TRATAMENTO CIRÚRGICO DE FOCO INFECCIOSO EM PACIENTE SISTEMICAMENTE COMPROMETIDO: RELATO DE CASO

SURGICAL TREATMENT OF INFECTIOUS FOCUS IN A SYSTEMICALLY  COMPROMISED PATIENT: CASE REPORT 

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7790042


Amanda Cristina Garcia Martins1
Sabrina Riediger Almi2
Flavio Martins da Silva3
Leopoldo Luiz Rocha Fujii4
Pedro Ivo Santos Silva5
Bruno Coelho Mendes6
Chimene Kuhn Nobre7


RESUMO

Infecções odontogênicas estão classificadas como condições clínicas caracterizadas  pela disseminação de um processo infeccioso aos tecidos e espaços fasciais da  região de cabeça e pescoço e pode estar relacionado a partir de um foco dentário,  podendo provocar várias complicações graves. Entre as principais causas das  infecções odontogênicas estão: cárie dentária, infecção dento alveolar, pericoronarite  e infecções pós-cirúrgicas. Este trabalho traz o relato de um caso clínico onde envolve  um paciente com comprometimento sistêmico que apresentou um quadro de infecção odontogênica e periodontal que necessitou de uma abordagem multidisciplinar em  âmbito hospitalar para resolução do quadro. 

Palavras-chaves: Infecções odontogênicas. Infecções dentárias. Endocardite bacteriana.

ABSTRACT 

Odontogenic infections are classified as clinical conditions characterized by the  dissemination of an infectious process to the tissues and fascial spaces of the head  and neck region and may be related from a dental focus, which may cause several  serious complications. Among the main causes of odontogenic infections are: dental  caries, dentoalveolar infection, pericoronitis and post-surgical infections. This work  presents the report of a clinical case involving a patient with systemic involvement who  presented a picture of odontogenic and periodontal infection that required a  multidisciplinary approach in a hospital environment for resolution of the picture. 

Keywords: Odontogenic infections. Dental infections. Bacterial endocarditis.

1 INTRODUÇÃO

As infecções odontogênicas apresentam-se como o tipo de patologia mais  comum na cavidade oral e maxilofacial, e podem ser caracterizadas como infecção  dentária, dos alvéolos, mandibulares e faciais. Se originam do dente ou então de suas  estruturas de suporte, podendo se disseminar, tornando-se mais complexas  (CAMARGOS et al., 2016; FIGUEIREDO et al., 2021).

As lesões em cavidade oral, de maior importância para a odontologia geralmente estão associadas à quadros de lesões pulmonares, podendo ser desencadeadas por estas ou sendo um fator desencadeador das mesmas. E esta condição acomete com maior frequência os indivíduos do sexo masculino, etilistas crônicos e também tabagistas (BATISTA; SILVA; MATHEUS, 2011). O quadro clínico do paciente portador de uma infecção odontogênica pode ser agravado em decorrência ao estilo de vida do paciente e de suas complicações sistêmicas, associados à má higienização oral e prevenção dessas doenças levando a quadros de infecção oportunista (ROCHA et al., 2021).

Essas infecções tendem a acometer pacientes debilitados, com fatores de risco para colonização e infecção, assim como pacientes já com doenças subjacentes graves, como os imunodeprimidos (SCARCELLA; SCARCELLA; BERETTA, 2017).

A infecção pode começar a redor de um dente, permanecendo localizada ou se espalhar para áreas distantes, pois o curso da infecção depende não somente da virulência da bactéria, como também de fatores de resistência do hospedeiro e da anatomia regional (FIGUEIREDO et al., 2021). Ao adquirir esta infecção o indivíduo está sujeito à várias manifestações clínicas como, pneumonias, septicemias, meningites, principalmente quando sendo considerado um patógeno oportunista de grande relevância nas infecções nosocomiais (ALVES; ALMEIDA, [2015]).

No momento de avaliação clínica do paciente deve ser observado o seu estado geral de saúde além de suas afecções loco-regional. No que diz respeito à avaliação clínica do paciente, deve ser apurada a história pregressa e familiar do mesmo, o tempo de evolução da entidade mórbida e possíveis tratamentos prévios. Na avaliação loco-regional, devem ser analisados todos os sinais e sintomas presentes: trismo, tumefação, fístulas, áreas de coleção purulenta, comprometimento das vias aéreas, disfagia e outros problemas. Além da clínica que é soberana por si, devemos fazer uso dos exames complementares por imagem e laboratoriais visto a necessidade de uma avaliação pormenorizada do quadro clínico (JARDIM et al., 2011).

