TERAPIA MANUAL NO TRATAMENTO DA CEFALEIA: REVISÃO DE LITERATURA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8034172


João Paulo de Sousa Veras
João Victor Neves Veras
Franscisco Valmor Macêdo Cunha
Orientadora: Profª Me. Maria Evangelina de Oliveira


RESUMO

Introdução: Em 2019 a cefaléia foi considerada uma das principais causas de incapacidade em adulto gerando agravos à saúde mental em altos níveis de inatividade física e pior autopercepção de saúde. Objetivo: realizar uma busca na literatura sobre a utilização da terapia manual no tratamento da cefaleia e verificar sua eficácia. Metodologia: Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, exploratória e qualitativa resultando em uma amostra final de 7 artigos que foram colhidos do banco de dados BVS, PUBMED E SCIELO, utilizando critérios de inclusão: estudos de ensaio clínico randomizados publicados em inglês, onde se investiga a eficácia da terapia manual no tratamento da cefaleia em que ocorre a identificação do tema, interpretação dos resultados e a sintetização das evidências mais relevantes publicados entre os anos de 2013 a 2023. tendo como critério de exclusão: artigos duplicados, com foco ou associado a outra patologia e a combinação da terapia manual com outra técnica. a elaboração da pergunta norteadora se deu através da utilização da técnica PICOS. Resultados: Como resultado das buscas, foram identificados 50 artigos, sendo 14 artigos na base de dados BVS, 34 artigos no Pubmed e 2 artigos no Scielo, porém apenas 7 artigos evidenciaram as técnicas utilizadas, bem como suas efetividades em cima do tratamento da cefaleia. Considerações Finais: Diante do que foi abordado, conclui-se que no cenário da terapia manual existem boas evidências científicas e alta resolutividade com baixo custo e em pouco tempo de tratamento. As técnicas de terapia manual encontradas neste estudo mostraram-se uma alternativa segura e relevante contribuindo para a redução da intensidade e frequência dos episódios de dor de cabeça, com exceção da Liberação miofascial em pontos gatilhos.

ABSTRACT

Introduction: In 2019, headache was considered one of the main causes of disability in adults, generating mental health problems in high levels of physical inactivity and worse self-perception of health. Objective: to carry out a literature search on the use of manual therapy in the treatment of headache and verify its effectiveness. Methodology: This is an integrative, exploratory and qualitative literature review resulting in a final sample of 7 articles that were collected from the BVS, PUBMED and SCIELO database, using inclusion criteria: randomized clinical trial studies published in English, where the effectiveness of manual therapy in the treatment of headache is investigated, in which the theme is identified, the results are interpreted and the most relevant evidence is synthesized between 2013 and 2023. The exclusion criterion is: duplicate articles, with a focus or associated with another pathology and the combination of manual therapy with another technique. the elaboration of the guiding question took place through the use of the PICOS technique. Results: As a result of the searches, 50 articles were identified, 14 articles in the BVS database, 34 articles in Pubmed and 2 articles in Scielo, but only 7 articles showed the techniques used, as well as their effectiveness on the treatment of headache. Final considerations: In view of what was discussed, it is concluded that in the scenario of manual therapy there is good scientific evidence and high resolution at low cost and in a short treatment time. The manual therapy techniques found in this study proved to be a safe and relevant alternative, contributing to the reduction in the intensity and frequency of headache episodes, with the exception of Myofascial Release in trigger points.

1 INTRODUÇÃO

A cefaléia foi considerada umas das principais causas de incapacidade em adultos abaixo dos 50 anos e em adolescentes no ano de 2019. A dor de cabeça incapacitante está relacionada à agravos da saúde mental, altos níveis de inatividade física e pior autopercepção de saúde, possui ainda alta prevalência no absenteísmo escolar e laboral e interfere nas atividades diárias e uso de medicamentos (OLIVEIRA et al, 2023).

