TRANSFORMAÇÃO AMELOBLÁSTICA DE CISTOS DENTÍGEROS: UMA REVISÃO DE LITERATURA

AMELOBLASTIC TRANSFORMATION OF DENTIGEROUS CYST: A LITERATURE REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10679345


Kelvy Calebe Pereira Oliveira1
Amanda Vitória Sousa Cavalcante2
Caio de Andrade Hage3
Marlene Ribeiro de Oliveira4


Resumo

O cisto dentígero é o tipo mais comum de cisto odontogênico, sendo associado a coroa de dentes não irrompidos. É considerado uma lesão assintomática e que apresenta crescimento lento, muitas vezes sendo diagnosticado apenas através de exames radiográficos, e apresenta maior ocorrência na região mandibular. A escolha do tratamento é influenciada pelas características, sendo que a enucleação, associada a remoção do dente envolvido é a modalidade mais utilizada. Apesar do baixo índice, em alguns casos, os cistos dentígeros podem sofrer metaplasia, se transformando em neoplasias benignas, como o ameloblastoma. O objetivo deste trabalho é realizar uma revisão de literatura acerca da transformação ameloblástica do cisto dentígero..

Palavras-chave: Cisto dentígero. Ameloblastoma. Transformação neoplásica

1 INTRODUÇÃO

O tecido odontogênico presente ao redor de um dente impactado apresenta a possibilidade de evoluir para um cisto ou tumor odontogênico, sendo que o cisto que mais surge do tecido pericoronário é o cisto dentígero (KAUR et al, 2020). O cisto dentígero é formado por um acúmulo de líquido localizado entre o epitélio reduzido do esmalte e a coroa de um dente não irrompido, como os terceiros molares inferiores, caninos superiores e pré-molares inferiores (KONDAMARI et al, 2017).

Clinicamente, a lesão apresenta-se assintomática e com crescimento lento, entretanto podem crescer de maneira considerável, resultando em face assimétrica, expansão da cortical óssea, deslocamento de dentes ou de estruturas próximas, parestesia e incômodo (AMORIM et al, 2021).

As características histológicas do cisto dentígero consistem em uma parede fibrosa revestida por epitélio escamoso estratificado não queratinizado, e nessas paredes é possível encontrar uma diversidade de epitélios, como epitélio transicional, epitélio reduzido do esmalte e hiperplasia pseudoepiteliomatosa (SAHA et al, 2020). Radiograficamente, a lesão apresenta-se radiolúcida e unilocular, envolvendo a coroa de um dente irrompido na junção amelocementária (KAUR et al, 2020).

Apesar do cisto dentígero ser considerado uma lesão flexível, apresenta a capacidade de sofrer metaplasia, transformando-se em neoplasias verdadeiras como o ameloblastoma e o tumor odontogênico adenomatóide (NIMONKAR et al, 2014). Portanto é importante dar atenção a pacientes com dentes não erupcionados para evitar possíveis consequências devido a evolução dessas lesões (RIBEIRO JUNIOR et al, 2016).

O ameloblastoma é considerado o tumor odontogênico mais comum, apresenta um crescimento lento e acomete adultos jovens, com idade entre 20 e 40 anos, sendo que a localização mais frequente é a região do ramo mandibular (KAUR et al, 2020). Há relatos na literatura demonstrando que ameloblastomas podem ter origem na parede de cistos dentígeros, Kaur et al (2020) afirma que entre 15% a 20% dos ameloblastomas unicísticos possuem sua origem associada a parede de um cisto dentígero preexistente.

O objetivo do presente trabalho é realizar uma revisão de literatura sobre a ocorrência de ameloblastomas que tiveram sua origem na parede dos cistos dentígeros.

2 METODOLOGIA

O presente trabalho consiste em uma revisão de literatura, utilizando como base de dados o PubMed Central e o Google Acadêmicos, através das seguintes palavras-chave: ameloblastoma, cisto dentígero e transformação neoplásica. Foram selecionados trabalhos do tipo relato de casos sobre cistos dentígeros que sofreram transformação ameloblástica, entre o período de 2013 a 2023. Foram selecionadas informações sobre idade, gênero, cor da pele, tamanho da lesão, localização e tempo de evolução entre os diagnósticos. Essas informações foram utilizadas para o desenvolvimento da Tabela 1.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Segundo Kondamari et al (2017), o ameloblastoma é considerado um tumor odontogênico benigno e localmente agressivo, ocorrendo com mais frequência na mandíbula, principalmente na região do ramo mandibular. A maioria dos casos presentes na tabela corroboram essa afirmação, já que as lesões estavam localizadas na região do ramo mandibular, principalmente do lado esquerdo da face. 

Amorim et al (2021) e Kaur et al (2020) afirmam que a maioria dos cistos dentígeros ocorrem entre a segunda e terceira década de vida, já Kondamari et al (2017) afirma que os ameloblastomas acometem com mais frequência pacientes entre a terceira e quinta década de vida. Em relação à faixa etária, as informações presentes na tabela são  variadas, já que há casos de cisto dentígero com transformação ameloblástica ocorrendo em crianças e adolescentes, assim como acomete adultos até a quarta década de vida. 

