REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/os102411281314
Maria Carolina de Almeida Santos1
Paola Rodrigues de Figueiredo Anastasio2
Paulo Cezar Alves Machado3
Isabela Santos Santiago4
RESUMO
O artigo “Tendência Temporal da Sífilis Adquirida no Município de Guarujá (2013-2023)” apresenta um estudo ecológico sobre a evolução da sífilis adquirida no município de Guarujá, com foco nas variações temporais e sociodemográficas da doença. A pesquisa foi conduzida com dados de notificação de sífilis entre 2013 e 2023, divididos em três períodos: pré-pandêmico, pandêmico e pós-pandêmico. O estudo revelou um aumento médio anual de 24 casos de sífilis, com uma tendência crescente observada, mas sem significância estatística clara (p=0,0512). A análise de tendência temporal mostrou flutuações nos anos analisados, com picos e declínios na taxa de notificações, o que sugere variabilidade no padrão da doença.
A distribuição dos casos foi predominantemente entre pessoas pardas e brancas, com maior concentração em indivíduos com ensino médio completo ou sem escolaridade definida. A pesquisa também apontou a influência de fatores sociodemográficos, como idade, raça/cor e escolaridade, nos casos notificados. A metodologia do estudo foi baseada em análises descritivas e inferenciais, utilizando dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) e outras fontes oficiais. A principal limitação do estudo foi a possibilidade de subnotificação dos casos. Os resultados indicam a necessidade de políticas públicas mais eficazes para o controle e prevenção da sífilis, especialmente após a pandemia de COVID-19.
Palavras-chave: Sífilis, Tendências Temporais, Saúde Pública, Sociodemografia.
Abstract
The article “Temporal Trend of Acquired Syphilis in Guarujá (2013-2023)” presents an ecological study on the evolution of acquired syphilis in the city of Guarujá, focusing on the disease’s temporal and sociodemographic variations. The research was conducted using notification data from 2013 to 2023, divided into three periods: pre-pandemic, pandemic, and post-pandemic. The study revealed an average annual increase of 24 cases of syphilis, with an observed upward trend, although without clear statistical significance (p=0.0512). Temporal trend analysis showed fluctuations in the years studied, with peaks and declines in notification rates, suggesting variability in the disease’s pattern.
The cases were predominantly among individuals of mixed and white ethnicity, with a higher concentration in people with complete or undefined high school education. The study also highlighted the influence of sociodemographic factors such as age, race/color, and education level on the reported cases. The methodology was based on descriptive and inferential analysis using data from the Notifiable Diseases Information System (SINAN) and other official sources. The main limitation of the study was the possibility of underreporting of cases. The results point to the need for more effective public policies for the control and prevention of syphilis, especially after the COVID-19 pandemic.
Keywords: Syphilis, Temporal Trends, Public Health, Sociodemographics.
Introdução
A sífilis adquirida é uma infecção sexualmente transmissível (IST) causada pela bactéria Treponema pallidum, que representa um desafio significativo para a saúde pública global. Desde sua identificação, a sífilis tem mostrado uma capacidade persistente de disseminação, especialmente em populações vulneráveis, como jovens adultos e homens que fazem sexo com homens (Ito et al., 2021; , Vieira, 2024). A infecção é tipicamente transmitida através do contato sexual, mas também pode ocorrer por meio de transfusões de sangue e exposição a lesões infectadas (Santos, 2024). A relevância do diagnóstico precoce e do tratamento adequado é crucial, uma vez que a sífilis não tratada pode levar a complicações severas, incluindo a progressão para sífilis terciária, que pode afetar órgãos vitais e resultar em condições como cardiopatias e neurossífilis (Marques, 2023; , Menezes et al., 2021). O panorama epidemiológico da sífilis adquirida no Brasil tem mostrado um aumento alarmante nos casos notificados nos últimos anos. Dados indicam que a notificação compulsória da