Uma vez indicada a extração de um elemento dentário, é fundamental a realização de um planejamento minucioso baseado nos exames clínico, físico e radiográfico. Com o exame clínico pode-se obter os dados específicos de saúde do paciente, bem como a história médica e odontológica pregressa e atual (ANDRADE et al., 2012).

É primordial que o cirurgião-dentista esteja apto a identificar, diagnosticar e estabelecer um plano de tratamento adequado para o paciente, levando em consideração o estilo de vida e condições sistêmicas do mesmo, bem como ter um bom relacionamento e uma boa inter-relação com outros profissionais da área da  saúde necessários tanto para o diagnostico, quanto tratamento, como exemplo, com  médicos infectologistas, biomédicos que farão exames laboratoriais, entre outros,  fazendo com que esta rede profissional atue de forma multidisciplinar e fluida,  trazendo maior benefício para o paciente. Para isso é importante que o profissional  realize a coleta de dados específicos desde a anamnese, levantando o histórico de  doenças e tratamentos já realizados (GOMES; ESTEVES, 2012). 

É de extrema importância que os profissionais cirurgiões dentistas através de  uma boa anamnese e adequado exame clínico, exames complementares e todo  embasamento teórico possa diagnosticar e planejar de forma individualizada um plano  de tratamento para o seu paciente, desde as terapias mais conservadoras até mesmo  às mais invasivas. 

O caso em discussão traz evidentemente um paciente comprometido  sistemicamente, que apresenta uma lesão odontogênica, envolvendo um elemento  dentário, onde a abordagem de tratamento requer além desses cuidados,  possibilitando um prognostico ideal. 

Mediante isso, percebe-se a importância do diagnóstico das lesões e infecções  odontogênicas, e escolha na conduta terapêutica, para que as lesões e infecções não  evoluam para problemas sistêmicos que podem inclusive levar o paciente à óbito  (CAMARGOS et al., 2016). 

O presente estudo de caso baseia-se em história clínica do paciente obtida em  anamnese e relatório de acompanhamento médico conduzindo a coleta de dados  específicos. 

De acordo com fontes de evidências, complicações sistêmicas podem estar  associadas às endocardites bacterianas, infecções pulmonares, meningites e  septicemias, que são causadas por microrganismos oportunistas provenientes da  cavidade oral (BATISTA; SILVA; MATHEUS, 2011).

Tendo em vista estas condições previas para complicações sistêmicas, este  trabalho torna-se fundamental para orientação de postura e conduta do cirurgião  dentista frente a quadros que possam levar a estas complicações. 

Este trabalho tem como finalidade relatar um caso clínico, de um paciente com  vários acometimentos sistêmicos, o qual veio encaminhado de um profissional  endodontista, que juntamente com uma médica infectologista, identificaram a  presença de uma infecção do tipo oportunista na cavidade oral do referido paciente que então, necessitaria de abordagem cirúrgica para tratamento. O objetivo do presente estudo foi realizar um relato de caso clínico de um  quadro infeccioso em um paciente sistemicamente comprometido, com embasamento  teórico, apresentando informações sobre anatomia, microbiologia, diagnóstico, além  disso a escolha do procedimento terapêutico para a resolução do caso avaliando as  principais complicações sistêmicas e sua correlação com a odontologia.

2 REVISÃO DE LITERATURA 

2.1 Infecção odontogênica 

Infecção odontogênica é uma patologia oriunda dos tecidos periodontais, e  dentais e por ser uma patologia de difícil tratamento é compreendida pelos cirurgiões  que requer tratamento imediato, pois pode envolver sérias complicações para o  paciente. Os quadros da infecção se apresentam de diversas formas, como  assintomáticas ou dolorosas, com tumefações localizadas e até desde pouco  agressivas até de rápida progressão (AZENHA; HOMSI; GARCIA JR., 2012;  FONSECA et al., 2020). 

A maioria das infecções odontogênicas surgem como sequela de processos  que envolvem necrose pulpar, traumatismo e periodontite. Essas infecções podem  variar desde abscessos periapicais para infecções superficiais e profundas. Alguns  casos levam a infecções graves de região da cabeça e pescoço (MENDONÇA et al.,  2015). 

As infecções odontogênicas complexas são aquelas que principalmente podem  se disseminar para espaços faciais subjacentes, onde pode acarretar numa série de  problemas graves, como endocardites, septicemias, e o seu correto e precoce  diagnóstico é de extrema importância para obtenção de sucesso no tratamento  odontológico. São originadas dos tecidos dentários e também de suporte provocada  por microrganismos patológicos (CAMARGOS et al., 2016). 

