TRACIONAMENTO DE CANINOS INCLUSOS: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7685457


Taciane de Sousa Lemos1
Débora Cristina Martins2
Carlos Eduarde Bezerra Pascoal3
Priscila Pinto Brandão de Araújo4


RESUMO

O canino é o segundo elemento dentário que mais sofre com impacção, ficando atrás apenas dos terceiros molares. Os caninos superiores permanentes são os mais acometidos, pelo lado palatino. A retenção causa problemas estéticos e funcionais, fazendo-se necessário seu tracionamento sempre que possível. Frente a isso, o profissional da área deve observar com cautela através de uma anamnese criteriosa, avaliação clínica e de imagens qual o melhor tratamento. Este trabalho tem como objetivo revisar a literatura sobre o tracionamento de caninos inclusos. Foram analisados artigos e trabalhos de conclusão para obtenção do material. Diante disso, diversas técnicas estão disponíveis como alternativas, porém a mais atual e empregada é a exposição cirúrgica seguida de tracionamento, e o  alinhamento pode ser feito com uso de aparelhos ortodônticos fixos ou removíveis, ancoragem na mesma arcada ou ainda uso mini-implantes provisórios. Além disso, o ortodontista deve alertar o paciente sobre possíveis problemas que podem ocorrer durante tratamento, bem como fazer o possível para realizar uma conduta clínica adequada conforme a particularidade de cada caso.

Palavras-chave: tracionamento; canino impactado; impacção

ABSTRACT

The canine is the second dental element that most suffers from impaction, second only to the third molars. The permanent upper canines are the most affected, on the palatal side. Retention causes aesthetic and functional problems, making it necessary to traction whenever possible. Faced with this, the professional in the area must observe with caution, through a careful anamnesis, clinical evaluation and images, which is the best treatment. This work aims to review the literature on impacted canine traction. Articles and final papers were analyzed to obtain the material. In view of this, several techniques are available as alternatives, but the most current and used is surgical exposure followed by traction, and the alignment can be done using fixed or removable orthodontic appliances, anchorage in the same arch or even using temporary mini-implants. In addition, the orthodontist must warn the patient about possible problems that may occur during treatment, as well as do his best to carry out an appropriate clinical approach according to the particularity of each case.

Key-words:  traction; tooth impacted; impaction

INTRODUÇÃO

A impacção do canino é a segunda mais prevalente dentre todos os grupos de dentes, sendo particularmente o canino superior o mais acometido. Sua trajetória longa e tortuosa é apontada como uma das causas para irrupção. Além disso, no seu trajeto, a coroa do canino pode ter contato íntimo com a raiz do incisivo lateral, primeiramente funcionando como guia de erupção, mas futuramente podendo gerar sequelas irreversíveis. (ACOSTA, 2018; ALMEIDA, 2001; BISHARA, 1992; BRITO, 2003; CAPALLETTE, 2008; FERREIRA, 2013; GOMES, 2022; MATSUI, 2007; MONGIN, 2020; SIMÃO, 2012; TORMENA JR., 2004; VIEIRA, 2014)

Possuem a segunda maior incidência de impacção – a primeira é dos terceiros molares – e afeta duas vezes mais mulheres que homens, podendo ocorrer de forma uni ou bilateral. Dentre as localizações, a mais acometida é pela palatina, chegando a 80-90% dos casos. Dentes caninos nestas posições dificilmente irão irromper de forma espontânea. (ACOSTA, 2018; ALMEIDA, 2001; FERREIRA, 2013).

Quando relacionada à penetração do dente dentro do osso pode estabelecer-se duas maneiras: quando está totalmente dentro do osso – chamado de retenção intra-óssea – ou quando o dente vence uma parte da barreira óssea, porém há tecido gengival recobrindo a coroa dental – retenção subgengival, no qual o dente é considerado sub-retido. Quanto à localização, a palatina é mais comum que a vestibular e geralmente é descoberta aos 13 anos de idade. Além disso, a localização palatina é a que raramente irá erupcionar espontaneamente. (MATSUI, 2007).

Segundo Almeida (2001), apud Becker (1998), a prevalência de caninos impactados por palatina é maior e existe um elo de fatores genéticos e ambientais atuando para essa impacção, bem como anomalias – de estrutura, de forma e de número – dos incisivos laterais superiores.

