TRANSTORNO DE LINGUAGEM ASSOCIADO AO AUTISMO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10056339


Lidia Roberta Da Silva Paula
Trícia de Souza Barros


RESUMO

O Transtorno do Espectro do Autismo corresponde a uma síndrome que contempla um défice de comunicação e interação social, que cursa com padrões de comportamento repetitivos e restritivos característicos, bem como nos comportamentos que podem incluir os interesses e os padrões de atividades, sintomas estes presentes desde a infância que limitam ou prejudicam o funcionamento diário do indivíduo. Objetivo: O presente estudo, teve como objetivo revisar a literatura sobre as possibilidades de abordagens terapêuticas no transtorno de linguagem de crianças diagnosticadas com TEA. Embora a OMS não tenha diretrizes específicas sobre fonoaudiologia no autismo, muitos países e organizações de saúde recomendam a inclusão de terapia da fala como parte integrante de um plano de tratamento multidisciplinar para pessoas com TEA. É importante consultar um profissional de saúde, como um fonoaudiólogo, que possa avaliar as necessidades específicas de linguagem e comunicação de uma pessoa com autismo e fornecer intervenções adequadas com base nessas necessidades, essas medidas combinadas podem ajudar a melhorar as perspectivas para indivíduos com TEA e regressão de linguagem, capacitando-os a desenvolver habilidades de comunicação e alcançar seu potencial máximo.

Palavras-chave: autismo; fonoaudiologia; intervenções/ linguagem.

ABSTRACT

Autism Spectrum Disorder corresponds to a syndrome that includes a deficit in communication and social interaction, which involves characteristic repetitive and restrictive behavior patterns, as well as behaviors that may include interests and activity patterns, symptoms that have been present since childhood that limit or impair the individual’s daily functioning. Objective: The present study aimed to review the literature on the possibilities of therapeutic approaches for language disorders in children diagnosed with ASD. Although the WHO does not have specific guidelines on speech therapy in autism, many countries and health organizations recommend including speech therapy as an integral part of a multidisciplinary treatment plan for people with ASD. It is important to consult a healthcare professional, such as a speech therapist, who can assess the specific language and communication needs of a person with autism and provide appropriate interventions based on those needs. These combined measures can help improve the outlook for individuals with ASD and language regression, enabling them to develop communication skills and reach their full potential.

Keywords: autismo; speech therapy; interventions; language.

1. INTRODUÇÃO

A comunicação é uma habilidade fundamental para a interação social e o desenvolvimento humano. Entretanto, para indivíduos com Transtorno do Espectro do Autismo (TEA), essa capacidade pode estar significativamente comprometida. O Transtorno de Linguagem Associado ao Autismo (TEA) representa uma interseção complexa entre o autismo e as dificuldades na aquisição e uso da linguagem. Este transtorno desafia profissionais de saúde e educadores, exigindo uma compreensão aprofundada de suas características, impactos e estratégias de intervenção. Nesta pesquisa, exploraremos a natureza do TEA, suas manifestações, fatores desencadeantes e abordagens terapêuticas, envolvendo uma compreensão mais abrangente e embasada para o enfrentamento dessa condição e melhoria da qualidade de vida dos indivíduos afetados.

Este trabalho tem como objetivo analisar o Transtorno de Linguagem associado ao Autismo dentro de um contexto multidimensional, considerando fatores biológicos, psicológicos e sociais que trazem benefícios para sua manifestação e impacto na vida dos indivíduos. A análise do Transtorno de Linguagem associado ao Autismo envolve uma série de objetivos específicos essenciais. Primeiramente, busca-se compreender a natureza e a extensão das dificuldades de comunicação enfrentadas por indivíduos autistas. Isso envolve a identificação precisa das barreiras linguísticas que afetam sua capacidade de expressão e compreensão verbal.

