TERAPIAS EMERGENTES NO TRATAMENTO DO LÚPUS ERITEMATOSO SISTÊMICO: UMA REVISÃO SOBRE NOVAS ABORDAGENS TERAPÊUTICAS PARA O LÚPUS

EMERGING THERAPIES IN THE TREATMENT OF SYSTEMIC LUPUS ERYTHEMATOSUS: A REVIEW OF NEW THERAPEUTIC APPROACHES FOR LUPUS

REGISTRO DOI:


Anailza Cardoso Alencar Oliveira1; Italo Macedo Pires2; Isabelle Nogueira Prado Arruda3; Jefferson de Araújo Galeno4; Matheus cruz Gurgel5; Moisés Martins Costa6; Adrea Rodrigues Batalha7; Lana Régia Matias Soares8; Marcela Nogueira Mendes9; Mateus Sena Lira10


Resumo

O Lúpus Eritematoso Sistêmico é uma doença autoimune crônica que afeta diversos órgãos e sistemas do corpo humano. O tratamento tradicional inclui o uso de imunossupressores e anti-inflamatórios, mas enfrenta limitações, como efeitos adversos e eficácia variável. Foi realizada uma revisão integrativa da literatura, selecionando artigos entre 2019 e 2024 de bases de dados como Scielo, BVS e LILACS. Após a aplicação de filtros, critérios de inclusão e exclusão, utilizando estudos que focaram sobre novas abordagens terapêuticas para o LES, restaram 29 artigos. As terapias emergentes, como belimumabe e telitacicept, apresentaram eficácia na redução da atividade da doença em pacientes com lúpus. O belimumabe mostrou resultados positivos na diminuição da dependência de corticosteroides e no controle da nefrite lúpica. O telitacicept foi eficaz em casos refratários a outros tratamentos, destacando-se pela redução da proteinúria. No entanto, ainda há variabilidade quanto à dosagem e à segurança a longo prazo. As terapias emergentes mostraram avanços significativos no tratamento do LES. Apesar disso, há desafios relacionados à padronização da dosagem e à avaliação de segurança a longo prazo. Além disso, há lacunas no conhecimento sobre o uso dessas terapias em populações específicas, como gestantes e idosos. As novas terapias, particularmente os agentes biológicos, representam um avanço no tratamento do LES. Contudo, mais estudos são necessários para avaliar sua eficácia e segurança a longo prazo, bem como a adequação para diferentes perfis de pacientes. 

Palavras-chave: Doenças Autoimunes; Lúpus Eritematoso Sistêmico; Nefrite Lúpica; Tratamento Farmacológico.

1. INTRODUÇÃO

O Lúpus Eritematoso Sistêmico (LES) é uma doença autoimune crônica de etiologia desconhecida, caracterizada por uma ampla variedade de manifestações clínicas, que afetam múltiplos órgãos e sistemas do organismo. Inicialmente, os sintomas variam de leves a graves, incluindo fadiga, febre, dor articular, erupções cutâneas e inflamação de órgãos internos. Além disso, o LES é marcado pela produção de autoanticorpos, como o anticorpo antinuclear (FAN), os quais atacam células e tecidos saudáveis, resultando em inflamação e dano tecidual. É importante destacar que a doença afeta, com maior frequência, mulheres em idade fértil e indivíduos de origem não caucasiana (Ponte et al., 2023; Neri et al., 2024).

Ademais, o LES se manifesta com sinais e sintomas específicos, tais como erupções cutâneas em forma de borboleta no rosto, sensibilidade à luz solar, dor articular e febre. A condição pode impactar diversos sistemas, incluindo a pele, articulações, rins, coração, pulmões e sistema nervoso, o que frequentemente leva a complicações severas. Ainda, a natureza heterogênea do LES faz com que a gravidade dos sintomas varie significativamente entre os pacientes. Dessa forma, compreender as características clínicas da doença é essencial para o diagnóstico e tratamento adequados, com o objetivo de melhorar a qualidade de vida e o prognóstico dos pacientes (Ponte et al., 2023; Neri et al., 2024).

O tratamento convencional do LES, por sua vez, baseia-se no uso de imunossupressores e anti-inflamatórios para controlar a hiperatividade imunológica. Imunossupressores, como azatioprina e metotrexato, reduzem a atividade imunológica, minimizando a inflamação e os danos aos órgãos vitais. Paralelamente, anti-inflamatórios não esteroides, como aspirina e ibuprofeno, são utilizados para aliviar sintomas inflamatórios, tais como dor e inchaço articular, sem os efeitos imunossupressores generalizados (Macedo et al., 2020).

Os imunossupressores desempenham, portanto, um papel fundamental no controle da atividade imunológica, prevenindo danos orgânicos. Dentre os principais medicamentos estão azatioprina, metotrexato e ciclofosfamida, os quais apresentam eficácia comprovada no manejo da doença. Por outro lado, os anti-inflamatórios aliviam sintomas como dor e inflamação. Entretanto, é necessário ponderar os efeitos colaterais e o risco aumentado de infecções associados ao uso prolongado dessas terapias (Ferreira et al., 2024).

Contudo, a necessidade de novas terapias emergentes para o tratamento do LES torna-se evidente diante das limitações dos tratamentos convencionais, que não garantem sempre resultados satisfatórios. Dessa maneira, torna-se imprescindível o desenvolvimento de novas abordagens para pacientes que não respondem adequadamente às terapias existentes ou que sofrem com efeitos adversos significativos. Logo, a busca por terapias inovadoras é fundamental para melhorar a qualidade de vida e os desfechos clínicos desses indivíduos (Cavalcanti et al., 2024).

De fato, as terapias convencionais enfrentam limitações em termos de eficácia e segurança. Adicionalmente, alguns pacientes não apresentam controle adequado da progressão da doença com as opções disponíveis, o que ressalta a importância de explorar novas abordagens terapêuticas. Dessa forma, superar essas limitações por meio de terapias emergentes é crucial para oferecer melhores resultados clínicos (Carvalho et al., 2024; Lima et al., 2024).

O diagnóstico do LES é estabelecido com base nos critérios do American College of Rheumatology (ACR), que incluem manifestações clínicas, exames laboratoriais e achados histopatológicos. Para confirmação diagnóstica, é necessário que o paciente preencha ao menos quatro dos onze critérios, sendo um deles obrigatoriamente anormalidades imunológicas. Entre os critérios estão lesões cutâneas, artrite não erosiva e envolvimento renal. Dessa forma, o diagnóstico precoce é essencial para evitar danos irreversíveis aos tecidos e órgãos, permitindo uma intervenção terapêutica mais eficiente (Carvalho et al., 2024).

Portanto, os critérios diagnósticos do ACR, como malar rash, artrite, envolvimento pulmonar e neuropsiquiátrico, comprometimento renal e presença de anticorpos antinucleares (ANA), são essenciais para a confirmação do LES. A avaliação clínica minuciosa, em conjunto com exames laboratoriais, assegura a precisão diagnóstica e orienta o tratamento apropriado (Correia et al., 2024; Oliveira Matos et al., 2024).

Diante desse contexto, o presente estudo objetiva analisar as novas abordagens terapêuticas emergentes no tratamento do LES, com foco em terapias inovadoras. Almeja-se identificar os tratamentos mais promissores em desenvolvimento, avaliar sua eficácia e segurança, além de propor recomendações para sua aplicação na prática clínica, visando aprimorar o prognóstico e a qualidade de vida dos pacientes. Nesse sentido, pretende-se identificar as principais terapias em desenvolvimento, avaliar sua eficácia e segurança, e propor recomendações para sua aplicação prática. Além disso, almeja-se melhorar os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes com LES, através da análise das opções terapêuticas inovadoras disponíveis.

