REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7574223
Lydhia Rubhia de Lima Torres1
Bruna de Souza Diógenes2
Joceline Oliveira de Almeida3
Janaica Ribeiro da Silva4
INTRODUÇÃO
O “Transtorno do espectro autista”, também conhecido apenas como autismo, é um distúrbio relacionado com o desenvolvimento neurológico, ao qual possui uma manifestação comportamental diferenciada, assim como déficits sobre sua comunicação e interação social, com padrões de movimentos e atos repetitivos, sendo que o mesmo condiz com um repertório restrito de interesse sobre determinados, assuntos, envolvimentos e atividades.
Os sinais conhecidos como um alerta no desenvolvimento do autismo, dizem respeito àqueles apresentados por volta dos dois anos de idade, mas com alguns sinais que podem conduzir este diagnóstico anteriormente. A identificação e o diagnóstico, desencadeia uma intervenção comportamental precoce, que refletirá em melhores resultados a longo prazo, não podendo excluir-se deste processo a neuroplasticidade cerebral.
Por ser um transtorno que interfere diretamente na interação social, alguns casos passam por uma avaliação equivocada, sendo que é observado comumente crianças com TEA encaminhadas para avaliação auditiva. Aqueles que apresentam o transtorno, tendem a não olhar quando chamados pelo nome, mas sentem-se desconfortáveis em relação a outros sons presentes no cotidiano de qualquer pessoa.
62,96% dos pais de crianças que possuem autismo, relatam terem passado pela indagação do desenvolvimento auditivo de seus filhos (UNIFESP, 2009), tornando-se essencial essa investigação, visto que um diagnóstico, não exclui o outro.
Por conta desses dados e de tantas informações pertinentes que mostram a escassez e busca por informações sobre a relação entre TEA e a perda ou deficiência auditiva, traz-se o questionamento da relação entre os mesmos e das possíveis necessidades em tratamentos, além de certa quebra de paradigmas sobre o diagnóstico de ambos.
Um dos sinais que fazem com que pais, responsáveis, professores e outras pessoas que convivem com crianças autistas busquem por auxílio e diagnóstico, se dá pela baixa interação social que os mesmos apresentam. Muitas vezes, ao referir-se à criança por seu próprio nome, o mesmo tende a não responder ou direcionar o olhar para quem o chama, lidando com certo desdém à situação, o que para muitos, reflete uma possível deficiência auditiva.
Para que o entendimento das questões de audição e o autismo sejam esclarecidos, é necessário inicialmente uma revisão sistemática de dados, para que assim, erros diagnósticos sejam cada vez menos prevalentes
OBJETIVO
Entender a diferenciação entre o diagnóstico de autismo e sua relação com a perda ou deficiência auditiva.
METODOLOGIA
O presente artigo se trata de uma pesquisa qualitativa, com cunho de revisão bibliográfica. O mesmo será formulado com base em artigos buscados em plataforma de dados “Google acadêmico” pubmed, Scielo, Biblioteca virtual em Saúde, com filtro de data de publicação entre 2012 e 2022, tendo em vista a obtenção de dados que sejam mais recentes e aplicáveis no cotidiano atual, além da indexação de serem publicações em língua portuguesa ou espanhola, com objetivo de suprir referencialmente de acordo com a realidade em que se insere.
As palavras- chave usadas na busca dos referidos dados serão: autismo, autismo e perda auditiva, deficiência auditiva e autismo.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Atualmente pode ser notado por grande da população um grande aumento nos casos de diagnóstico de autismo, também conhecido como “Transtorno do espectro autista”, com prevalência de 1 em cada 160 crianças brasileiras. Ou seja, dentro de 200 milhões de habitantes, o número de 2 milhões são autistas, com diagnósticos de 300 mil casos apenas no estado de São Paulo (OMS, 2022).