doença é fundamental para a implementação de estratégias de controle e prevenção, visando não apenas a redução da incidência de sífilis adquirida, mas também a prevenção da sífilis congênita, que pode ocorrer quando a infecção é transmitida de mãe para filho durante a gestação (SOUSA, 2023; , Saraceni et al., 2017). A falta de adesão ao uso de preservativos e o comportamento sexual de risco são fatores que contribuem para a alta taxa de infecção, destacando a necessidade de campanhas educativas e de conscientização sobre a importância da prevenção (Oliveira et al., 2022; , Couto et al., 2023). Além disso, a pandemia de COVID-19 teve um impacto significativo na dinâmica de notificação e tratamento das ISTs, incluindo a sífilis. Embora os serviços de saúde tenham enfrentado desafios, a continuidade do atendimento pré-natal permitiu que a detecção de sífilis gestacional e congênita fosse mantida em níveis relativamente estáveis (Ambrosi, 2024). Contudo, a interrupção de serviços de saúde em outras áreas pode ter contribuído para um aumento na incidência de sífilis adquirida, evidenciando a necessidade de um fortalecimento das políticas de saúde pública e de vigilância epidemiológica (Firmino et al., 2022). Este artigo teve como objetivo analisar a tendência temporal dos casos de sífilis adquirida no município de Guarujá entre 2013 e 2023, identificando padrões epidemiológicos e avaliando o impacto dos períodos pré-pandêmico, pandêmico e pós-pandêmico, com foco em variáveis sociodemográficas e fatores associados ao diagnóstico e tratamento.
METODOLOGIA
A metodologia deste estudo foi desenhada para investigar casos de sífilis adquirida no município de Guarujá, São Paulo, adotando um delineamento epidemiológico observacional com abordagem quantitativa e caráter descritivo-analítico. Trata-se de uma análise de série temporal retrospectiva, fundamentada nos princípios da epidemiologia descritiva, alinhada às diretrizes do Ministério da Saúde para vigilância epidemiológica e ancorada na literatura científica sobre o tema.
Cenário do Estudo
O estudo foi realizado no município de Guarujá, com área territorial de 144,794 km², população residente de 287.634 habitantes e densidade demográfica de 1.986,50 hab/km², de acordo com dados de 2022. O período analisado compreende janeiro de 2013 a dezembro de 2023, dividido em três etapas: pré-pandêmica (2013-2019), pandêmica (2020-2021) e pós-pandêmica (2022-2023).
População e Amostra
A população-alvo incluiu todos os casos notificados de sífilis adquirida no município durante o período do estudo. Foram incluídos casos confirmados e registrados no sistema de notificação dentro do intervalo analisado. Excluíram-se casos notificados fora do período ou oriundos de outros municípios.
Variáveis do Estudo
As variáveis sociodemográficas analisadas incluíram faixa etária (categorizada de 1-4 anos até ≥65 anos), raça/cor (segundo a classificação do IBGE) e escolaridade (desde analfabeto até ensino superior completo). As variáveis epidemiológicas abordaram número de casos, status gestacional, data de notificação, classificação clínica e esquema de tratamento.
Coleta e Gerenciamento de Dados
Os dados foram extraídos do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), fichas de notificação compulsória e bases demográficas do IBGE. Procedimentos padronizados asseguraram a consistência e a completitude dos registros, incluindo validação cruzada e correção de inconsistências.
Análise Estatística
Os dados foram submetidos a análises descritivas, inferenciais e de correlação.
- Análise descritiva: medidas de frequência absoluta e relativa, tendência central, dispersão e intervalos de confiança de 95%.
- Análise inferencial: tendências temporais foram examinadas por regressão linear e teste de Mann-Kendall; associações avaliadas por qui-quadrado e Kruskal-Wallis, com correções post-hoc; e correlações representadas por matrizes e mapas de calor.
- Nível de significância: foi estabelecido em α = 0,05 para todas as análises.
Aspectos Éticos
O estudo utilizou dados secundários de domínio público, garantindo anonimato e conformidade com a Resolução 466/2012 do Conselho Nacional de Saúde (CNS). Foi declarada ausência de conflitos de interesse e fontes de financiamento.
