TERAPIAS NÃO CIRÚRGICAS NO TRATAMENTO DA PERIODONTITE: UMA REVISÃO ATUALIZADA

NON-SURGICAL THERAPIES IN THE TREATMENT OF PERIODONTITIS: UPDATED REVIEW

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10484971


Davi Carvalho Ferreira1
Soanny Evelyn Lopes Ribeiro2
Amujacy Tavares Vilhena3


RESUMO

Este artigo revisa as terapias não cirúrgicas no tratamento da periodontite, destacando a importância da intervenção precoce e estratégias conservadoras para promover a saúde periodontal. Exploramos avanços recentes, evidências clínicas e implicações práticas dessas terapias, com ênfase na eficácia da terapia periodontal não cirúrgica, incluindo raspagem e alisamento radicular. A pesquisa baseou-se em uma revisão da literatura científica, abrangendo estudos clínicos, revisões sistemáticas e meta-análises. A cooperação do paciente na manutenção da saúde oral também é destacada como crucial para o sucesso a longo prazo do tratamento periodontal.

Palavras-chave: cooperação do paciente, terapias não cirúrgicas, periodontite, saúde bucal, prevenção sistêmica.

ABSTRACT

This article reviews non-surgical therapies in the treatment of periodontitis, emphasizing the importance of early intervention and conservative strategies to promote periodontal health. We explore recent advances, clinical evidence, and practical implications of these therapies, with a focus on the effectiveness of non-surgical periodontal therapy, including scaling and root planing. The research is based on a review of scientific literature, encompassing clinical studies, systematic reviews, and meta-analyses. Patient cooperation in maintaining oral health is also highlighted as cruciais for the long-term success of periodontal treatment.

Key-words: patient cooperation, non-surgical therapies, periodontitis, oral health, systemic prevention.

INTRODUÇÃO

A periodontite, uma condição inflamatória crônica que afeta os tecidos de suporte dos dentes, representa um desafio significativo na área odontológica. Ao examinar métodos como a terapia periodontal não cirúrgica, destacamos a importância de intervenções precoces e estratégias conservadoras para promover a saúde periodontal e preservar a integridade dentária. Nesta revisão, serão considerados os avanços recentes, evidências clínicas e implicações práticas dessas modalidades terapêuticas, visando contribuir para a compreensão aprofundada e aprimoramento das opções de tratamento para a periodontite.

A relação causal da periodontite está relacionada à infecção bacteriana por microorganismos gram-negativos como: Porphyromonas gingivalis, Tannerella forsythia e Aggregatibacter actinomycetemcomitans que desencadeiam uma resposta imunoinflamatória promovendo a destruição do osso e tecidos de suporte dentários (AUYEUNG,2012).

O diagnóstico da doença periodontal deve ser obtido por meio da análise de parâmetros clínicos periodontais, incluindo o índice de placa (IP) e gengival (IG), profundidade de sondagem (PS), presença de recessões gengivais (RG), nível clínico de inserção (NIC), mobilidade (MOB) e bifurcações (F). Essa avaliação deve ser complementada por exames adicionais, como radiografias e análises microbiológicas, visando identificar sítios infectados e orientar a implementação de terapia periodontal apropriada (LIJENBERG 1994)

A terapia periodontal é um conjunto de intervenções clínicas, cirúrgicas e não cirúrgicas voltadas para o tratamento das doenças periodontais, que afetam os tecidos de suporte dos dentes, como gengiva e osso alveolar. Métodos não cirúrgicos visam controlar a inflamação, raspagem e alisamento radicular para remover depósitos de placa bacteriana e tártaro, promovendo a saúde periodontal. O objetivo principal é preservar a estrutura dental e prevenir a progressão das doenças periodontais, contribuindo para a manutenção a longo prazo da saúde bucal. A escolha entre os métodos depende da gravidade da condição periodontal e das necessidades específicas do paciente. Nesse estudo serão investigados por meio de uma revisão de literatura, os benefícios que a terapia periodontal não cirúrgica pode trazer.

