CEREBRAL MIRROR THERAPY IN POST STROKE PATIENTS
Autores:
Teixeira Edikácia Lucibele de Lima1,
Silva Karla Patrícia da2,
Souza Maria Clara Porfirio de3,
Macêdo Leiliane Patrícia Gomes4.
1 Graduanda em Fisioterapia – UNISÃOMIGUEL, Recife-PE. E-mail: kassinhalucibele@hotmail.com
2 Graduanda em Fisioterapia – UNISÃOMIGUEL, Recife-PE. E-mail: kdasilva94@outlook.com
3 Mestre em Engenharia Biomédica – UFPE – Professora titular da UNISÃOMIGUEL, Recife- PE. E-mail: mclarafisioterapia@gmail.com
4.Graduada em Fisioterapia – Professora titular da UNISÃOMIGUEL, Recife-PE. E-mail: leilianemaacedo@gmail.com
CORRESPONDÊNCIA:
Edikácia Lucibele de Lima Teixeira, R. João Fernandes Vieira-Boa Vista, Recife-PE,
CEP: 52171-011. Telefone: (81) 3423-2498. E-mail: kassinhalucibele@hotmail.com
RESUMO
Objetivo: Verificar o efeito da terapia do espelho no membro superior hemiparético de pacientes com sequelas pós acidente vascular cerebral (AVC). Método: trata-se de uma revisão de literatura descritiva de caráter exploratório, sobre o tema: Terapia do Espelho em pacientes pós AVC, foram selecionados artigos publicados no período de 2016 à 2021, nos idiomas português, e inglês, a busca foi realizada nas seguintes bases de dados: LILACS, PUBMED/MEDLINE, SciELO, BVS, PEDro e ScienceDirect. Resultados: Após a análise dos artigos selecionados e aplicação dos critérios de inclusão e exclusão foram selecionados os 13 artigos que compuseram esta revisão de literatura. Conclusão: foram identificadas melhoras clinicamente significativas aos pacientes submetidos ao protocolo de TE, trazendo ganhos satisfatórios como: reorganização cortical, ganhos funcionais e motores, assim como, desenvolvimento da bilateralidade e percepção sensorial. No entanto, sendo necessário padronizar protocolos, com o propósito de tornalos mais adequados e específicos, de modo que atenda às necessidades clínicas individuais de acordo com o período da lesão, a fim de, estabelecer um plano de tratamento que proporcione um decurso satisfatório para sua reabilitação.
Palavras chave: Acidente Vascular Cerebral; Neurônios-Espelho; Extremidade Superior; Modalidades de Fisioterapia.
ABSTRACT
Objective: To verify the effect of mirror therapy on the hemiparetic upper limb of patients with sequelae after stroke. Method: this is an exploratory descriptive literature review on the topic: Mirror Therapy in post-stroke patients, articles published from 2016 to 2021, in Portuguese and English, were selected, the search was performed in the following databases: LILACS, PUBMED/MEDLINE, SciELO, BVS, PEDro and ScienceDirect. Results: After analyzing the selected articles and applying the inclusion and exclusion criteria, the 13 articles that made up this literature review were selected. Conclusion: clinically significant improvements were identified for patients undergoing the ET protocol, bringing satisfactory gains such as: cortical reorganization, functional and motor gains, as well as the development of bilaterality and sensory perception. However, it is necessary to standardize protocols, in order to make them more appropriate and specific, so that it meets individual clinical needs according to the period of the injury, in order to establish a treatment plan that provides a satisfactory course for your rehabilitation.
Key Words: Stroke; Mirror Neurons; Upper Extremity; Physiotherapy Modalities.
