TRANSTORNO DO INTERESSE E EXCITAÇÃO SEXUAL FEMININO: TABUS E TRATAMENTOS DISPONÍVEIS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8414852


Barbara Bredow
Elza Koch


RESUMO

Objetivo: Identificar na literatura científica a correlação entre os transtornos de excitação sexual femininos e a sociedade latina atual. Por fim, elucidar os tratamentos existentes na prática clínica e sua adesão pelas pacientes. Métodos: Trata-se de uma revisão integrativa, com artigos publicados entre 2022-2023., nos idiomas português e inglês, com texto completo disponível. Utilizou-se a questão norteadora: Como a ausência prazer sexual das mulheres é subestimada, inclusive, na área da saúde? A pesquisa bibliográfica foi realizada entre abril de 20217 e junho de 2023, sendo realizado buscas nas base de dados Literatura Latino Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), PubMed, Scientific Electronic Library Online (SCIELO) e Acervo Mais, por meio dos descritores em Ciências da Saúde (DeCS): SEXUALIDADE, MULHER, LIBIDO, usados de modo exato. Resultados: 11 artigos obedeceram aos critérios de inclusão e exclusão, no qual a ausência de prazer sexual feminino é subestimado na prática clínica ginecológica e seu impacto na vida das mulheres. Considerações finais: O prazer sexual feminino ainda é tido como algo secundário ou dispensável na vida sexual de muitas mulheres, afetando não só seus relacionamentos afetivos, como sua performance no ambiente de trabalho.

Palavras-Chave: Sexualidade, Mulheres, Libido.

ABSTRACT

Objective: To identify in scientific literature the correlation between the hypoactive sexual desire disorder and the current Latin-American society. Ultimately, elucidate the treatments existent in the clinical practice and the patient adherence. Methods: This paper is an integrative review, with articles published between 2022-2023, in the Portuguese and English idioms, with the full content available. Was used the guiding question: How the absence of the female sexual pleasure is underestimated, including, in the healthcare industry? The bibliographic research was made between the months of April of 2017 and June of 2023, having the search being made on the Latin-American and Caribbean Health Sciences Data base (LILACS), Pubmed, Scientific Eletronic Library Online (SCIELO) and Acervo Mais, using the health sciences descriptors (DeCS): SEXUALITY, WOMEN, LIBIDO, used in the exact manner. Results: 11 articles obeyed the inclusion and exclusion methods, in such the absence of the female sexual pleasure is underestimated in the gynecology clinical practice and the impact it has on female lives. Conclusion: The female sexual pleasure still is seen as a secondary or dispensable aspect of the woman’s sexual life, affecting not only your personal relationships, but also your work performance

Keywords: Sexuality, Women, Libido

RESUMEN

Objetivo: Identificar en la literatura científica la correlación entre los trastornos de la excitación sexual femenina y la sociedad latina actual. Por último, dilucidar los tratamientos existentes en la práctica clínica y su adherencia por parte de los pacientes. Métodos: Se trata de una revisión integrativa, con artículos publicados entre 2022-2023, en portugués e inglés, con texto completo disponible. Se utilizó la pregunta orientadora: ¿Cómo se subestima la ausencia de placer sexual en las mujeres, incluso en el ámbito de la salud? La investigación bibliográfica se realizó entre abril de 2017 y junio de 2023, realizándose búsquedas en las bases de datos Literatura Latinoamericana y del Caribe en Ciencias de la Salud (LILACS), PubMed, Biblioteca Electrónica Científica en Línea (SCIELO) y Acervo Mais, a través de descriptores en Salud. Ciencias (DeCS): SEXUALIDAD, MUJER, LIBIDO, usado exactamente. Resultados: 11 artículos cumplieron con los criterios de inclusión y exclusión, en los cuales se subestima la ausencia de placer sexual femenino en la práctica clínica ginecológica y su impacto en la vida de las mujeres. Consideraciones finales: El placer sexual femenino aún es visto como algo secundario o prescindible en la vida sexual de muchas mujeres, afectando no sólo sus relaciones afectivas, sino también su desempeño en el ámbito laboral.

Palabrasclave: Sexualidad; Mujer; Libido.

INTRODUÇÃO

A saúde sexual é a habilidade em que homens e mulheres podem expressar sua sexualidade sem riscos de doenças sexualmente transmissíveis, gestações indesejadas, violência, coerção e discriminação é o que promulga a Organização Mundial da Saúde (OMS) (FIGUEIRÔA et al, 2021). Desse modo, em 2010 foi intitulado o dia mundial da saúde sexual, o qual acontece dia 04 de setembro e visa instruir a população sobre a educação sexual. É importante salientar que antigamente sexualidade feminina estava ligada apenas a procriação, não era permitida a mulher sentir prazer, pois tal ato era considerado impuro pela sociedade (SOUSA, SOUZA e FIGUEIREDO, 2020).