Se tratando de patógenos oportunistas e que podem causar essas infecções,  temos o gênero da Acinetobacter, que é um patógeno nosocomial, com dezenas de  espécies e possui cepas multirresistentes, uma vez que instalada a infecção causada  por este microrganismo, traz fatores com muita gravidade dentre as patologias,  principalmente se tratando de pacientes em estado de terapias, ou de imunodepressão (ALVES; ALMEIDA, [2015]). 

É importante ressaltar que as infecções associadas a esses microrganismos,  principalmente em ambientes hospitalares, infelizmente têm aumentado com grande  significância, gerando muita preocupação no estado de saúde publica. E indivíduos  que se encontram em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), estão sujeitos ainda mais  aos riscos de contaminação, infecção e manifestações clinicas como pneumonias, feridas traumáticas, septicemias e também meningites (MARTINS; BARTH, 2013;  SÁNCHEZ et al., 2011). 

Outro microrganismo oportunista em destaque no caso, é a Candida albicans,  denominada uma levedura diploide, que causam doenças nos seres humanos, devido  à numerosos fatores contribuintes para as infecções fungicas causadas pelo  patógeno. Esse microorganismo torna-se muito patogênicos principalmente quando  há alterações de defesa do hospedeiro e é sem dúvida considerada invasiva em vários  sítios anatômicos. E entre as complicações que podem ocorrer estão destacados  desde casos de endocardites, e até mesmo infecções no pâncreas (BARBEDO;  SGARBI, 2010). 

Para obtenção do diagnostico se tratando de infecção odontogênica, deve se  basear na anamnese, observação e exploração em exame clínico que permitem  reconhecer sintomas e sinais. Os exames radiográficos são fundamentais para  determinar a localização, extensão e também as possíveis complicações das lesões  (BASCONES MARTÍNEZ et al., 2004). 

Como proposta de antibioticoterapia por via venosa a melhor opção segue  sendo a penicilina cristalina. Porém quando não disponível, a segunda alternativa é  ceftriaxona. Ela é possui menor eficácia, e sua a administração de doses a cada 12  horas pode dificultar a OPAT: Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy (LIMA et  al., [2020]). 

O tratamento para infecções odontogênicas é variável, e consiste  principalmente na remoção rápida da causa. Alguns casos podem responder  positivamente a terapia antimicrobiana, enquanto outros requerem abordagem mais  invasiva como, por exemplo, extrações dentárias ou drenagem cirúrgica (PIRES et al.,  2012). 

E para obter o manejo bem-sucedido dessas infecções vai depender da  mudança do ambiente por meio da descompressão cirúrgica pela técnica de  drenagem, remover o fator etiológico e da escolha adequada do antibiótico para o caso (CAMARGOS et al., 2016).

2.2 Epidemiologia 

A infecção odontogênica é considerada um problema que pode atingir  indivíduos de diversas faixas etárias, sexo, classe econômica, independente de nível de instrução. Através de dados disponibilizados por países desenvolvidos, o número  que envolve pacientes com esse tipo de infecções e que buscam serviços hospitalares  emergenciais vem aumentando cada vez mais. Se o paciente acabasse procurando  atendimento odontológico nas primícias dos sintomas, muitos quadros poderiam ser  amenizados (FONSECA et al., 2020). 

Para Camargos et al. (2016), também não há diferença tão significativa em  relação homem e mulher, nem quanto à idade, quando se trata de observação  epidemiológica em casos acometidos de infecções odontogênicas, afinal tal doença  acomete todas as faixas etárias desde criança à idosos com idade bem avançada. E  observa-se também níveis sócio econômicos dos pacientes internados que variam. 

Porém, segundo Seppänen et al. (2008), as infecções odontogênicas  ocasionalmente acometem a média idade dos pacientes com infecção local e  sistêmica foi de 36,8 anos. A relação masculino/feminino foi de 8/17. Também  observou um acréscimo da prevalência destas comorbidades com o aumento da idade  média. 

2.3 Relação de quadro sistêmico do paciente com infecção odontogênicas 

Nota-se que a evolução das infecções odontogênicas depende  significativamente do estado geral de saúde do paciente e que se o mesmo se  encontra sistemicamente comprometido, o controle desses casos pode tornar-se mais  complicado. Afinal esses pacientes com comprometimento sistêmico geralmente têm  aumento significativo no tempo de internação hospitalar, seguido de maiores  complicações e altos índices de morbidade, mortalidade quando comparados aos  pacientes não são acometidos por condições imussupressoras (SEPPÄNEN et al.,  2008). 