Com base nas características clínicas e radiográficas o ameloblastoma pode ser classificado em três formas distintas: a sólida comum ou multicística, que caracteriza a maioria dos casos, o unicístico, que apresenta taxa de ocorrência variando entre 13% a 21% dos casos e por último, o periférico ou extra ósseo, que ocorre em menos de 4% dos pacientes acometidos por ameloblastoma (KAUR et al, 2020).

As características histológicas do ameloblastoma consistem em aparência folicular ou plexiforme, entretanto, em alguns casos podem ser encontradas alterações celulares basaloides, granulares ou desmoplásicas (SHAHABINEJAD et al 2022). Radiograficamente, apresenta-se como uma radioluscência uni ou multilocular e aparência semelhante a “favo de mel” ou “bolha de sabão” (KONDAMARI et al, 2017).

Há relatos na literatura indicando que o epitélio do cisto odontogênico pode se transformar em tumores odontogênicos benignos, como o ameloblastoma, entretanto essa taxa de transformação neoplásica é muito baixa (KONDAMARI et al, 2017). Segundo Amorim et al (2021) há a possibilidade dos dados relativos às transformações neoplásicas serem subestimados devido ao tempo de evolução, já que cistos e tumores odontogênicos geralmente só são diagnosticados através de achados radiográficos, o que interfere na hipótese de sua origem.

Revisando casos relatados na literatura de ameloblastomas originados na parede de cistos dentígeros, foi possível identificar características histológicas comuns entre eles, como epitélio escamoso estratificado revestindo a parede cística, sustentado por um tecido conjuntivo com infiltrado inflamatório mononuclear moderado (RIBEIRO JUNIOR et al, 2016).

O tratamento dos ameloblastomas é influenciado pelo desenvolvimento da lesão, já que lesões que apresentam crescimento limitado apenas ao revestimento cístico podem ser tratadas com enucleação, entretanto ameloblastomas que invadem o tecido conjuntivo devem ser tratados com ressecção completa (MEENAL; NIKHIL; MADHUSUDAN, 2023).

4 CONCLUSÃO 

O cisto dentígero e o ameloblastoma são lesões que exigem uma avaliação precisa para determinação do diagnóstico e plano de tratamento adequado. É fundamental identificar se um cisto dentígero está sofrendo transformação neoplásica para ameloblastoma, se houver características que evidenciam a metaplasia, o tratamento realizado deve ser a enucleação, associada à curetagem. Com base nos dados coletados, essa transformação pode ocorrer em faixas etárias variadas, com maior frequência na região do ramo mandibular e apresentando características histológicas comuns. 

REFERÊNCIAS

  1. KAUR, R. et al. CASE REPORT- AMELOBLASTOMA ARISING FROM DENTIGEROUS CYST. INTERNATIONAL JOURNAL OF CURRENT MEDICAL AND PHARMACEUTICAL RESEARCH. Volume 6; Issue 01(A); January 2020; Page No.4903-4905 DOI: http://dx.doi.org/10.24327/23956429.ijcmpr202001829
  2. KONDAMARI, S.K. et al. Ameloblastoma arising in the wall of dentigerous cyst: Report of a rare entity.  J Oral Maxillofac Pathol 2018;22:S7-10. DOI: 10.4103/jomfp.JOMFP_197_15
  3. AMORIM, K.S. et al. Cisto dentígero com transformação ameloblástica. Rev Cubana Estomatol. 2021;58(1):e3028. http://www.revestomatologia.sld.cu/index.php/est/article/view/3028
  4. SAHA, S.S. et al. Dentigerous Cyst With Ameloblastomatous Proliferation As Well As Calcifications: An Unusual Presentation. n. J Indian Acad Oral Med Radiol 2020;32:297-9. DOI: 10.4103/jiaomr.jiaomr_209_19
  5. NIMONKAR, P.V. et al. Ameloblastoma arising in a dentigerous cyst: Report of three cases. Journal of Oral and Maxillofacial Surgery, Medicine, and Pathology. Volume 26, Issue 2, April 2014, Pages 233-237. 
  6. RIBEIRO JUNIOR, P.D. et al. Neoplastic Transformation of Odontogenic Cyst. Clin Res Infect Dis 3(1): 1022.
  7. SHAHABINEJAD, M. et al. Aggressive plexiform mandibular ameloblastoma arising from a dentigerous cyst: A case report . Cent Asian J Med Pharm Sci Innov 2(1): 9-14 (2022). DOI: 10.22034/CAJMPSI.2022.01.02
  8. MEENAL, V. ; NIKHIL, V. ; MADHUSUDAN, A. Conservative Management of Unicystic Ameloblastoma of Mandible Evolving from Dentigerous Cyst in a Paediatric Patient: A Case Report. J Dent Shiraz Univ Med Sci. June 2023; 24(2):250-255. DOI: 10.30476/dentjods.2022.94689.1804

1 Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel-FATEFIG, kelvy.oliveira@faculdadegamaliel.com.br
2 Discente do Curso Superior de Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel-FATEFIG, amanda.cavalcante@faculdadegamaliel.com.br
3 Docente do Curso Superior de Odontologia da Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel-FATEFIG, caio.hage@faculdadegamaliel.com.br
4 Docente do Curso Superior de Odontologia da Odontologia da Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel-FATEFIG, marlene.oliveira@faculdadegamaliel.com.br