MATERIAIS E MÉTODOS

Este artigo baseou-se em uma pesquisa bibliográfica extensiva, utilizando diversas bases de dados eletrônicos reconhecidas. Uma revisão sistemática da literatura científica, explorando estudos clínicos, revisões sistemáticas e meta-análises que investigaram a eficácia da terapia não cirúrgica na periodontite.  O procedimento incluiu consultas nas seguintes bases: Literatura Latino-americana e do Caribe de Informação em Ciências de Saúde (LILACS), PUBMED, SCIELO e Biblioteca Virtual de Saúde (BVS).

Os descritores selecionados para otimizar a busca foram “periodontite”, “terapia periodontal não cirúrgica” e “raspagem e alisamento radicular”. Esses termos foram combinados em diversas associações para abranger de forma abrangente o escopo da pesquisa, considerando o interesse dos autores. A seleção criteriosa desses descritores permitiu uma busca rigorosa e focalizada, visando identificar estudos relevantes e contribuir para a atualização significativa deste artigo.

REVISÃO DE LITERATURA

Impacto na Saúde Periodontal a Longo Prazo

A saúde periodontal desempenha um papel crucial no bem-estar bucal e na qualidade de vida geral de um indivíduo. A periodontite, uma forma avançada de doença periodontal, pode ter repercussões significativas a longo prazo se não for adequadamente tratada. A perda de tecido gengival e de suporte aos dentes, resultante da periodontite não tratada, pode levar à deterioração da estrutura dentária, comprometendo a estabilidade da arcada dentária e, em casos extremos, resultando na perda de dentes (LOPES et al., 2011).

A influência da periodontite vai além da cavidade bucal, estendendo-se a implicações sistêmicas. Estudos indicam que a inflamação crônica associada à periodontite pode estar relacionada a condições como doenças cardiovasculares e diabetes (ALMEIDA et al., 2006). Portanto, a manutenção da saúde periodontal não é apenas vital para a saúde bucal, mas também desempenha um papel preventivo em questões de saúde sistêmica.

Outro fato agravante associado a periodontia foi descrito por Louro et al. (2001), mulheres grávidas com periodontite não tratada podem enfrentar um maior risco de complicações, como parto prematuro e baixo peso ao nascer. A inflamação e as substâncias inflamatórias sistêmicas, como discutido pelos autores, podem desencadear respostas que afetam adversamente a saúde da mãe e do feto.

O tratamento da periodontite é essencial para preservar a saúde bucal, prevenir complicações sistêmicas e melhorar a qualidade de vida.  Além disso, promove a saúde gengival, alivia sintomas, e, a longo prazo, pode ser mais econômico. Para mulheres grávidas, o tratamento é crucial para prevenir complicações na gravidez. Consultas regulares ao dentista e intervenções oportunas são fundamentais para a gestão eficaz da periodontite (GRECO et al.,2009).

Terapias Não Cirúrgicas

Os objetivos fundamentais da terapia periodontal incluem a redução da inflamação, mediante a remoção dos microrganismos subgengivais presentes em cálculos, cemento e dentina contaminados. Além disso, busca-se alcançar o ganho de inserção clínica e assegurar a manutenção de níveis estáveis de inserção ao longo do tempo, conforme discutido por Zandbergen et al. (2012) em sua revisão sistemática sobre o efeito clínico da raspagem e alisamento radicular concomitante à administração de amoxicilina e metronidazol sistêmicos.

A saúde periodontal depende de uma atenção meticulosa à higiene oral, que vai desde a escovação simples até a incorporação de dispositivos que favorecem o bem-estar bucal. No entanto, a falta de motivação por parte da população pode resultar na resistência à adoção de protocolos de higiene e manutenção, culminando nos primeiros sinais de desenvolvimento de doenças periodontais (FARIA, 2015).

O tratamento periodontal não cirúrgico (TPNC) visa controlar infecções nos tecidos periodontais através de desbridamento mecânico, como raspagem e alisamento radicular (RAR), ultrassons, e lasers. O TPNC é eficaz em casos específicos, mas bolsas persistentes podem exigir tratamento cirúrgico. A cirurgia periodontal busca criar condições favoráveis ao controle de placa bacteriana, acesso para RAR adequado, recuperação do periodonto perdido e alongamento da coroa clínica (FERREIRA, 2020).