Protocolos são adotados para otimizar o atendimento ao paciente com infecção  oportunista, portador de comprometimento sistêmico, no qual segue os passos de; identificação da etiologia e grau de infecção, avaliação minuciosa do histórico em  relação ao quadro do sistema imunológico do paciente, escolha do ambiente  adequado para tratamento, assistência médica e nutricional, definição de terapia  medicamentosa e avaliação periódica do paciente, visando uma maior probabilidade  para o sucesso deste tratamento (FONSECA et al., 2020). 

2.4 Diagnóstico 

Na Odontologia, o exame clínico se divide em extra e intra oral. Deve-se fazer  a observação minuciosa dos sinais e sintomas de todas as alterações encontradas no  campo bucomaxilo-facial e, ao mesmo tempo, fazer o levantamento das informações  gerais sobre a saúde do paciente no momento da anamnese (SILVA; LEBRÃO;  BLACHMAN, 2001). 

A radiografia é o exame complementar mais utilizado pelo cirurgião-dentista.  No entanto, para que esse exame possa produzir os efeitos legais desejados, em  processos ético-administrativos ou judiciais, é imprescindível que sejam processadas  corretamente, identificadas e bem arquivadas (ALMEIDA, 2004). 

Destaca-se um número extremamente significativo de cirurgiões dentistas que  utilizam a radiografia panorâmica na sua prática, como exame complementar uma vez  que, é possível visualizar todo o complexo maxilo-mandibular e estruturas adjacentes  (ALMOG et al., 2004). 

Além da parte clínica, para melhor avaliação de quadro clínico do paciente  devemos fazer o uso de exames complementares por imagem e laboratoriais. Os  exames laboratoriais indicarão o comprometimento sistêmico do paciente (FONSECA  et al., 2020; MENDONÇA et al., 2015). 

2.5 Tratamento 

O tratamento das infecções odontogênicas possui vários tipos de abordagem  mediante a sua gravidade. Podendo ser desde uma abordagem dentária, com  intervenção de antimicrobianos, tratamento cirúrgico, ou ainda com uma combinação  entre essas intervenções (FONSECA et al., 2020). 

Diversos procedimentos odontológicos, desde menos à mais invasivos como  cirurgias podem ocasionar introdução e disseminação dos microrganismos presentes na cavidade oral, à corrente circulatória e caso o paciente seja portador de algum  comprometimento sistêmico cardíaco, essas bactérias ao alojar-se no endocárdio,  pode causar uma endocardite bacteriana. No intuito de evitar complicações à  pacientes cardíacos, é recomendada a profilaxia antibiótica antes da realização dos  procedimentos dentários que oferecem risco de provocar uma bacteremia (SIVIERO  et al., 2009). 

Uma das principais e efetivas indicações é a profilaxia antibiótica antes dos  procedimentos odontológicos principalmente invasivos. O objetivo da prescrição de  antibióticos profiláticos é prevenir a infecção ou a disseminação da mesma (BONILHA,  2014). 

Segundo Araújo (2010) a remoção da causa e tratamento cirúrgico são os  aspectos mais importantes no tratamento de infecções odontogênicas. E no que se  diz respeito à drenagem cirúrgica é totalmente eficaz, e vai de um simples acesso  endodôntico até as incisões cervicais que dão acesso aos espaços fasciais  acometidos. 

Dentre os sinais e sintomas relacionados às infecções; o edema, dor no  assoalho bucal, febre, disfagia, odinofagia, sialose, trismo odontalgia e respiração  fétida, são os mais comumente observados, podendo também ocorrer mudança na  fonação, aflição respiratória e sianose que refletem e comprometem os sinais vitais e  vias aéreas. Estes pacientes em específico, requerem cuidados hospitalares e  medidas rápidas de tratamento, afim de prevenir ou minimizar o desenvolvimento de  complicações mais severas, como as obstruções de vias aéreas, mediastinites,  meningites ou septcemias. 

3 MATERIAL E MÉTODOS 

A metodologia adotada para o presente trabalho foi o relato de caso, com  embasamento teórico sob coleta de dados de artigos científicos. A pesquisa inicial  envolveu várias fases e requisitos, tais como: coleta de dados com o paciente, história  médica e de saúde geral, exame clínico, laboratorial e radiográficos para minuciosa  investigação da patologia associada à um elemento dentário. 