Segundo Becker, apud Capallete (2008): “Parece haver dois processos que podem causar o deslocamento do canino para o palato, o primeiro é a ausência de guia pelo incisivo lateral abrindo um novo caminho de erupção em direção ao palato. O segundo é quando o canino em estágios mais avançados, surgindo de uma base óssea mais larga, desce em sentido oclusal, atravessando a crista óssea alveolar que se estreita.”

Quando analisados os fatores que causam retenção, Gomes (2022) cita: formações císticas e neoplásicas, trauma na infância, falta de espaço no arco dentário, posicionamento atípico do germe dentário e dilaceração radicular. A retenção prolongada do canino decíduo é considerada uma consequência, não uma causa da impactação.

Em relação aos fatores gerais (sindrômicos e hereditários) para retenção de canino, Mongin (2020) acrescenta a síndrome de Down, síndrome de Crouson, disostose cleidonacraniana, hipotireoidismo, raquitismo e o uso de tabaco durante a gravidez.

Bishara (1992) em sua revisão, fez considerações ortodônticas relevantes a respeito do prognóstico de caninos impactados por palatina, o qual depende de uma variedade de fatores: a posição do dente impactado com o seu vizinho, a angulação, a distância do dente para ser mexido, bem como a possibilidade de haver anquilose. No geral, impactações horizontais e anquiloses são as mais difíceis e com prognósticos piores, sendo algumas vezes necessária a extração dental.

PROPOSIÇÃO

Este trabalho tem como objetivo principal revisar a literatura sobre os métodos de tracionamento de caninos inclusos. Como objetivos secundários:

  • Avaliar outros meios de tratamento para caninos inclusos;
  • Verificar a importância do elemento canino;
  • Analisar a incidência e localização de impacção.

MATERIAIS E MÉTODOS

Foram analisadas artigos científicos, monografias e dissertações. Como critérios de inclusão, foram utilizados estudos que empregassem as palavras-chave: “caninos; retenção; tracionamento”. As pesquisas foram realizadas com base nos dados da Lilacs, Bireme, Mediline, Pubmed, e Google Scholar. Foram incluídos artigos nos seguintes anos: 1979, 1981, 1987, 1992, 1998, 2001, 2003, 2008, 2004, 2011, 2012, 2013, 2014, 2018, 2019, 2020 e 2022. Foram incluídos ainda métodos de avaliação para detecção de caninos retidos, como radiográfico e tomografia.

Foram excluídos artigos que direcionavam o tracionamento para outros elementos dentários que não eram caninos impactados.

REVISÃO DE LITERATURA      

O diagnóstico precoce é fundamental para o tratamento e deve-se tentar ao máximo posicionar o dente na arcada dentária, já que o canino tem sua importância na harmonização da arcada, função mastigatória e estética. (ALMEIDA, 2001).

Tormena Jr. (2004) aborda aspectos importantes quando se trata de caninos que não irromperam, sendo o diagnóstico o primeiro aspecto que visa minimizar danos que possam surgir dessa irrupção, como presença de cistos, reabsorções radiculares ou até a perde do elemento dentário.

É necessário um bom exame clínico e radiográfico para um diagnóstico concreto. Em crianças, a avaliação pode se dar com segurança no exame clínico e palpação digital do processo alveolar na região dos caninos. Porém, de 8 a 10% das crianças deverão realizar exames radiológicos complementares na investigação. (Ericson & Kurol, 1987)

É o que Schoeder (2019) enfatiza sobre a importância do exame radiográfico, na qual ratifica que o exame clínico e a palpação do processo alveolar vestibular e palatino deve ocorrer em paciente a partir de 8 anos. Além disso, as anamneses e exame clínico devem conter a anotação do número dentes erupcionados, a presença de um deslocamento acentuado do inciviso lateral ou inclinação para vestibular, arco alveolar atrésico, perda de espaço e erupção assimétrica quando comparados os lados direito e esquerdo do arco dental.

Sobre o tratamento para as impacções de caninnos, existem diversos descritos na literatura; dentre eles: proservação, transplante autógeno, exodontia do canino – decíduo ou permanente, exposição cirúrgica com acompanhamento e exposição cirúrgica seguida de tracionamento ortodôntico (ou técnica ortocirúrgica), sendo a mais empregada por ser conservadora, menos arriscada e mais eficaz. (ACOSTA, 2018; ALMEIDA, 2001; BISHARA, 1992; CAPALLETTE, 2008; FERREIRA, 2013; GOMES, 2022; MONGIN, 2020; SCHROEDER, 2019; SILVA, 2019; SIMÃO, 2012).