A saúde sexual promove nos adultos bem estar geral e qualidade de vida, proporcionando benefícios físicos e psicológicos e aumento da longevidade. A resposta sexual é controlada e equilibrada por uma interação entre sistema nervoso central e periférico constituído por fases, sendo que cada fase possui sua própria neurofisiologia. Através de estímulos sexuais pode desencadear o aumento do desejo sexual, evoluindo para uma excitação, posteriormente uma resposta orgásmica (MARQUES; BRAZ, 2017).

Em 1952, nos Estados Unidos, houve a criação, pela Associação Americana de Psiquiatria (APA), de uma espécie de manual para auxiliar na estratificação e diagnóstico de soldados que participaram da Segunda Guerra Mundial e que apresentavam traumas e/ou doenças mentais. Hodiernamente, o DSM (Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders, na sua sigla em inglês) chega a sua quinta edição, a qual periodicamente sofre alguns ajustes, uma das suas últimas correções foi a mudança de nomenclatura na parte em que avalia os transtornos de disfunção sexual feminina, a qual passou a adotar uma nomenclatura mais abrangente sobre o assunto ao realizar a fusão dos seguintes tópicos, o transtorno do orgasmo feminino, o transtorno do interesse e/ou excitação sexual feminino, transtorno da dor gênito-pélvica e/ou penetração. (SERAPIÃO,2020).

Sob esse aspecto, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (FEBRASGO) , indica um modelo de abordagem para a discussão do transtorno de interesse e excitação sexual feminino, nova nomenclatura para “desejo hipoativo feminino” consiste, além da identificação dos coeficientes que culminaram na disfunção sexual, o acrônimo EOP,o qual significa ensinar sobre a resposta sexual (E); orientar sobre a saúde sexual (O); permitir e estimular o prazer sexual (P) (FEBRASGO, 2018).

METODOLOGIA

A pesquisa bibliográfica será realizada em múltiplas bases de dados, não se atendo apenas ao campo médico, mas sim a toda área da saúde. Buscando maior direcionamento dos resultados obtidos, os termos de busca utilizados serão relacionados ao tema da libido, saúde sexual feminina, dentre elas as palavras chaves: transtorno do interesse, sexualidade feminina, Trabalho de Conclusão de Curso I (TCC I) – MED20-003 disfunções sexuais, orgasmo e libido. Para tanto, os trabalhos utilizados serão datados a partir de 2017 até o ano de 2022 em qualquer idioma.

Para a pesquisa, poderão ser utilizados artigos científicos e monografias, sendo esses presentes em bases de dados como o LILACS, PubMed, Medline, Google Acadêmico, SciELO, UNESC, Arquivos da Sociedade Brasileira de Ginecologia e Obstetrícia, dentre outros. Após selecionados, os trabalhos encontrados serão analisados e agrupados conforme similaridade de conteúdos, de forma a elucidar os questionamentos propostos a respeito dos fatores sociais e fisiológicos influentes no desenvolvimento dos transtornos de interesse e excitação sexual, juntamente a compreensão dos obstáculos relacionados ao seu tratamento.

Resultados

Quadro 1 – Síntese dos principais achados sobre o tema

NAutores (Ano)Principais achados


1


BAHADORI, FATEME, et al. (2022)
Estudo transversal. Questionário realizado por 192 mulheres com SOP e 50 mulheres saudáveis, com a intenção de identificar disfunção sexual feminina, depressão e ansiedade. Nesse estudo, elucidou-se que mulheres com SOP possuem maiores riscos de possuirem disfunção sexual, em comparação com mulheres saudáveis.



2


SOUZA JÚNIOR, ÉDISON VITÓRIO DE, et al. (2022)
Estudo transversal. Estudo realizado com a participação de 231 homens adultos, com o intuito de obter dados sobre função sexual, sexualidade e qualidade de vida. O estudo concluiu que a sexualidade deve ser abordada com maior frequência nos serviços de saúde primaria, uma vez que existe grande coorelação entre a sexualidade e a qualidade de vida.

3

RAMIRES, LORETTA VICTORIA (2023)
Estudo de caso. O estudo explora o livro da autora Carmem Machado “seu corpo e outras partes” (2017). O artigo elucida a retórica do corpo femino como espaço de conflito, evidenciando o discurso de desconforto que acaba descentralizando as narrativas sobre o bem estar feminino, e a rejeição do êxtase sexual pela decomposição do próprio ser pelas mulheres latinas.


4


SUTO, CLEUMA SUELI SANTOS; et al. (2023)
Pesquisa qualitativa. Nesse estudo, 191 mulheres que convivem com HIV. Foi elucidado que termos que remetem à sexualidade foram vistos como algo complexo, com necessidade de cuidados preventivos, e por muitas vezes com uma conotação negativa, sendo inclusive ligada ao medo e ao temor.