A partir da coleta de dados junto à referencial teórico foi realizado um  fichamento determinando, conceito, etiologia, epidemiologia, relação paciente  sistemicamente comprometido com infecção oportunista, diagnostico, possíveis complicações e tratamento apropriado. 

4 CASO CLÍNICO 

Paciente C. O. F., 54 anos, do sexo masculino, cardiopata, hipertenso e com  relato prévio de tratamento oncológico realizado anos anteriores, procurou o serviço  odontológico com um especialista em Endodontia, para diagnóstico e tratamento de  uma lesão associada ao elemento dentário 38. Ao decorrer da avaliação o mesmo  relatou que havia consultado com uma médica infectologista que acompanhava o seu  caso e indicou a procura deste serviço odontológico. 

A médica também diagnosticou previamente que o paciente apresentava junto  ao elemento 38 colônias de Candida Albicans, e Acinetobacter lwoffii, e sabendo do  quadro de saúde do paciente (sistemicamente comprometido), junto à essa  informação da infecção de caráter oportunista, encaminhou para tratamento com  urgência. 

Dado o diagnóstico após avaliação do profissional Endodontista, o paciente foi  orientado a procurar o serviço de Cirurgia e Traumatologia Bucomaxilofacial do  Hospital das Clínicas, com o Dr. Flávio Martins. 

Após exame clínico, radiográfico e ectoscópico, o caso foi discutido entre os  profissionais envolvidos, endodontista, cirurgião bucomaxilofacial e médica  infectologista, observando que o mesmo já havia passado por tratamentos  periodontais prévios sem remissão ou regressão da lesão, oque foi determinante para  que a equipe optasse pela exodontia do elemento em questão associado à remoção  dos tecidos peridentais envolvidos e contaminados. (ver Figuras 1 e 2) 

Figura 1 Exame radiográfico panorâmico do paciente, observa-se lesão envolvendo a raiz distal do  elemento 38 e região de furca 

Fonte: Clínica Doc Dente, 2022.

Figura 2 Exame tomográfico evidenciando o acometimento das estruturas periodontais e porção  óssea pelo processo infeccioso 

Fonte: Clínica Doc Dente, 2022. 

Uma vez conversado e explicado ao paciente a sua situação clínica, o mesmo  foi submetido à intervenção cirúrgica à nível hospitalar para a realização dos  procedimentos citados, afim de remover e debelar o foco infeccioso com urgência. O  procedimento cirúrgico envolveu a exodontia do elemento dentário 38. (ver Figura 3) 

Figura 3 Evidenciando aspecto clínico do elemento 38, observando que ao redor de todo o dente,  principalmente em região distal é evidente lesão de coloração esbranquiçada, sugestivo da presença  das colônias de microrganismos 

Fonte: AUTORAS, 2022. 

A incisão escolhida foi do tipo Saad Neto. Esta incisão é utilizada quando  houver necessidade de um acesso com maior exposição apical dos dentes, inclusões profundas e propiciam um ótimo campo operatório. Propriamente dita é a  incisao do tipo Avellanal modificada que consiste na retirada da papila retromolar  para facilitar na remoção do capuz pericoronário (SAAD NETO et al., 2000). (ver  Figuras 4 à 10)

Figura 4 Imagem ilustrativa da incisão do tipo Saad Neto 

Figura 5 Elemento dentário após exodontia, evidenciando a presença das colônias bacterianas em  toda a superfície radicular 

Fonte: AUTORAS, 2022. 

Figura 6 Presença do capuz pericoronário da porção distal, removido 

Fonte: AUTORAS, 2022

Figura 7 Região alveolar após osteotomia para remoção de colar ósseo da região contaminada  (ostectomia da área) 

Fonte: AUTORAS, 2022.

Figura 8 Elemento dentário 38, extraído com a presença da porção óssea alveolar

Fonte: AUTORAS, 2022. 

Figura 9 Imagem da região alveolar após exodontia, remoção de tecido ósseo e limpeza de toda a  área de foco contaminado 

Fonte: AUTORAS, 2022. 

Figura 10 Sutura final, com ponto contínuo festonado, utilizado fio Vicryl 3.0 

Fonte: AUTORAS, 2022. 

5 DISCUSSÃO 

Segundo Gomes e Esteves (2012) é primordial que o cirurgião dentista esteja  apto a identificar, diagnosticar e estabelecer um plano de tratamento adequado para  o paciente, levando em consideração condições sistêmicas do mesmo. O que vai de  encontro ao caso relatado onde, o paciente foi previamente diagnosticado e  estabelecido ao mesmo um plano de tratamento individualizado e humanizado,  buscando assim desenvolver o melhor plano de ação para abordar o quadro ao qual  o paciente apresentava. 

