REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7983373
Adriana Giorlando Ribeiro¹,
Fernanda Gonsalez¹,
Giulianna Menezes¹,
Larissa de Oliveira Passos Jesus²,
Aline Alexandrino Antunes³.
RESUMO
Este trabalho é uma revisão bibliográfica que aborda os benefícios do uso do canabidiol (CBD) na estética, procurando apresentar as propriedades do mesmo e suas vantagens quando usados na pele com foco em ações anti-inflamatórias, antioxidantes e controle da barreira lipídica para tratamento de ACNE, através do sistema endocanabinoide, que pode se ligar e reconhecer especificamente compostos fenólicos terpênicos, como os da Cannabis, conhecidos como fitocanabinóides. No tratamento da ACNE, os estudos sugerem que o CBD pode normalizar a produção de lipídios, produzidos de forma excessiva e anormal, induzida por estímulos que contribuem para o desenvolvimento da ACNE. Atualmente, os tratamentos para ACNE podem ser caros, ou com muitos efeitos colaterais, o que desestimula o paciente a aderir ao tratamento; o CBD, por ser um composto natural, com poucos efeitos colaterais e bons resultados demonstrados nos estudos, tem grande potencial para se tornar um grande aliado no tratamento da ACNE. A Cannabis sativa, conhecida popularmente como maconha, vem sendo usada como recurso medicinal por diversos povos há séculos, e nos últimos anos diversos países têm descriminalizado o uso da Cannabis e liberado para fins medicinais ou até mesmo recreativo. O presente trabalho foi realizado por meio de busca eletrônica de artigos científicos em inglês, português e espanhol publicados entre 2014 a 2022, nas plataformas: PUBmed, Google Acadêmico e Scielo, além de livros da área. Foram estudos .
Palavras chaves: CBD; acne; canabidiol
ABSTRACT
This work is a literature review that addresses the benefits of using cannabidiol (CBD) in aesthetics, seeking to present its properties and advantages when used on the skin, focusing on anti-inflammatory, antioxidant, and lipid barrier control actions for the treatment of ACNE, through the endocannabinoid system, which can specifically bind and recognize terpenic phenolic compounds, such as those found in Cannabis, known as phytocannabinoids. In the treatment of ACNE, studies suggest that CBD can normalize the production of lipids, which are excessively and abnormally produced due to stimuli that contribute to the development of ACNE. Currently, ACNE treatments can be expensive or have many side effects, which discourages patients from adhering to the treatment; CBD, being a natural compound with few side effects and demonstrated positive results in studies, has great potential to become a major ally in the treatment of ACNE. Cannabis sativa, commonly known as marijuana, has been used as a medicinal resource by various cultures for centuries, and in recent years, many countries have decriminalized the use of cannabis and allowed it for medical or even recreational purposes. This work was conducted through an electronic search of scientific articles in English, Portuguese, and Spanish published between 2014 and 2022 on platforms such as PubMed, Google Scholar, and Scielo, as well as relevant books in the field. Several studies were included.
Keywords: ACNE; CBD; CANABIDIOL.
INTRODUÇÃO
A utilização da Cannabis sativa, popularmente conhecida como maconha, como recurso medicinal tem sido registrada ao longo de séculos por diferentes povos. Recentemente, diversos países têm adotado medidas de descriminalização e legalização do uso da cannabis para fins medicinais e recreativos (Maciel, 2021).
Estudos limitados têm confirmado os potenciais benefícios tópicos dos canabinoides, porém, é certo que o sistema endocanabinoide exerce modulação na biologia da pele (Baswan, et al, 2020).
A acne, uma doença multifatorial, envolve diversos processos, como a superprodução de sebo, descamação irregular das células da pele, acúmulo de Cutibacterium acnes na unidade pilossebácea e inflamação. Atualmente, as terapias convencionais para acne incluem o uso de retinoides tópicos, agentes bactericidas de venda livre e tratamentos sistêmicos, como antibióticos orais e isotretinoína. No entanto, essas terapias apresentam limitações devido aos potenciais efeitos colaterais significativos e riscos de resistência a antibióticos, o que pode comprometer a adesão dos pacientes (Peyravian. N. et al, 2022).