5




HOLLANDA, GABRIELA SILVA ESTEVES DE; et. al. (2023)
Revisão sistemática. O estudo visou identificar as evidências científicas conhecidas sobre os comportamentos sexuais de risco de mulheres, relacionado com infecções sexualmente transmissíveis. As evidencias mostraram que o uso de aplicativos de namoro, múltiplos parceiros, mulheres que fazem sexo com mulheres e grandes diferenças de idade entre os parceiros, são comportamentos considerados de risco para mulheres pós-modernas; e esses comportamentos devem ser identificados para um rastreio mais eficiente de infecções sexualmente transmissiveis.



6



VERCEZE, FLÁVIA ÂNGELO et al. (2022)
Estudo de pesquisa psicológica. O artigo tem como intuito apresentar a construção da sexualidade feminina e do ser feminino em Freud, em seguida, questiona-a relacionando a raça e gênero. Conclui-se que o ideal social da femilidade está fortemente ligada a figura da mulher branca, não compreendo todas as mulheres, apagando a identidade da mulher marcada pelo histórico do racismo e pela historia da escravidão.



7


MILLAN, MARÍLIA PEREIRA BUENO, et. al. (2022)
Estudo transversal. No caso apresentado, 2778 mulheres foram consultadas sobre a compreensão das relações afetivo-sexuais no mundo moderno, e suas dinâmicas, incluindo o manejo de conflitos. Os resultados mostraram que as expectativas criadas pelas mulheres em seus relacionamentos amorosos estão diretamente ligadas à experiência vivida, e são mutáveis perante ao ciclo vital.


8


HERDER,T, et. Al (2023)
Revisão sistemática. Este estudo tem como intenção evidenciar o impacto de doenças psiquiátricas e uso de medicações psicotrópicas na vida sexual dos pacientes. Conclui-se que existe uma grande prevalência de disfunção sexual em pacientes com distúrbios psiquiátricos, com grande variação em frequência dessa disfunção sexual.



9


MUISE, AMY; et. al. (2023)
Artigo. Nesse estudo, elucida-se que o sexo não é a única forma de intimidade que é possível possuir em relacionamentos românticos. O artigo aponta a importância de possuir um parceiro que está disposto a adequar sua resposta sexual, visando a qualidade do relacionamento e a aceitação de auto-negligência, para que possa retribuir os atos do parceiro de forma igualitária.

10

VELTEN, JULIA, et. Al. (2023)
Estudo observacional. O estudo demonstra que várias mulheres sofrem de problemas funcionais em sua vida sexual, principalmente o baixo libido, baixo desejo sexual, dificuldade na excitação e dificuldade para chegar ao





11





THOMÁS, HOLLY N; et. Al. (2023)
orgasmo. Evidenciou-se que mais da metade das mulheres que sofrem algum tipo de disfunção sexual, não procuram ajuda profissional. Ensaio clínico. Nesse estudo, mostrou-se que é comum entre as mulheres terem baixo libido, e que isso proporciona grandes impactos. Utilizou-se uma intervenção com a prática de auto-reflexão, que por consequência, aumentou o desejo sexual em mulheres mais velhas, e observou-se também uma melhora no sofrimento causado pelo ato sexual nas pacientes que praticam a auto-reflexão em comparação com o grupo controle que apenas recebeu educação sexual.

DISCUSSÃO

Os artigos destacados no Quadro 01 apresentam algumas teorias para a questão norteadora deste artigo, ainda sem uma resposta concreta para o transtorno do interesse e excitação sexual feminina, uma vez que é um assunto complexo e pouco abordado na literatura. No entanto, considerando os dados levantados, podemos afirmar que o tema está muito relacionado com o âmbito hormonal, psicológica, além da cobrança de um estilo de relacionamento tradicional exigido pela sociedade, no qual a mulher teria como função a procriação, e não o prazer nas relações sexuais, sendo que o prazer seria apenas uma recompensa do ato para o homem.Consideramos que a mudança na sociedade atual abra caminho para que mais uma parte da medicina ganhe reconhecimento, inclusive dentro da especialidade que deveria prestar atendimento especializado na saúde feminina, uma vez que são escassos os centros que oferecem uma pós em saúde sexual feminina.

CONCLUSÃO

Identificamos um padrão nos artigos que não passaram nos critérios de seleção, nos quais o prazer femino não era o ponto a ser estudado, mas sim a falta de vontade de ter relações sexuais com seus parceiros, perpetuando a mulher a um papel secundário no próprio prazer. Dessa forma, não podemos concluir que a medicina é uma ciência baseada na isonomia entre os sexos, mas com o avanço da inserção das mulheres na sociedade, principalmente na área da saúde, já conseguimos ver artigos que estão mudando essa narrativa, como os utilizados de referência para essa revisão.

REFERÊNCIAS

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