TOXOPLASMOSE FELINA: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/pa10202410201943


Elisa Machado Melo1
Ester Honório dos Santos1
Isabela Santos Belmiro1
Juliana Gomes Müller1


RESUMO

A toxoplasmose é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, transmitida principalmente pela ingestão de carnes cruas e pela falta de higienização dos ambientes onde os felinos vivem, os felídeos são os hospedeiros definitivos do T. gondii, disseminando os oócitos. O ciclo do T. gondii envolve três estágios infecciosos: esporozoítos, taquizoítos e bradizoítos. Os sinais clínicos podem variar de assintomáticos a graves. O presente trabalho objetiva elucidar os aspectos da toxoplasmose felina, uma zoonose causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, que afeta a maioria dos mamíferos e possui uma distribuição cosmopolita. A pesquisa bibliográfica foi conduzida por meio de uma revisão de literatura descritiva e qualitativa. O estudo conclui que a profilaxia e o diagnóstico precoce são fundamentais para o controle efetivo da toxoplasmose felina, além de ressaltar a necessidade de novas pesquisas para aprimorar as estratégias de tratamento e prevenção.

Palavras-chave: Toxoplasmose felina. Protozoário. Tratamento.

INTRODUÇÃO

Este estudo aborda a toxoplasmose felina, uma doença causada pelo protozoário intracelular obrigatório Toxoplasma gondii, pertencente ao filo Apicomplexa. Este protozoário possui uma distribuição cosmopolita e afeta a maioria dos mamíferos, sendo considerado um patógeno oportunista e uma importante zoonose de ciclo heteroxeno (SILVA, 2022; LITTLE, 2017; PIEROTTI et al, 2021). A investigação visa explorar os aspectos clínicos, epidemiológicos e terapêuticos da toxoplasmose em gatos.

Os felídeos são os hospedeiros definitivos deste patógeno, disseminando os oócitos, enquanto outros mamíferos e aves podem atuar como hospedeiros intermediários carregando os cistos teciduais. A transmissão em felinos está associada à ingestão de carnes cruas e à falta de higienização dos ambientes. A prevenção, portanto, está diretamente relacionada à higiene do ambiente e ao controle de pragas comensais como ratos, baratas e moscas (PIEROTTI et al, 2021).

O interesse por este estudo decorre da necessidade de entender melhor o ciclo de vida de T. gondii e seus mecanismos de ação, que incluem a disseminação via hematogênica para vários órgãos e tecidos, como olhos, Sistema Nervoso Central (SNC), músculos esqueléticos, coração e placenta (SILVA, 2022). Este estudo foi realizado para fornecer uma visão abrangente sobre a toxoplasmose felina, incluindo as melhores práticas para diagnóstico e tratamento, além de estratégias de prevenção que possam reduzir a incidência da doença em gatos domésticos. A originalidade do estudo reside na integração de diversas abordagens terapêuticas e preventivas, destacando a importância da profilaxia e do tratamento precoce para melhorar a recuperação dos animais afetados.

OBJETIVOS

Como objetivo geral, o presente trabalho visa elucidar os aspectos da toxoplasmose felina. Possuindo, assim, como objetivos específicos:

  • Descrever a terapêutica convencional da toxoplasmose felina;
  • Abordar a fisiopatogenia da patologia em felinos;
  • Apresentar outras alternativas para o tratamento da doença.

MÉTODOS

A estratégia adotada para pesquisa bibliográfica envolve a elaboração de uma revisão de literatura do tipo descritiva e qualitativa, com o propósito de reunir informações e dados relevantes sobre a patologia da toxoplasmose na área da medicina veterinária. Para a coleta de dados, foram consultados artigos indexados em bases de dados como SciELO, PubMed e Google Scholar, incluindo pesquisas entre os anos de 2017 e 2022 (últimos 7 anos) . Os termos utilizados para busca incluíram Toxoplasmose felina, Medicina Veterinária e protozoário.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

A toxoplasmose felina é causada pelo protozoário Toxoplasma gondii, este é intracelular obrigatório, pertencente ao filo Apicomplexa. Este protozoário afeta a maioria dos mamíferos e possui uma distribuição cosmopolita, além de ser considerado um patógeno oportunista, se caracterizando como uma importante zoonose de ciclo heteroxeno (SILVA, 2022; LITTLE, 2017; PIEROTTI et al, 2021).

Os felídeos são os hospedeiros definitivos deste patógeno, disseminado os oócitos, porém, felídeos, outros mamíferos e aves podem ser hospedeiros intermediários carregando os cistos teciduais. O ciclo da T. gondii envolve três estágios infecciosos: os esporozoítos presentes nos oócitos, os taquizoítos (ocorre a multiplicação ativa) e os bradizoítos contidos no interior dos cistos teciduais (multiplicação lenta) (LITTLE, 2017; PIEROTTI et al, 2021).