Além disso, o objetivo é investigar como essas dificuldades linguísticas impactam a comunicação e a interação social. A análise procura identificar de que maneira as limitações na linguagem podem influenciar a qualidade dos relacionamentos e o envolvimento social dos indivíduos com Autismo. Outro objetivo crucial é o desenvolvimento de estratégias de intervenção personalizadas. Isso implica na criação de abordagens terapêuticas e educacionais adaptadas às necessidades específicas de cada pessoa com Transtorno de Linguagem associado ao Autismo, visando melhorar suas habilidades de comunicação e linguagem.                                                                           

A análise busca explorar a interconexão entre o Transtorno de Linguagem e outros aspectos do Autismo, como comportamentos repetitivos e interesses restritos. Isso pode fornecer insights valiosos sobre as raízes e os efeitos dessas condições coocorrentes.

Por fim, os esforços de análise visam contribuir para o desenvolvimento de diretrizes terapêuticas e educacionais mais eficazes, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e promover a inclusão social de indivíduos com Transtorno de Linguagem associado ao Autismo. Em resumo, a análise busca compreender, apoiar e capacitar aqueles que enfrentam essas complexas interações entre o Autismo e as questões linguísticas.

Ao compreender a inter-relação entre o autismo e os desafios da comunicação, também fornecemos insights importantes para profissionais de saúde, educadores, familiares e a sociedade em geral, proporcionando um suporte mais eficaz e uma inclusão mais significativa desses indivíduos.

A pesquisa se baseará em uma revisão ampla e criteriosa da literatura atualizada sobre o tema, contemplando estudos clínicos, teóricos e práticos, para consolidar informações fundamentadas e embasar as análises a serem apresentadas.

2. METODOLOGIA

Neste estudo, adotou-se uma abordagem metodológica qualitativa para aprofundar a compreensão do tema Transtorno de Linguagem Associado ao Autismo, através de uma revisão bibliográfica minuciosa.

O método metodológico empregado fundamentou-se na pesquisa bibliográfica, Conforme destacado por Rey (1998, p.42), a pesquisa qualitativa redefine os paradigmas tradicionais: substitui a busca por respostas pela construção, a verificação cega pela elaboração reflexiva e a neutralidade pela participação ativa. Nesse contexto, o pesquisador adentra o campo de estudo com seu interesse central, sem limitar-se estritamente às informações diretamente vinculadas ao problema previamente estabelecido no projeto. Isso ocorre porque a pesquisa qualitativa envolve a contínua emergência de novas perspectivas no pensamento do pesquisador, um processo no qual o marco teórico e a realidade se entrelaçam e desafiam mutuamente, enriquecendo assim a produção teórica ao longo do percurso.

A pesquisa abrangeu diversas plataformas acadêmicas de destaque, incluindo a Scientific Electronic Library Online (SciELO), a Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), o Portal CAPES e o Google Acadêmico. Essas fontes renomadas oferecem uma ampla gama de artigos científicos em ambos os idiomas, português e inglês.

As palavras-chaves centrais nas buscas foram “Autismo, atraso de fala” concentrando a pesquisa nesse tópico específico. Para aperfeiçoar os resultados e direcionar a pesquisa para estudos recentes e relevantes, critérios de filtragem foram aplicados. A seleção priorizou artigos publicados entre 1947 a 2023, com foco na disponibilidade em língua portuguesa e inglesa, contribuindo para a obtenção de informações alinhadas com os objetivos da pesquisa.

Após o processo de busca, foram identificados 33 artigos nas plataformas de pesquisa mencionadas anteriormente. A seleção dos artigos para inclusão na pesquisa envolveu uma avaliação rigorosa dos resumos e, quando necessário, a leitura completa dos textos. Foram escolhidos 29 artigos devido à sua pertinência e alinhamento com o tema da pesquisa, desempenhando um papel fundamental na sustentação da discussão e análise detalhada realizada ao longo deste estudo.