As cefaleias se classificam em primárias e secundárias. As primárias são mais comuns, desencadeadas sem causa clínica determinável, as principais são a enxaqueca e a cefaleia do tipo tensional enquanto as secundárias apresentam como sintomas consequentes de patologias variadas, podendo também estar associadas a infecções sistêmicas, disfunções endócrinas, hemorragia cerebral, dentre outras intercorrências (FREITAS, 2013).

Dentre os tratamentos não medicamentosos da cefaleia, a terapia manual é umas das estratégias mais escolhidas por pacientes com dor de cabeça devido à sua resolutividade que se baseia na avaliação analítica e tratamento de estruturas como músculos, tendões fáscias e articulações, inclusive suturas cranianas detectando sintomas e condições e estimulando sua autocorreção (SILVA, 2021).

A terapia manual é um dos recursos terapêuticos utilizados pela fisioterapia no tratamento de disfunções musculoesqueléticas que consiste em técnicas físicas manuais ou com auxílio de instrumentos que promovem alterações teciduais de ordem local e sistêmica (MILLSTINE, 2017). Este recurso adquiriu grande importância por obter resultados com boa evidência científica em diversas disfunções e patologias em pouco tempo de tratamento e o baixo custo (GROENEWEG, 2010). 

O uso de medicamentos de forma contínua para controle da intensidade e diminuição dos episódios de cefaleia fazem com que a busca por tratamento conservador tenha predileção pela terapia manual que apresenta resultados rápidos e consolidados.  

Considerando que a cefaleia é uma patologia que causa grande incapacidade tanto laboral quanto funcional, a terapia manual se apresenta como uma valiosa ferramenta do fisioterapeuta e tem se mostrado uma alternativa de tratamento de baixo custo e relevante eficácia, no entanto poucos estudos foram realizados mostrando a eficácia dessa modalidade terapêutica.

Desse modo, este estudo objetiva avaliar os desdobramentos do emprego da terapia manual no tratamento da cefaléia em artigos publicados que tratam a respeito do tema,  com o intuito de entender a efetividade desta técnica no tratamento da mesma.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa de literatura, exploratória e qualitativa. De acordo com Souza (2010) este tipo de estudo é composto por 6 fases, sendo: elaboração da pergunta norteadora; busca ou amostragem de literatura; coleta de dados; análise crítica dos estudos incluídos; discussão dos resultados; e apresentação da revisão integrativa.

Para formular a questão norteadora, foi utilizada a estratégia “PICOS” representando os dados: P – Population; I – Intervention; C – Comparison; O – Outcomes; S – Study da seguinte forma: (P) População Adulta; (I) Terapia Manual; (C) a) Placebo ou Controle e/ou b) outras técnicas; (O) Redução da frequência e intensidade dos sintomas da cefaleia; (S) Ensaios clínicos randomizados conforme quadro 1 a seguir (GALVÃO: PEREIRA, 2014).

Figura 1 – Estratégia de busca PICOS.

Através da estratégia PICOS citada no figura 1, buscou-se responder a questão norteadora: “A terapia manual, aplicada de maneira isolada, é eficaz no tratamento da cefaléia?” 

A base de dados utilizada para o desenvolvimento desta pesquisa consiste na leitura e classificação de artigos científicos pertinentes à matéria abordada, coletados a partir de publicações científicas disseminadas nos últimos 10 (dez) anos – 2013/2023 – em banco de dados científicos tais como a PUBMED, SCIELO e BVS, usando palavras-chave como “Terapia manual”; “Cefaleia”; “Fisioterapia” e Filtros: “Ensaio Clínico Randomizado”; “Texto Completo Disponível”, com o operador AND conforme o quadro 2 a seguir exposto.

Os critérios de inclusão adotados restringem-se a estudos de ensaio clínico randomizados onde se investiga a eficácia da terapia manual no tratamento da cefaleia em que ocorre a identificação do tema, interpretação dos resultados e a sintetização das evidências mais relevantes. 