A transmissão para os felinos está associada à ingestão de carnes cruas, falta de higienização das residências e ambientes em que vivem. Em humanos, a transmissão geralmente ocorre por meio da ingestão de alimentos ou água contaminados com oocistos de Toxoplasma gondii, presentes em fezes de gatos infectados. Outras formas de transmissão incluem a manipulação inadequada de carne crua, consumo de carne mal cozida, e a transmissão congênita da mãe para o feto durante a gestação (PIEROTTI et al, 2021). A prevalência em gatos pode variar de 30% a 40% em determinadas áreas, dependendo dos hábitos alimentares e do acesso ao exterior. Em humanos, a prevalência também varia amplamente, com estimativas globais sugerindo que aproximadamente um terço da população mundial tenha sido exposta ao T. gondii (PIEROTTI et al, 2021; BRASIL, 2020).

A Figura 1 apresenta o ciclo do protozoário e em conjunto o ciclo de transmissão da T.gondii.

Fonte: autores

O mecanismo de ação da toxoplasmose consiste em disseminação via hematogênica (taquizoítas se disseminam), e se espalham para variados órgãos e tecidos, como olhos, Sistema Nervoso Central (SNC), músculos esqueléticos, coração e placenta. O ciclo inicia-se com a eliminação dos oocistos, na forma de esporoblastos não infectantes por via fecal (felino) , ao estarem na presença de O2 e temperatura de 20° a 39°C adquirem a capacidade de se esporular, tornando-se infectante (viável por 1 ano em condições favoráveis) (SILVA, 2022; BRASIL, 2020).

A disseminação ocorre de forma assexuada extra intestinal, formando cistos teciduais (oocistos), que ao serem ingeridos liberam esporozoítos ou bradizoítas que penetram células nucleadas e se transformam em taquizoítas (via hematogênica) (SILVA, 2022). Baseado em seu ciclo, os sinais clínicos apresentados podem possuir um início súbito e a progressão da doença pode ser fatal rapidamente em alguns felinos, a gravidade desta patologia depende da cepa de T. gondii que contaminou o animal (seu genótipo também influencia) e o local que se alojou (LITTLE, 2017).

Por ser uma patologia sistémica seus sinais clínicos se tornam inespecíficos, sendo os principais apresentados em felinos: icterícia, anorexia, êmese, dermatite, incoordenação motora e/ou paralisia dos membros (BARRETO, 2022). Little (2017) cita que os principais tecidos acometidos pela T. gondii são: tecido pulmonar, SNC, fígado, pâncreas, coração e olhos, sendo assim a sintomatologia será referente ao tecido lesionado, destacando também a anorexia como principal apresentação, além de incluir letargia e dispneia. Em humanos, os aspectos clínicos principais incluem linfadenopatias (mais comum nas cadeias cervicais e occipitais) e a astenia. As linfadenopatias podem vir acompanhadas de febre, mialgia, hepatoesplenomegalia e exantema máculo-papular. Além desses sintomas, a toxoplasmose em humanos pode apresentar: Encefalite, miocardite e pneumonite (GOVERNO DE SANTA CATARINA, 2022).

Ao ser ingerido causa necrose no tecido intestinal e em órgão linfoides, apresentando diarreia autolimitante, porém é mais comum serem assintomáticos. A toxoplasmose sistêmica é a mais grave, atingindo diversos tecidos em conjunto, possuindo um prognóstico ruim, principalmente em filhotes (podem nascer mortos ou morrer antes do desmame (LITTLE, 2017).

O diagnóstico ante mortem, em felinos, é raro devido aos sinais inespecíficos, porém podem levar a uma suspeita diagnóstica, podendo realizar análises de lavado broncoalveolar e de efusão pleural. O PCR de fluidos corporais é considerado o mais específico, podendo optar pelo ELISA, hemaglutinação indireta (IHA) e aglutinação modificada (MAT) nos animais com suspeitas diagnósticas (BARRETO, 2022).

Os antimicrobianos disponíveis no mercado são importantes para impedir a replicação do protozoário, porém não são eficientes para realizar a total eliminação do agente. O fármaco de mais escolha é a clindamicina, pois atravessa a barreira hematoencefálica, a dose recomendada é de 25mg/kg, BID, de 14 a 30 dias. Aqueles que não apresentam boa resposta a clindamicina é associado trimetoprima+sulfonamida, 15mg/kg, BID por 30 dias (SILVA, 2022). Além desses, Portilho a Carvalho (2019) citam a possibilidade de associar corticosteroides, pirimetamina e ácido folínico. Tratamentos de suporte são essenciais, podendo associar ao tratamento convencional: suporte nutricional, probióticos e fitoterápicos (PORTILHO;CARVALHO, 2019).

Outros sintomas sistêmicos da doença devem ser tratados com outro fármaco, como a uveíte (inflamação intraocular), podendo ser tratada com colírios à base de glicocorticoides. Segundo Barreto (2022), a profilaxia é o principal método de combater a patologia em felinos, interrompendo o ciclo do protozoário. Medidas como evitar o contato do animal com presas (aves e roedores comensais), fezes de outros felinos e água contaminada, cozimento adequado de carnes, higienização de vegetais e frutas se tornam importante para realizar a prevenção da doença (BARRETO, 2022; PORTILHO; CARVALHO, 2019).

