TREATMENT OF ROOT PERFORATION ASSOCIATED WITH FILE FRACTURE: CASE REPORT
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cs10202408301640
Raniely Almeida Lima1
Thayris Thauany Santos Braga2
Amanda Vitória Sousa Cavalcante3
Adail Rosa Alvarenga Junior4
Resumo
A endodontia é uma especialidade da odontologia que busca promover a descontaminação dos canais radiculares, tratando as patologias que acometem a região do periápice. Nos últimos anos apresentou um grande avanço, já que foram desenvolvidas diversas tecnologias que possuem o objetivo de facilitar e otimizar o tratamento endodôntico, entretanto, apesar dos novos instrumentos ainda ocorrem acidentes que podem interferir no sucesso do tratamento endodôntico, como a perfuração radicular e a fratura de instrumentos no interior dos canais radiculares. O objetivo deste trabalho é relatar um caso clínico de uma paciente que buscou atendimento odontológico devido a fratura de lima e perfuração do assoalho da câmara pulpar durante a realização de tratamento endodôntico.
Palavras-chave: Perfuração radicular. Fratura de instrumental. Endodontia
1. INTRODUÇÃO
A endodontia é uma, dentre as diversas especialidades da odontologia, que possui a função de promover a limpeza e desinfecção do sistema de canais radiculares, prevenção e tratamento das causas e doenças que acometem a região pulpar e o periápice dental, eliminação e máxima redução de agentes irritantes. Uma das principais fases para a eficiência e sucesso do tratamento endodôntico é o Preparo Químico Mecânico (PQM), que consiste no preparo do canal radicular, onde é utilizado instrumentos endodônticos juntamente com substâncias químicas auxiliares efetuando a limpeza, desinfecção e modelagem do canal radicular (SANTOS et al, 2021).
A evolução da endodontia permitiu a introdução de instrumentos com a funcionalidade de minimizar erros nos procedimentos operatórios realizados, garantindo a segurança durante o preparo dos canais radiculares, com ênfase, aos instrumentos de níquel-titânio (NiTi) que se caracteriza pela superelasticidade e memória de forma (ALBUQUERQUE et al, 2019).
Segundo Barth (2022), durante a execução do tratamento endodôntico, alguns acidentes e complicações podem ocorrer, sendo estes considerados inesperados e que resultam em danos que podem dificultar a realização do tratamento endodôntico, como a formação de degraus, transporte apical de um canal radicular curvo, fratura dos instrumentos endodônticos e perfurações endodônticas.
As fraturas de instrumentos rotatórios de Níquel-Titânio (NiTi) ocorrem devido às forças incorretas as quais os instrumentos são submetidos e utilização de instrumentos com defeito, o que torna provável a fratura devido ao estresse de torção e à fadiga cíclica. Portanto, é fundamental que o cirurgião dentista tenha um treinamento adequado na manipulação dos instrumentos endodônticos e siga as recomendações propostas pelo fabricante, além de usar técnicas e equipamentos modernos, como sistemas de instrumentação rotatória e irrigação adequada (CUNHA DIAS et al, 2023).
Resende et al (2019) afirmam que as perfurações radiculares consistem em uma comunicação acidental ou patológica entre a região da câmara pulpar e os tecidos periodontais, podendo ser causado por um erro no acesso à câmara pulpar e desconhecimento das variações anatômicas do elemento dentário, interferindo no sucesso da endodontia, principalmente quando se estabelece infecção bacteriana.
2. CASO CLÍNICO
Paciente procurou atendimento odontológico queixando-se de dor no elemento dental 37, relatou já ter iniciado um tratamento com outro profissional que não finalizou o tratamento. Após anamnese seguiu-se para avaliação radiográfica, realizando uma radiografia periapical inicial (Figura 1) notou-se uma imagem radiolúcida no assoalho da câmara pulpar, indicando perfuração do assoalho.