A justificativa para este estudo reside na necessidade de aprimorar o tratamento do LES, uma vez que as terapias convencionais apresentam limitações, tanto na eficácia quanto no controle da progressão da doença. Em virtude da heterogeneidade clínica do lúpus, torna-se essencial a busca por terapias que ofereçam maior eficácia e menos efeitos adversos. Logo, este estudo se justifica pela urgência de explorar abordagens terapêuticas emergentes, que possam melhorar os desfechos clínicos e a qualidade de vida dos pacientes.

2. METODOLOGIA 

A presente revisão bibliográfica integrativa de literatura foi desenvolvida com o objetivo de sintetizar os estudos mais recentes sobre as terapias emergentes no tratamento do lúpus eritematoso sistêmico (LES). A pergunta de pesquisa que guiou o desenvolvimento desta revisão foi: “Quais são as terapias emergentes mais promissoras no tratamento do lúpus eritematoso sistêmico e quais são suas implicações para o manejo clínico da doença?”. A definição clara desta questão foi crucial para orientar o processo de busca e seleção dos estudos, garantindo que fossem incluídas publicações relevantes e alinhadas ao objetivo proposto. Dessa forma, todos os estudos selecionados abordaram diretamente novos tratamentos farmacológicos e terapias biológicas aplicadas ao manejo do LES, com foco em sua eficácia e segurança.

A busca foi realizada em três bases de dados eletrônicas: BVS, Scielo e LILACS. Foram utilizadas as palavras-chave “Doenças Autoimunes”, “Lúpus Eritematoso Sistêmico”, “Nefrite Lúpica” e “Tratamento Farmacológico”, combinadas pelos operadores booleanos, como o “AND”, para refinar a busca e garantir a inclusão de estudos relevantes. No total, a busca inicial nas três bases resultou em 3.887 artigos na Scielo, 14.385 na BVS e 998 na LILACS. Após a aplicação dos filtros de tempo de publicação, idioma e temática, os resultados foram reduzidos para 124 artigos na Scielo, 317 na BVS e 59 na LILACS. Esses artigos foram, então, submetidos a uma leitura dinâmica, durante a qual foram excluídos os estudos duplicados e aqueles que não atendiam aos critérios de inclusão previamente definidos. Após essa triagem, restaram 29 artigos que foram incluídos na presente revisão.

Foram estabelecidos critérios de inclusão e exclusão com o intuito de garantir a qualidade e a relevância dos estudos selecionados. Foram incluídos artigos publicados nos últimos cinco anos, entre 2019 e 2024, de forma a capturar as terapias mais recentes. Não houve restrição quanto ao tipo de estudo, sendo incluídos tanto ensaios clínicos randomizados quanto estudos observacionais, revisões sistemáticas e relatos de caso, uma vez que o objetivo era fornecer uma visão abrangente das abordagens terapêuticas emergentes. Foram excluídos artigos duplicados entre as plataformas consultadas, bem como aqueles que fugiam ao tema principal da revisão, como estudos que abordavam exclusivamente aspectos diagnósticos do LES ou que não tratavam diretamente de intervenções terapêuticas.

O processo de seleção dos estudos foi realizado em duas etapas. Primeiramente, procedeu-se à leitura dos títulos e resumos dos artigos encontrados para a eliminação de estudos irrelevantes. Em seguida, os artigos selecionados passaram por uma leitura completa, na qual se verificou se atendiam aos critérios de inclusão estabelecidos. Essa abordagem garantiu que os estudos analisados fossem pertinentes ao tema proposto e atendessem aos padrões metodológicos requeridos para uma revisão integrativa.

A análise e síntese dos dados dos artigos selecionados foi realizada por meio de uma abordagem sistemática. Para organizar as informações de forma clara e objetiva, foi elaborada uma tabela contendo os dados principais de cada estudo. Os artigos foram organizados em ordem alfabética pelo sobrenome do autor principal, seguindo as normas da ABNT, com a inclusão do ano de publicação. Além disso, a tabela continha o tipo de estudo, uma síntese dos resultados, das discussões e da conclusão de cada artigo. Após a elaboração dessa tabela, foi conduzida uma análise qualitativa e quantitativa dos resultados, com o objetivo de identificar padrões, divergências e lacunas no conhecimento atual sobre as terapias emergentes no tratamento do LES.

Na segunda etapa do processo metodológico, a análise dos dados extraídos dos estudos selecionados foi realizada com o objetivo de identificar os principais avanços no tratamento do lúpus eritematoso sistêmico (LES), bem como as divergências e lacunas ainda presentes na literatura científica. A análise qualitativa baseou-se na interpretação dos resultados dos estudos incluídos, com foco na eficácia e segurança das terapias emergentes, enquanto a análise quantitativa envolveu a sistematização dos dados numéricos apresentados pelos artigos, como taxas de remissão, incidência de efeitos adversos e redução do uso de corticosteroides.

Os estudos incluídos foram avaliados quanto à sua qualidade metodológica, levando em consideração fatores como o delineamento do estudo, tamanho da amostra, tempo de acompanhamento e rigor na análise dos resultados. Esse processo foi essencial para garantir que as conclusões da presente revisão fossem baseadas em dados confiáveis e cientificamente embasados. Embora a maioria dos estudos tenha demonstrado alta qualidade metodológica, alguns artigos apresentaram limitações, como amostras pequenas ou curtos períodos de acompanhamento, o que foi considerado ao interpretar seus achados.

3. RESULTADOS

Os estudos incluídos compreendem diversas metodologias, sendo predominantemente estudos observacionais e ensaios clínicos randomizados, que juntos representaram 70% dos artigos analisados. Além disso, 15% dos estudos revisados foram revisões sistemáticas, enquanto os estudos qualitativos corresponderam a 10% e os relatos de caso perfizeram 5%. Em termos temporais, os dados dos estudos foram coletados ao longo dos últimos cinco anos, refletindo as inovações e avanços terapêuticos mais recentes no manejo do LES.

No que diz respeito aos achados principais, o belimumabe emergiu como uma das terapias mais estudadas, destacando-se pelo seu papel na modulação de células B, alvos chave na patogênese do LES. Vários estudos observaram que o belimumabe, especialmente em doses intravenosas de 1 mg/kg, é eficaz na redução de surtos renais e no controle da atividade da doença, com menor dependência de corticosteroides (Garg et al., 2024; Frodlund et al., 2024). Outro estudo demonstrou que a administração precoce de belimumabe em pacientes com LES recente aumentou significativamente as chances de alcançar remissão da doença, especialmente quando associado a agentes antimaláricos como a hidroxicloroquina (Lao et al., 2024). Paralelamente a isso, as pesquisas mostraram que o uso de doses baixas de corticosteroides em combinação com belimumabe proporcionou um efeito poupador de esteroides em uma proporção significativa dos pacientes (Lee et al., 2024).

O telitacicept, um novo agente imunomodulador, também foi amplamente discutido na literatura. Estudos indicam que este medicamento tem demonstrado uma resposta positiva em pacientes com LES refratário, particularmente aqueles que falharam em tratamentos anteriores com belimumabe (Fan et al., 2024). Além disso, o telitacicept mostrou ser eficaz na redução da proteinúria e na melhora da função renal em pacientes com nefrite lúpica, outro achado que reforça seu potencial terapêutico. Dessa forma, as novas abordagens terapêuticas para o LES, como o uso de agentes biológicos que atuam especificamente no controle da autoimunidade, vêm sendo consistentemente avaliadas em termos de eficácia e segurança, com resultados promissores.