Além disso, diversos dispositivos podem ser empregados para o tracionamento: laço, elos de cadeia elástica, tubos, bandas e braquetes diretamente ligados, perfuração/transfixação de coroa clínica, ligaduras de fio ortodôntico.  (CAPALLETE, 2008; SCHROEDER, 2019; SILVA, 2019, SIMÃO, 2012; SILVA, 2019) 

No século passado, era muito utilizado um método para laçar o dente na região cervical, feito com fio metálico. Um grande retalho e uma extensa osteotomia eram necessários para tal técnica, e sua grande desvantagem é que o fio poderia causar lesões irreversíveis tanto na junção amelo-cementária, causando a reabsorção cervical.  (ALMEIDA, 2001; MATSUI, 200; SILVA, 2019)

Depois disso, passou-se a perfurar a coroa dentária do elemento retido como forma de tração. As desvantagens desta técnica são o comprometimento do esmalte dentário e a estética natural do dente, bem como a iatrogenia com a perfuração incorreta, induzindo à pulpites, necroses e até reabsorções internas em alguns casos. (ALMEIDA, 2001; FERREIRA, 2013; MATSUI, 2007; SIMÃO, 2012; SILVA, 2019; TORMENA, 2004)

Com o advento do sistema adesivo, a técnica atualmente preconizada é uma combinação de cirurgia com tracionamento com colagem de acessório ortodôntico, uma vez que a quantidade menor de tecido ósseo é removida para acessar a coroa do dente. Alguns autores, porém, ainda preconizam a técnica da perfuração como alternativa quando a colagem de acessório não é possível. (SIMÃO, 2012; SILVA, 2019; TORMENA, 2004; VIEIRA, 2014)

Segundo Schroeder (2019), a exposição do canino pode ser feita de forma aberta, quando uma seção circular de mucosa e osso alveolar são removidos. No procedimento fechado, o dispositivo é colado durante a exposição do dente impactado e posteriormente, os tecidos são reposicionados e a sutura o recobre.

Para Cruz (2019), o método mais comum para tracionamento de caninos retidos por palatina envolvem a exposição cirúrgica seguida de tracionamento com colagem de acessório, já que a força aplicada nesses casos será leve e lentamente o dente será movimentado para a posição correta.

Já Almeida (2001) cita que os métodos de abordagem mais empregados para caninos retidos por palatina são a exposição cirúrgica – fundamental em qualquer etapa -, seguida ou de erupção natural ou colocação de acessório ortodôntico para o tracionamento. No segundo método, os dentes necessitarão movimentar-se para a vestibular. Há todo um sistema de forças desejado e para isso, recomenda-se o uso de cantilevers do tubo molar até a conexão com os caninos impactados.

Antes de tudo, é de suma importância a disposição do paciente na realização de tais procedimentos, bem como conhecimento do profissional e dos materiais disponíveis na intervenção para um bom prognóstico do caso. (BISHARA, 1992; FERREIRA, 2013; GOMES, 2022; MATSUI, 2007; SILVA, 2019.)

Cada tratamento deve levar em consideração: idade do paciente, posição do canino, tamanho do dente no comprimento do arco, grau de desenvolvimento da dentição, perda precoce do decíduo, se há reabsorção radicular dos elementos vizinhos, presença de fenda alveolar ou cisto dentígero, dilaceração da raiz, anquilose, iatrogenia, assim como um planejamento com as demais especialidades odontológicas como a periodontia, cirurgia, radiologia e odontopediatria em alguns casos. (ALMEIDA, 2001; BISHARA, 1992; CAPALLETTE, 2008; FERREIRA, 2013; GOMES, 2022; SIMÃO, 2012 TORMENA JR.,2004; VIEIRA, 2014).

Para Cruz (2019), se o canino não erupcionou e a sua formação radicular está completa, consequentemente poderá ser considerado um fator para reabsorção das raizes de dentes adjacentes. Outro risco citado é a possibilidade de cistos pericoronais ao redor da coroa. Além disso, a indicação para o tracionamento é a mais apropriada, com o prognóstico melhor. Algumas complicações são passíveis de ocorrer, como perda óssea, reabsorção radicular e recessão gengival do dente tracionado.