Como critério temporal foram selecionados artigos científicos publicados nos últimos 10 anos, de 2013 a 2023 com textos completos disponíveis gratuitamente nas línguas portuguesa e inglesa. Como critério de exclusão foram retirados os artigos duplicados, com foco ou associado a outra patologia e a combinação da terapia manual com outra técnica.

3 RESULTADOS

Como resultado das buscas, foram identificados 50 artigos, sendo 14 artigos na base de dados BVS, 34 artigos no Pubmed e 2 artigos no Scielo.

Dentre os estudos selecionados, dois autores utilizaram manipulação e mobilização, (Dunning et al. (2018) e Lerner-Lentz et al. (2021)), três autores utilizaram apenas manipulação (Haas et al. (2018); Munoz et al. (2021) e Rolle et al. (2014), um autor utilizou energia muscular e liberação miofascial (Esterov et al. (2021)) e um autor utilizou apenas liberação miofascial no tratamento de cefaléia (Moraska et al. (2015)). Sendo que dois estudos abordaram a cefaleia do tipo tensional (Moraska et al.(2015) e Rolle et al. (2014)) e 1 artigo, a enxaqueca (Munoz-Gomez et al. (2021)) que são consideradas cefaleias primária e 3 autores abordaram a cefaleia cervicogênica (Dunning et al. (2018); Haas et al. (2018) e Lerner-Lentz et al. (2021)) e, a cefaleia em síndrome de pós-concussão (Esterov et al. (2021)).

Os artigos foram avaliados quanto à metodologia aplicando os critérios de inclusão e exclusão resultando em 43 artigos  excluídos por não atenderem aos critérios desta revisão selecionando assim 10 artigos que correspondem aos critérios de elegibilidade.

Após a leitura integral e minuciosa dos artigos, considerando a pergunta norteadora deste artigo, foram excluídos 3 artigos, resultando em uma amostra final de 7 artigos como mostra o fluxograma apresentado na figura 2.

Figura 2 – Fluxograma do processo de seleção dos estudos 

Os artigos selecionados foram publicados na língua inglesa, os anos de publicação correspondem aos anos de:  2014, 2015, 2016, 2018 e 2021, conforme o quadro 1 a seguir, sobre as características dos ensaios clínicos randomizados, foi realizada a leitura, compilação e extração dos seguintes dados: autor, amostragem, diagnóstico, design de estudo, intervenção, avaliação, desfecho.

Quadro 1 – Resumo das principais informações dos artigos incluídos sobre terapia manual 