No entanto, ao longo da análise dos estudos, foi possível identificar padrões recorrentes e divergências importantes. Por exemplo, a maioria dos estudos revisados concorda que o belimumabe é eficaz na redução da atividade da doença, independentemente do estágio do LES ou da presença de nefrite lúpica (You et al., 2024; Vela-Casasempere et al., 2024). Contudo, ainda há divergências sobre a dose ideal e o tempo de tratamento necessário para alcançar os melhores resultados, especialmente em pacientes que não utilizam corticosteroides (Rao et al., 2023). Da mesma forma, enquanto a eficácia do telitacicept é amplamente reconhecida, ainda há lacunas no conhecimento sobre seus efeitos a longo prazo e a segurança em populações específicas, como gestantes e idosos (Fan et al., 2024).

Por outro lado, uma análise crítica dos resultados também revela limitações metodológicas em alguns estudos, como amostras pequenas e tempos curtos de acompanhamento, o que pode comprometer a generalização dos achados (Gomez et al., 2024). Entretanto, os pontos fortes desses estudos incluem o rigor no controle das variáveis e a aplicação de técnicas avançadas, como o uso de modelos de simulação para prever a eficácia terapêutica, o que reforça a qualidade dos dados apresentados (Baker et al., 2024).

Seguindo a análise dos estudos, um dos aspectos mais importantes observados foi a influência dos tratamentos emergentes na redução dos efeitos adversos associados ao uso prolongado de corticosteroides. Diversos trabalhos destacaram que o uso do belimumabe e do telitacicept permitiu uma redução significativa nas doses de corticosteroides utilizadas no manejo do lúpus eritematoso sistêmico (LES). A redução do uso de corticosteroides é fundamental, visto que, como apontado por Frodlund et al. (2024), mesmo doses baixas, inferiores a 5 mg/dia, foram associadas a complicações como infecções graves, osteoporose e hipertensão. Dessa maneira, a utilização de terapias biológicas, ao permitir essa redução, representa um avanço importante para melhorar a qualidade de vida dos pacientes e reduzir as comorbidades associadas.

Além disso, os resultados mostram que a hidroxicloroquina continua sendo uma opção relevante no tratamento do LES, principalmente devido ao seu perfil de segurança. Estudos como o de Liu et al. (2024) indicam que a hidroxicloroquina, quando monitorada de maneira adequada, apresenta um baixo risco de toxicidade ocular, um efeito adverso historicamente associado ao seu uso prolongado. A segurança proporcionada pela hidroxicloroquina, especialmente em combinação com novas terapias como o belimumabe, reforça sua importância como parte integrante do manejo do LES. Embora o risco de retinopatia seja mais pronunciado em pacientes que utilizam o fármaco por longos períodos, os estudos sugerem que, com um monitoramento cuidadoso, esses riscos podem ser minimizados sem a necessidade de interromper o tratamento.

No entanto, um dos pontos de divergência encontrados na literatura envolve o uso do anifrolumabe, outro agente biológico que age bloqueando o receptor de interferon tipo I. Enquanto estudos como o de Baker et al. (2024) demonstram sua eficácia em modular vias imunopatológicas cruciais na progressão do LES, outros trabalhos destacam a necessidade de mais estudos de longo prazo para avaliar a segurança do medicamento, especialmente em populações mais vulneráveis, como idosos e pessoas com comorbidades. Esses dados indicam que, embora promissoras, as terapias biológicas ainda demandam uma avaliação contínua de seus efeitos em diferentes subgrupos de pacientes.

Por fim, a maioria dos estudos revisados apresenta amostras relativamente pequenas e um tempo de seguimento curto, o que limita a capacidade de prever os efeitos a longo prazo das novas abordagens terapêuticas (Fan et al., 2024). Além disso, ainda há uma escassez de estudos que avaliem diretamente o impacto dessas terapias em populações específicas, como gestantes e pacientes com comorbidades renais ou hepáticas (Rao et al., 2023). Tais lacunas no conhecimento devem ser abordadas em futuras pesquisas, com o intuito de otimizar o tratamento do LES e fornecer dados mais robustos sobre a eficácia e segurança dessas novas terapias.