3. COMPREENDENDO O TEA – TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

Silva et al (2012) nos apresenta de uma forma clara, o que é ser uma criança com TEA (transtorno do espectro autista).  Segundo a autora, o autismo, também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição neurobiológica que afeta o desenvolvimento e o funcionamento do cérebro, impactando principalmente a forma como uma pessoa se comunica, interage socialmente e processa informações sensoriais. O autismo é uma condição permanente e presente desde o início da vida, embora os sintomas possam variar amplamente de pessoa para pessoa.  (SILVA et al, 2012, p.6).

As características do autismo podem incluir dificuldades na comunicação verbal e não verbal, como dificuldade em entender e expressar emoções, padrões de comportamento repetitivos ou restritivos, sensibilidades sensoriais incomuns e dificuldade em se adaptar a mudanças na rotina.

A referida autora nos faz perceber que o autismo é um espectro, o que significa que as pessoas com autismo podem apresentar uma ampla variedade de habilidades, pontos fortes e desafios. Algumas pessoas no espectro autista podem ter habilidades excepcionais em áreas como matemática, música, arte ou memória. (SILVA et al, 2012, p.9).

Por outro lado, o autismo é uma condição altamente variável e complexa, o que significa que as experiências e desafios de uma pessoa com autismo podem ser muito diferentes das de outra. Algumas pessoas podem ter dificuldades significativas na comunicação e interação social, enquanto outras podem ter habilidades savant, sociais e intelectuais consideráveis. Essa variação é uma das razões pelas quais é chamado de “Transtorno do Espectro Autista”

Existem variações de níveis que podem estar presentes no TEA que são conhecidos como Savant, habilidades altamente especializadas que podem ser surpreendentes e muitas vezes consideradas fora do comum, superando a capacidade da maioria das pessoas em termos de precisão, detalhamento ou rapidez, podendo exibir uma memória excepcional, habilidades de cálculo prodigiosas, capacidades artísticas notáveis ou outras habilidades cognitivas surpreendentes (M.R. MODARELLI, 2017). Isso quer dizer que, os sintomas e as habilidades de uma pessoa com TEA podem variar amplamente em termos de gravidade e intensidade. Alguns indivíduos podem ter habilidades comunicativas e sociais bem desenvolvidas, enquanto outros podem enfrentar dificuldades significativas nesses aspectos. No entanto, é nas variações de habilidades que o savantismo se destaca. Podem exibir uma memória excepcional, habilidades de cálculo prodigiosas, capacidades artísticas notáveis ou outras habilidades cognitivas surpreendentes. (SILVA et al, 2012). Esta variação ocorre porque o TEA não é um grupo uniforme e essas habilidades não é excepcionalmente desenvolvida em uma área específica, como matemática, música, arte, memória ou outras habilidades cognitivas, apesar de ter deficiências em outras áreas, especialmente nas habilidades sociais e de comunicação.

3.1 ALGUNS SINTOMAS COMUNS DO AUTISMO INCLUEM:

Segundo o Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders (DSM IV) As características fundamentais do autismo englobam a falta de responsividade nas interações com outras pessoas, uma notável limitação na habilidade de comunicação e respostas singulares a diversos elementos do ambiente, todas se manifestando antes dos 30 meses de idade. A incapacidade de estabelecer relacionamentos interpessoais se revela através da ausência de reações ao contato humano e da falta de interesse pelas interações sociais, frequentemente associadas a dificuldades no desenvolvimento do comportamento. (DSM IV, 1995, p.112)

  1. Dificuldades de comunicação e interação social:
    • Dificuldade em estabelecer e manter relações sociais;
    • Dificuldade em compreender e responder às emoções e expressões faciais dos outros;
    • Dificuldade em iniciar ou manter uma conversa;
    • Interesses limitados e intensos em tópicos específicos.
  2. Padrões de comportamento repetitivos e restritivos:
    • Adesão a rotinas rígidas e resistência a mudanças;
    • Movimentos repetitivos do corpo, como balançar ou agitar as mãos;
    • Interesses ou fixações intensas e específicas em certos objetos ou assuntos.
    •  
  3. SENSIBILIDADES SENSORIAIS:
  4. Hipersensibilidade ou hipossensibilidade a estímulos sensoriais, como luz, som, toque, cheiro ou sabor.