AutorAmostraDiagnósticoDesign de estudoIntervençãoAvaliaçãoDesfecho
Rolle et al. 201440(idades entre 18 e 65 anos)Cefaleia do tipo tensional frequenteAvaliar a eficácia da osteopatia manipulativa no tratamento da cefaleia do tipo tensional em comparação à terapia craniana simulada (placebo)21 pacientes com cefaleia do tipo tensional foi submetidos à liberação miofascial e manipulação enquanto 19, foram atendidos com placebo, o tratamento constou de  4 sessões semanaisOs pacientes mantiveram o diário com dor de cabeça e uso de medicamento de prescrição durante toda a duração do estudo e inventário de Incapacidade de Cefaleia (HDI)As avaliações foram feitas antes da intervenção, logo após as sessões, 1 e 3 meses após.Os paciente que receberam a osteopatia manipulativa apresentaram Redução da frequência de dor de cabeça que persiste por 3 meses
Moraska et al. 201556(idades entre 18 e 59 anos)Cefaleia do tipo tensionalAvaliar a eficácia da massagem de liberação em pontos gatilhos miofasciais de cabeça e pescoço do tratamento da cefaleia do tipo tensional comparado à  ultrassom (placebo)  e Lista de espera (controle)17 pacientes com cefaleia do tipo tensional foram submetidos com liberação miofascial em trapézio superior, suboccipitais e esternocleidomastóideo, 19, foram atendidos com placebo e 20 ficaram no grupo controle.A intervenção constou de 12 sessões de tratamento em 6 semanasOs pacientes mantiveram o diário de dor de cabeça durante toda a duração do estudo, utilizaram a mudança clínica percebida, o limiar de dor de pressão, o inventário de Incapacidade de Cefaleia (HDI) e teste de impacto de cefaleia (HIT-6) antes do tratamento, com 3 semanas de intervenção, depois (mais 3 semanas) e 4 semanas depois (run-out).Não houve diferença entre grupos quanto à frequência, intensidade e duração dos episódios de cefaleia porém o grupo que recebeu liberação miofascial obteve um aumento da tolerância à dor nos músculos abordados
Dunning et al. (2016)110(idades entre 18 e 65 anos)Cefaléia cervicogênicaAvaliar a eficácia da manipulação cervical e torácica no tratamento da cefaléia cervicogênica em comparação à mobilização articular  e exercício58 pacientes foram submetidos à manipulação articular em C1-2 e T1-2 e 52, atendidos com mobilização C1-2 e T1-2 e estabilização segmentar cervical.A intervenção constou de 6 a 8 sessões em 4 semanas.Os pacientes utilizaram a escala numérica de dor, índice de incapacidade do pescoço, diário de ingestão de medicamentos e classificação global de mudança, antes, 1,4 e 12 meses após a intervençãoPacientes que receberam manipulação cervical e torácica obtiveram reduções significativamente maiores de intensidade, frequência, duração e incapacidade da dor de cabeça assim como da ingestão de medicamentos que o grupo de mobilização e exercícios.
Haas et al. 2018256(idades acima dos 18 anos)Cefaléia cervicogênicaAvaliar a eficácia da manipulação cervical e torácica no tratamento da cefaleia cervicogênica 1 – 0 sessões (64)2 – 6 sessões (65)3 – 12 sessões (64)4 – 18 sessões (63)Manipulação cervical e torácicaMassagem leve nos dias sem manipulaçãoOs pacientes foram divididos em 4 grupos onde receberam a manipulação cervical e torácica ou massagem leve nos músculos do pescoço e ombro quando não fossem atendidos com manipulação.64 paciente receberam 0 sessões de manipulação65 receberam 6 sessões64 receberam 12 sessões63 receberam 18 sessões em 3 sessões semanais por 6 semanasOs paciente mantiveram o diário de dor de cabeça por toda duração do estudo e utilizaram o HIT-6 antes e 6, 12, 24, 39 e 52 semanas após o início das intervençõesHouve uma relação dose-resposta direta quanto à quantidade de sessões de manipulação na  melhoria de intensidade e frequência
Esterov et al. (2021)26(com idade igual ou superior a 18 anos)