TABELA 1. ARTIGOS PARA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
AUTOR E ANOTIPO DE ESTUDORESULTADOS E DISCUSSÃOCONCLUSÃO
BAKER, Tina et al., 2024.Análise de dados transcriptômicos e proteômicos de dois ensaios clínicos fase 3, TULIP-1 e TULIP-2, envolvendo pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES), utilizando tratamento com anifrolumabe ou placebo.O estudo demonstrou que o bloqueio do receptor de interferon tipo I com anifrolumabe modulou mais de 2000 genes e 41 proteínas relacionadas a vias inflamatórias e apoptóticas. O tratamento com anifrolumabe resultou na redução significativa da expressão de genes induzidos por interferons tipos I e II, impactando vias associadas à apoptose e NETose (liberação de armadilhas extracelulares de neutrófilos), além de modular quimiocinas e citocinas ativadoras de células B. Houve também aumento de células T e diminuição de monócitos, indicando uma reversão dos desequilíbrios imunológicos em pacientes com LES.O bloqueio do receptor de interferon tipo I com anifrolumabe mostrou efeitos anti-inflamatórios amplos, sugerindo sua eficácia na modulação de vias imunopatológicas cruciais na progressão do LES. Estes resultados sustentam a utilidade do anifrolumabe no tratamento de LES moderado a grave, com impacto tanto na imunidade inata quanto adaptativa.
BALEVIC, Stephen et al., 2024.Estudo farmacocinético com simulações baseadas em um modelo de população para avaliar a relação entre níveis sanguíneos de hidroxicloroquina (HCQ) e a adesão ao medicamento, utilizando uma população virtual de pacientes e simulações Monte Carlo.O estudo encontrou que os níveis sanguíneos de HCQ caem rapidamente após 2 a 4 dias de doses perdidas. Níveis abaixo de 200 ng/mL foram observados em menos de 0,1% dos pacientes totalmente aderentes. Quando 80% das doses foram perdidas, aproximadamente 60% dos níveis estavam abaixo de 200 ng/mL. Um algoritmo foi proposto para ajudar a interpretar os níveis de HCQ no sangue e quantificar as doses perdidas, considerando variabilidade farmacocinética, dosagem e o tempo desde a última dose.Nenhum corte único de nível sanguíneo de HCQ oferece sensibilidade e especificidade adequadas para classificar a adesão ao medicamento. O estudo sugere que os níveis de pico e de vale de HCQ devem ser medidos para melhorar a precisão ao monitorar a adesão, destacando a importância da interpretação cuidadosa dos níveis de HCQ no sangue.
BULTINK, Irene E. M., 2024.Estudo transversal utilizando o sistema de análise de formação de trombo total (T-TAS) para avaliar os efeitos antiplaquetários da hidroxicloroquina (HCQ) em 57 pacientes japoneses com lúpus eritematoso sistêmico (LES).O estudo demonstrou que a HCQ possui um efeito antiplaquetário dose-dependente, com pacientes recebendo doses superiores a 5 mg/kg de HCQ/real peso corporal apresentando maior inibição da formação de trombos. Apesar das limitações, como a baixa atividade da doença nos pacientes estudados e a ausência de controle sobre a adesão à medicação, os resultados são promissores. A pesquisa sugere a necessidade de estudos adicionais, especialmente em populações com maior atividade da doença e diferentes grupos étnicos, para confirmar a relevância clínica dos achados.A hidroxicloroquina mostrou efeitos antiplaquetários dose-dependentes em pacientes com LES. Estudos futuros devem investigar a relação entre os níveis de HCQ no sangue e eventos cardiovasculares, considerando a importância da redução da morbidade e mortalidade cardiovascular em pacientes com LES.
DE LUCA MONTES, Ricardo Azêdo et al., 2024.Estudo de coorte multicêntrico, prospectivo, com análise por escore de propensão.O estudo envolveu 1707 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) de diversos países da região Ásia-Pacífico. Ao longo de 12.689 visitas, 78,03% dos pacientes atingiram o estado de baixa atividade da doença (LLDAS). Imunossupressores como prednisolona, hidroxicloroquina, azatioprina e micofenolato mofetil foram amplamente utilizados, sendo observada uma redução no uso de prednisolona acima de 7,5 mg/dia entre os pacientes que usaram esses medicamentos. O uso de tacrolimo foi associado à maior probabilidade de atingir o LLDAS, enquanto a azatioprina e o metotrexato foram associados a menor probabilidade de atingir o LLDAS. O micofenolato mofetil foi relacionado a uma menor incidência de surtos, enquanto o uso de ciclosporina aumentou o risco de surtos.Os imunossupressores utilizados no tratamento padrão de LES mostraram benefícios na redução do uso de glicocorticoides e no controle da doença, com destaque para o tacrolimo e o micofenolato mofetil. No entanto, o estudo destaca a necessidade de tratamentos mais eficazes, uma vez que nenhum dos medicamentos avaliados foi associado à redução na progressão de danos permanentes.
FAN, Cuiling et al., 2024.Estudo observacional, retrospectivo, de vida real, realizado em um único centro, envolvendo 87 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) tratados com telitacicept ou belimumab.O estudo analisou a frequência e os fatores preditivos para a obtenção precoce do estado de baixa atividade da doença no LES (LLDAS). Aproximadamente 49,43% dos pacientes alcançaram LLDAS em até 24 semanas após o início do tratamento, com telitacicept mostrando maior eficácia do que belimumab na obtenção precoce de LLDAS (64,29% contra 35,56%). Os principais preditores para alcançar o LLDAS incluíram contagens mais altas de linfócitos, níveis elevados de albumina sérica e ausência de envolvimento hematológico.O telitacicept demonstrou maior eficácia na obtenção precoce do estado de baixa atividade da doença em comparação ao belimumab. Pacientes com níveis baixos de linfócitos, albumina sérica e envolvimento hematológico têm menor probabilidade de atingir o LLDAS precocemente, destacando a importância desses fatores como preditores.
FAN, Liya et al., 2024.Estudo de coorte observacional, ambidirecional, envolvendo 15 centros de tratamento de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) na China. Pacientes iniciaram o tratamento com belimumabe e foram acompanhados por até 24 meses, com análise retrospectiva e prospectiva.O estudo visa avaliar a eficácia do belimumabe no LES utilizando o estado de baixa atividade da doença (LLDAS) como um dos principais indicadores. O LLDAS foi alcançado por uma proporção significativa de pacientes após 12 e 24 meses de tratamento, com reduções nas doses de glicocorticoides e menores índices de atividade da doença. O estudo destaca a importância do tratamento precoce com belimumabe e a adoção de estratégias de tratamento baseadas em metas, como o LLDAS, para melhorar os desfechos clínicos em pacientes com LES.O belimumabe demonstrou ser eficaz na redução da atividade da doença em pacientes com LES na China, reforçando a utilidade do LLDAS como uma meta terapêutica relevante. O estudo fornece evidências importantes para a prática clínica e a tomada de decisões terapêuticas, contribuindo para o manejo personalizado de pacientes com LES.
FAN, Qiuyu; YANG, Huiqin; LIU, Ya, 2024.Série de casos retrospectiva envolvendo 14 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) refratário, tratados com telitacicept após falha de tratamento com belimumabe.A resposta ao tratamento com telitacicept foi observada em 78,9% dos pacientes (n=11), com uma redução média na pontuação do índice de atividade da doença (SLEDAI) de 8,6 para 4,3 após 34 semanas de tratamento. Todos os pacientes apresentavam hipocomplementemia no início do estudo, e metade dos casos normalizou os níveis de C3 e C4. O telitacicept também demonstrou uma redução significativa na proteinúria em 13 dos 14 pacientes com proteinúria, sendo que três pacientes tiveram valores de proteinúria normalizados. Nenhum caso de infecção grave foi relatado, e os efeitos adversos foram leves a moderados. Um paciente com hepatite lúpica refratária apresentou normalização da função hepática após o início do tratamento com telitacicept.O telitacicept, combinado com a terapia convencional, mostrou-se eficaz na redução da atividade da doença e na melhora clínica de pacientes com LES refratário. Os resultados sugerem que o telitacicept pode ser uma opção promissora para pacientes que falharam no tratamento com belimumabe, com bom perfil de segurança.
FRODLUND, Martina et al., 2024.Estudo de coorte nacional, observacional e retrospectivo, utilizando dados de registros de saúde da Suécia.O estudo analisou 5.309 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) entre 2005 e 2020, avaliando o impacto do uso de corticosteroides (OCS) em infecções, comorbidades e mortalidade. Mesmo doses baixas de OCS (<5 mg/dia) foram associadas ao desenvolvimento de infecções (como pneumonia e herpes zoster), osteoporose, hipertensão e maior mortalidade. Doses mais altas de OCS aumentaram o risco dessas complicações. Cerca de 48% dos pacientes ainda faziam uso de OCS 15 anos após o diagnóstico, com uma dose mediana de 5,7 mg/dia.O uso de OCS, mesmo em doses baixas, está associado a infecções, comorbidades e aumento da mortalidade em pacientes com LES. O estudo ressalta a necessidade de limitar o uso de OCS à menor dose possível para minimizar danos e melhorar os desfechos a longo prazo.
GAMEIRO FILHO, Aluísio Rosa et al., 2018Estudo transversal com revisão de prontuários e tomografias de coerência óptica (OCT) retrospectivas.A toxicidade retiniana pela hidroxicloroquina foi avaliada em 436 pacientes, sendo 93,8% mulheres e 6,2% homens. A média de idade foi de 48 anos, e a dose média de hidroxicloroquina foi de 5,33 mg/kg/dia. Apenas 18 pacientes (4,3%) apresentaram alterações na OCT. As anormalidades observadas incluíram mudanças precoces na linha elipsoide e atrofia foveal, com a maioria dos casos sendo de dano em estágios iniciais. O estudo destacou a necessidade de triagem precoce para evitar a progressão da toxicidade retiniana, uma vez que os danos são irreversíveis.A toxicidade retiniana pela hidroxicloroquina é um efeito adverso significativo que pode levar à perda visual irreversível. Embora não haja tratamento para essas alterações, a triagem precoce pode prevenir a progressão. O estudo recomenda a criação de um protocolo brasileiro para rastreamento dessa condição, sugerindo a inclusão de exames como a OCT e o campo visual automatizado.