Figura 1
Notou-se também presença de instrumento fraturado no interior do canal radicular. Após a remoção do material restaurador provisório (Figura 2) foi confirmado o diagnóstico de perfuração do assoalho.
Figura 2
Iniciado o tratamento, foi priorizado fazer a remoção do instrumento fraturado, utilizou-se uma lima 10, buscando ultrapassar o fragmento da lima fraturada, em seguida o caminho foi alargado com a lima 15 e a lima 20, posteriormente, utilizou-se o ultrassom para vibrar a lima fraturada que se encontrava no interior do canal, e assim conseguindo removê-la (Figura 3). Durante toda esta etapa clínica, o agente irrigante utilizado foi a clorexidina 2%, optou-se por não utilizar o hipoclorito como forma de evitar o contato da substância com os tecidos vivos, que poderia acontecer devido à perfuração existente.
Figura 3
Após a remoção do instrumento fraturado, foi realizada a instrumentação de canais radiculares e inserção medicação intracanal (Calen) (Figura 4). Sobre o local da perfuração, colocou-se pó de hidróxido de cálcio, para controlar o pH da região e controlar o sangramento.
Figura 4
Após uma semana, a paciente não apresentava sintomatologia dolorosa, e foi realizada a obturação dos canais radiculares (Figura 5).
Figura 5
Nesta sessão também foi removido o pó de hidróxido de cálcio que estava sobre a perfuração, utilizando soro fisiológico, e em seguida, foi realizado o tamponamento da perfuração com agregado trióxido mineral (MTA) (Figura 6), sobre o MTA colocou-se ionômero de vidro fotoativado (Figura 7), e realizou-se a restauração com resina flow (Figura 8) e resina composta (Figura 9). Ao fim da sessão, realizou-se a radiografia final, notando-se o selamento hermético dos canais radiculares (Figura 10).
3. DISCUSSÃO
O sucesso do tratamento endodôntico depende da execução correta de todas as etapas, já que todas são fundamentais e interdependentes entre si. A endodontia objetiva a remoção da infecção pulpar, sendo necessário realizar desinfecção do sistema de canais radiculares, desde a região da câmara pulpar até o ápice radicular (GAMA; SALOMÃO, 2021).
Atualmente, a endodontia testemunha uma diversidade de desenvolvimentos que resultam de um avanço contínuo dos métodos, materiais e tecnologias, que se refletem em todas as etapas do tratamento, desde os diagnósticos por imagem até o desenvolvimento de novas técnicas de obturação e cinemática dos instrumentos (ANZA et al, 2020).
Apesar dos grandes avanços, a ocorrência de acidentes e complicações ainda são frequentes na rotina do endodontista, geralmente associadas a complexa anatomia dos dentes, pouco conhecimento das propriedades mecânicas dos instrumentos e dos procedimentos técnicos (PRILL & SALOMÃO, 2021). As complicações mais comuns são a fratura de instrumentos no canal radicular, perfuração radicular e transporte apical (CHANDAK et al, 2022).
Segundo Silva e Grangeiro (2020), as principais causas das fraturas de instrumentos no interior do canal radicular é a torção e a fadiga causada pela flexão cíclica, até mesmo nos materiais que são fabricados em ligas de Níquel-Titânio (NiTi), que se caracterizam por apresentar elevado grau de elasticidade, flexibilidade, resistência mecânica e memória de forma.
O manejo de instrumentos fraturados no interior do canal radicular continua causando discussões na prática clínica atual, já que a remoção do fragmento é considerada o mais preferível, entretanto, em alguns casos, a anatomia e a funcionalidade dos elementos dentários podem ser comprometidas devido a complicações (KAROGELOPOULOS et al, 2022). Segundo Dias et al (2023), apesar do instrumento fraturado não comprometer diretamente a evolução do tratamento, ele interfere no preparo químico-mecânico e obturação dos canais radiculares, o que afeta negativamente o prognóstico do tratamento.