Devido aos seus efeitos combinados de regulação da produção de lipídios, inibição da proliferação celular e ação anti-inflamatória, o canabidiol (CBD) apresenta potencial como um agente terapêutico promissor para o tratamento da acne vulgar (OLÁH, A. et al, 2014).
No Brasil, encontra-se em análise um Projeto de Lei (PL 399/15) pela Comissão Especial da Câmara dos Deputados, que propõe a legalização do cultivo da Cannabis no país exclusivamente para fins medicinais, veterinários, científicos e industriais, com algumas restrições (Viana, et al, 2021).
OBJETIVOS
Objetivo Geral:
Analisar os efeitos do CBD no tratamento de ACNE.
Objetivos Específicos:
Avaliar especificamente as seguintes funções do CBD, relacionadas aos benéficos da pele:
- Função antioxidante;
- Função clareadora;
- Controle de oleosidade.
MATERIAL E MÉTODOS
Trata-se de uma revisão bibliográfica através de estudos científicos que abordam os efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e bactericidas do CBD em produtos tópicos para o tratamento de ACNE, através do sistema endocanabinóide. Os artigos, teses e dissertações foram pesquisados nas bases de dados: PUBmed, Google Acadêmico, SCIelo, e site da ANVISA, utilizando artigos do ano de 2014 até 2022, e fazendo busca através das palavras chaves: CBD, acne, canabidiol e sistema ECS.
Durante o período de agosto de 2022 até abril de 2023, foram selecionados 13 artigos para construir a revisão, com o objetivo de compreender quais os principais efeitos benéficos do CBD no tratamento da ACNE e a evolução destas pesquisas no decorrer dos anos até os tempos atuais.
DESENVOLVIMENTO
Pele (Peyravian. N. et al, 2022)
A pele é um sistema epitelial que tem como a principal função o revestimento externo do corpo, a fim de isolar as estruturas internas do ambiente externo. O padrão histológico da pele é constituído por duas camadas: epiderme e derme.
A epiderme é a camada mais externa da pele. Os queratinócitos são as principais células epidérmicas.
A derme é dividida em duas camadas, papilar e reticular. As glândulas sebáceas são compostas por sebócitos diferenciados que liberam óleo na superfície da pele.
A pele humana é habitada por uma grande variedade de microrganismos, incluindo bactérias, fungos e vírus. O equilíbrio entre esses microrganismos é essencial para a imunidade local e bom funcionamento da barreira da pele. Os desequilíbrios desse sistema estão associados a doenças dermatológicas, como acne, dermatite, psoríase e rosácea.
A unidade pilossebácea consiste em: folículo piloso, haste e glândula sebácea. Esses poros sebáceos são encontrados no rosto, peito e costas.
O Cutibacterium acnes (anteriormente conhecido como Propionibacterium acnes) é uma bactéria comensal gram-positiva e anaeróbica facultativa pertencente ao filo Actinobacteria. Essa bactéria é o principal habitante da unidade pilossebácea em condições anaeróbias . Embora seja normalmente uma bactéria comensal, o Cutibacterium acnes também pode agir como um patógeno oportunista e causar infecções.
A biologia cutânea é modulada pelo sistema endocabióide humano (ECS).
O ECS é uma rede evolutivamente conservada de sinalização molecular que desemprenha um papel na homeostase corporal. É composto por vários componentes: moléculas sinalizadoras chamadas endocanabióides, receptores específicos e enzimas que sintetizam e quebram endocanabióides e transportadores de endocanabióides.
Pesquisas recentes indicaram o papel crítico do ECS na manutenção da homeostase da pele e da função barreira, e sua desregulação tem sido implicada em vários distúrbios da pele, como dermatite atópica, coceira, acne, crescimento e perda de cabelo e hiper/hipopigmentação.
ACNE (Peyravian. N. et al, 2022).
Oitava doença mais prevalente do mundo, a ACNE afeta cerca de 9,4% da população mundial. Embora mais comum em adolescentes, a acne pode começar em crianças mais novas e persistir até a idade adulta. Está associada a desconforto, cicatrizes na pele, além de sofrimento emocional e psicológico (Peyravian, et al., 2022).
O início e a progressão da doença podem ser desencadeados por uma interação de muitos fatores, incluindo estresse e alterações hormonais e nutricionais. (Peyravian, et al., 2022).