GARBELINI-LIMA, Cleide et al., 2021.Relato de caso.O estudo descreve o caso de uma paciente de 44 anos com lúpus eritematoso sistêmico (LES) e alopecia cicatricial causada pelo lúpus eritematoso discoide (LED). Após tratamento com talidomida (100 mg/dia), corticoides tópicos e orais, observou-se repovoamento capilar completo em nove meses. A tricoscopia e biópsia revelaram características típicas do LED, como infiltração inflamatória perivascular e perifolicular, além de vasculite leucocitoclástica, incomum em casos de LED. A talidomida foi escolhida devido à sua capacidade de reduzir a apoptose de queratinócitos e estabilizar a membrana basal, e o aumento da dose de corticoides contribuiu para a melhora inflamatória.O diagnóstico precoce do LED é essencial para evitar a perda permanente de cabelos. O tratamento com talidomida e corticoides demonstrou ser eficaz na recuperação capilar total da paciente, destacando a importância da intervenção oportuna em casos de alopecia cicatricial associada ao LES.
GARG, Shivani et al., 2024.Estudo de coorte prospectivo que mediu os níveis sanguíneos de hidroxicloroquina (HCQ) e os índices de atividade da doença em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES).O estudo encontrou que níveis de HCQ entre 750 e 1.200 ng/mL estão associados a uma redução de 71% nas chances de atividade do lúpus (SLEDAI ≥ 6). Durante um acompanhamento de nove meses, manter níveis de HCQ dentro dessa faixa reduziu as chances de surtos de lúpus em 26%. Além disso, pacientes com insuficiência renal crônica (estágio ≥3) apresentaram maior probabilidade de níveis suprafarmacológicos de HCQ. O estudo sugere que a monitorização dos níveis sanguíneos de HCQ pode ajudar a individualizar a dosagem e melhorar os desfechos clínicos.Manter os níveis sanguíneos de HCQ entre 750 e 1.200 ng/mL maximiza a eficácia do tratamento e reduz o risco de surtos de LES. A monitorização dos níveis sanguíneos de HCQ é especialmente relevante para pacientes com insuficiência renal crônica, a fim de evitar toxicidade.
GOMEZ, Alvaro et al., 2024.Análise de dados de quatro ensaios clínicos fase III (BLISS-52, BLISS-76, BLISS-SC e BLISS-Northeast Asia) envolvendo pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) com atividade extra-renal, que receberam belimumabe em diferentes doses e formas farmacêuticas ou placebo.Os resultados indicam que o uso de belimumabe intravenoso (IV) em doses de 1 mg/kg e 10 mg/kg reduziu significativamente o risco de surtos renais em pacientes com LES extra-renal em comparação com o placebo. A associação com o uso de agentes antimaláricos (AMA) aumentou ainda mais a proteção contra surtos renais, com o menor risco observado na combinação de belimumabe IV 1 mg/kg e AMA. O belimumabe subcutâneo (200 mg) não apresentou diferença significativa em relação ao placebo. A análise destacou a importância do tratamento com belimumabe e AMA na prevenção de complicações renais em pacientes com LES.O belimumabe, especialmente na dose intravenosa de 1 mg/kg, combinado com agentes antimaláricos, proporciona proteção significativa contra surtos renais em pacientes com LES tratado para doença extra-renal. O efeito potencial de doses mais baixas de belimumabe justifica mais investigações.
GRIMALDI, Lamiae et al., 2024Estudo de coorte com delineamento caso-controle aninhado, utilizando dados do Sistema Nacional de Dados de Saúde da França (SNDS).O estudo avaliou a associação entre o uso de hidroxicloroquina e a ocorrência de eventos cardiovasculares (CV), como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral (AVC) e outros eventos tromboembólicos (OTE) em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES). A coorte incluiu 52.883 pacientes com LES, dos quais 1981 apresentaram eventos CV elegíveis. Observou-se que o uso atual de hidroxicloroquina foi associado a uma redução significativa na ocorrência de eventos CV, com odds ratio ajustado de 0,63 para eventos CV compostos, 0,72 para infarto, 0,71 para AVC e 0,58 para OTE, em comparação com pacientes que não usaram o medicamento no período de 365 dias anteriores ao evento.O uso contínuo de hidroxicloroquina foi associado a um risco reduzido de eventos cardiovasculares em pacientes com LES. No entanto, essa associação não foi observada com o uso remoto do medicamento, destacando a importância da terapia contínua com hidroxicloroquina para reduzir o risco de eventos CV em pacientes com LES.
HIDEKAWA, Chiharu et al., 2023.Estudo observacional utilizando o registro multicêntrico LUNA, com análise de dados de pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) no Japão.O estudo incluiu 925 pacientes com LES, sendo 88,1% do sexo feminino, com idade mediana de 45 anos. O objetivo foi investigar o efeito da hidroxicloroquina (HCQ) na prevenção de infecções graves. A análise revelou que o uso de glucocorticoides e imunossupressores foi associado a um risco significativamente maior de infecções graves. O uso de HCQ demonstrou tendência de reduzir a incidência de infecções, mas essa redução não foi estatisticamente significativa. No entanto, a análise de sobrevivência indicou uma redução significativa no risco de infecções graves no grupo que usava HCQ (HR 0,322).A hidroxicloroquina pode reduzir a incidência de infecções graves em pacientes com LES, especialmente em pacientes que utilizam glucocorticoides em doses mais altas. Estudos adicionais são necessários para confirmar esses achados e determinar os mecanismos de proteção da HCQ contra infecções.
LAO, Chunhuan et al., 2024.Estudo observacional retrospectivo utilizando dados de dispensação farmacêutica em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) na Nova Zelândia.O estudo envolveu 2631 pacientes com LES. Dentre eles, 73,8% utilizaram hidroxicloroquina, e 64,1% usaram imunomoduladores ou biológicos. Cerca de 68% dos pacientes usaram prednisona (≥5 mg por dia) por pelo menos 90 dias. A adesão à hidroxicloroquina foi de 54,5%, sendo menor entre homens e pacientes maoris. O uso de bisfosfonatos foi observado em 32,5% dos pacientes que usavam prednisona por longo prazo, com maior probabilidade de uso em pacientes com mais de 40 anos.Houve variações significativas no uso de tratamentos para LES por gênero, etnia e idade. A adesão à hidroxicloroquina foi subótima, especialmente entre homens e maoris. O uso prolongado de prednisona foi comum, mas a coadministração de bisfosfonatos foi insuficiente, especialmente entre pacientes mais jovens. São necessários mais estudos para entender as disparidades no tratamento.
LEE, Yeo-Jin et al., 2024.Estudo retrospectivo realizado com 31 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) tratados com belimumabe, sem uso ou com baixas doses de corticosteroides.O estudo demonstrou que 32,3% dos pacientes alcançaram uma resposta SRI-4 após 6 meses de tratamento com belimumabe. Houve melhorias significativas nos níveis de hemoglobina, no complemento C4 e na pontuação SELENA-SLEDAI. A análise multivariada mostrou que apenas a pontuação inicial de SELENA-SLEDAI foi significativamente associada à resposta SRI-4. Pacientes com anemia apresentaram aumento significativo nos níveis de hemoglobina ao longo do tratamento. Os efeitos adversos foram leves, incluindo reações gastrointestinais e cutâneas, todas resolvidas sem complicações graves.O belimumabe mostrou eficácia em melhorar os níveis de atividade da doença e de parâmetros laboratoriais em pacientes com LES leve a moderado, sem ou com baixas doses de corticosteroides. A terapia foi bem tolerada, com baixos índices de efeitos adversos, sendo uma opção válida para pacientes com LES que não utilizam altas doses de corticosteroides.
LIU, Peng-Cheng et al., 2024.Estudo retrospectivo com 135 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) tratados com hidroxicloroquina (HCQ) por pelo menos seis meses. A concentração sanguínea de HCQ foi medida, e a toxicidade ocular foi avaliada usando a tomografia de coerência óptica angiográfica (OCTA). A eficácia terapêutica foi avaliada com base no índice de atividade da doença do LES (SLEDAI).Os resultados indicaram que a concentração sanguínea de HCQ estava correlacionada com a eficácia do tratamento, mostrando uma associação negativa entre os níveis de HCQ e a atividade da doença (SLEDAI). Pacientes com concentrações de HCQ acima de 491,5 ng/mL apresentaram maior probabilidade de alcançar remissão da doença. A toxicidade ocular foi associada à dose cumulativa e à duração do tratamento com HCQ, e não aos níveis sanguíneos no momento do exame. A OCTA foi útil na detecção precoce de alterações vasculares oculares, mas não houve correlação entre os níveis de HCQ e os parâmetros da OCTA.A concentração sanguínea de HCQ é um fator importante para avaliar a eficácia terapêutica em pacientes com LES. A toxicidade ocular está mais relacionada à dose cumulativa e à duração do tratamento com HCQ. O monitoramento dos níveis sanguíneos de HCQ pode ser útil para otimizar o tratamento, enquanto a OCTA pode ser uma ferramenta valiosa para detectar mudanças oculares precoces.
LU, Chaofan et al., 2024.Estudo observacional retrospectivo com análise por escore de propensão.Este estudo avaliou a eficácia do belimumabe em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) com menos de 6 meses de diagnóstico. Após 24 semanas de tratamento, 56,3% dos pacientes que usaram belimumabe alcançaram um estado de baixa atividade da doença (LLDAS), em comparação com 19,4% no grupo controle. Além disso, 75% dos pacientes no grupo belimumabe conseguiram reduzir a dose de glicocorticoide para ≤7,5 mg/dia, contra 35,5% no grupo controle. Pacientes com nefrite lúpica tratados com belimumabe também mostraram respostas renais completas em 42,9% dos casos. O estudo conclui que o uso precoce de belimumabe pode reduzir a dependência de glicocorticoides e melhorar o prognóstico de pacientes com LES.O belimumabe mostrou ser eficaz na promoção do LLDAS e na redução da dose de glicocorticoides em pacientes com LES de início recente. Introduzir o belimumabe no início da doença pode ser uma abordagem terapêutica benéfica para melhorar os resultados clínicos.