INTRODUÇÃO
Conforme a World Stroke Organization (WSO), o Acidente Vascular Cerebral (AVC) pode ser definido como uma situação em que o aporte sanguíneo para o encéfalo é interrompido, ocasionando ausência de oxigênio, danos cerebrais e perda da função. Podendo ser classificado em isquêmico quando ocorre o bloqueio do fluxo sanguíneo, impedindo a passagem do sangue para as células cerebrais, e hemorrágico caracterizado pelo rompimento do vaso e extravasamento do sangue para o interior do cérebro, na maioria das vezes, acarreta algumas sequelas. (WSO, 2020; ZHU et al., 2020)
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o AVC é a segunda principal causa de morte no mundo, responsável por aproximadamente 6,7 milhões de óbitos em 2016, com tendência de se manter nessa posição até o ano de 2030. Sendo considerada uma das principais causas de morte global, o AVC mantém esse destaque há mais 15 anos. A WSO estimou que apenas no ano de 2020 mais de 13 milhões de pessoas tiveram seu primeiro AVC e cerca de 5,5 milhões morreriam como resultado. (OPAS, 2018; WSO, 2020)
No Brasil, o AVC atinge cerca de 2,2 milhões de casos por ano, dos quais 568.000 pessoas permanecem com incapacidades graves, interferindo diretamente nas atividades de vida diária (AVDs), e reduzindo a independência do indivíduo. Caracterizando mais de 100.000 óbitos por ano e responsável por causar maior incapacidade funcional. (OPAS, 2018; CASTRO et al., 2018)
As sequelas decorrentes do AVC são variáveis, dependendo da extensão e da região acometida pela lesão. As mais comuns nesses pacientes são a hemiplegia e hemiparesia, alteração de equilíbrio, fraqueza muscular, espasticidade, déficits cognitivos, motores e sensoriais, que podem resultar num estado de total dependência, sendo assim, interferindo de forma direta no estado emocional, e em suas limitações em AVDs, restringindo a participação desses indivíduos na sociedade e redução da qualidade de vida. (MOTA et al., 2016)
Esses pacientes passam por um protocolo de tratamento muito intenso para recuperação e a intervenção fisioterapêutica precoce adequada será de extrema importância. Atuando na recuperação funcional de forma efetiva, a neuroreabilitação inclui métodos e técnicas que visam minimizar as incapacidades e retardar o aparecimento de sequelas crônicas, proporcionando o máximo de independência possível. Dentre esses métodos, a Terapia do Espelho (TE) está inclusa por promover reorganização cortical e estimular a plasticidade neuronal na área motora primária. (SILVEIRA et al., 2018; ZHU et al., 2020)
A TE é uma intervenção de baixo custo e fácil aplicabilidade, que visa aprimorar os déficits sensório-motores e acelerar o processo de recuperação funcional. É aplicada por meio de um espelho posicionado entre os membros superiores em plano sagital (relacionado ao paciente), a fim de bloquear a visão da imagem do membro afetado, podendo, então, reeducar o cérebro através da ilusão visual e cinestésica. O paciente realiza uma série de movimentos com o membro saudável que são refletidos pelo espelho, onde serão interpretados como se fossem realizados pelo membro afetado. Dessa forma, as áreas sensório-motoras são enganadas pela ilusão de um membro não afetado em movimento, trazendo ganhos funcionais e motores. (MOTA et al., 2016)
Diante disso, esta pesquisa ressalta que a TE é um recurso que pode ser utilizado na Fisioterapia convencional e reúne evidências que mostram a eficácia da TE, na recuperação motora e funcional do membro superior parético de pacientes pós-AVC. Tendo como objetivo geral verificar o efeito da terapia do espelho no membro superior hemiparético de pacientes com sequelas pós-AVC.
MÉTODO
O presente estudo caracteriza-se por uma revisão de literatura de caráter exploratório, para a identificação de produções científicas sobre o tema: Terapia do Espelho em pacientes pós acidente vascular cerebral. Em conformidade com o método, para o desenvolvimento do estudo, foi formulada a seguinte questão: A Terapia do Espelho seria uma opção benéfica na recuperação funcional desses pacientes?