Existem diversos manejos e protocolos empregados para remoção de instrumentos fraturados utilizando as tecnologias disponíveis, como microscópios cirúrgicos, pontas ultrassônicas e limas manuais associadas a substâncias solventes (BISPO et al, 2021). No caso clínico apresentado optou-se por utilizar primeiramente limas de menor calibre, seguida da utilização de pontas ultrassônicas.
Segundo Duarte et al (2022), o cirurgião-dentista dentista possui opções cirúrgicas e não cirúrgicas para lidar com essa situação clínica, sendo que a opção não cirúrgica mais indicada é a remoção do fragmento via canal, permitindo a modelagem e desinfecção eficiente do sistema de canais radiculares, entretanto para essa técnica é necessário treinamento e destreza do profissional
As perfurações radiculares consistem em uma iatrogenia comum durante o tratamento endodôntico que resulta na comunicação entre o canal radicular e os tecidos periodontais, sendo que sua ocorrência geralmente está associada à calcificação da câmara pulpar, canais com curvaturas acentuadas ou raízes achatadas, preparo para pinos intrarradiculares, sobreinstrumentação e desobturação (RODRIGUES et al, 2021).
Candeiro et al (2022) afirmam que o manejo adequado para esse tipo de complicação é a utilização de materiais biocompatíveis que estimulem a reparação tecidual, sendo que o agregado trióxido mineral (MTA) tem sido a primeira escolha para o tratamento de perfurações radiculares, pois além de ser biocompatível, promove o selamento e libera íons de cálcio.
O prognóstico vai ser afetado por fatores como a localização, o tempo decorrido para o reparo e a dimensão da perfuração, sendo que a literatura afirma que perfurações na região apical apresentam melhor prognóstico devido à redução do risco de contaminação, além disso quanto menor a perfuração e mais rápido for realizado o tratamento, a cicatrização será mais favorável devido à menor destruição tecidual e diminuição da chance de desenvolvimento de uma lesão endoperiodontal (SORIANO et al, 2023).
4. CONCLUSÃO
Apesar dos grandes avanços ocorridos na endodontia nos últimos anos, ainda é comum a ocorrência de acidentes durante a realização dos procedimentos, como fratura de instrumentais e perfurações radiculares. Para evitar essas complicações é importante que o cirurgião-dentista tenha conhecimentos da anatomia dos canais radiculares, associadas a exames radiográficos de boa qualidade, além disso, caso ocorra complicações, é necessário tratá-las levando em consideração a especificidade de cada caso, para garantir o melhor prognóstico.
REFERÊNCIAS
SANTOS, J. V. et al. Fratura de limas endodônticas no canal radicular: revisão de literatura. Brazilian Journal of Health Review, Curitiba, v.4, n.3, p. 11983-11994 may./jun. 2021. DOI:10.34119/bjhrv4n3-180.
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BARTH, N. G. Tratamento endodôntico do elemento dentário 26 com fratura de lima. Research, Society and Development, v. 11, n. 4, e0911426748, 2022. DOI: http://dx.doi.org/10.33448/rsd-v11i4.26748.
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RESENDE, F. O. et al. Tratamento com MTA Repair HP de extensa perfuração radicular após iatrogenia: relato de caso. RFO UPF, Passo Fundo, v. 24, n. 1, p. 120-126, jan./abr. 2019. http://dx.doi.org/10.5335/rfo.v24i1.9006
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PRILL, M. V. S.; SALOMÃO, M. B. Acidentes e complicações em endodontia: fratura de lima. Revista Cathedral (ISSN 1808-2289), v. 3, n. 4, ano 20201
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1Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: raniely.lima@faculdadegamaliel.com.br
2Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: thayris.braga@faculdadegamaliel.com.br
3Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: amanda.cavalcante@faculdadegamaliel.com.br
4Docente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). e-mail: adail.junior@faculdadegamaliel.com.br