Cefaleia em síndrome pós concussãoAvaliar a eficácia da osteopatia no tratamento da síndrome da cefaléia pós concussão em comparação a grupo controle 1 – Osteopatia (13) Energia muscular, liberação miofascial e liberação suboccipital2 – Controle (13)13 paciente foram submetidos a 1 sessão de liberação miofascial e energia muscular e 13, fizeram parte do grupo controleFoi utilizada a escala visual analógica e o teste de impacto da dor de cabeça (HIT-6).Antes, após, 4 a 6 semanas após a intervençãoOs pacientes submetidos às técnicas de osteopatia obtiveram uma redução na pontuação da escala visual analógica de dor e do HIT-6 indicando melhora dos sintomas em comparação ao grupo controle.
Lerner-Lentz et al. 202145(26 mulheres e 19 homens, com idade média de 16,9 a 47,8) Cefaleia cervicogênicaAvaliar a eficácia da manipulação em comparação com mobilização no tratamento da cefaleia cervicogênicac1 – mobilização c2 e c3 (24)2 – manipulação c0 – c2 (21)24 pacientes foram submetidos à mobilização de C1-3 e 21, à manipulação de C1-2Foram utilizados o índice de incapacidade do pescoço (NDI), escala Numérica de Avaliação da Dor (NPRS), teste de impacto da dor de cabeça (HIT-6) avaliação global de Mudança (GRC) e escala de Sintomas aceitáveis ​​pelo Paciente (PASS) antes, 2 dias depois e 1 mês depoisAmbos os grupos obtiveram melhoria sem diferenças significativas entre eles
Muñoz-Gómez et al. 202150(idades entre 15 a 49 anos)EnxaquecaAvaliar a eficácia da manipulação cervical e torácica no tratamento da enxaqueca em comparação à  placebo25 foram submetidos à maniuplação C0-1, C2-7 e T2-6 e 25, à terapia craniana simulada como placebo por 4 sessões semanais.Foram utilizados a avaliação de Incapacidade de Enxaqueca (MIDAS), formulário Resumido-36 Pesquisa de Saúde(SF-36), ingestão de medicamentos, impressão global de mudança dos pacientes, antes, após e 1 mês depois (run-out)Os pacientes submetidos à manipulação obtiveram redução da intensidade, incapacidade e uso de medicação.

4 DISCUSSÃO

A Cefaleia ocasiona um grande prejuízo funcional, seja em atividades diárias ou relacionadas ao trabalho sendo umas das principais causas de incapacidade entre adultos levando-os a relatar uma pior autoavaliação de saúde, estilo de vida pouco saudável, abuso de medicamentos e até transtornos mentais graves (OLIVEIRA et al. (2023)).

Com o intuito de preservar a funcionalidade e saúde dos indivíduos acometidos por cefaleia, além do prejuízo causado pelo absenteísmo no trabalho, vários estudos foram realizados utilizando vários tipos de tratamento a fim de amenizar os efeitos deletérios da cefaleia (SILVA et al. (2021)).

Segundo Dunning et al. (2016), a manipulação musculoesquelética consiste de uma manobra de alta velocidade e baixa amplitude em uma articulação além de sua amplitude de movimento normal  levando a um estiramento controlado da cápsula articular promovendo efeitos fisiológicos como melhora da função biomecânica vertebral e dos tecidos moles, levando a uma modulação da atividade muscular e aumento da amplitude de movimento articular, amplitude de movimento torácico, senso de posição articular, frequência cardíaca e saturação parcial de oxigénio (JUNIOR, 2021). 

A mobilização articular é uma técnica para ganho de amplitude de movimento onde se move uma articulação dentro de sua amplitude de movimento, grau 1 ao 4 conforme descrito por Maitland, conforme as restrições encontradas após meticulosa avaliação em cada segmento, se difere da manipulação por ser aplicada em movimentos repetitivos e em baixa a moderada velocidade, a avaliação deve ser refeita para constatar sua eficácia. (Lenner-Lentz et al. (2021))

A restrição articular das vértebras cervicais superiores têm correlação direta, comprovada por ressonância magnética, com a intensidade, frequência e duração dos episódios de cefaléia devido à interferências na aferência sensorial na coluna cervical sendo percebido como dor de cabeça Hing et al. (2020). 

Para o tratamento da cefaleia cervicogênica, o estudo de Dunning et al. (2016) corrobora com Lerner-Lentz et al. (2021) ao compararam a manipulação vertebral cervical (C1-2), e torácica (T1-2) no caso de Dunning et al. (2016), em comparação com mobilização (C1-2) e (T1-2) e (C2-3), respectivamente. Apesar de Lerner-Lentz et al. (2021) não relatar diferenças significativas através do Índice de Incapacidade do Pescoço, Dunning et al. (2016) registrou superioridade da manipulação na redução da intensidade através da Escala Numérica de Avaliação da Dor, diferença média de 2,16 entre grupos (P<0,001) e melhora da função conforme registrado pelo Inventário de disfunção do pescoço com diferença entre grupo de 6,0 (P<0,001). 