Schoerder (2019), em sua revisão, compara as melhores soluções mecânicas para o tracionamento de caninos, além de verificar fatores etiológicos e os exames mais usados para o diagnóstico. Sobre o uso de arco, o autor cita: “quanto a maior distância entre dois pontos, menor será a taxa de carga/deflexão, o qual com o tempo produz forças relativamente constantes e impulsionam como o dente se movimenta para a posição desejada. Estabilização e boa adaptação no segmento dos arcos são alcançados usando um arame retangular. Os efeitos colaterais indesejados da unidade de ancoragem nos dentes podem ser mitigados com o uso de dispositivos auxiliares, como arco transpalatino ou botão de Nance.”

A ancoragem dos dispositivos de tracionamento pode ser feita ou no próprio arco do aparelho ortodôntico ou com o uso de aparelhos removíveis ou fixos, com o emprego do Sistema “Mola Ballista” e a Técnica do Arco Segmentado. (ALMEIDA, 2001; SILVA, 2019; SIMÃO, 2012; VIEIRA, 2014)

a) Sistema Mola Ballista, segundo Simão (2012), apud Jacoby, 1979:

“É um sistema ortodôntico simples onde o dente impactado é tracionado pela ação de uma mola que libera força contínua, pela ativação por meio do seu longo eixo. A aplicação desse sistema pode causar a intrusão ou inclinação vestibular dos primeiros pré-molares, para se evitar este efeito colateral a barra transpalatina (BPT) pode ser estendida mesialmente e soldada às bandas dos pré-molares.”

Segundo Almeida (2001), este sistema possui algumas vantagens: fácil manipulação e bom controle da força aplicada; o procedimento cirúrgico realizado é menos traumático; não requer montagem completa do aparelho durante o tracionamento, levando a redução do tempo para alinhamento e nivelamento do dente impactado.

b) Técnica Do Arco Segmentado (TAS):

É o tratamento utilizado quando há necessidade de grandes movimentos no dente ou em casos de dentes extensos, com grande volume radicular. A grande vantagem desta técnica é que ela não produz efeitos colaterais na unidade de ancoragem. A técnica funciona como um sistema de força, no qual duas unidades são atuantes: unidade ativa – o dente a ser movimentado – e unidade de ancoragem/reativa – os dentes que serão âncoras para o movimento requerido. (SILVA, 2019; SIMÃO, 2012; VIEIRA, 2014)

c) Sistema de “cantilevers”

Proporciona um bom controle de movimento dos caninos, com menor comprometimento das unidades de ancoragem, sendo essa considerada a sua maior vantagem. (Almeida, 2001)

d) Sistema integrando aparelho ortodôntico removível e aparelho fixo

Segundo Almeida (2001), este sistema realiza as etapas de exposição cirúrgica e colagem de acessório como em outros sistemas, porém o grande diferencial aqui está na etapa de moldagem – para obtenção do modelo de trabalho – após a cicatrização do tecido mole. A partir do molde obtido, um aparelho removível será construído para o tracionamento do dente, o qual será um reforço na ancoragem.

Mongin (2020) relatou clinicamente a proposta de tracionamento com o DAT’s – dispositivo de ancoragem temporária -, instalado na rafe palatina na altura do primeiro e segundo molar 40 dias após o acesso cirúrgico para exposição da coroa do canino. Neste procedimento, foi realizado colagem com resina de um botão lingual, sendo interligado por meio de um elástico com o mini implante instalado no palato, com o objetivo de remover o contato com a raiz do incisivo lateral.

Há ainda a apicectomia como forma de tratamento, quando se fala em associação ortocirúrgica. Este tipo de tratamento está indicado quando há dilaceração no terço apical, o que impossibilita a movimentação através da tração como normalmente ocorreria. De toda forma, um dispositivo para o tracionamento é fixado na coroa para o tracionamento. (Capallette, 2008).

Ferreira (2013), em seu relato de caso clínico de uma paciente adulta que possuía todos os caninos permanentes impactados, e que havia ainda a presença de dentes decíduos na arcada dentária. Optou-se como tratamento a exodontia decídua, exposição cirúrgica dos elementos e colagem de acessórios nos quatro caninos, para tracionamento.