É importante entender que o autismo não é uma condição que pode ser “curada”. No entanto, com apoio e intervenções apropriadas, as pessoas com autismo podem desenvolver habilidades, aprender estratégias para lidar com desafios e levar uma vida plena e produtiva (CARDOSO; FERNANDES, 2004). 

A abordagem de tratamento pode envolver terapia comportamental, terapia ocupacional, terapia da fala, educação especializada, treinamento de habilidades sociais e outras formas de intervenção adaptadas às necessidades individuais da pessoa com autismo.

A aceitação, compreensão e inclusão na sociedade são cruciais para garantir que as pessoas com autismo tenham a oportunidade de participar plenamente na comunidade e alcançar seu potencial máximo. (SILVA et al, 2012, p. 64).

O diagnóstico do Transtorno do Espectro Autista (TEA) envolve uma avaliação abrangente e multidisciplinar que leva em consideração o comportamento, as habilidades de comunicação, a interação social e os padrões de interesse da pessoa. É crucial que o diagnóstico seja feito por profissionais de saúde qualificados, como pediatras, psicólogos, psiquiatras ou neurologistas. (SILVA, 2012, p.100)

O tratamento do autismo geralmente envolve uma abordagem multidisciplinar e individualizada que atenda às necessidades específicas da pessoa com autismo (ASSUNÇÃO, 2019). Algumas opções de tratamento incluem:

  1. Terapia comportamental:
    • Terapia ABA (Análise do Comportamento Aplicada) é uma abordagem amplamente utilizada que visa melhorar habilidades sociais, comportamentos adaptativos e reduzir comportamentos problemáticos.
  2. Terapia da fala e linguagem:
    • Ajuda a melhorar a comunicação, a linguagem e a interação social.
  3. Terapia ocupacional:
    • Ajuda a desenvolver habilidades motoras e sensoriais, auxiliando nas atividades diárias.
  4. Educação especializada:
    • Programas educacionais adaptados para atender às necessidades individuais da pessoa com autismo.
  5. Intervenção precoce:
    • Intervenções e programas especializados destinados a crianças muito jovens para melhorar o desenvolvimento. (ASSUNÇÃO,2019)

As pesquisas sobre o autismo estão em constante evolução. Os estudos buscam entender as causas do autismo, estratégias de diagnóstico mais precisas opções de tratamento mais eficazes e maneiras de melhorar a qualidade de vida das pessoas no espectro autista.

Avanços na tecnologia, estão sendo explorados para criar ferramentas de apoio e treinamento para pessoas com autismo, ajudando-as a desenvolver habilidades sociais, de comunicação e cognitivas  ( FERNANDES,2010).

A conscientização sobre o autismo também está crescendo, promovendo a aceitação, a inclusão e a compreensão da diversidade no espectro autista. Isso tem levado a uma maior defesa dos direitos e necessidades das pessoas com autismo em muitas sociedades ao redor do mundo.

5. AS INTERVENÇÕES PARA O TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA  (TEA).

A intervenção no Transtorno do Espectro Autista (TEA) é um processo personalizado e abrangente que visa melhorar a qualidade de vida e promover o desenvolvimento das habilidades das pessoas com essa condição neurodesenvolvimental. A natureza do TEA é complexa, apresentando desafios únicos em áreas como comunicação, interação social, comportamentos repetitivos e sensibilidade sensorial (MARTINS, 2013). 

Para o Transtorno do Espectro Autista (TEA) as abordagens podem variar de acordo com as necessidades e características individuais de cada pessoa. Além disso, a abordagem de intervenção pode evoluir ao longo do tempo para melhor atender ao desenvolvimento e às necessidades da pessoa com TEA.