Como doença multifatorial, a patogênese da acne envolve superprodução de sebo, descamação, irregularidade das células cutâneas, acumulo de C. acnes na unidade pilossebácea e inflamação. Até o momento, as terapias convencionais para acne incluem retinoides tópicos, agentes bactericidas de venda livre e tratamento sistemáticos, como antibióticos orais e isotretinoína. No entanto, o potencial para efeitos colaterais significativos e riscos de resistência a antibióticos permanecem como limitações nessas terapias, por sua vez, reduzindo a adesão do paciente.
Os principais fatores envolvidos no aparecimento da acne são a superprodução de sebo, a proliferação indesejada de sebócitos e a inflamação.
A C. acnes está presente na pele de todos os indivíduos, o aparecimento da acne é dependente das respostas imunológicas individuais à bactéria, desencadeando a formação de comedões e a liberação de mediadores inflamatórios.
O processo inflamatório começa quando a C. acnes é detectada pelo sistema imunológico, exibindo efeito altamente inflamatório que pode desencadear a liberação de fatores quimiostáticos, como linfócitos, neutrófilos e macrófagos. Podem causar danos foliculares, ruptura e vazamento de bactérias, ácidos graxos e lipídios para a derme circundante (Fox et al., 2016).
CANABIDIOL (MACIEL. I. R. 2022)
A Cannabis é uma planta da família Cannabaceae que apresenta 3 espécies: sativa, indica e ruderalis.
A Cannabis sativa é dividida em duas categorias de subespécies baseada na concentração de moléculas psicoativas de THC.
Considerada uma planta quimicamente complexa, contendo aproximadamente 550 compostos, sendo 113 fitocanabinoides e 120 terpenos.
Nos últimos anos diversos países tem discriminado o uso da cannabis e liberado para fins medicinais ou até mesmo recreativo.
O potencial terapêutico do CBD tem sido amplamente apoiado em várias doenças imunológicas, neurodegenerativas, cancerígenas, cardiovasculares e dermatológicas.
No Brasil, a ANVISA vem acompanhando o desdobramento acadêmico e comercial do tema através de uma legislação que seja pertinente ao tema.
A RDC327 de 9 de dezembro de 2019 regulamenta os procedimentos para autorização sanitária para fabricação, importação, comercialização, prescrição, monitoramento e a fiscalização de produtos baseados em Cannabisutilizados para fins medicinais. Segundo o capítulo II da RDC, especificamente o art 4º, os produtos derivados da Cannabis sativa devem possuir predominantemente CBD e não ultrapassando mais do que 0,2% de THC. Porém, de acordo com o artigo 5º os cosméticos ou alimentos à base de Cannabis sativa não são considerados produtos para fins medicinais, não sendo permitidos pela nossa legislação.
O CBD é um componente abundante da cannabis, representando até 40% do total das substâncias ativas na planta. É um composto considerado como não-psicoativo.
O Canabidiol isolado é destituído dos demais efeitos típicos da planta e possui diversas propriedades, entre elas a ação antioxidante e anti-inflamatória.
Os canabinóides podem ser divididos em três categorias gerais com base onde são produzidos.
Endocanabinóides (ECB´s): compostos canabinóides biossintetizados no corpo humano.
Fitocanabinóides (PCB’s): obtidos de plantas (ex: CBD)
Canabinóides Sinteticos (SCs): gerados sinteticamente usando vários processos químicos.
Dentre todos os endocanabinoides presentes na pele, a anandamina e o 2-AG são os mais amplamente estudados.
O CBD é o fitocanabinoide não psicotrópico mais estudado.
No organismo, o sistema endocanabinóide é compreendido majoritariamente por dois receptores, o receptor CB1 e CB2 (Maciel. I) se ligar aos receptores de potencial receptor transitório (TRP) presente em vários tipos de célula da pele. Embora os receptores canabinoides continuem sendo os principais alvos do endocanibinoides, eles também demonstraram
CBD e a pele
Estudos evidenciaram que o corpo humano exibe um sistema endocanabinoide (SEC) que pode se ligar e reconhecer especificamente compostos fenólicos terpênicos, como os da Cannabis, conhecidos como fitocanabinóides (Viana et al., 2022).
CBD atraiu atenção significativa nos últimos anos por seu potencial terapêutico anedótico para várias patologias incluindo distúrbios cutâneos e cosméticos.