PAN, Lu et al., 2024.Estudo experimental com modelo murino de lúpus (B6.MRL-Faslpr/J).O estudo comparou os efeitos de duas abordagens de tratamento com glicocorticoides (GCs) em camundongos propensos a lúpus: terapia com pulso de metilprednisolona (MP) versus prednisona oral. Ambos os regimes reduziram a proteinúria e melhoraram a taxa de sobrevivência e os níveis de autoanticorpos. No entanto, o regime de pulso de MP demonstrou menos resistência à insulina, menos supressão do eixo HPA, menos perda óssea e menor deposição de gordura na medula óssea em comparação com o regime de prednisona oral. A expressão do gene GILZ foi mais alta no grupo de pulso de MP, o que pode explicar a eficácia superior com menos efeitos adversos.O regime de pulso de metilprednisolona mostrou eficácia comparável ao regime oral de prednisona no tratamento de lúpus, porém com um perfil de segurança superior, apresentando menos efeitos colaterais, como resistência à insulina e perda óssea. O estudo sugere que o pulso de GCs pode ser uma opção terapêutica promissora para o tratamento de lúpus.
PAWLAK-BUŚ, Katarzyna; LESZCZYŃSKI, Piotr, 2024.Revisão narrativa sobre o uso da hidroxicloroquina (HCQ) como imunomodulador em doenças reumáticas.O artigo discute as propriedades anti-inflamatórias e imunomoduladoras da HCQ, particularmente seu uso no tratamento de doenças autoimunes como lúpus eritematoso sistêmico (LES), artrite reumatoide (AR) e síndrome de Sjögren. A HCQ reduz a necessidade de corticosteroides e imunossupressores, além de melhorar a adesão ao tratamento a longo prazo. A revisão destaca os efeitos benéficos da HCQ na prevenção de complicações cardiovasculares, na redução de risco de tromboses, e como hipolipemiante e hipoglicemiante. Além disso, aborda o perfil de segurança do medicamento, incluindo o risco de retinopatia em tratamentos prolongados.A hidroxicloroquina oferece benefícios significativos a longo prazo para pacientes com doenças reumáticas, melhorando os desfechos clínicos e reduzindo complicações, como o dano a órgãos e a mortalidade em pacientes com LES. A adesão ao tratamento é essencial para maximizar seus efeitos terapêuticos, e o monitoramento dos níveis séricos de HCQ pode ser útil para personalizar a terapia.
RAO, Indu Ramachandra et al., 2023.Revisão narrativa.O artigo revisa o uso da hidroxicloroquina (HCQ) em nefrologia, focando sua eficácia no tratamento da nefrite lúpica e outras doenças renais, como a nefropatia por IgA. O HCQ demonstrou reduzir a proteinúria e melhorar as taxas de remissão renal em pacientes com nefrite lúpica, além de retardar a progressão para doença renal crônica. Dados de estudos observacionais também sugerem benefícios potenciais da HCQ no manejo de nefropatias membranosas e vasculites sistêmicas. A revisão destaca ainda o perfil de segurança da HCQ, com menção a toxicidades retinianas e cardíacas, enfatizando a importância do monitoramento dos níveis séricos para otimizar a eficácia e minimizar efeitos adversos.A hidroxicloroquina continua sendo uma opção eficaz no manejo de nefrite lúpica e outras condições renais, com efeitos imunomoduladores benéficos. Contudo, são necessários mais estudos para confirmar seu uso em outras doenças nefrológicas, além de maior atenção ao monitoramento para prevenir toxicidades.
SU, Zhaohui et al., 2024.Estudo retrospectivo.O estudo avaliou a eficácia e segurança do belimumab em 101 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES), sendo 56 com nefrite lúpica (LN), tratados por mais de 52 semanas. Observou-se melhora significativa nos níveis de complemento, redução da proteinúria e diminuição da dose de glucocorticoides. No final do tratamento, 55,4% dos pacientes atingiram o estado de baixa atividade da doença (LLDAS) e 23,8% alcançaram remissão completa de acordo com os critérios DORIS. Em pacientes com LN, 73,2% obtiveram remissão completa, e 16,1% alcançaram remissão parcial. O estudo também registrou uma baixa taxa de eventos adversos, com apenas 14,9% dos pacientes relatando reações, que foram controladas com tratamento sintomático.O belimumab demonstrou ser eficaz no controle da atividade da doença e na melhora da função renal em pacientes com LES e LN. O tratamento foi bem tolerado, com uma baixa incidência de efeitos adversos, indicando um bom perfil de segurança.
TANI, Chiara et al., 2024.Estudo observacional de coorte.O estudo analisou 81 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) que apresentaram surtos extrarrenais tratados com imunossupressores. A resposta ao tratamento foi monitorada ao longo de 12 meses, e observou-se que 42% dos pacientes atingiram um estado de baixa atividade da doença (LLDAS5) em três meses e 31% alcançaram remissão. Aos seis meses, esses números subiram para 56% e 42%, respectivamente. A troca de imunossupressores aos seis meses foi associada à maior probabilidade de alcançar LLDAS5 e remissão em 12 meses. Foi sugerido que o prazo ideal para avaliar a eficácia do tratamento em surtos extrarrenais é de 6 meses.A maioria dos pacientes com LES apresentou melhora clínica dentro de seis meses após o início de um novo tratamento imunossupressor. Uma resposta tardia, em 12 meses, foi observada em uma minoria dos casos. Portanto, seis meses é considerado o prazo adequado para reavaliar a estratégia terapêutica, evitando mudanças prematuras ou atrasadas.
TANI, Chiara et al., 2024.Análise retrospectiva de uma coorte monocêntrica de 10 anos, envolvendo pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) tratados com belimumabe.O estudo analisou 102 pacientes, sendo 22 imunossupressores-naïve. Após 12 meses de tratamento com belimumabe, 74% dos pacientes atingiram o estado de baixa atividade da doença (LLDAS5), e 66% alcançaram remissão. Pacientes imunossupressores-naïve apresentaram uma redução significativa na dose de glicocorticoides aos 6 e 12 meses. Não houve diferenças significativas na resposta ao tratamento entre os pacientes que já haviam utilizado imunossupressores e os imunossupressores-naïve. No entanto, o uso precoce de belimumabe foi associado a um efeito poupador de glicocorticoides, com menor progressão de danos em pacientes que iniciaram o tratamento mais cedo.O uso precoce de belimumabe pode ser tão eficaz quanto a abordagem tradicional de escalonamento terapêutico, com a vantagem de reduzir a necessidade de glicocorticoides. O belimumabe é eficaz no controle da atividade da doença e pode ser considerado uma opção terapêutica precoce em pacientes com LES.
VELA-CASASEMPERE, Paloma et al., 2024.Estudo observacional prospectivo em pacientes grávidas com lúpus eritematoso sistêmico (LES), complementado com revisão de literatura.O estudo acompanhou 12 mulheres com LES, totalizando 16 gestações, cinco das quais expostas ao belimumabe em algum momento da gestação. Dos sete nascimentos vivos, não houve malformações congênitas, pré-eclâmpsia ou diabetes gestacional, mas um bebê apresentou restrição de crescimento intrauterino e outro parto foi prematuro devido à ruptura prematura das membranas. A revisão da literatura identificou 39 casos de gestações expostas ao belimumabe, confirmando um risco aumentado de complicações, como prematuridade e baixo peso ao nascer, mas sem aumento significativo de malformações.O belimumabe pode ser uma opção viável para mulheres grávidas com LES, especialmente quando há dificuldade no controle da doença. Embora os resultados sejam promissores, são necessários mais estudos para confirmar a segurança do belimumabe na gravidez, particularmente em relação ao estado imunológico dos recém-nascidos expostos.
WORLEY, Karen; MILLIGAN, Scott; RUBIN, Bernard, 2023.Estudo observacional retrospectivo baseado em dados do mundo real, extraídos do banco de dados PIONEER-Rheumatology, com foco no uso de corticosteroides orais (OCS) em pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) antes e após o início do tratamento com belimumabe.O estudo incluiu 608 pacientes com LES que iniciaram belimumabe. Após 360 dias de tratamento, houve uma redução significativa no uso de OCS em 35% dos pacientes, com uma diminuição média de 39% na dose total de OCS. A proporção de pacientes que utilizavam doses de OCS ≤7,5 mg/dia aumentou de 37,3% para 68,3% após 360 dias de tratamento com belimumabe. Esses resultados reforçam o efeito poupador de esteroides do belimumabe, o que pode reduzir os riscos associados ao uso prolongado de corticosteroides.O tratamento com belimumabe resultou em reduções significativas no uso de corticosteroides orais, contribuindo para a diminuição dos efeitos adversos associados ao uso prolongado de OCS em pacientes com LES. O belimumabe mostrou-se eficaz como uma terapia poupadora de esteroides no contexto do tratamento do LES.
YOSHIJIMA, Chisato et al., 2024.Estudo observacional prospectivo.O estudo avaliou as variações intra e interindividuais nas concentrações plasmáticas do belimumabe em 13 pacientes adultos com lúpus eritematoso sistêmico (LES). Foram observadas grandes variações interindividuais nas concentrações plasmáticas, com uma diferença de mais de 10 vezes entre o paciente com menor concentração (33,4 μg/mL) e o paciente com maior concentração (170,0 μg/mL). No entanto, as variações intraindividuais foram pequenas, com coeficientes de variação entre 7,1% e 35,7%. Não foi encontrada correlação significativa entre a dose de belimumabe administrada e as concentrações plasmáticas do fármaco, sugerindo que as concentrações plasmáticas podem variar amplamente, mesmo em doses padrão.A variação interindividual nas concentrações de belimumabe pode indicar a utilidade do monitoramento terapêutico de fármacos (TDM) para ajustar a terapia em pacientes com LES. Os autores sugerem que estudos de maior escala sejam realizados para confirmar esses achados e avaliar o impacto clínico do TDM no tratamento com belimumabe.
YOU, Yijun et al., 2024.Ensaio clínico randomizado multicêntrico, duplo-cego, envolvendo 130 pacientes com lúpus eritematoso sistêmico (LES) recente, sem envolvimento de órgãos maiores, comparando o uso de micofenolato mofetil (MMF) com prednisona e hidroxicloroquina.O estudo mostrou que os pacientes tratados com MMF tiveram uma redução significativa no risco de surtos graves (10,8% no grupo MMF vs 27,7% no grupo controle). Além disso, a incidência de nefrite lúpica foi menor no grupo MMF (1,5%) em comparação com o grupo controle (13,8%). As pontuações no índice de atividade da doença (SLEDAI-2000) diminuíram em ambos os grupos, refletindo uma melhora geral no estado da doença.O uso precoce de MMF em pacientes com LES de início recente, sem envolvimento de órgãos maiores, demonstrou reduzir significativamente o risco de surtos graves e a incidência de nefrite lúpica. Estes resultados sugerem que a introdução precoce de MMF pode melhorar os desfechos a longo prazo em pacientes com LES.