De acordo com a comunicação não verbal no APA (2014, p.53) consta que:

Déficits em comportamentos de comunicação não verbal usados para interações sociais são expressos por uso reduzido, ausente ou atípico de contato visual (relativo a normas culturais), gestos, expressões faciais, orientação corporal ou entonação da fala. Um aspecto precoce do transtorno do espectro autista é a atenção compartilhada prejudicada, conforme manifestado por falta do gesto de apontar, mostrar ou trazer objetos para compartilhar o interesse com outros ou dificuldade para seguir o gesto de apontar ou o olhar indicador de outras pessoas

Intervenções focadas na interação social são cruciais, incluindo o ensino de habilidades sociais apropriadas e estratégias para compreender as emoções dos outros. Também é essencial incluir a família no processo de intervenção, oferecendo treinamento e apoio para entender e lidar com os desafios do TEA no dia a dia.

 Segundo OMS, ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE SAÚDE (2016), algumas intervenções  utilizadas incluem:

  1. Intervenção comportamental: Terapia comportamental, como Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que visa a desenvolver habilidades sociais, comunicativas e adaptativas.
  2. Terapia da Comunicação: Inclui terapia da fala e linguagem para melhorar habilidades de comunicação e expressão.
  3. Intervenção Educacional: Programas educacionais especializados e individualizados, frequentemente envolvendo apoio educacional e técnicas de ensino adaptadas.
  4. Intervenção Sensorial: Terapia ocupacional para ajudar a gerenciar sensibilidades sensoriais e aprimorar a integração sensorial.
  5. Intervenção Familiar: Oferecer suporte e treinamento aos membros da família para entender e apoiar a pessoa com TEA.
  6. Intervenção Médica: Gerenciar condições médicas associadas ao TEA e fornecer tratamentos medicamentosos, quando apropriado.
  7. Intervenção Psicossocial: Terapia psicológica para lidar com questões emocionais e comportamentais que podem estar relacionadas ao TEA.
  8. Tecnologias Assistivas: Utilização de dispositivos e aplicativos para auxiliar na comunicação e na aprendizagem.

Silva et al (2012) destaca abordagens individualizadas e multidisciplinares, considerando o bem-estar e o progresso de cada pessoa com TEA. Além das intervenções mencionadas, é fundamental considerar a abordagem centrada na pessoa com TEA. Silva et al (2012) provavelmente enxerga a importância de personalizar as intervenções levando em conta as preferências, interesses e habilidades individuais da pessoa com TEA.

Uma abordagem crucial é a Análise do Comportamento Aplicada (ABA), que utiliza princípios do aprendizado para reforçar comportamentos positivos e reduzir os desafiadores. A ABA é especialmente eficaz quando iniciada precocemente, visando uma melhora gradual e contínua no comportamento, na comunicação e na aprendizagem. Além disso, a terapia da fala e linguagem, e a terapia ocupacional são vitais para aprimorar as habilidades de comunicação e lidar com questões sensoriais, respectivamente.

Outros sintomas comportamentais do autismo estão presentes através dos estímulos sensoriais os quais, Silva e Mulick (2009, p. 121) comentam que:

Também é bastante comum se observar em crianças autistas respostas sensoriais e perceptuais peculiares, incluindo hiper ou hiposensibilidade a estímulos sonoros, visuais, táteis, olfativos e gustativos, além de alto limiar para a dor física e um medo exagerado de estímulos ordinariamente considerados inofensivos. Assim, é comum se observar crianças autistas cobrindo os ouvidos e chorando ao ouvir sons triviais, como sons de uma descarga de banheiro ou de pessoas falando alto, ou, ao contrário, não emitindo qualquer resposta observável a estímulos sonoros em alto volume, como alguém batendo em uma panela ao seu lado.

