrização dos tecidos periodontais. A paciente mencionada respondeu positivamente ao tratamento e notou avanços notáveis na cicatrização e na saúde periodontal, destacando a relevância de haver um planejamento bem estruturado e do monitoramento constante.
Assim, conclui-se que o tratamento da periodontite crônica generalizada grave requer uma abordagem personalizada e planejamento estruturado, realizando terapias efetivas, monitoramento constante e a participação ativa do paciente no processo de recuperação e preservação da saúde oral. Este caso clínico ilustra que, através do tratamento e das práticas adequadas, é viável não só controlar a periodontite, mas também melhorar a qualidade de vida e o bem-estar dos pacientes.
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1Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade Metropolitana de Porto Velho-RO
2Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade Metropolitana de Porto Velho-RO
3Docente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade Metropolitana de Porto Velho-RO