Britto (2003), em seu relato de caso clínico, verificou que uma paciente de 12 anos de idade estava com atraso na erupção dos caninos permanentes. Radiograficamente, estavam por palatina, com grande proximidade dos incisivos laterais, o que ocasionou a reabsorção radicular destes elementos. Optou-se neste caso por exodontia do 12 e 22, seguida do retalho para acessar a coroa dos caninos. Na face vestibular foram colados ganchos, e as coroas ficaram expostas, o que permitiu a confecção de amarrilha de ligadura. Foi realizado o tracionamento, sendo realizado a cada duas semanas. A exposição total das coroas aconteceu em cinco meses. Os caninos foram reposicionados ao lado dos centrais.

Acosta (2018) também teve um relato semelhante, com a impacção por palatino; o dente 13 tinha íntima relação com a raiz do 12, numa paciente de 11 anos de idade. Mesmo com uma tomografia, não foi possível confirmar se estava ocorrendo reabsorção radicular do incisivo lateral, então neste caso optou-se por fazer exodontia do 14, tracionamento do 13 e proservação do 12.

Sobre a importância do exame radiográfico, Ericson & Kurol (1987) analisaram 3.000 crianças, das quais 125 tiveram potencial para erupção ectópica de caninos, onde foram necessárias a utilização de 3 tomadas radiográficas periapicais para identificação, as quais foram precisas em relação à localização do canino impactado em 92% dos casos. Em 29% dos casos, os incisivos laterais não foram considerados livres de reabsorções e por isso um exame de imagem mais detalhado de imagem foi solicitado.

Em relação ainda à técnica ortocirúrgica, Capallette (2008) relata que o tratamento ortodôntico deve ser anterior à exposição cirúrgica, a fim de obter espaço no arco dentário para o canino permanente e para alinhar e nivelar os dentes, evitando alterações no plano occlusal. Além disso, salientou a importância da força de aplicação, que deve ser leve e que beira 1mm/mês.

Verificando a importância do tracionamento, não há certeza na literatura sobre qual o material adequado para tração. Yadav (2011) fez um estudo diferenciado, comparando 3 sistemas de forças de tracionamento – mola de Kilroy, corrente de elástico e fio de liga de aço – em dentes que são impactados por palatina, quantificando os 6 componentes de forças envolvidos em cada sistema, comparando esses sistemas de força e quantificando as mudanças nos mecanismos de dentes erupcionados.

Quando verificada a idade do paciente para o tratamento, Acosta (2018) afirma que pacientes jovens ainda apresentam força eruptiva devido a formação incompleta da raiz, então os dentes retidos podem ter o tratamento cirúrgico conservador como escolha. Deve-se atentar, contudo, se o espaço no arco é o suficiente para a inclusão deste dente. O tratamento em si consiste na remoção de uma parte do tecido pericoronário – ósseo e gengival – a fim de expor a coroa do elemento dentário e aguardar a sua erupção natural.

Já em pacientes na idade adulta, o prognóstico pode ser desfavorável pelo tempo em que o dente está nesta posição, podendo haver uma grande reabsorção dos dentes adjacentes, bem como anquilose e perda de espaço na arcada. Caninos impactados por palatino raramente irromperão sem intervenção cirúrgica seguida. O motivo para isso está relacionado a espessura da cortical óssea do palato, bem como a espessa, densa e resistente mucosa palatina. Alguns dentes simplesmente não poderão ser movimentados ortodônticamente, sendo necessária a extração e o preenchimento do espaço com prótese ou tracionando o pré-molar para o lugar do canino. (ALMEIDA, 2001; BISHARA, 1992; CAPALLETTE, 2008; SILVA, 2019; SIMÃO, 2012).

Cruz (2019), em seu relato de caso de um paciente com 13 anos de idade, verificou que o mesmo possuia a retenção prolongada do canino decíduo e sem sinais de mobilidade. Houve um trauma na infância, Com a tomografia computadorizada foi possível observar o permanente impactado palatinamente, em contato próximo com os dentes vizinhos, com sinais de reabsorção do primeiro pré-molar podendo ser observada. A primeira etapa foi expansão palatina o disjuntos Haas e posteriormente, com espaço ganho, foi realizada a exposição da coroa clínica com tracionamento do elemento com acessório ortodôntico.

DISCUSSÃO

O canino é um elemento dentário singular em sua função oclusal normal, proporcionando distribuição de força mastigatória, a sua simetria no arco e o guia canino, bem como em sua função estética que leva ao equilíbrio entre os dentes anteriores e posteriores. (ACOSTA, 2018; CAPALLETTE, 2008; CRUZ, 2019; FERREIRA, 2013; GOMES, 2022; TORMENA, 2004; VIEIRA, 2012). Foi nesta conclusão que Silva (2019), após revisão de literatura, chegou, enfatizando o valor morfofuncional e estético do canino.