Enquanto ao desbridamento mecânico, as curetas de Gracey são reconhecidas por proporcionar uma superfície mais lisa e por remover significativamente mais cálculo. No entanto, as desvantagens associadas ao uso de curetas manuais incluem a dependência direta da habilidade e experiência do operador, além da necessidade de afiamento regular para evitar danos à superfície radicular. Adicionalmente, a ocorrência de hipersensibilidade dentinária é considerada uma desvantagem desse procedimento, resultando na redução do cemento radicular. A eficácia dessa técnica está intimamente ligada à profundidade da bolsa periodontal, uma vez que o acesso a bolsas mais profundas com esses instrumentos manuais torna-se mais desafiador (Claffey, Polyzois e Ziaka, 2004; Heitz-Mayfield e Lang, 2013).

O tratamento periodontal, que compreende a remoção do biofilme patogênico através da raspagem e alisamento radicular, é abordado por Rocha et al. (2021) em seu estudo que, destaca-se a eficácia do desbridamento ultrassônico em toda a cavidade bucal, O tratamento periodontal envolve a eliminação do biofilme patogênico por meio da raspagem e alisamento radicular. A utilização do desbridamento ultrassônico em toda a cavidade bucal proporciona uma instrumentação mais conservadora, mas eficaz, na superfície radicular, realizada em uma única sessão. Isso ajuda a evitar a translocação bacteriana de uma região tratada para outra que já foi abordada.

Vinhos et al. (2020) destacam que o laser Er: YAG exerce uma influência significativa no tratamento não cirúrgico da doença periodontal, apresenta uma abordagem promissora no tratamento não cirúrgico da periodontite. Embora seu uso demande formação especializada e seja mais complexo em comparação com as terapias tradicionais, o laser Er: YAG demonstra a capacidade de higienizar as bolsas periodontais sem causar danos ao tecido residual, incluindo o cemento. Além disso, sua natureza minimamente invasiva contribui para aprimorar o conforto do paciente.

Importância da cooperação do paciente 

O tratamento periodontal tem como objetivo restaurar a saúde oral por meio da eliminação do agente causador da doença. Esse processo segue uma abordagem clínica que normalmente se inicia com a terapia mecânica, seguida pela terapia química e instrução de higiene oral. É crucial que o paciente prossiga com a prática diária da higiene oral para garantir a eficácia do tratamento (Cadilho & Voigt, 2023).

O fator clínico determinante mais crucial na terapia periodontal não reside na técnica empregada (se cirúrgica ou não), mas está intrinsecamente ligado à qualidade do programa de motivação, manutenção e controle, como enfatizado por Padovani e Saba Chujfi em 1991 (Padovani & Saba Chujfi, 1991).

No contexto da prevenção e controle das doenças periodontais, bem como na promoção da compreensão do papel do paciente no tratamento, é imperativo que o profissional de saúde oral assuma a responsabilidade de fornecer informações adequadas, estabelecer uma comunicação eficaz e promover interações que capacitem o paciente a participar ativamente na terapêutica proposta. Reconhece-se que os pacientes com condições periodontais necessitam não apenas de cuidados profissionais periódicos, mas também de esclarecimentos e orientações sobre o controle do biofilme dental, que ocorre diariamente fora do ambiente odontológico (Tolentino et al., 2018).

Quando a higienização oral é negligenciada, o ambiente bucal se torna propício à proliferação bacteriana, conforme destacado por Menezes et al. (2021). Os autores enfatizam a associação direta entre a eficácia da higiene oral, a quantidade e qualidade do biofilme dental, influenciando a prevalência e a magnitude das doenças bucais.

DISCUSSÃO

Na literatura, foi observado em vários trabalhos científicos que não  há diferenças estatisticamente significativas entre os grupos de dentes tratados com raspagem e alisamento radicular e aqueles submetidos à raspagem com acesso cirúrgico em bolsas profundas (PAUL 2014). Esses achados estão em consonância com outros estudos na área, que claramente demonstraram que a periodontite pode ser controlada por meio da terapia convencional de raspagem.