Após a definição da problemática, foram adotados alguns critérios para seleção dos artigos, a seguir: artigos científicos publicados entre os anos de 2016 á 2021, nos idiomas português, e inglês, que tivessem em seus títulos e/ou resumos os seguintes descritores em ciências da saúde (DeCs): acidente vascular cerebral (Stroke), neurôniosespelho (Mirror Neurons), extremidade superior (Upper Extremity) e Modalidades de fisioterapia (Physiotherapy modalities) associados ao cruzamentos dos booleanos AND e OR.
Foram pesquisados publicações nas seguintes bases de dados: LILACS (Literatura Latino-americana e do Caribe em Ciências da Saúde), PUBMED/ MEDLINE (Medical Literature Analysisand Retrieval System Online I), SciELO (Scientific Eletronic Library Online), BVSalud (Biblioteca Virtual em Saúde) PEDro e ScienceDirect.
Foram incluídos artigos originais, a busca e a seleção ocorreu de acordo com os seguintes critérios de inclusão: ensaios clínicos randomizados, com data de publicação entre 2016 e 2021, que abordassem a utilização da Terapia do Espelho na recuperação do membro superior, em pacientes com diagnóstico clínico de Acidente Vascular Cerebral, apresentando hemiparesia no membro superior.
Foram excluídos resumos de congressos, monografias, teses de doutorados e artigos de revisão.
Para a escolha dos artigos foi realizada a leitura dos títulos, resumos e artigos na íntegra e aqueles que atendiam aos objetivos do estudo foram incluídos no roteiro para registro.
RESULTADOS
Os descritores foram cruzados da seguinte maneira: Neurônios-espelho AND Acidente Vascular Cerebral, Neurônios- espelho AND Extremidade Superior, Neurônios-espelho AND Modalidades de Fisioterapia, Acidente Vascular Cerebral AND Extremidade Superior, Acidente Vascular Cerebral AND Modalidades da Fisioterapia, Extremidade Superior AND Modalidades da Fisioterapia, Neurônios-espelho OR Acidente Vascular Cerebral, Neurônios-espelho OR Extremidade Superior, Neurônios-espelho OR Modalidades de Fisioterapia, nos idiomas português e inglês.
Na combinação de descritores foram encontrados 1.846 artigos, após leitura de títulos e resumos foram eliminados 134 artigos devido a duplicação de conteúdo, e por fuga ao tema foram descartados 1.699 artigos. Por fim, foram selecionados 13 artigos para constituir a estrutura deste estudo. Os dados obtidos estão descritos na figura 1:
Figura 1. Fluxograma de pesquisa e seleção dos estudos.
Os artigos científicos selecionados foram agrupados e apresentados destacando suas características, objetivos, metodologia e a conclusão da intervenção, detalhados no quadro 1:
Quadro 1. Relação dos artigos por autor, objetivo, método e conclusão.
Relação dos artigos por autor, objetivo, método e conclusão
Autor/ano | Objetivo do artigo | Metodologia | Conclusão |
Gurbuz et al.,2016 | Avaliar a eficácia da TE combinada com um programa de reabilitação convencional na recuperação motora e funcional da extremidade superior em pacientes com AVC. | Ensaio clínico randomizado controlado cego para o avaliador, a amostra era composta por 31 pacientes com média de idade 60,9 anos (± 10,9) 60,8 (± 20,0) e tempo de AVC últimos 6 meses. | A TE associada a reabilitação convencional em pacientes com AVC, mostrou mais benefícios adicionais em termos de melhoria de função motora na extremidade superior. |
Rodrigues et al.,2016 | Avaliar a viabilidade e eficácia da adição de treinamento simétrico bilateral relacionado ao objeto a TE, para melhorar a atividade do membro superior em pacientes com AVC crônico. | Estudo clínico prospectivo e randomizado, e sua amostra foi constituída por 16 pacientes com idade de 51 a 66 anos e tempo de AVC últimos 6 meses. | Ambos os grupos apresentaram ganhos na atividade bilateral após o treinamento, sem diferenças significativa s entre eles. |