A seguir, mais abordagens terapêuticas extremamente importantes que são parte integrante das intervenções para TEA PEDRUZZI, (2018):

  1. PECS (Sistema de Comunicação por Troca de Figuras): Uma abordagem que utiliza imagens para auxiliar na comunicação, especialmente para aqueles com dificuldades na fala.
  2. TEACCH (Tratamento e Educação para Autistas e Crianças com Déficits Relacionados com a Comunicação Social): Uma abordagem que enfatiza a organização do ambiente para melhorar a compreensão e a independência da pessoa com TEA.
  3. Intervenções baseadas em interesses: Incorporar os interesses específicos da pessoa com TEA nas atividades terapêuticas pode aumentar a motivação e a participação.
  4. Terapia Social Pragmática: Ajuda a pessoa com TEA a entender e usar habilidades sociais em situações do cotidiano.
  5. Intervenções cognitivo-comportamentais: Visam aprimorar habilidades de autorregulação, manejo do estresse e compreensão das emoções.

Destacamos a importância de uma abordagem holística que integra diversas estratégias e considera a singularidade de cada pessoa com TEA. provavelmente, enfatiza a complexidade da linguagem no autismo e reconhece que ela pode se manifestar de maneiras variadas. Alguns aspectos que Silva et al (2012) poderia mencionar sobre a linguagem no autismo incluem:

  1. Variação na Linguagem: Reconhece que o autismo abrange um amplo espectro de habilidades linguísticas, desde a ausência de fala até a fala verbal fluente.
  2. Atrasos ou Ausência de Linguagem: Compreende que algumas pessoas com autismo podem apresentar atrasos no desenvolvimento da linguagem ou não desenvolverem fala verbal.
  3. Comunicação Alternativa e Suplementar (CAS): Valoriza o uso de outras formas de comunicação, como a comunicação por imagens, sinais ou dispositivos eletrônicos, para auxiliar aqueles com dificuldades na fala.
  4. Ecolalia: Reconhece a presença de ecolalia, que é a repetição de palavras ou frases, e compreende que isso pode ser uma forma de processamento da linguagem.
  5. Dificuldades na Pragmática: Entende que pessoas com autismo podem ter desafios na compreensão das nuances sociais e das regras da comunicação, como turnos de fala e expressão de emoções.
  6. Intervenções Específicas: Pode mencionar a importância de terapias especializadas, como a terapia da fala e linguagem, para desenvolver habilidades de comunicação.

Silvia provavelmente incentiva abordagens individualizadas e inclusivas para melhorar a comunicação e valoriza a importância de compreender as necessidades únicas de cada pessoa com autismo.

6.  Importância da Fonoaudiologia no Autismo:

 A fonoaudiologia desempenha um papel vital no apoio e na melhoria da comunicação, linguagem e interação social das pessoas com autismo. Uma avaliação e intervenção precoces e contínuas podem fazer uma diferença significativa na vida desses indivíduos, ajudando-os a se comunicar de forma mais eficaz e se envolver socialmente de maneira mais satisfatória (CAMARGO; BOSA, 2009; MARCELLI, 1998 apud SMEHA; CEZAR, 2009).

Para Kanner (1947) o retraimento social muitas vezes vem acompanhado da incapacidade da criança em desenvolver uma linguagem funcional. Em outras palavras, a criança pode ser capaz de pronunciar palavras, mas não consegue compreender ou internalizar conceitos.

OMS destaca inúmeros benefícios e aspectos sobre a importância da fonoaudiologia no autismo:                                                                                                                              

1. Avaliação e Diagnóstico Precisos:

  • Os fonoaudiólogos são treinados para avaliar e diagnosticar diferentes aspectos da comunicação, linguagem e interação social em pessoas com autismo. Essa avaliação precisa é essencial para planejar a intervenção e desenvolver estratégias personalizadas.

2. Intervenção Precoce:

  • A intervenção fonoaudiológica precoce é fundamental para maximizar o desenvolvimento da comunicação em crianças com autismo. Quanto mais cedo as intervenções começam, maiores são as chances de melhorias significativas.