Como o ECS desempenha uma importante função reguladora na pele, é plausível que o tratamento com canabinóides tópicos possa ser eficaz para certos distúrbios ou para a saúde da pele em geral.
É importante notar que o CBD não apenas reduz a produção de lipídios, mas é capaz de normalizar a lipogênese em estado de desequilíbrio.
Ao se comunicar com os receptores de canabinoide de membrana CB2, presentes perifericamente em tecidos relacionados à imunidade, diminui a inflamação significativamente ao reduzir o nível de TNFalfa.
O CBD possui ácidos graxos que influenciam positivamente nas funções da membrana celular.
A propriedade antioxidante do CBD está relacionada a sua capacidade em interromper a cascata de reações que ocorrem a partir da formação de radicais livres gerados por espécies reativas de oxigênio, capturando ou transformando-os em formas menos ativas.
O CBD em baixas doses, resulta em efeitos fisiológicos que promovem a saúde, com ação antioxidante, anti-inflamatória e neuroprotetora, mais eficaz que a vitamina C para pele.
CBD e a ACNE ( OLÁH, et al. 2016)
O canabidiol possui propriedades anti-inflamatórias e antioxidantes, as quais auxiliam na redução do estresse oxidativo e trazem vitalidade para a pele. O CBD pode ser extraído de forma isolada e ser aplicado em diversos produtos de beleza, como hidratantes, séruns, óleos, esfoliantes e cápsulas.
Estudos demonstram que o CBD melhora o aspecto da acne, normaliza a lipogênese patologicamente elevada induzida por agentes pró acne, tanto de forma quantitativa quanto qualitativa, proliferação celular suprimida (efeito antiproliferativo), previne ações de ativação de TLR ou agentes pró acne para elevar os níveis de citocinas pró-inflamatórias (efeito anti-inflamatório universal).
O CBD normalizou a lipogênese patológica aprimorada por ácido araquidônico dos sebócitos em pele humana. Isso sugere que o CBD pode normalizar a produção de lipídios, produzidos de forma excessiva e anormal, induzida por estímulos que contribuem para o desenvolvimento da ACNE (Oláh et al., 2016).
RESULTADOS (Martinelli et al. 2021)
Em um estudo avaliando os efeitos do CBD nas glândulas sebáceas humanas, o CBD demonstrou inibir de forma dose-dependente a síntese excessiva de lipídios (lipogênese) em culturas de sebócitos que foram pré tratadas com compostos inflamatórios indutores de pro-acne. Os efeitos anti-inflamatórios do CBD também foram observados na redução da citocina inflamatória TNF-alfa. Os resultados desse estudo demonstram fortemente o potencial clínico do CBD no tratamento da ACNE (Martinelli et al., 2021).
A avaliação do CBD em condições semelhantes à ACNE revelou expressão suprimida de citocinas pró inflamatórias. O CBD também reduziu a síntese excessiva de lipídios.
Com administração do CBD na pele humana, houve inibição das ações lipogênicas de alguns compostos, sendo eles o ácido araquidônico e uma combinação de ácido linoileico e testosterona, e com isso suprimiu a proliferação de sebocitos.
No estudo de Olah, o CBD demonstrou inibir a proliferação de queratinócitos hiperproliferativos e demonstrou possuir atividade antibacteriana notável.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nossos achados sugerem que, devido aos efeitos lipostáticos, antiproliferativos e antinflamatórios combinados, o CBD tem potencial como um agente terapêutico promissor para o tratamento da acne vulgar.
Coletivamente, os dados apresentam o CBD fitocanabinóide como um potente agente anti-acne “universal”, possuindo um perfil único de “triplo anti-acne”. Vários estudos em humanos já investigaram a segurança do CBD. Além disso, já está em uso em muitos países na prática clínica sem efeitos colaterais significativos (Sativex). Isso é especialmente promissor, porque o agente antiacne mais eficaz atualmente disponível, a isotretinoína, é conhecido por causar sérios efeitos colaterais. Esses dados, juntamente com os achados atuais, apontam para uma nova estratégia promissora, econômica e, provavelmente, bem tolerada para o tratamento da acne vulgar, a doença de pele humana mais comum.
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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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1. Discente da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo / SP, Brasil
2. Docente da Universidade de Ribeirão Preto, Ribeirão Preto / SP, Brasil
3. Docente da Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo / SP, Brasil