O Autismo se trata de uma delineação que teve seu primeiro aparecimento em literatura no ano de 1943, quando o médico austríaco Leo Kanner, se utilizou do termo “Transtorno autístico de contato afetivo” para designar aqueles que apresentavam certa obsessividade, estereotipias e ecolalia, com certa forma de lidar com o meio externo sem responder aos estímulos advindos. Atualmente há vários parâmetros, inclusive pelo Ministério de saúde brasileiro como deve-se realizar o diagnóstico deste transtorno, sendo suas apresentações clínicas geralmente apresentadas à partir do terceiro ano de vida. Os sinais comumente observados em autistas se dão por comportamentos repetitivos e estereotipados, interesses em particulares, hipersensibilidade sobre sons, odores, sabores, texturas e cores, além da grande dificuldade de interação e comunicação, o que muitas vezes vem sendo confundida por pais, cuidadores e responsáveis como um possível sinal de perda\ deficiência auditiva das crianças.
Sabe-se que o Autismo pode afetar a parte da comunicação e do desenvolvimento cognitivo e é de suma importância que para um diagnóstico assertivo todas as possibilidades de desacertos sejam descartadas através de avaliações aplicadas aos mesmos. Para avaliação auditiva contamos com métodos eletrofisiológicos que são as avaliações auditivas PEATE e Emissões Otoacústicas. Estas são medidas objetivas, que não dependem da resposta do paciente. Já a Avaliação Audiológica Comportamental (Audiometria) é uma avaliação subjetiva que depende da colaboração do paciente. O que pode não ser uma tarefa tão fácil quando se trata de criança com TEA.O Bera também conhecido como PEATE (Potencial Evocado Auditivo do Tronco Encefálico), tem como objetivo avaliar a integridade das vias auditivas, desde a porção da orelha interna até o córtex cerebral. Através desse exame podemos detectar se há ou não perda auditiva caso haja, podemos identificar se ela está relacionada com lesões na cóclea, no nervo auditivo ou lesões no tronco encefálico. Esse exame é objetivo, indolor, não invasivo e pode ser realizado tanto em crianças como em adulto tem como indicação avaliar o desenvolvimento e a resposta auditiva de crianças, recém nascidos prematuros, crianças autistas ou com alterações genéticas (TÔRRES, 2019).
A avaliação da audição em crianças consiste em observar os comportamentos que a mesma possuem sobre os estímulos sonoros e de medidas eletrofisiológicas que se recebe. A audiometria é um dos exames mais comumente realizados, sendo indolor e com capacidade de realização em crianças acima dos 3 anos de idade, para que seja avaliado a possível perda e o grau em que a mesma se encontra. Este exame trata-se de uma aferição da sensibilidade auditiva periférica, que complementa e garante a confiabilidade dos resultados das avaliações realizadas em pacientes que têm dificuldades de interação social, distúrbios de percepção, de atenção ou de memória, aos quais geralmente tendem a ser confundidos com pacientes diagnosticados com perda\ deficiência auditiva.
Todas as crianças que incidem sobre alguma alteração sobre sua comunicação devem realizar avaliações audiológicas para que possa-se excluir se a perda auditiva é um fator determinante sobre a mesma. Ressalta-se que uma crianças incapaz ou que pouco ouve, tende a ter dificuldade significativa sobre seu desenvolvimento de fala.
Por conta da semelhança entre crianças que apresentam perda auditiva e aquelas diagnosticadas com TEA, há a necessidade de um diagnóstico mais aprofundado e diferenciado sobre esses aspectos. Alguns exames audiológicos são realizados de forma menos invasiva, e podem ser realizados após a triagem realizada pós nascimento, conhecida como teste da orelhinha. Entretanto, vale ressaltar que o diagnóstico deve ser realizado pela realização conjunta de testes audiológicos, visto a necessidade da complementação que um incide sobre o outro.
Com base em estudos e levantamentos, não há uma relação propriamente entre perda auditiva e o autismo, porém é possível que um indivíduo apresente as duas condições, sendo necessário o diagnóstico correto e precoce, em vista de um tratamento idealizado de acordo com as necessidades do indivíduo para que o mesmo desfrute de melhores condições de qualidade de vida advindas de um tratamento que foque em suas necessidades e em seu desenvolvimento.