Sendo assim, a prevenção está diretamente relacionada à higienização do ambiente, a dedetização de ratos, baratas, moscas e outras pragas comensais se torna a principal ferramenta para a realização da profilaxia. Com isso, associar a profilaxia no dia-a-dia auxilia na redução da incidência da patologia nos felinos domésticos, além de realizar um tratamento precoce com auxílio de exames complementares pode tornar a recuperação mais rápida e evitar a morte do animal (PIEROTTI et al, 2021).

CONCLUSÃO

Este estudo investigou a toxoplasmose felina, abordando aspectos como a etiologia, o ciclo de vida do Toxoplasma gondii, a transmissão, os sinais clínicos, o diagnóstico e as opções terapêuticas. A pesquisa destacou a importância da prevenção e dos tratamentos convencionais e alternativos para manejar a infecção em felinos.

Os resultados confirmaram que os felídeos são os hospedeiros definitivos do T. gondii, disseminando os oócitos no ambiente. A ingestão de carnes cruas e a falta de higiene são fatores críticos na transmissão da doença. A profilaxia, focada na higienização do ambiente e no controle de pragas, emerge como uma ferramenta essencial na prevenção da toxoplasmose. A pesquisa reafirmou a eficácia da clindamicina como tratamento padrão, enquanto tratamentos alternativos, como trimetoprima+sulfonamida e pirimetamina, oferecem opções valiosas em casos de resistência ou intolerância. A combinação de terapias, incluindo corticosteroides para inflamações específicas e suporte nutricional, contribui para um manejo mais holístico da doença.

Uma das limitações deste estudo foi a falta de dados longitudinais que permitiriam avaliar a eficácia dos tratamentos alternativos a longo prazo. Além disso, a variabilidade genética do T. gondii e a resposta imune dos felinos aos tratamentos são áreas que necessitam de mais investigação. Futuras pesquisas devem explorar a resistência aos medicamentos e desenvolver novas terapias com menor risco de efeitos adversos.

Este estudo contribui significativamente para a formação acadêmica ao proporcionar uma compreensão aprofundada da toxoplasmose felina. Ele reforça a importância de uma abordagem multidisciplinar no manejo de zoonoses e destaca a necessidade de uma educação contínua sobre práticas de higiene e prevenção.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

BARRETO, Lucas Silva. Toxoplasmose clínica em um felino doméstico em Brasília-DF. 2022. Trabalho de conclusão de curso [Pós-graduação em Anatomia patológica veterinária] – Faculdade de agronomia e medicina veterinária da Universidade de Brasília. Disponível em: https://bdm.unb.br/bitstream/10483/34187/1/2022_LucasSilvaBarreto_tcc.pdf. Acesso em: 16 maio 2024.

BRASIL. Ministério da Saúde. Protocolos para investigação de Toxoplasma gondii em amostras ambientais e alimentares [recurso eletrônico]. Brasília: Ministério da Saúde, 2020. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/protocolos_toxoplasma_amostras_%20ambientais_alimentares.pdf. Acesso em: 04 ago. 2024.

GOVERNO DE SANTA CATARINA. Secretaria de Estado da Saúde. Manual técnico de orientações sobre o manejo da toxoplasmose. Santa Catarina, 2022. Disponível em: https://dive.sc.gov.br/phocadownload/doencas-agravos/Toxoplasmose/Publica%C3%A7%C3%B5es/Manual-Toxoplasmose-Agosto-2022-2.pdf. Acesso em: 4 ago. 2024.

LITTLE, Susan. August Medicina Interna de Felinos. Grupo GEN, 2017. E-book. ISBN 9788595151888.  Disponível em:https://integrada.minhabiblioteca.com.br/#/books/9788595151888/. Acesso em: 14 mai. 2024.

PIEROTTI, Gustavo Laranjeira et al. Toxoplasmose: Papel real dos felinos. Pubvet, v. 15, n. 12,   2021. Disponívelem:https://ojs.pubvet.com.br/index.php/revista/article/view/453?articlesBySimilarityPage=4. Acesso em: 14 maio 2024.

PORTILHO, Maciria Bezerra Freire; CARVALHO, Aluísio Vasconcelos de. A toxoplasmose em felinos: parasitologia, imunologia e diagnóstico animal. Agrariae Liber, v. 1, n. 1, p. 1-11,2019. Disponívelem: https://www.sapientiae.com.br/index.php/agrariaeliber/article/view/CBPC2674-6476.2019.00 1.0001. Acesso em: 16 maio 2024.

SILVA, Fábio José da Paz Andrade. Toxoplasmose: revisão de literatura. 2022. Trabalho de conclusão de curso [Graduação em medicina veterinária] – Faculdade UNIRB Arapiraca. Disponível em: http://dspace.unirb.edu.br:8080/xmlui/bitstream/handle/123456789/542/TCC.pdf?sequence=1 &isAllowed=y. Acesso em: 14 maio 2024.


1 Graduanda de Medicina veterinária da Faculdade de Americana (FAM)