REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/fa10202503082009
Augusto Garcia Sousa1, Gustavo Bertolino de Oliveira2, Raissa Salgado Nunes3, Zacarias Junior Mafra4, Dayane Carolline Silva de Oliveira5, Cibele Bezerra Costa6, Jose Carlos de Carvalho Miele Junior7, Suellen Cristina Figueiredo8, Marcelino Costa Sampaio9, Ana Lígia Rodrigues Paulista10
RESUMO
Introdução: O transtorno bipolar (TB) é um dos quadros nosológicos mais consistentes ao longo da história da medicina e as formas típicas (euforia mania, depressão) da doença são bem caracterizadas e reconhecíveis, permitindo o diagnóstico precoce e confiável. Objetivo: Analisar o Transtorno Bipolar e suas comorbidades, assim como diagnóstico diferencial. Revisão Bibliográfica: O Transtorno Bipolar (TB), também conhecido como “transtorno afetivo bipolar” e originalmente chamado de “insanidade maníaco-depressiva”, é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações graves de humor, que envolvem períodos de humor elevado e de depressão (pólos opostos da experiência afetiva) intercalados por períodos de remissão, e estão associados a sintomas cognitivos, físicos e comportamentais específicos. O TB é um transtorno complexo e multideterminado, causado pela interação de fatores genéticos e ambientais. Estudos com gêmeos indicaram que os transtornos do espectro bipolar são hereditários, com incidência superior a 80% em gêmeos idênticos, caindo para 6% em parentes de primeiro grau. O surgimento e a evolução do TB são possivelmente influenciados pelo trauma precoce, por eventos aversivos significativos da vida e pelo uso indevido de álcool e drogas. Considerações finais: Portanto, é bastante provável que a estimativa de casos de TB em alguns serviços de saúde mental seja mascaradas por diagnósticos errôneos da doença. Inúmeros pacientes que procuram atenção médica com queixas depressivas recebem inicialmente o diagnóstico de transtorno depressivo maior antes que seja investigada a ocorrência prévia de episódios de mania ou hipomania.
Palavras-chave: Transtorno Bipolar; Depressão; Mania;
INTRODUÇÃO
O transtorno bipolar (TB) é um dos quadros nosológicos mais consistentes ao longo da história da medicina e as formas típicas (euforia mania, depressão) da doença são bem caracterizadas e reconhecíveis, permitindo o diagnóstico precoce e confiável. A mania é o mais característico dos episódios e, apesar de freqüente e incapacitante (é o que mais resulta em internações agudas em virtude das graves mudanças de comportamento e conduta que provoca), é pouco estudada e diagnosticada. A hipomania, sua forma mais leve, era praticamente desconhecida pela maioria dos clínicos, sendo confundida com a normalidade ou transtornos de personalidade borderline, histriônico, narcisista ou anti-social.
O transtorno bipolar pode ser adequadamente tratado com várias classes de medicação, incluindo lítio, anticonvulsivantes, antipsicóticos, antidepressivos e mesmo a eletroconvulsoterapia. Porém, mesmo utilizando-se as mais adequadas estratégias medicamentosas, o curso do transtorno bipolar é, freqüentemente, caracterizado por sintomas crônicos e por altos índices de recaídas e internações. Além disso, mesmo com a remissão dos episódios de humor, ainda podem persistir sintomas subsindrômicos substanciais, principalmente sintomas depressivos, em grande parte dos pacientes.
A compreensão do transtorno bipolar tem sido focada, principalmente, nos aspectos genéticos e biológicos e a psicofarmacoterapia tem-se constituído como um componente essencial do manejo desse transtorno. Porém, há evidências crescentes que sugerem que o curso do transtorno bipolar pode ser modificado por meio de abordagens psicoterápicas. A importância de se combinar a psicoterapia com medicações reside no fato de que apenas 60% dos pacientes bipolares respondem ao lítio ou aos outros estabilizadores do humor. Além do mais, apenas 40% dos pacientes permanecem sem recaídas/recorrências durante períodos de seguimento de dois a três anos, mesmo em uso de doses adequadas de medicação.
As abordagens psicoterápicas no tratamento do transtorno bipolar têm como objetivos principalmente o aumento da adesão ao tratamento, a redução dos sintomas residuais, a identificação de pródromos sindrômicos com a conseqüente prevenção das recaídas/recorrências, a diminuição das taxas e períodos de hospitalizações e a melhora na qualidade de vida dos pacientes e de seus familiares. Tais abordagens também podem aumentar o funcionamento social e ocupacional desses pacientes e as capacidades de manejarem situações estressantes em suas vidas.
REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
O Transtorno Bipolar (TB), também conhecido como “transtorno afetivo bipolar” e originalmente chamado de “insanidade maníaco-depressiva”, é uma condição psiquiátrica caracterizada por alterações graves de humor, que envolvem períodos de humor elevado e de depressão (pólos opostos da experiência afetiva) intercalados por períodos de remissão, e estão associados a sintomas cognitivos, físicos e comportamentais específicos.
De acordo com a quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM5), o transtorno se diferencia em dois tipos principais: o Tipo I, em que a elevação do humor é grave e persiste (mania), e o Tipo II, em que a elevação do humor é mais branda (hipomania). A utilização do especificador “com características mistas” se aplica aos estados em que há a ocorrência concomitante de sintomas maníacos e depressivos, embora estes sejam vistos como pólos opostos do humor. Já o quadro de Transtorno Ciclotímico se caracteriza pela alternância entre períodos hipomaníacos e depressivos ao longo de pelo menos dois anos em adultos (ou um ano em crianças) sem, entretanto, atender os critérios para um episódio de mania, hipomania ou depressão maior.