Lim et al.,2016 | Identificar o efeito da TE associada a tarefas funcionais na função dos membros superiores e AVDs em pacientes com AVC subagudo. | Ensaio clinico randomizado de pré e pós-teste, desenvolvido por uma amostra de 60 pacientes com idade entre 64 e 65 anos, que sofreram AVC pelos últimos 6 meses. | A TE contendo tarefas funcionais, melhorou a função do membro superior e a capacidade de realizar as atividades de vida diária em pacientes com AVC subagudo. |
Kim et al.,2016 | Investigar os efeitos da TE combinada com tarefas de exercícios na função dos membros superiores e nas AVDs. | Estudo de ensaio clinico randomizado com pré e pós testes de dois grupos, cego para o avaliador, sua amostra corresponde a 25 pacientes com média de idade entre 45 e 55 anos, e tempo de AVC últimos 6 meses. | Ambos os grupos mostraram diferenças significativas entre as medidas tomadas antes e depois de quatro semanas de terapia. No entanto, na comparação dos resultados deste estudo demonstrou que a TE se torna mais benéfica para o treinamento de pacientes com AVC proporcionando melhora da função dos membros superiores e nas AVDs. |
Mota et al.,2016 | Avaliar o efeito da TE, associada à fisioterapia convencional, na amplitude de movimento (ADM), no grau de espasticidade do membro superior afetado e no nível de independência nas AVDs de pacientes crônico após-AVC. | Estudo quase experimental de pré e pós-testes, com amostra equivalente á 10 pacientes, com idade média entre 47 a 62 anos, que se encontravam na fase crônica do AVC. | Após a intervenção da TE, foi observado aumento da ADM do membro superior hemiparético para a maioria dos movimentos analisados. |
Radajewska et al,2017 | Determinar a eficácia da TE combinada com o tratamento abrangente e investigar as possíveis relações do estado funcional. | Estudo prospectivo controlado, sua amostra foi composta por 60 pacientes com idade média entre 39 e 75 anos, que estavam com mais de 2 meses após o início do primeiro AVC, sem déficits cognitivos grave e sem comprometimento motor grave da mão | A TE como complemento a Reabilitação convencional melhorou a função da mão em pacientes internados com AVC subagudo, sem paresia grave de mão e sem disfunção cognitiva grave, aumentando a funcionalidade nas AVDs de adultos mais velhos com paresia de mão não dominante. |
Chan et al. 2018 | Examinar a eficácia da TE na recuperação do braço gravemente debilitado após AVC | Estudo de ensaio clínico randomizado simples, cego, composta pela amostra de 41 paciente com idade a partir de 35 anos, que sofreram AVC até um mês após início do estudo. | A TE associada a exercícios simultaneamente para ambos os braços em pacientes pós-AVC subagudo, promoveu recuperação motora semelhante no braço gravemente prejudicado. |
Bai et al., 2019 | Comparar o efeito da TE baseada em movimentos e da TE baseada em tarefas na melhora das funções dos membros superiores em pacientes com AVC. | Ensaio clínico randomizado controlado cego para o avaliador, composto pela amostra de 34 pacientes com idade média entre 50 e 60 anos, que sofreram AVC no período de até 6 meses. | Tanto a TE baseada em movimento, quanto a TE baseada em tarefas se mostraram eficazes na melhora da função dos membros superiores de pacientes com hemiplegia leve a moderada devido ao AVC. No entanto, a TE baseada em movimentos se mostra superior na melhora do comprometimento motor dos membros superiores hemiplégicos, quando comparados. |
Jan et al.,2019 | Comparar a eficácia do programa de reaprendizagem motora com a TE nas funções motoras dos membros superiores de pacientes com AVC. | Estudo com ensaio clínico randomizado, formado pela amostra de 66 pacientes com idade média entre 40 e 60 anos, integrada por pacientes que sofreram AVC unilateral. | O Programa de reaprendizagem motor e a TE foram considerados eficazes na melhoria das funções motoras dos membros superiores de pacientes com AVC, porém a utilização do programa de reaprendizagem motor se mostrou mais eficaz na recuperação quando comparados. |