Limitações do Estudo
Entre as principais limitações, destacam-se possíveis subnotificações, viés de informação nos dados secundários e dados incompletos. A pandemia da COVID-19, mudanças no sistema de vigilância e alterações nas políticas de saúde foram reconhecidos como potenciais fatores de confundimento.
Ferramentas e Softwares
A análise e a visualização dos dados foram realizadas utilizando R Studio, Python, SPSS, PostgreSQL e Microsoft Excel, com suporte das bibliotecas Matplotlib, Seaborn, Plotly e NetworkX.
Resultados
A análise epidemiológica dos casos de Sífilis Adquirida no município de Guarujá (SP), realizada no período de 2013 a 2023, abrangeu um total de 3.264 casos notificados, dos quais 2.504 foram confirmados. A investigação focou em múltiplas dimensões sociodemográficas, com destaque para a distribuição racial, na qual se observou uma predominância de casos na população parda (1.617 casos), seguida pela branca (893 casos) e preta (262 casos).
Esta investigação teve como objetivo caracterizar o perfil epidemiológico dos casos, analisando variáveis como escolaridade, raça/cor, status gestacional e faixa etária, além de examinar a evolução temporal das notificações e seus critérios de classificação. A análise destes indicadores é fundamental para compreender a dinâmica da doença no município e subsidiar estratégias de prevenção e controle mais efetivas.
A análise de tendência temporal dos casos de sífilis adquirida no município de Guarujá (SP) entre 2013 e 2023 foi realizada para identificar padrões de variação ao longo do tempo. Os resultados indicam um aumento médio anual de 24 casos, conforme o coeficiente angular (β) de 24,21.
A análise de evolução temporal dos casos de sífilis adquirida em Guarujá (SP) entre 2013 e 2023, conforme ilustrado no gráfico acima, foi realizada por meio de uma regressão linear. O coeficiente de determinação (R²) obtido foi 0,3594, indicando que aproximadamente 35,94% da variação nos casos registrados ao longo do período pode ser explicada pela tendência temporal. O coeficiente angular (slope) foi de 24,21, o que sugere uma tendência de aumento no número de casos, com um aumento médio de 24 casos por ano. O intercepto foi de -48.557,22, e o p-valor da regressão foi 0,0512, o que indica que a relação entre o tempo e o aumento dos casos é marginalmente significativa. Isso significa que, embora a tendência de crescimento seja observada, o valor marginalmente maior que 0,05 indica que a evidência não é suficientemente forte para ser considerada estatisticamente significativa ao nível usual de 5%.
O gráfico revela variações significativas na taxa de crescimento dos casos de sífilis adquirida em Guarujá, apresentando picos de crescimento em alguns anos, períodos de declínio em outros e um padrão irregular de crescimento ao longo do período analisado. Para avaliar a tendência dos casos ao longo do tempo, foi realizado o Teste de Mann-Kendall, cujos resultados indicaram que não houve tendência significativa (p = 0,119). A estatística Tau foi de 0,3818, sugerindo uma correlação positiva moderada entre o tempo e a variação nos casos, embora essa correlação não tenha atingido significância estatística (p > 0,05).
- EVOLUÇÃO COM MÉDIA MÓVEL
O gráfico de média móvel de 3 anos revela uma suavização das flutuações anuais, permitindo uma análise mais clara da tendência geral dos casos de sífilis adquirida em Guarujá. A média móvel indica uma tendência de crescimento contínuo, embora com períodos de estabilidade e variação. Em termos de números destacados, observamos que o menor número de casos foi registrado em 2013, com apenas 54 casos, enquanto o maior número de casos ocorreu em 2023, com 552 casos. A média, por sua vez, apresentou variações ao longo dos anos, indicando que, apesar do crescimento geral, houve flutuações significativas de um ano para o outro.