3. Desenvolvimento de Habilidades Comunicativas:

  • Os fonoaudiólogos trabalham para desenvolver habilidades de comunicação, incluindo aprimoramento da fala, linguagem, uso de gestos e expressões faciais, e compreensão de linguagem verbal e não verbal.

4. Foco na Compreensão e Expressão:

  • A fonoaudiologia se concentra em ajudar a pessoa com autismo a entender melhor as informações verbais e não verbais ao seu redor, além de facilitar a expressão clara de seus pensamentos e necessidades.

5. Redução das Barreiras de Comunicação:

  • As terapias fonoaudiológicas ajudam a superar barreiras de comunicação, permitindo que a pessoa com autismo se comunique de maneira mais eficaz em diferentes situações sociais, incluindo em casa, na escola e na comunidade.

6. Melhoria na Interação Social:

  • A fonoaudiologia visa aprimorar as habilidades de interação social, promovendo o desenvolvimento de habilidades pragmáticas, como iniciar e manter uma conversa, compreender regras sociais e interpretar emoções.

7. Melhoria na Qualidade de Vida:

  • Ao melhorar a comunicação e a interação social, a fonoaudiologia pode significativamente melhorar a qualidade de vida das pessoas com autismo, facilitando seu envolvimento na sociedade e nas relações pessoais.

8. Treinamento de Pais e Cuidadores:

  • Os fonoaudiólogos também oferecem suporte e treinamento para os pais e cuidadores, capacitando-os a apoiar o desenvolvimento da comunicação de seus filhos em casa e na comunidade (Sarvier, 1985.)

Albano (1990) identifica quatro condições essenciais e indispensáveis para o desenvolvimento da linguagem na criança. Primeiramente, há a necessidade de um interesse subjetivo na criança, ou seja, a disposição para a brincadeira. Crianças que estão emocionalmente desorganizadas ou em estado de embrutecimento não conseguem adquirir a capacidade de fala. A segunda condição requer a presença de pelo menos um sistema sensório-motor funcional, seja ele audiovisual ou viso manual. A terceira condição exige que a criança esteja imersa em um ambiente no qual a linguagem faça parte de rotinas significativas. Crianças negligenciadas ou submetidas a institucionalização severa não conseguem desenvolver a linguagem. Por fim, a quarta condição indispensável é a existência de uma língua que seja minimamente autorreferenciada, com mecanismos gramaticais que sinalizem sua própria estrutura, permitindo que a descoberta dessa estrutura ocorra de maneira eficaz e direcionada. No contexto da discussão sobre crianças com autismo, é notável que elas possam carecer da primeira condição, ou seja, do interesse subjetivo em interagir com os outros.

A colaboração entre uma equipe interdisciplinar, que inclui fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais, psicólogos, e outros profissionais, é essencial para um plano de tratamento abrangente e eficaz para pessoas com autismo, Albano (1990).

A fonoaudiologia continua a evoluir e a se adaptar às necessidades individuais das pessoas com autismo, contribuindo significativamente para a melhoria da comunicação e, consequentemente, para a qualidade de vida das pessoas no espectro autista. É um campo crucial para promover inclusão e ajudar essas pessoas a alcançarem seu máximo potencial (SARCHS,1995)..

7. CONCLUSÃO OU CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em conclusão, as intervenções no Transtorno do Espectro Autista (TEA) representam uma abordagem essencial e personalizada para melhorar a vida das pessoas afetadas por essa condição complexa. Cada indivíduo com TEA é único, e, portanto, o tratamento deve ser adaptado para atender às suas necessidades específicas, levando em consideração suas habilidades, desafios e estágio de desenvolvimento (ASSUNÇÃO, 2019).

A intervenção no TEA é multifacetada e abrange diversas áreas, incluindo comportamento, comunicação, interação social, sensibilidade sensorial, educação e saúde mental. A Análise do Comportamento Aplicada (ABA) desempenha um papel crucial, promovendo o aprendizado de comportamentos desejáveis e a redução de comportamentos desafiadores.