Já Haas et al. (2018), que mesmo utilizando a mesma técnica acima citada, identificou uma relação direta de dose-resposta quanto ao número de sessões onde o grupo que recebeu 18 sessões teve redução próxima de 25% dos dias com dor de cabeça em comparação com o grupo placebo que recebeu massagem superficial em pescoço e ombros e obteve redução de 50% (p<0,05).

No campo do tratamento da cefaléia do tipo tensional, Moraska et al. (2015) e Rolle et al. (2014) utilizaram liberação miofascial e manipulação, respectivamente. Moraska et al. (2015) abordou os músculos trapézio superior, suboccipitais e esternocleidomastóideos em comparação ao ultrassom simulado como placebo e grupo controle, em 2 sessões semanais por 6 semana, com auxílio do Diário de dor de cabeça e o Teste de impacto de cefaleia (HIT-6), porém não obteve resultado significativos quanto à redução dos sintomas de cefaleia comparado ao placebo embora houve aumento de tolerância à dor nos músculos tratados (P<0,001 a 0,002). Rolle et al. (2014) utilizou manipulação e liberação miofascial em comparação com placebo que recebeu terapia simulada, onde após 4 sessões semanais obteve como uma redução da frequência de dor de cabeça próxima a 50% (P<0,001) que perdurou por 3 meses.

Munoz-Gomez et al.(2018) utilizou-se de manipulação e mobilização articular em cervical, torácica e sacro ilíaca por 4 sessões semanais em comparação com terapia craniana simulada (placebo), promovendo redução da intensidade da dor, frequência dos episódios e incapacidade da enxaqueca, conforme Avaliação de Incapacidade de Enxaqueca (P<0,001) 

A liberação miofascial consiste em compressão direta produzindo isquemia temporária nas regiões mais tensas do ventre muscular ou de movimentos manuais ou com auxílio de instrumentos com o objetivo de  causar cisalhamento entre a pele e a fáscia superficial onde o estímulo físico por mecanotransdução se torna químico alterando as propriedades visco-elásticas do trama miofascial permitindo melhor mobilidade entre músculos, vísceras e endotélio (SILVA et al. (2017)). 

A energia muscular é uma técnica de terapia manual que busca reduzir o tônus muscular e restabelecer o movimento articular através de contrações isométricas realizadas na barreira motora da amplitude de movimento de uma articulação ou conjunto de articulações (HOFFMANN et al. (2011)). 

Ambas as técnicas anteriores tratam a síndrome dolorosa miofascial  a qual ocasiona a  cefaléia do tipo tensional, pois a presença de pontos gatilhos nos músculos da cabeça e pescoço, têm como resultados, propagação de dor nas regiões da cabeça (VILELA et al. (2021). 

Esterov et al, (2021)  utilizou a liberação miofascial em conjunto com energia muscular ao tratar a cefaleia em síndrome pós-concussão em comparação com grupo placebo, em apenas uma sessão obteve melhora significativa na pontuação da escala visual analógica de 2,1 pontos (p<0,002).

Em resumo, foram reunidas evidências científicas que sugerem que a terapia manual pode ser utilizada no tratamento da cefaleia, seja primária ou secundária.

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

As técnicas de terapia manual encontradas neste estudo foram manipulação, mobilização, energia muscular e liberação miofascial. A utilização desses recursos  no tratamento da cefaleia se mostrou uma alternativa segura e relevante contribuindo para a redução da intensidade e frequência dos episódios de dor de cabeça, com exceção da Liberação miofascial para pontos gatilhos.

Mais estudos se fazem necessários para um maior esclarecimento sobre a eficácia da terapia manual no tratamento da cefaléia.

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