Embora não seja universal entre indivíduos autistas, a hipersensibilidade é comum e sua evidência é avaliada no estabelecimento do diagnóstico diferencial de autismo. Hiperacusia pode limitar uma interação social de uma pessoa e reduzir suas habilidades de compreender a fala em ambientes ruidosos. Para indivíduos com autismo essas limitações irão exacerbar sua funcionalidade e pode agravar sua sintomatologia. A perda auditiva é listada como diagnóstico diferencial de desordens do autismo no DSM. Encontrou-se uma maior incidência de infecções de ouvido nas crianças autistas. Dentro desse grupo, os autores relataram uma associação entre frequência de infecções de ouvido e ambos severidade dos sintomas e presença de ouvidos hipoacúsicos. Do ponto de vista clínico, a principal implicação de uma maior atenção à disfunção auditiva no autismo, refere-se a conduta com essas crianças. Recomenda-se que em todos os casos que se suspeite de autismo, as crianças recebam uma avaliação auditiva completa, assim qualquer perda auditiva periférica pode ser diagnosticada precocemente como parte da habilitação da criança e programa educacional (MENDES, 2022).
CONCLUSÃO
Para que de fato sejam conduzidos estudos e tratamentos sobre certa faixa populacional, deve-se ter um entendimento entre as dificuldades de interação apresentadas por indivíduos autistas e por aqueles que possuem perda auditiva.
Conclui-se que muitos casos de autismo são confundidos com perda auditiva devido sua dificuldade de interação, devendo ser necessário um olhar aguçado do profissional aliado a este tratamento e desenvolvimento, em vista de entender e estar apto para desmistificar, quando necessário casos errôneos de diagnóstico, sem deixar de considerar tais possibilidades, visto que crianças autistas, também podem apresentar perda deficiência auditiva, por consequência requerendo um tratamento mais amplo e qualificado.
REFERÊNCIAS
COSTA, Krisia Thayná Lima da et al. PERCEPÇÃO DOS PAIS SOBRE HIPERSENSIBILIDADE AUDITIVA DE CRIANÇAS COM SINAIS CLÍNICOS DE RISCO PARA O TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, v. 30, 2022;
COSTA, Krisia Thayna Lima da. ANÁLISE DA AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA E DE HIPERSENSIBILIDADE EM CRIANÇAS COM RISCO PARA O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA. 2021. Dissertação de Mestrado. Universidade Federal do Rio Grande do Norte;
MENDES, Maria Elisa Pereira et al. O PAPEL DO OTORRINOLARINGOLOGISTA NO DIAGNÓSTICO DO AUTISMO. 2022;
MINISTÉRIO DA SAÚDE. BRASIL DIRETRIZES DE ATENÇÃO Í REABILITAÇÃO DA PESSOA COM TRANSTORNOS DO ESPECTRO DO AUTISMO (TEA) / Ministério da Saúde, Secretaria de Atenção à Saúde, Departamento de Ações Programáticas Estratégicas. – Brasília : Ministério da Saúde, 2014;
RIBEIRO, João Frederico Amado. PERTURBAÇÃO DO ESPECTRO DO AUTISMO: ARTIGO DE REVISÃO DAS COMORBIDADES ASSOCIADAS. 2015. Tese de Doutorado;
ROMERO, Ana Carla Leite et al. AVALIAÇÃO AUDIOLÓGICA COMPORTAMENTAL E ELETROFISIOLÓGICA NO TRANSTORNO DO ESPECTRO DO AUTISMO. Revista CEFAC, v. 16, p. 707-714, 2014;
TAVARES, Flávia da Silva et al. IMPLANTE COCLEAR EM PACIENTES COM TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA–UMA REVISÃO SISTEMÁTICA. Brazilian Journal of Otorhinolaryngology, v. 87, p. 601-619, 2021;
TÔRRES, Fernanda Xavier. A IMPORTÂNCIA DA AVALIAÇÃO AUDITIVA DURANTE O PROCESSO DE DIAGNÓSTICO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA (TEA). Revista Científica Multidisciplinar UNIFLU, v. 4, n. 2, p. 226-241, 2019;