Li et al., 2019 | Examinar o efeito priming do feedback visual do espelho na prática de tarefas bilaterais. | Estudo pré experimental de pré e pós-testes, randomizado simples cego composto pela amostra de 23 pacientes com idade entre 40 e 60 anos, que sofreram AVC por mais de 6 meses após o início do estudo. | Não foi encontrada diferença estatisticamente significativa de atividade de braço e mão entre os dois grupos. No entanto, pode-se identificar que o grupo TE mostrou uma tendência para maiores melhorias de função sensorial e da qualidade de vida. |
Hsieh et al., 2020 | Investigar e comparar os efeitos do tratamento da Terapia de Observação da Ação, TE e Intervenção de controle ativo nos resultados motores e funcionais de pacientes com AVC. | Estudo de ensaio clínico randomizado controlado de três braços, composto pela amostra de 21 pacientes, com idade entre 20 e 80 anos, que possuíam diagnóstico de AVC com período de até 6 meses do AVC. | Não houve diferenças significativas entre os grupos, porém, o grupo de TE mostrou melhoria nos resultados, quando comparados aos outros grupos na avaliação pós teste. |
Chinnavan et al., 2020 | Identificar a eficácia da TE nas funções motoras dos membros superiores entre pacientes hemiplégico. | Estudo com ensaio prospectivo randomizado, produzido pela amostra de 25 indivíduos, com faixa etária entre 45 a 65 anos de ambos os sexos em fase crônica do AVC. | A associação da terapia convencional e do espelho é um método eficaz para restaurar a função motora do membro superior em pacientes hemiplégicos. |
DISCUSSÃO
O AVC é considerado uma das principais causas de morte global (OPAS, 2018). Criando um impacto avassalador, que afeta de modo expressivo, o sobrevivente, a família e a sociedade (WSO, 2020). Diferentes abordagens de Fisioterapia estão sendo utilizadas para reabilitação desses pacientes, incluindo a TE, amparada pela literatura que constantemente no decorrer dos anos tem evoluído com o desenvolvimento de maiores atributos metodológicos, e a partir disto, diversos estudos científicos comprovam e frisam a TE como uma opção benéfica na recuperação funcional de pacientes pós-AVC.
Os estudos selecionados e analisados nesta revisão avaliaram pacientes nas fases subaguda e crônica (considerando fase aguda como período inferior a seis meses pósAVC e a fase crônica superior a este tempo) e exibiram efeitos semelhantes quanto à eficácia da TE na recuperação do comprometimento motor e do desempenho funcional, com aumento de força e destreza manual, assim como no desenvolvimento da bilateralidade e melhora da sensibilidade do membro superior acometido.
Três desses estudos (MOTA et al., 2016; LI et al., 2019; HSIEH et al., 2020) não apresentaram resultados estatisticamente significativos. No estudo de LI et al (2019) quando comparado a terapia controle, apesar de não ter sido encontrada diferenças significativas na atividade de membro superior, pode-se identificar que o grupo TE mostrou uma tendência para maiores melhorias de função sensorial e da qualidade de vida. Diferente do estudo de Hsieh et al (2020) onde a TE obteve os menores resultados quando comparado aos grupos terapia de observação de ação e controle na avaliação pós teste. O que pode ter relação com o tamanho da caixa espelho usada no estudo, que limitou a execução dos movimentos, bem como a variabilidade e a faixa de déficits motores dos pacientes, pois no grupo TE a pontuação basal da escala de avaliação da função motora de Fugl-Meyer (FMA) foi maior do que nos outros grupos.