Para Acosta (2018), Almeida (2001), Capallete (2008), Ericson & Kurol (1987), Ferreira (2013), Simão (2012), Tormena Jr. (2004), Vieira (2014) as impacções dos caninos, quando não diagnosticadas precocemente ou quando tratadas de forma inadequada podem causar más oclusões, anquilose do dente impactado, formações císticas e a perda dos adjacentes com as reabsorções radiculares e coronárias.

Foi o que ocorreu com Britto (2003), em que uma paciente de 12 anos demonstrou um grau elevado de reabsorção radicular de ambos os incisivos laterais superiores, expondo a importância do acompanhamento com odontopediatra ou mesmo clínico geral na infância. Neste relato, os laterais foram extraídos e os caninos foram transformados em incisivos laterais, com a colocação do aparelho fixo para fechamento dos espaços, bem como verticalização e alinhamento dos dentes.

Apesar disso, Ferreira (2013) tratou de paciente adulto (36 anos) e obteve sucesso em seu tratamento. Sabe-se que o prognóstico para adultos é menos favorável, pois fatores como anquilose do dente impactado pode ocorrer, bem como as limitações da mecânica ortodôntica escolhida devido à idade. Ressaltou ainda que estes fatores não impossibilitam o tracionamento em pacientes adultos.

Silva (2019), em sua revisão, concluiu que há uma diversidade de técnicas utilizadas para tratamento, com aparelhos removíveis ou fixos e diversas formas de ancoragem. Foi o que Almeida (2001), em seus casos clínicos, conseguiu demonstrar, em pacientes de idade variadas, e obteve sucesso em todas elas.

Acosta (2018) também tratou clinicamente uma adolescente, porém concluiu que a detecção precoce de impacção, o diagnóstico correto e o procedimento abrangendo as especialidades odontológicas são cruciais para a obtenção de resultados de excelência, com prognósticos favoráveis.

Para Capallete (2008), Cruz (2019) e o prognóstico está diretamente relacionado aos exames complementares de imagem, que determinarão localização, possíveis complicações, além da abordagem de um tratamento conservador, proporcionando uma tração controlada, impedindo injúrias à raiz dentária e quantificação de osso ao redor de cada element dentário.

Matsui (2007), Capallette (2008), Ericson & Kurol (1987) e Gomes (2022),  também concordam com a relevância de avaliação radiográfica, enfatizando a importância da avaliação clínica do especialista ortodontista, para diagnóstico, planejamento e tratamento.

Ericson & Kurol (1987) limitam o uso de imagens para os casos em que os sinais clínicos de erupção ectópica sejam perceptíveis. O exame radiológico deve se ater a 2 a 3 tomadas radiográficas, e quando o tratamento ortodôntico (mesmo preventiva) são consideradas, uma tomada a mais axial deve ser feita para uma visualização mais precisa do canino em relação aos dentes adjacentes.

Entretanto, Manzi (2011) destaca que existem limitações nos métodos radiográficos convencionais pois se limitam apenas na identificação e localização (se vestibular ou palatina). A tomografia computadorizada, por outro lado, consegue mostrar a imagem tridimensionalmente e os cortes em planos permitem com maior segurança averiguar a exata localizaçãod os dentes, condições patológicas, bem como auxiliar no tratamento e prognóstico evolutivo do caso.

Matsui (2007) concluiu que há vários métodos para a exposição clínica do canino, porém a opção ideal é a mais conservadora, ou seja, aquela que mantém a integridade do periodonto e a que menos atinge o tecido ósseo. Citou ainda a importância do tracionamento, para guiar o dente para sua posição final no arco.

Para Ferreira (2013), nos casos em que não se pode intervir precocemente a melhor opção de tratamento é a exposição cirúrgica seguida de colagem de acessório e tracionamento ortodôntico. A colagem de materiais só é preconizada hoje graças à evolução dos materiais, pois advento a isso, os dentes eram “laçados” com fios metálicos, tendo suas coroas perfuradas na incisal, comprometendo a estética, ou ainda, quando a perfuração era feita de maneira errônea, levava a uma pulpite/necrose pulpar ou até mesmo a reabsorções internas.