O DSM 5 inclui ainda a categoria “outro transtorno bipolar e transtorno relacionado especificado” para classificar quadros atípicos, marcados pela ocorrência de sintomas que não preenchem os critérios de duração e frequência mínimos para caracterizar sequer um episódio de hipomania. Quadros semelhantes a esses, além de outros que não encaixam adequadamente nas categorias de classificação previstas no DSM, poderiam encontrar lugar dentro da idéia de um espectro bipolar representado por um continuum de condições que interligariam a depressão à esquizofrenia.
O recente conceito de espectro bipolar compreende pessoas com depressão recorrente grave, tal como na depressão unipolar clássica, porém com histórico familiar de TB ou mania induzida por antidepressivos e uma série de outras características de bipolaridade relacionadas aos sintomas depressivos, incluindo o curso ou resposta a tratamentos, como: características mistas ou melancólicas, início precoce, múltiplos episódios, baixa tolerância ou pouca resposta a antidepressivos.
O TB é um transtorno complexo e multideterminado, causado pela interação de fatores genéticos e ambientais. Estudos com gêmeos indicaram que os transtornos do espectro bipolar são hereditários, com incidência superior a 80% em gêmeos idênticos, caindo para 6% em parentes de primeiro grau. O surgimento e a evolução do TB são possivelmente influenciados pelo trauma precoce, por eventos aversivos significativos da vida e pelo uso indevido de álcool e drogas. O aparecimento da doença pode ser particularmente influenciado pelo estresse sofrido no final da adolescência, mas os primeiros episódios de mania podem se manifestar ao longo de toda a vida.
Foi demonstrado que o risco de desenvolver TB-II é maior entre familiares de pessoas com a doença. Em contraste, o desenvolvimento do TB-I e do Transtorno Depressivo Maior tende a ter menos relação com a genética. Os fatores genéticos podem ainda influenciar a idade de início do Transtorno Bipolar. O humor elevado ou irritável pode ser classificado como mania ou hipomania, dependendo de sua gravidade e da presença de sintomas psicóticos. Classifica-se como mania o estado severo de humor elevado ou irritabilidade, associado ou não a sintomas psicóticos, que provocam alterações no comportamento e na funcionalidade do indivíduo. A duração do estado de mania deve ser de no mínimo uma semana, estando o humor elevado ou irritabilidade presente na maior parte do dia, quase todos os dias.
O critério de duração mínima é dispensável se a hospitalização se fizer necessária. Na hipomania as elevações de humor e os distúrbios comportamentais/funcionais são menos graves e com duração mais breve que o estado de mania (quatro dias consecutivos), o que geralmente não coloca a pessoa perante atenção médica. No entanto, a hipomania pode progredir para a mania. Cabe destacar que a presença de sintomas psicóticos é sempre indicativa de quadro grave e, ainda que os demais sintomas de ativação não sejam tão proeminentes, automaticamente descarta a possibilidade de episódio hipomaníaco. Este é um engano cometido com frequência na clínica psiquiátrica, principalmente entre profissionais menos experientes.
De modo semelhante ao Transtorno Depressivo, apesar da variação no humor ser um aspecto marcante no Transtorno Bipolar, existe muitos outros aspectos que devem ser considerados. A quinta edição do Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5) apresenta uma lista de sintomas que, combinados à elevação do humor ou irritabilidade, caracterizam um Episódio de Mania ou Episódio Hipomaníaco.
No pólo oposto, os quadros de depressão do TB, também chamados de Episódio Depressivo Maior, são caracterizados pelo humor deprimido ou perda de interesse/prazer por quase todas as atividades durante pelo menos duas semanas. Além disso, o indivíduo pode apresentar perturbações nas funções vegetativas, incluindo: alterações no apetite ou peso, no padrão de sono e atividade psicomotora; diminuição da energia; sentimento de culpa e/ou desvalia; dificuldade para pensar ou concentrar-se ou tomar decisões; pensamentos recorrentes sobre a morte, ideação, planos ou mesmo tentativas suicidas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Portanto, é bastante provável que a estimativa de casos de TB em alguns serviços de saúde mental seja mascaradas por diagnósticos errôneos da doença. Inúmeros pacientes que procuram atenção médica com queixas depressivas recebem inicialmente o diagnóstico de transtorno depressivo maior antes que seja investigada a ocorrência prévia de episódios de mania ou hipomania. Uma vez que o tratamento da depressão unipolar e do TB é diferente, um diagnóstico preciso é fundamental para a indicação correta do tratamento e determinação do prognóstico do paciente. Este estudo de revisão chamou a atenção para as peculiaridades do TB destacando algumas das características clínicas tipicamente associadas à doença como um padrão familiar, curso e perfil dos sintomas.
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1Acadêmico de medicina Anhembi Morumbi auggoper@gmail.com
2Médico gustavo_bertolino@hotmail.com
3Acadêmica de Medicina Universidade Nove de Julho raissa.salgado.nunes@gmail.com
4Acadêmico de Medicina Universidade Federal do Rio Grande do Sul – UFRGS. zmafra@hcpa.edu.br
5Graduação de medicina Fametro-AM dayy-carolline@hotmail.com
6Médica Instituto Tocantinense Presidente Antônio Carlos – Porto bccibele@hotmail.com
7Médico Universidade Federal do tocantins Jccmjr@hotmail.com
8Estudante de medicina Universidade Federal da integração latino-americanos unila Suellen.cfigueiredo@gmail.com
9Pós graduação em psiquiatria. FTC- Faculdade de tecnologia e ciências- Salvador-Ba. marcelinocsampaiocsampaio@hotmail.com
10Medicina Faculdade Morgana Potrich analigiarodriguespaulista@gmail.com