DISTRIBUIÇÃO GERAL DOS CASOS POR ESCOLARIDADE
O gráfico mostra a distribuição total dos casos de sífilis adquirida por nível de escolaridade, evidenciando uma concentração significativa de casos. A maior parte dos casos está registrada na categoria “Ign/Branco”, com 1.489 casos, seguida por “Ensino médio completo”, com 642 casos. O menor número de casos foi observado entre os “Analfabetos”, com apenas 15 casos. Esses dados indicam uma predominância de casos em indivíduos que não possuem nível de escolaridade definido ou possuem o ensino médio completo, enquanto a escolaridade mais baixa, representada pelos analfabetos, apresenta uma quantidade consideravelmente menor de registros.
TENDÊNCIA TEMPORAL
A análise temporal dos casos de sífilis adquirida no município de Guarujá entre 2013 e 2023 revela uma tendência de crescimento ao longo do período, com o menor número de casos registrados em 2013, com apenas 54 notificações. A partir desse ponto, observou-se uma variação considerável nos anos seguintes, com picos significativos de casos em alguns anos. Essa flutuação sugere uma variabilidade no padrão de crescimento, destacando a necessidade de uma análise contínua para compreender os fatores que podem estar influenciando essas mudanças.
Em relação à análise estatística, o teste de Kruskal-Wallis, utilizado para verificar as diferenças na distribuição dos casos de sífilis entre os diferentes níveis de escolaridade, revelou resultados altamente significativos. A H-statistic foi de 83,61, e o p-value foi de 9,79e-14, indicando diferenças estatisticamente significativas entre as distribuições dos casos. As proporções médias dos casos entre os diferentes níveis de escolaridade foram as seguintes: Ign/Branco com 47,27%, Ensino médio completo com 18,58%, Ensino médio incompleto com 8,15% e 5ª a 8ª série incompleta com 7,71%. Esses resultados indicam uma distribuição desigual dos casos de sífilis, com uma maior concentração na categoria “Ign/Branco” e uma prevalência considerável entre aqueles com ensino médio completo.
- DISTRIBUIÇÃO TOTAL POR RAÇA
Ano notificação | Ign/Branco | Branca | Preta | Amarela | Parda | Indigena | Total |
2013 | 15 | 12 | 2 | 0 | 25 | 0 | 54 |
2014 | 26 | 31 | 10 | 4 | 78 | 0 | 149 |
2015 | 64 | 89 | 16 | 3 | 156 | 0 | 328 |
2016 | 53 | 97 | 29 | 4 | 211 | 1 | 395 |
2017 | 44 | 73 | 14 | 1 | 149 | 1 | 282 |
2018 | 75 | 109 | 26 | 0 | 207 | 0 | 417 |
2019 | 41 | 79 | 18 | 1 | 126 | 0 | 265 |
2020 | 28 | 54 | 28 | 0 | 103 | 0 | 213 |
2021 | 24 | 104 | 21 | 1 | 152 | 0 | 302 |
2022 | 20 | 95 | 43 | 2 | 147 | 0 | 307 |
2023 | 81 | 150 | 55 | 3 | 263 | 0 | 552 |
A distribuição total dos casos de sífilis adquirida por raça no município de Guarujá, conforme a tabela 1 revela uma predominância significativa de casos na população parda, com um total de 1.617 casos, representando 49,54% dos casos notificados no período de 2013 a 2023. A população branca ocupa o segundo lugar, com 893 casos, ou 27,36% do total. Por outro lado, a população indígena apresentou a menor quantidade de casos, com apenas 2 notificações, representando 0,06% do total.
Analisando a evolução ano a ano, observa-se que a proporção de casos entre as raças também variou ao longo do tempo. Em 2013, a população parda já demonstrava uma representatividade expressiva, com 46,3% dos casos, e essa tendência se manteve ao longo dos anos. A população branca apresentou um aumento gradual de casos ao longo do período, alcançando 30,9% em 2023. Já a população preta e amarela, embora com um número maior de casos em alguns anos, manteve uma porcentagem relativamente estável ao longo dos anos. A população indígena, por sua vez, teve números esporádicos de casos e uma porcentagem invariável, evidenciando a baixa incidência nesta população.