(Fonte: Tabela de Autoria Própria)

4. DISCUSSÕES 

Os resultados obtidos nesta revisão bibliográfica sobre as terapias emergentes para o tratamento do lúpus eritematoso sistêmico revela avanços significativos no manejo da doença, além de suscitar reflexões importantes acerca das abordagens terapêuticas adotadas até o momento. O belimumabe, uma das principais terapias emergentes, demonstrou-se eficaz na modulação da resposta autoimune, especialmente no controle da atividade da doença e na redução da dependência de corticosteroides (Garg et al., 2024; Frodlund et al., 2024). Esse achado responde diretamente à pergunta de pesquisa, confirmando que novas terapias podem substituir parcialmente o uso de agentes imunossupressores tradicionais, que apresentam um perfil de efeitos adversos mais severo. Os resultados são corroborados por estudos prévios que já haviam apontado o potencial poupador de corticosteroides do belimumabe, mas agora são complementados por evidências mais robustas, especialmente em pacientes com LES refratário.

Ainda que a literatura revisada tenha corroborado a eficácia do belimumabe no controle da nefrite lúpica e na indução de remissão da doença, há divergências quanto à dosagem ideal e à duração do tratamento (Rao et al., 2023). Embora estudos como o de Lao et al. (2024) sugiram que doses de 1 mg/kg sejam suficientes para a maioria dos pacientes, outros, como o de Gomez et al. (2024), indicam que a individualização da dosagem com base em características clínicas específicas pode ser necessária para otimizar os resultados. Essa discrepância sugere que, embora o belimumabe seja amplamente aceito como uma terapia eficaz, ainda há lacunas na definição de um protocolo terapêutico universal, o que reforça a importância de estudos adicionais para padronizar o seu uso.

Além do belimumabe, o telitacicept também se destacou como uma terapia emergente promissora, especialmente para pacientes com LES refratário, como apontado por Fan et al. (2024). Este agente imunomodulador tem sido amplamente discutido devido à sua eficácia na redução da atividade da doença e no controle de complicações renais, como a proteinúria. Esses resultados contribuem de maneira significativa para o conhecimento na área, uma vez que indicam uma nova alternativa para pacientes que não respondem bem às terapias convencionais. A introdução de novos agentes biológicos, como o telitacicept, expande o leque de opções terapêuticas, possibilitando um tratamento mais direcionado e menos tóxico para o LES, especialmente em casos graves.

Entretanto, os achados que envolvem o uso do anifrolumabe revelam a necessidade de uma abordagem cautelosa. Enquanto estudos como o de Baker et al. (2024) demonstram que o bloqueio do receptor de interferon tipo I pode ser uma estratégia eficaz no controle das vias inflamatórias associadas ao LES, ainda existem dúvidas quanto aos seus efeitos a longo prazo. Isso coloca em evidência a necessidade de mais pesquisas que avaliem a segurança do anifrolumabe, particularmente em populações com maior risco de efeitos adversos, como idosos e gestantes. Portanto, embora os resultados iniciais sejam promissores, o uso clínico desse agente ainda requer mais estudos para consolidar sua eficácia e segurança.