Já no estudo de Mota et al (2016) a ausência de efeitos pode estar associada à pequena amostra de apenas 10 pacientes, todos na fase crônica. Relacionado a baixa frequência prática de apenas 15 sessões com 30 minutos de duração. E em contraposto Gurbuz et al (2016) igualaram um grupo de pacientes submetidos a tarefas funcionais associadas a TE com um grupo que recebeu apenas tratamento convencional observou-se melhora na pontuação de autocuidado, medida de independência funcional (FIM) e no estágio de Brunnstrom em ambos os grupos, mas o grupo de TE também mostrou melhora mais significante na avaliação de FMA. Portanto, a TE associada a tarefas funcionais foi mais eficaz para a recuperação do membro superior hemiparético.
Na análise de Rodrigues et al (2016) foi adicionado tarefas bilaterais simétricas no protocolo de tratamento, alocando os pacientes em dois grupos: experimental e controle, utilizaram objetos para realização da intervenção como: garrafas, bolas, copos, etc., tendo como base o princípio da terapia induzida por restrição, aumentando de acordo com a progressão motora do paciente, após essa submissão relataram que em ambos os grupos foi possível observar aumento significativo nas tarefas bilaterais, porém sem diferença entre eles, sendo necessário ser realizado um novo estudo com uma amostra maior, para ser verificado a eficácia da TE com a combinação de movimentos orientados mais distais.
No estudo de Lim et al (2016) foi abordado a TE orientada para tarefas funcionais iniciadas de maneiras simples onde os pacientes realizaram movimentos das mãos, contagem de números, batidas opostas, com progressão semanal para tarefas mais complicadas como coletar blocos em uma lixeira, virar cartas, desenhar e colorir figuras simples, com intervalo de dois minutos entre cada tarefa realizada e o grupo de terapia simulada realizou os mesmos exercícios. Porém, foi colocado uma placa de madeira entre o membro superior normal e o membro superior hemiplégico ao invés do espelho.
Já o estudo de Kim et al (2016) mostrou que outras características fazem parte do tratamento de pacientes utilizando a TE associada a tarefas motoras, onde os pacientes realizaram exercícios como agarrar, limpar a mesa. E o grupo de terapia convencional realizaram tarefas sem o espelho, para melhora das funcionalidades dos membros superiores, consistindo em prancha, exercícios de pinça, empilhamento de blocos. E em ambos os protocolos Lim et al., e Kim et al., foi possível observar melhora do comprometimento motor e do desempenho funcional, resultando no aumento do nível de independência na realização das AVDs e consequentemente melhora na qualidade de vida.
Analisando os achados de Chan et al (2018) ao examinar a eficácia da TE na recuperação do braço gravemente debilitado pós-AVC, quando comparado ao grupo controle que realizou os mesmos exercícios bilateralmente, mas sem o espelho. Houve melhora significativa em ambos os grupos, de acordo com a escala de avaliação de FMA e o teste de função motora de Wolf (WMFT), entretanto, não houve diferença entre eles quando comparados. A partir disso, pode-se concluir que a TE baseada em movimentos nesse grupo específico de pacientes não apresenta benefícios sobre a terapia controle. Porém, esse resultado pode ser diferente se aplicado em um grupo de indivíduos com menor comprometimento motor do membro superior.
No estudo de Chinnavan et al (2020) com amostra de 25 indivíduos em fase crônica, comparou a TE a reabilitação convencional e concluiu que, a associação das duas é um método eficaz para restaurar a função motora do membro superior desses pacientes. Já no estudo de Jan et al (2019) comparando o programa de reaprendizagem motora a TE, verificou-se que ambos os protocolos foram considerados eficientes na melhora da função motora. Porém, o programa de reaprendizagem motora se mostrou superior quando comparados, de acordo com a escala de avaliação motora, nos critérios função de braço, movimentos das mãos e atividades avançadas.