- TENDÊNCIA TEMPORAL POR RAÇA
A análise temporal da distribuição de casos de sífilis adquirida por raça no município de Guarujá, conforme os dados apresentados, demonstra um aumento consistente em todos os grupos raciais ao longo do período de 2013 a 2023. A população parda apresentou o maior crescimento absoluto, com uma tendência de crescimento mais pronunciada, enquanto os casos entre brancos também apresentaram um aumento semelhante, embora com valores absolutos inferiores aos dos pardos. Por outro lado, as populações amarela e indígena mantiveram um padrão de estabilidade relativa, com pouca variação no número de casos.
O teste qui-quadrado, realizado para verificar a associação entre raça e a distribuição dos casos, revelou uma estatística Chi² de 116,78 e um p-valor altamente significativo de 2,90e-07, indicando uma associação estatisticamente significativa entre a variável racial e a distribuição dos casos de sífilis adquirida, com 50 graus de liberdade. Esses resultados demonstram que a distribuição racial dos casos não é aleatória e que há uma relação importante entre as raças e a incidência da doença.
As proporções médias ao longo do tempo, conforme os dados apresentados, indicam que a população parda foi a mais afetada, com uma média de 49,44% dos casos. A população branca segue com 26,77%, enquanto a população “Ign/Branco” representou 15,41% dos casos. As populações preta, amarela e indígena apresentaram percentuais bem mais baixos, com 7,70%, 0,62% e 0,06%, respectivamente.
A análise do gráfico “Casos de Sífilis em Guarujá: Histórico e Previsões” revela uma tendência crescente nos casos de sífilis na cidade, com variações significativas ao longo dos anos. De 2013 a 2016, houve uma tendência ascendente acentuada, seguida de oscilações significativas entre 2016 e 2020. O pico histórico foi registrado em 2023, com quase 550 casos, enquanto o valor mínimo foi em 2013, com aproximadamente 50 casos. Durante esse período, foram observados dois picos significativos, em 2016 (cerca de 400 casos) e 2018 (aproximadamente 420 casos), e uma queda acentuada em 2020, possivelmente relacionada à pandemia de COVID-19. Após 2020, houve uma recuperação expressiva, culminando no pico de 2023.
As previsões para o período de 2024 a 2028 indicam uma tendência crescente moderada. A linha de previsão, representada pela linha tracejada vermelha, sugere um crescimento sustentado, e o intervalo de confiança, mostrado pela área sombreada rosa, aumenta gradualmente, o que indica maior incerteza nas previsões mais distantes. A análise destaca a alta variabilidade histórica, com desvios significativos da tendência, e o intervalo de confiança relativamente amplo, o que sugere considerável incerteza nas previsões. A previsão aponta que os casos podem atingir aproximadamente 550-600 casos até 2028.
A análise de correlação entre raça/cor e faixa etária revela padrões importantes na distribuição dos casos. O mapa de calor indica uma concentração significativa de casos em cada interseção dessas variáveis. Observa-se que a população parda apresenta o maior número de casos em todas as faixas etárias analisadas. Além disso, a faixa etária de 20 a 29 anos concentra o maior número de casos em todos os grupos raciais. Verifica-se ainda uma diminuição gradual do número de casos com o aumento da idade em todos os grupos analisados.
A rede ilustra as conexões entre diferentes faixas etárias, destacando características específicas. O tamanho dos nós representa a centralidade de cada faixa etária, ou seja, quanto maior o nó, mais central e influente é essa faixa etária na rede. As cores dos nós indicam diferentes comunidades, evidenciando agrupamentos de faixas etárias com características semelhantes ou interações mais frequentes. Por fim, a espessura das arestas reflete a força da correlação entre as faixas etárias, onde arestas mais espessas indicam uma correlação mais forte entre os grupos conectados.
As métricas de centralidade da rede indicam que a faixa etária de 15 a 19 anos possui a maior centralidade, com um valor de 0,444, destacando-se como o nó mais influente na rede. As faixas de 20 a 39 anos, 40 a 59 anos e 60 a 64 anos apresentam centralidade intermediária, com um valor de 0,333, evidenciando uma importância moderada. Já as faixas etárias extremas, como de 1 a 4 anos e de 5 a 9 anos, possuem a menor centralidade, indicando uma menor influência na estrutura da rede. Foram identificadas quatro comunidades principais: ‘faixa_15_19’, ‘faixa_20_39’, ‘faixa_40_59’ e ‘faixa_60_64’, refletindo diferentes agrupamentos etários com padrões de interação específicos.