Assim como Figueiredo et al., (2021) cita que as infecções podem começar ao  redor de um dente, permanecendo localizada ou até mesmo se espalhar por áreas  distantes da região do corpo humano, no caso abordado pela equipe também  podemos identificar a presença dos focos infecciosos ao redor do elemento 38, com  colônias bacterianas e fungicas, acometendo tanto a região periodontal, quanto  mucosa e envolvendo também o elemento dentário em si. Este quadro difícil de  debelar apenas com antibioticoterapia, necessitou de abordagem cirúrgica para  remoção total do foco infeccioso, realizando assim higienização oral da região e  prevenção das doenças sistêmicas geradas por microrganismos oportunistas, citadas assim por Rocha et al. (2021). 

Indivíduos que se encontram em Unidade de Terapia Intensiva (UTI), estão  sujeitos ainda mais aos riscos de contaminação e infecção (MARTINS; BARTH, 2013).  Se levarmos em consideração a história médica pregressa do paciente onde, o  mesmo passou por terapias para tratamento oncológico (quimioterapia, radioterapia,  entre outros) e que tudo isto deva ter levado o mesmo a uma condição de  imunossupressão deixando assim o mesmo sujeito a ação de fungos e bactérias  oportunistas, oque pode ter gerado o quadro com que o mesmo chegou para a equipe.  Seppänen et al. (2008) afirmam que pacientes com comprometimento sistêmico  geralmente têm aumento significativo no tempo de internação hospitalar, seguido de  maiores complicações e altos índices de morbidade, mortalidade quando são  comparados aos pacientes não são acometidos por condições imussupressoras.  Diante esta afirmação, nota-se que antes do paciente realizar o procedimento cirúrgico  do processo infeccioso, o mesmo passou por tratamento medicamentoso que não era  possível debelar e eliminar os focos infecciosos, e o mesmo relatava cansaço físico  indisposição, dores, e que apenas o uso dos medicamentos não estava eliminando a causa principal. Esta situação ainda poderia evoluir para uma disseminação infecciosa  sistêmica mais grave, oque desencadearia um provável quadro de necessidade de  internação hospitalar e comprometimentos de outros órgãos sistemicamente. Uma vez  que a progressão deste quadro evoluísse para pior, a própria vida do paciente estaria  em risco. Desta forma confirmamos a importância da abordagem cirúrgica para  remoção do foco séptico e resolução do caso. 

Para Fonseca et al. (2020) se o paciente procura atendimento odontológico nas  primícias dos sintomas, muitos quadros podem ser amenizados. Frente ao caso  exposto, ficou evidente para todos os envolvidos a importância e necessidade de  abordar sempre os casos de forma multidisciplinar, atuando de forma informativa e  investigativa, junto a outros profissionais da saúde, estabelecendo um tratamento de  qualidade ao paciente avaliando a história médica e odontológica dele. 

6 CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Podemos observar que a evolução das infecções odontogênicas por mais  simples que possam parecer, podem levar a comprometimentos sistêmicos  generalizados e de alta complexidade, como por exemplo; endocardites bacterianas, septicemias, meningites, entre outros. 

A simples de utilização de antibioticoterapia em casos mais graves pode não  ser totalmente eficaz, havendo a necessidade da remoção total do foco infeccioso,  além do tratamento medicamentoso. 

Em casos de pacientes sistemicamente que possuam doença de base, é dever  do cirurgião dentista, identificá-la e aplicar a correta conduta terapêutica para o quadro  do paciente. 

O cirurgião dentista é um importante profissional da área da saúde para o  restabelecimento de pacientes que possuem infecções do complexo maxilo facial. A multidisciplinaridade entre os profissionais envolvidos no caso torna-se  fundamental para uma boa evolução e bom prognostico na evolução da terapêutica  aplicada. 

REFERÊNCIAS 

ALMEIDA, Casimiro A. P. de et al. Prontuário odontológico: uma orientação para o  cumprimento da exigência contida no inciso VIII do art. 5° do Código de Ética  Odontológica. Rio de Janeiro: [CFO], 2004. Disponível em:  https://website.cfo.org.br/wp-content/uploads/2009/10/prontuario_2004.pdf. Acesso  em: 11 nov. 2022. 