Bai et al (2019) em um ensaio clínico randomizado, comparou a TE baseada em movimentos e a TE baseada em tarefas e mostrou que ambas se fazem eficazes na melhora da função dos membros superiores de pacientes com hemiplegia leve a moderada pósAVC. No entanto, foi possível observar que a TE baseada em movimentos se mostrou superior na melhora do comprometimento motor quando comparadas. Já Arya et al (2016) em seu estudo utilizando a TE baseada em tarefas, com amostra de 21 indivíduos na fase crônica apresentando hemiparesia pós-AVC, mostraram que a TE, além de beneficiar o membro superior mais afetado, também traz benefícios para o lado menos afetado. Melhorando não só a destreza, mas a coordenação e a força.
Radajewka et al (2017) avaliaram pacientes destros com diagnóstico de AVC na fase subaguda, sem comprometimento motor grave e de acordo com a escala funcional index “Reply” (FIR) que avalia a independência nas AVDs os adultos mais velhos foram mais beneficiados que os adultos mais jovens com a TE, bem como os adultos mais velhos com paresia de mão não dominante, concluindo que a TE tem uma relevância no desempenho diário em pacientes idosos com AVC que não possuíam défict cognitivo grave. No entanto, faz-se necessário, que mais estudos contendo uma amostra maior em relação a idade e ao lado afetado sejam realizados para confirmar esses achados.
Conforme observado nos estudos, os instrumentos de avaliação mais utilizados para aplicação dos protocolos de tratamento foram a Escala de Avaliação da Função Motora de Fugl-Meyer (FMA), que mede a recuperação motora do membro superior pós AVC. (GURBUZ et al., 2016; LIM et al., 2016; KIM et al., 2016; MOTA et al., 2016; CHAN et al., 2018; BAI et al., 2019; LI et al., 2019; HSIEH et al., 2020; CHINNAVAN et al., 2020; RODRIGUES et al., 2016) A Medida de Independência Funcional (FIM) que avalia tanto a disfunção física e cognitiva, quanto a necessidade de ajuda. (GURBUZ et., 2016; KIM et al., 2016; RADAJEWKA et al., 2017; HSIEH et al., 2020; CHINNAVAN et al., 2020)
O estudo de Li et al (2019) foi o único estudo a utilizar como instrumentos de avaliação o Inventário de Atividade de Braço e Mão de Chedoke para verificar a funcionalidade do membro superior; o Registro de Atividade Motora (MAL), que mensura o uso espontâneo do membro superior, levando em consideração a quantidade de uso e a qualidade do movimento. Bem como, foi o único estudo a verificar a influência da TE na função sensorial pós-AVC, através da Avaliação Sensorial de Nottingham. Já Radajewska et al., foi o único estudo a utilizar o Índice Funcional “repty” (FIR) e o Teste de Braço de Frenchay (FAT) para avaliar a habilidade funcional na realização das AVDs.
Arya et al (2016) foi o único a utilizar os testes de destreza manual de Minnesota (MMDT) que mede a habilidade motora grossa; o Teste Purdue PegBoard (PPBT) utilizado para avaliar e treinar a coordenação motora das mãos e dos dedos; e o teste muscular manual (MMT) que é usado para medir o comprometimento da força muscular no lado menos afetado. O Índice de Barthel Modificado foi utilizado nos estudos de Li et al., e Mota et al., avaliando o nível de independência funcional nas AVDs pós-AVC.
O Teste de Caixa e Blocos (BBT) que avalia destreza e habilidade manual de membro superior acometido, foi utilizado em apenas dois estudos. (KIM et al., 2016; HSIEH et al., 2020) Assim como o Estagio de Brunnstrom que avalia a recuperação motora do paciente hemiplégico (GURBUZ et al., 2016; LIM et al., 2016); O Teste de Função Motora de Wolf (WMFT) utilizado para avaliar a capacidade do braço parético em realizar tarefas manuais pós-AVC (CHAN et al., 2018; BAI et al., 2019); A escala de Impacto do AVC versão 3.0 que avalia o impacto do AVC na qualidade de vida. (LI et al., 2019; HSIEH et al., 2020)
Já a Escala de Ashworth Modificada (MAS) que avalia a extensão da espasticidade pós-AVC foi utilizada em três estudos. (MOTA et al., 2016; BAI et al., 2019; RODRIGUES et al., 2016) Kim et al., foi o único a utilizar o Teste de pesquisa-ação do Braço (ARAT) usado para identificar melhora funcional da capacidade de desempenho do membro superior. Enquanto, Jan et al., utilizou a escala de avaliação motora (MAS) usando as três subescalas do membro superior: função dos braços, movimento das mãos e atividades avançadas. Já Mota et al., foi o único a fazer uso da goniometria como nstrumento de avaliação. O estudo de Rodrigues et al., utilizou o Teste d \’Évaluation des Membres Supérieurs de Personnes Âgées (TEMPA) como medida de resultado primário, para avaliar o nível de limitação em atividades unilateral e bilateral.