No contexto da utilização de agentes antibióticos como modalidades terapêuticas para a abordagem periodontal, há autores que documentam resultados positivos; no entanto, é imperativo atentar para precauções e critérios específicos relacionados à prescrição (RODRIGUES 2012).

Essas particularidades estão associadas ao Actinobacillus actinomycetemcomitans e à denominada periodontite agressiva (AIMETTI, 2012). O uso indiscriminado e inconsciente desses antibióticos pode resultar em significativas complicações, como o desenvolvimento de resistência bacteriana tanto no biofilme oral quanto no sistema sistêmico.

A terapia não-cirúrgica, notadamente a Raspagem e Alisamento Radicular (RAR), tem sido preconizada como a abordagem padrão para o tratamento da doença periodontal há muitos anos. Esta técnica, centrada na causa, visa à remoção de biofilmes patogênicos, toxinas e cálculos, favorecendo a restauração de uma superfície radicular biocompatível, conforme destacado por Dentino et al. (2013).

Numerosos estudos demonstraram a eficácia e evidência do tratamento periodontal não cirúrgico, especialmente ao analisar os parâmetros inflamatórios pré e pós-terapia. Estes estudos, como os de Querido et al. (2004), Usin et al. (2016) e Cosgarea et al. (2017), indicam a resolução da gengivite e controle associado da placa após a intervenção terapêutica.

De acordo com Claffey e Polyzois (2008), a instrumentação manual e mecânica não cirúrgica, em conjunto com orientações sobre higiene oral, constitui a base para o tratamento da doença periodontal. No contexto desses autores, a instrumentação refere-se à RAR, um procedimento claramente delineado por eles como: 

(…) o procedimento que objetiva a remoção de placa bacteriana e cálculo das superfícies dos dentes. Dependendo da localização dos depósitos, a raspagem é feita por instrumentação supragengival e/ou subgengival.

Segundo Serino et al. (2001), a terapia não-cirúrgica deve ser a primeira abordagem na tentativa de restabelecer uma boa saúde periodontal e retardar o processo da doença. O mesmo afirma que o tratamento periodontal não cirúrgico é eficaz em 80% dos casos, resultando na redução da profundidade da bolsa e no retardamento da perda de inserção. Contudo, nos restantes 20%, evidenciou-se a recorrência da doença nos primeiros anos de manutenção, devido à presença de bolsas significativamente profundas e maior perda de inserção.

O laser pode desempenhar um papel coadjuvante na terapia periodontal não cirúrgica, embora a falta de estudos adequados ainda não permita considerar os lasers como uma alternativa comprovada aos tratamentos convencionais. Suas propriedades bactericidas, capacidade de eliminar o cálculo, habilidade para remover a placa bacteriana e a capacidade de esculpir tecidos moles e duros, juntamente com a promoção de uma reparação mais rápida e previsível desses tecidos, destacam os lasers como uma ferramenta promissora no contexto do tratamento periodontal não cirúrgico. (Mouzinho et al., 2010).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Esta revisão destaca a relevância das terapias não cirúrgicas no contexto do tratamento da periodontite, demonstrando a eficácia da abordagem conservadora, notadamente a raspagem e alisamento radicular. Os avanços recentes na compreensão dos microrganismos envolvidos na periodontite e a evolução das técnicas terapêuticas não cirúrgicas oferecem alternativas promissoras, sublinhando a necessidade da cooperação ativa do paciente como um fator crítico para garantir resultados duradouros. Profissionais de saúde oral desempenham um papel vital ao educar e capacitar os pacientes na manutenção da higiene oral. Integração consistente dessas terapias inovadoras nos protocolos de tratamento é crucial não apenas para a recuperação da saúde bucal, mas também para prevenir complicações sistêmicas associadas à periodontite.

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1Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG. ORCID: https://orcid.org/0009-0007-0665-7694. E-mail: davicarvalho.odonto@gmail.com
2Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). ORCID: https://orcid.org/0009-0004-1394-2504. E-mail: soannyodonto@gmail.com
3Faculdade de Teologia, Filosofia e Ciências Humanas Gamaliel (FATEFIG). ORCID: https://orcid.org/0000-0002-9221-9813. E-mail: amujacy@hotmail.com