Simão (2012) esclarece em sua revisão que o tratamento mais utilizado é a exposição cirúrgica seguida de tracionamento e colagem de acessório. Enfatizou ainda a importância de um planejamento adequado para uso da mecânica durante a tração do canino, a fim de não prejudicar estruturas de ancoragem. Além disso, é de suma importância a ciência do paciente quanto ao resultado a ser atingido com o tratamento.

Capallete (2008) obteve sucesso em seu tratamento, utilizando a exposição do canino por meio cirúrgico e colagem de acessório ortodôntico, o que permitiu o tracionamento do dente. Após o tracionamento, o aparelho fixo foi necessário para nivelamento e fechamento de espaços.

Cruz (2019) tratou de adolescente com canino impactado por palatino e teve um prognóstico favorável quando decidiu expandir primeiramente a maxila e em aproximadamente 2 anos e meio finalizou o tratamento com sucesso.

Yadav (2011), quando verificou os materiais e as forças que exercem durante o tracionamento, concluiu que a mola de Kilroy tem a menor deflexão de carga e a menor reativação é requerida, promovendo assim a mais consistente direção de força e a mímina mudança de outros componentes. A liga de aço deve ser ativada milimetricamente para cada movimento oclusal do canino, e devido às propriedades viscoelásticas da corrente de elástico, o qual mostrou variação deletéria em momentos e forças, o que é crucial para o movimento dentário ortodôntico, foi o ultimo material a ser considerado para uso.

Schroeder (2019) conclui que há diversos mecanismos para a tração de caninos impactados, mas os arcos segmentados são os mais adequados para isso, pois são de fáceis de fabricar, seu custo é baixo, tem boa estabilidade e adaptação em casos diferentes, o qual torna possível a ação de forças que variam de 25 a 100g. A direção da força de tração é controlada e outros mecanismos podem ser usados ao mesmo tempo.

Vieira (2014) em sua revisão expôs a importância de um sistema em particular para o tracionamento dos caninos por palatina, que é o uso de cantiléver como sistema de ancoragem, destacando a importância da inclinação do dente ou de sua posição ectópica, bem como características morfológicas ou a presença de distúrbios, os quais levam a um prognóstico incerto.

Tormena Jr (2004) conclui em sua revisão sobre a importância de um bom planejamento cirúrgico, para que ao final do tracionamento haja uma condição periodontal satisfatória do elemento no arco.

Mongin (2020) obteve sucesso em seu tratamento e conclui que o tratamento ortocirúrgico, usando o DAT’s como dispositivo (mini-implante), com a promoção de um resultado previsível e satisfatório, concomitante às funções restabelecidas. Enfatizou a importância de um bom exame clínico inicial para um bom prognóstico posterior.

Bishara finaliza sua revisão com pontos relevantes sobre a minimização ou prevenção de possíveis rotações que podem ocorrer pós-tratamento com aparelho fixo, um retentor deve ser fixado para tal finalidade. Além disso, enfatiza a importância do compartilhamento de saberes entre os profissionais, proporcionando ótimos planos de tratamento aos seus pacientes.

CONCLUSÃO

Após exposição da revisão da literatura, é oportuno concluir que:

  • Os caninos superiores por palatina representam o maior grupo de impacção de caninos;
  • Os caninos tem grande importância para a estética e oclusão, devendo ser tracionado sempre que possível, a fim de evitar outras sequelas como cistos e reabsorções;
  • Há diversas técnicas para a retenção do canino, sendo necessário avaliar cada caso individualmente;
  • A técnica mais utilizada, atualmente encontra-se a ortocirúrgica, que consiste em exposição cirúrgica com tracionamento ortodôntico;
  • O tracionamento é contra-indicado em casos de impacções horizontais ou de dentes anquilosados, por apresentar um prognóstico desfavorável.

REFERÊNCIAS

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1 Especialização em Ortodontia – Clínica de Especialização em Ortodontia da Instituição CEPROEDUCAR/FaSerra – Manaus -AM.
2Mestrado em Ortodontia -Clínica de Especialização em Ortodontia da Instituição CEPROEDUCAR/FaSerra – Manaus -AM
3Especialização em Ortodontia – Clínica de Especialização em Ortodontia da Instituição CEPROEDUCAR/FaSerra – Manaus -AM.
4 Mestrado e Doutorado em Ortodontia- Clínica de Especialização em Ortodontia da Instituição CEPROEDUCAR/FaSerra – Manaus -AM