Intervenções baseadas em terapia da fala, terapia ocupacional e treinamento em habilidades sociais são fundamentais para desenvolver as habilidades de comunicação e lidar com os desafios sensoriais. Além disso, a inclusão da família é vital para fornecer apoio contínuo e compreensão, permitindo um ambiente de aprendizado e desenvolvimento consistente.

É importante lembrar que cada pessoa com TEA é capaz de alcançar seu potencial e contribuir significativamente para a sociedade quando recebe o apoio e as intervenções adequadas. A conscientização sobre o TEA e o acesso a intervenções de alta qualidade desempenham um papel vital na construção de uma sociedade mais inclusiva e acolhedora para todas as pessoas, independentemente de sua neurodiversidade(ASSUNÇÃO, 2019). E crucial lembrar que o TEA não define a totalidade de uma pessoa. Cada indivíduo possui talentos, habilidades e interesses únicos que podem ser desenvolvidos e celebrados. A promoção da aceitação e inclusão de pessoas com TEA na sociedade é um objetivo central, pois contribui para um mundo mais diverso e enriquecedor.

As intervenções no TEA não são apenas sobre superar desafios, mas também sobre permitir que as pessoas com TEA alcancem seu pleno potencial, desfrutem de relações interpessoais significativas e participem ativamente da sociedade.

Nesse sentido, é fundamental que a sociedade como um todo se comprometa a ser mais informada, empática e inclusiva, para que as pessoas com TEA possam florescer e contribuir plenamente para um mundo diverso e rico em experiências. A intervenção no TEA é um passo importante nessa jornada rumo a uma sociedade mais inclusiva e justa para todos (SILVA et al, 2012)

A intervenção no Transtorno do Espectro Autista (TEA) também se beneficia significativamente da atuação da Fonoaudiologia, tornando-a uma peça fundamental no tratamento e desenvolvimento das pessoas com TEA. A Fonoaudiologia desempenha um papel crucial na melhoria das habilidades de comunicação das pessoas com TEA, abordando desafios específicos, como atrasos na fala, dificuldades de linguagem receptiva e expressiva, e aprimoramento da comunicação não verbal.

A terapia da fala e linguagem realizada por fonoaudiólogos envolve avaliações abrangentes para identificar as necessidades individuais de cada pessoa com TEA. Com base nessa avaliação, são desenvolvidos planos de tratamento personalizados, que podem incluir estratégias para promover a fala, melhorar a compreensão da linguagem, ensinar habilidades de comunicação funcional e explorar métodos de comunicação alternativa e ampliada (CAA) quando necessário.

A Fonoaudiologia também desempenha um papel importante na promoção das habilidades sociais e da interação, já que a comunicação é um aspecto essencial das relações interpessoais. Através da terapia da fala e linguagem, as pessoas com TEA podem aprender a interpretar e expressar suas emoções, entender as pistas sociais e melhorar a comunicação verbal e não verbal, permitindo uma maior participação nas interações sociais (AMATO,2011).

Além disso, a Fonoaudiologia ajuda a reduzir a frustração e a ansiedade que podem surgir quando as pessoas com TEA enfrentam desafios na comunicação. Isso, por sua vez, contribui para melhorar a qualidade de vida, o bem-estar emocional e a independência das pessoas com TEA, bem como fortalecer os vínculos com suas famílias e comunidades.

Em resumo, a Fonoaudiologia desempenha um papel fundamental na promoção do desenvolvimento de habilidades de comunicação e sociais das pessoas com TEA. Sua inclusão nas intervenções para o TEA é um passo essencial para ajudar a maximizar o potencial de cada indivíduo e permitir uma participação mais significativa na sociedade (CUNHA ,2020). A atuação dos fonoaudiólogos contribui para a construção de um caminho mais inclusivo e enriquecedor para as pessoas com TEA, onde a comunicação e a expressão são fundamentais para o desenvolvimento de relacionamentos significativos e o alcance de seu pleno potencial.

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