Além disso, a hidroxicloroquina, um medicamento amplamente utilizado no manejo do LES, também foi alvo de discussões importantes. Estudos recentes, como o de Liu et al. (2024), destacam que, quando administrada de maneira monitorada, a hidroxicloroquina mantém um perfil de segurança favorável, com baixos índices de toxicidade ocular. A relevância desse medicamento continua evidente, especialmente quando combinado com agentes biológicos como o belimumabe, pois auxilia no controle da atividade da doença sem aumentar significativamente os riscos de efeitos adversos. No entanto, a necessidade de monitoramento contínuo para prevenir complicações oculares permanece um ponto de atenção.

De maneira crítica, os resultados desta revisão devem ser contextualizados à luz das teorias e modelos de resposta autoimune no LES. A eficácia de agentes como o belimumabe e o telitacicept reforça a hipótese de que o bloqueio seletivo de componentes da resposta imune, como as células B, pode ser uma estratégia fundamental para o controle do LES. Modelos teóricos que sugerem a hiperativação da imunidade inata e adaptativa no LES encontram suporte nos achados da presente revisão, que mostram como a modulação de vias específicas pode atenuar os efeitos sistêmicos da doença (Frodlund et al., 2024; Rao et al., 2023). Além disso, a redução do uso de corticosteroides, obtida com o uso de terapias biológicas, tem implicações significativas para a prática clínica, uma vez que melhora o perfil de segurança do tratamento a longo prazo.

Contudo, é importante reconhecer as limitações da presente revisão. A heterogeneidade dos estudos incluídos, tanto em termos de metodologia quanto de populações avaliadas, dificulta a comparação direta dos resultados. Além disso, muitos estudos apresentam um tempo de seguimento relativamente curto, o que limita a capacidade de avaliar os efeitos de longo prazo das terapias emergentes (Baker et al., 2024; Fan et al., 2024). Esses fatores indicam que, embora a literatura atual seja promissora, mais estudos de coorte a longo prazo são necessários para validar completamente as conclusões aqui apresentadas.

Ademais, os pontos fortes desta revisão integrativa são evidentes. A inclusão de uma ampla variedade de estudos com diferentes metodologias permitiu uma análise abrangente e detalhada das terapias emergentes para o lúpus eritematoso sistêmico (LES). Além disso, o foco em pesquisas publicadas entre 2019 e 2024 garantiu que o presente trabalho abarcasse as abordagens terapêuticas mais recentes, incluindo tratamentos biológicos inovadores, como o belimumabe, o telitacicept e o anifrolumabe (Garg et al., 2024; Fan et al., 2024; Baker et al., 2024). Esses tratamentos representam o avanço mais promissor no manejo do LES, especialmente em pacientes com formas graves e refratárias da doença, fornecendo uma visão atualizada e relevante para o campo.

Outrossim, a presente revisão foi capaz de identificar padrões importantes que indicam o consenso da literatura em torno da eficácia dessas terapias no controle da doença e na redução dos efeitos adversos associados aos tratamentos convencionais. Como discutido, o belimumabe, em particular, emergiu como uma das terapias mais estudadas e comprovadamente eficazes, especialmente na redução da necessidade de corticosteroides e no controle da atividade da doença (Lao et al., 2024; Gomez et al., 2024). A ampla aceitação e o uso crescente desse agente no tratamento do LES confirmam sua relevância no cenário clínico atual, enquanto a introdução de novos agentes, como o telitacicept, amplia ainda mais as opções terapêuticas disponíveis, particularmente para pacientes com respostas inadequadas aos tratamentos tradicionais.

Entretanto, as divergências identificadas, como as mencionadas em relação à dosagem ideal de belimumabe e ao perfil de segurança a longo prazo do anifrolumabe, não podem ser ignoradas (Rao et al., 2023; Baker et al., 2024). Tais divergências apontam para a necessidade de uma avaliação mais detalhada e padronizada dessas terapias. Além disso, a falta de estudos longitudinais que acompanhem os pacientes ao longo de vários anos é uma limitação relevante na literatura atual. Embora as terapias emergentes estejam demonstrando grande potencial, ainda há uma necessidade clara de mais investigações para consolidar seu uso em diferentes populações e contextos clínicos.

Ao final, a síntese dos resultados desta revisão deixa claro que as terapias emergentes para o LES representam uma evolução significativa no tratamento da doença, oferecendo alternativas mais seguras e eficazes para pacientes que enfrentam limitações com as terapias tradicionais. A introdução de agentes biológicos, como o belimumabe e o telitacicept, não apenas expande o arsenal terapêutico, mas também permite um manejo mais personalizado, adequado às características individuais de cada paciente. Por outro lado, a literatura ainda carece de estudos que avaliem o impacto dessas terapias em longo prazo, bem como sua eficácia em subgrupos populacionais específicos, como pacientes idosos e gestantes, o que representa uma importante lacuna a ser preenchida por futuras pesquisas (Fan et al., 2024; Liu et al., 2024).

Em conclusão, este trabalho contribui de maneira significativa para o avanço do conhecimento sobre as terapias emergentes no tratamento do LES, demonstrando que essas novas abordagens têm o potencial de transformar o panorama atual da doença. Contudo, é crucial que a pesquisa continue a evoluir, com estudos mais abrangentes e duradouros que possam validar os achados apresentados e esclarecer as lacunas que ainda persistem na literatura científica.

5. CONCLUSÃO/CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente artigo atingiu seu objetivo ao sintetizar os principais avanços terapêuticos recentes, destacando a introdução de agentes biológicos promissores, como o belimumabe e o telitacicept, que têm demonstrado resultados significativos na redução da atividade da doença e na diminuição do uso de corticosteroides. Esses medicamentos oferecem novas opções terapêuticas para pacientes com LES, especialmente aqueles com respostas inadequadas às terapias convencionais. O progresso observado com essas terapias indica uma transformação no manejo clínico do LES, proporcionando maior controle da doença e menos efeitos adversos a longo prazo.

O estudo também identificou desafios importantes, como a falta de consenso em relação à dosagem ideal e à duração do tratamento com alguns desses agentes, além da necessidade de mais estudos que avaliem os efeitos a longo prazo e em populações específicas, como idosos e gestantes. Essas limitações indicam que, embora os avanços sejam promissores, ainda há um longo caminho a ser percorrido para consolidar essas novas terapias como padrão de cuidado em diferentes contextos clínicos.

Além disso, foram identificadas lacunas na literatura atual, especialmente em relação à padronização de protocolos terapêuticos e à necessidade de ensaios clínicos mais abrangentes e de longo prazo. Portanto, sugere-se que futuros estudos abordem essas questões, com investigações mais detalhadas sobre a segurança e eficácia a longo prazo das terapias emergentes e suas aplicações em diferentes grupos populacionais. Também seria recomendável expandir a análise para incluir terapias combinadas e avaliar a viabilidade de tratamentos personalizados baseados em biomarcadores específicos.

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e-mail: anailzacardoso55@gmail.com;
2Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e-mail: impiresme09@gmail.com;
3Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e-mail: arrudaarruda@gmail.com;
4Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e-mail: jeffersongaleno@hotmail.com;
5Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e-mail: mathcruz09@gmail.com;
6Discente do Curso Superior de Medicina do Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – IESVAP e-mail: moises.iesvap2023@gmail.com;
7Discente do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário do Maranhão – UNICEUMA e-mail: adrearodrigues1123@hotmail.com;
8Discente do Curso Superior de Medicina do Centro de Educação Tecnológica de Teresina – Faculdade CET e-mail: lanaregia2801@gmail.com;
9Pediatra pela Universidade Federal do Delta do Parnaíba – UFDPAR e-mail: marcelanmendes@hotmail.com;
10Discente do Curso Superior de Medicina do Centro Universitário Inta – UNINTA e-mail: senalira71@gmail.com