ALMOG, Dov M. et al. Diagnosis of non-dental conditions: Carotid artery calcifications on panoramic radiographs identify patients at risk for stroke. New York State Dental  Journal, Hempstead, v. 70, n. 8, p. 20-25, Nov. 2004. Disponível em:  https://www.proquest.com/openview/db4651be2280e3a39a488fa44b545a34/1?pq origsite=gscholar&cbl=41679. Acesso em: 10 nov. 2022.

ALVES, Susane A. G.; ALMEIDA, Margarete T. G de A. A incidência da infecção  hospitalar por Acinetobacter baumanni. [UNIFEV], [Votuporanga], [2015]. Disponível  em: https://bityli.com/dhLipFvfd. Acesso em: 19 nov. 2022. 

ANDRADE, Valdir C. et al. Complicações e acidentes em cirurgias de terceiros  molares: revisão de literatura. Saber Científico Odontológico, Porto Velho, v. 2, n.  1, p. 27-44, jan./jun., 2012. Disponível em:  http://periodicos.saolucas.edu.br/index.php/resc/article/view/1164. Acesso em: 5 out.  2022. 

ARAÚJO, Jose Augusto Dias. Infecção odontogênica: revisão de literatura. 2010.  109 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Cirurgia e Traumatologia  Buco-maxilo-facial) – Faculdade de Odontologia, Universidade Federal de Minas  Gerais, Belo Horizonte, 2010. Disponível em: http://hdl.handle.net/1843/BUOS95BRGV. Acesso em: 24 nov. 2022. 

AZENHA, Marcelo R.; HOMSI, Guilherme; GARCIA JR., Idelmo R. Multiple brain  abscess from dental origin: case report and literature review. Oral Maxillofac Surg, [s.  l.], v. 16, p. 393-397, 2012. DOI: 10.1007/s10006-011-0308-3. 

BARBEDO, Leonardo S.; SGARBI, Diana B. G. Candidiases. Brazilian Journal of  Sexually Transmitted Diseases, [s. l.], v. 22, n. 1, p. 22-38, 2010. Disponível em:  https://www.bjstd.org/revista/article/view/1070. Acesso em: 1 nov. 2022. 

BASCONES MARTÍNEZ, A. et al. Consensus statement on antimicrobial treatment of  odontogenic bacterial infections. Med. Oral. Patol. Oral. Cir. Bucal., [s. l.], v. 9, n. 5, p. 363-376, Nov/Dec, 2004. 

BATISTA, Victor E. de S.; SILVA, Marceli M.; MATHEUS, Gildo. A importância do  cirurgião dentista no diagnóstico de paracoccidioidomicose. Revista Odontológica de  Araçatuba, Araçatuba, v. 32, n.2, p. 14-17, jul./dez. 2011. 

BONILHA, Jaqueline Garcia. Infecções odontogênicas de origem endodôntica:  Estudo retrospectivo de 24 meses. 2014. 25 f. Trabalho de Conclusão de Curso  (Graduação em Odontologia) – Universidade Estadual de Londrina, Londrina, 2014.  Disponível em:  http://www.uel.br/graduacao/odontologia/portal/pages/arquivos/TCC2014/JAQUELINE%20GARCIA%20BONILHA.pdf. Acesso em: 20 nov. 2022. 

CAMARGOS, Felipe da M. et al. Infecções odontogênicas complexas e seu perfil  epidemiológico. Rev. cir. traumatol. buco-maxilo-fac, Camaragibe, v.16, n.2,  abr./jun. 2016. Disponível em:  http://revodonto.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1808-52102016000200005. Acesso em: 10 nov. 2022. 

FIGUEIREDO, Eugênia Leal de et al. Infecções odontogênicas complexas: uma  revisão de literature. Research, Society and Development, v. 10, n. 9, p.  e20310917668, 2021. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i9.17668.

FONSECA, Eduarda L. G. da et al. Infecções odontogênicas, da etiologia ao  tratamento: uma revisão da literatura. Brazilian Journal of Development, Curitiba, v. 6, n. 7, p. 44396-44407, jul. 2020. DOI:10.34117/bjdv6n7-163. 

GOMES, Sabrina F.; ESTEVES, Márcia C. L. Atuação do cirurgião-dentista na UTI: um novo paradigma. Revista Brasileira de Odontologia, [s. l.], v. 69, n. 1, 2012.  Disponível em: http://revista.aborj.org.br/index.php/rbo/article/view/283. Acesso em: 10 nov. 2022. 

JARDIM, Ellen C. G. et al. Infecções odontogenicas: relato de caso clínico e  implicações terapêuticas. Revista Odontológica de Araçatuba, Araçatuba, v. 32, n.  1, p. 40-43, 2011. Disponível em: http://hdl.handle.net/11449/133592. Acesso em 15 set. 2022. 