A maior parte dos estudos, utilizaram o período de intervenção de quatro a seis semanas, exceto Arya et al., que aplicou uma dose de oito semanas. Todas as análises tiveram periodicidade de três a cinco vezes semanais, com sessões que variaram de trinta minutos à uma hora e trinta minutos por dia, em contraposto a isso tivemos Li et al., que aplicou noventa minutos por dia, durante três dias/semana, associando mais trinta à quarenta minutos de prática em casa cinco dias/semana. Em relação a quantidade de séries e repetições, não houve muita diferença, variando de 1 a 5 séries de 10 e chegando até 100 repetições para cada tarefa, movimento ou padrão motor utilizado para o tratamento.
Ao considerar o AVC como principal causa de incapacidade funcional, que restringe a grande modo a participação social, tendo como uma das suas sequelas a função motora da mão que se caracteriza como um dos maiores obstáculos para uma vida independente, acarretando à necessidade dos associados à buscarem serviços de saúde por meio da Fisioterapia para sua reabilitação.
Concluímos que a neuroreabilitação do membro superior pós-AVC através da TE é uma técnica norteadora melhorando a qualidade de vida desses pacientes. Essas melhorias foram evidenciadas através dos estudos descritos nesta revisão e comprovam melhoras clinicamente significativas que a TE é um método extremamente benéfico, que promove reorganização cortical, provocando ganhos funcionais e motores, assim como desenvolvimento da bilateralidade e percepção sensorial.
Contudo, se faz necessário mais estudos para pesquisas na área, com o objetivo de padronizar protocolos, tornando-os mais adequados e específicos, de modo que sejam utilizados regularmente em tratamentos fisioterapêuticos com o propósito de identificar métodos que proporcionem a aprendizagem motora eficaz, compreendendo as necessidades clínicas individuais de acordo com o período da lesão, a fim de estabelecer um plano de tratamento que proporcione um decurso satisfatório para sua reabilitação.
REFERÊNCIAS
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CASTRO, Pedro de Oliveira et al. Terapia por caixa de espelho e autonomia no autocuidado após acidente vascular cerebral: programa de intervenção. Rev. Enf. Ref., Coimbra , v. serIV, n. 17, p. 95-106, jun. 2018 . Disponível em <http://www.scielo.mec.pt/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0874-02832018000200010&lng=pt&nrm=iso >DOI: http://dx.doi.org/10.12707/RIV17088
CHAN, Wing Chiu et al. Recovery in severely impaired arm after stroke after mirror therapy: a randomized controlled trial. American Journal of Physical Medicine & Rehabilitation vol. 97 n. 8, p. 572-577, August 2018. Disponível em < https://journals.lww.com/ajpmr/Fulltext/2018/08000/Recovery_in_the_Se-verely_Impaired_Arm_Post_Stroke.6.aspx > DOI: 10.1097 / PHM.0000000000000919
CHINNAVAN , Elanchezhian et al. Effectiveness of mirror therapy on upper limb motor functions among hemiplegic patients. Bangladesh Journal of Medical Science, vol. 19, n. 2, p. 208-213, January 16. 2020. Disponível em < https://www.banglajol.info/index.php/BJMS/article/view/44997> DOI: https://doi.org/10.3329/bjms.v19i2.44997
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