LIMA, Ana L. L. M. et al. Diretrizes brasileiras para terapia antimicrobiana  parenteral ambulatorial (Outpatient Parenteral Antimicrobial Therapy – OPAT).  São Paulo: Sociedade Brasileira de Infectologia, [2020]. 

MARTINS, Andreza F.; BARTH, Afonso L. Acinetobacter multirresistente: um desafio  para a saúde. Scientia Medica, Porto Alegre, v. 23, n. 1, p. 56-62, 2013. Disponível  em: https://bityli.com/zxVCOAUy. Acesso em: 15 nov. 2022. 

MENDONÇA, Jose Carlos G. de et al. Infecção cervical grave de origem dentária:  relato de caso. Archives of Health Investigation, [s. l.], v. 4, n. 6, nov./dez. 2015.  Disponível em: https://www.archhealthinvestigation.com.br/ArcHI/article/view/918. Acesso em: 15 out. 2022. 

PIRES, W. R. et al. Tratamento de infecções odontogênicas de diferentes proporções: revisão de literatura e relato de casos. Rev. Odontol. UNESP, [s. l.], v. 41, n. especial  2, 2012. Disponível em: https://revodontolunesp.com.br/journal/rou/article/5880193b7f8c9d0a098b504b. Acesso em: 5 nov. 2022. 

ROCHA, Emyly Natanny Reis et al. Infecção odontogênica grave após exodontia de  terceiros molares: relato de caso. Research, Society and Development, v. 10, n. 16,  p. e560101624144, 2021. DOI: https://doi.org/10.33448/rsd-v10i16.24144. 

SAAD NETO, S. J. et al. Sinopse de Cirurgia e Traumatología BucomaxiloFacial.  Araçatuba: Faculdade de Odontologia de Araçatuba, 2000. 

SÁNCHEZ, R. et al. Severe odontogenic infections epidemiological, microbiological  and therapeutic factors. Medicina oral, patología oral y cirugía bucal, Ed. Inglesa,  [s. l.], v. 16, n. 5, p. e670-e676, Aug. 2011. Disponível em:  http://hdl.handle.net/10550/63680. Acesso em: 5 nov. 2022. 

SCARCELLA, Ana Carolina de A.; SCARCELLA, Ana Sílvia de A.; BERETTA, Ana  Laura R. Z. Infecção relacionada à assistência à saúde associada a Acinetobacter  baumannii: revisão de literatura. RBAC, [s. l.], v. 49, n. 1, p. 18-21, 2017. DOI:  10.21877/2448-3877.201600361.

SEPPÄNEN, Lotta et al. Analysis of systemic and local odontogenic infection  complications requiring hospital care. Journal of Infection, [s. l.], v. 57, n. 2, p. 116- 122, Aug. 2008. Disponível em:  https://www.sciencedirect.com/science/article/pii/S0163445308002065. Acesso em: 2  nov. 2022. 

SILVA, Flávio M. da et al. Incisões para terceiros molares inferiores inclusos.  International Journal of Dentistry, Recife, v. 1, n. 1, p. 30-34, jan./mar. 2006.  Disponível em:  https://periodicos.ufpe.br/revistas/dentistry/article/download/13860/16707. Acesso  em: 22 nov. 2022. 

SILVA, O. M. P.; LEBRÃO, M. L.; BLACHMAN, I. T. A qualidade dos registros  odontológicos dos hospitais do setor governamental do município de São Paulo. Rev.  Odontol. UNESP, [s. l.], v. 30, n. 1, p. 67-74, 2001. Disponível em:  https://revodontolunesp.com.br/journal/rou/article/588017977f8c9d0a098b47e7.  Acesso em: 22 nov. 2022. 

SIVIERO, Marcelo et al. Evolução das alterações e atualizações do protocolo 2007 da American Heart Association para prevenção da endocardite infecciosa. Rev Inst  Ciênc Saúde, [s. l.], v. 27, n. 2, p. 176-180, 2009. Disponível em:  http://files.bvs.br/upload/S/0104-1894/2009/v27n2/a014.pdf. Acesso em: 5 nov. 2022.


1, 2Acadêmicos de Odontologia. Artigo apresentado a FIMCA, como requisito para obtenção do título de Bacharel em Odontologia. Porto Velho/RO, 2022.

3, 4Professores Orientador. Professores do curso de Odontologia

5, 6, 7Professores do curso de Odontologia.