Os padrões de disseminação temporal revelam dados sobre centralidade e transmissão na rede. A faixa etária de 15 a 19 anos se destaca como o principal hub de transmissão, atuando como o nó central na disseminação. Observa-se uma forte interconexão entre as faixas etárias adultas, abrangendo indivíduos de 20 a 64 anos, o que indica uma alta conectividade e troca de informações entre esses grupos. Em contrapartida, as faixas etárias extremas, como crianças e idosos, apresentam menor conectividade, destacando-se por sua participação limitada na transmissão.
Em relação às comunidades, foram identificadas seis distintas, sendo que a maior delas abrange as faixas etárias de 15 a 64 anos, evidenciando um agrupamento coeso entre as faixas adultas. As faixas etárias extremas, por sua vez, formam comunidades isoladas, indicando um comportamento mais segmentado e menos integrado à rede principal.
No que se refere aos padrões temporais, observa-se um crescimento sincronizado entre as faixas etárias adultas, refletindo uma evolução paralela ao longo do tempo. Já nas faixas etárias extremas, há uma maior variabilidade, sugerindo comportamentos menos previsíveis e uma dinâmica diferenciada em relação aos demais grupos etários.
Discussão
A sífilis adquirida no Brasil revela um panorama complexo e multifacetado, refletindo tanto a evolução epidemiológica da doença quanto os desafios enfrentados na sua prevenção e controle. A sífilis, causada pela bactéria Treponema pallidum, é uma infecção sexualmente transmissível que, apesar de ser facilmente tratável, continua a apresentar taxas alarmantes de incidência, especialmente entre populações vulneráveis (Ito et al., 2021;, Menezes et al., 2021). Dados recentes indicam que, entre 2010 e 2021, o Brasil registrou um aumento significativo no número de casos de sífilis adquirida, com uma taxa que saltou de 0,7 para 87,5 casos por 100 mil habitantes no Paraná, por exemplo (Astolfo, 2024). Esse crescimento é preocupante, pois a infecção não tratada pode levar a complicações graves, como doenças cardiovasculares e neurológicas (Maia, 2024). Um fator que contribuiu para a dinâmica da sífilis adquirida foi a pandemia de COVID-19, que impactou negativamente os serviços de saúde e a notificação de casos. Durante os anos de 2020 e 2021, observou-se uma redução significativa nos atendimentos relacionados a ISTs, incluindo a sífilis, uma vez que muitos serviços de saúde foram redirecionados para o combate à pandemia (Baia, 2023; , MOURA et al., 2021). Essa interrupção no atendimento pode ter levado a um subdiagnóstico e subnotificação de casos, exacerbando a situação da sífilis no país. Além disso, a pandemia trouxe à tona a necessidade de um fortalecimento das políticas públicas voltadas para a saúde sexual, especialmente em um contexto onde a sífilis já era considerada uma doença negligenciada (Menezes et al., 2021; , MOURA et al., 2021). A análise do perfil epidemiológico da sífilis adquirida revela que a doença afeta desproporcionalmente grupos específicos, como homens jovens e pessoas com baixa escolaridade e condições socioeconômicas desfavoráveis (Ribeiro et al., 2021; , Saraiva, 2024). A falta de acesso a informações sobre saúde sexual e a dificuldade em obter serviços de saúde adequados são barreiras que perpetuam a transmissão da sífilis. Portanto, é essencial que as estratégias de prevenção incluam educação em saúde, promoção do uso de preservativos e acesso facilitado a testes e tratamentos (Ito et al., 2021; , Souza et al., 2022). A implementação de campanhas de conscientização e a capacitação de profissionais de saúde são fundamentais para melhorar a detecção precoce e o tratamento da sífilis adquirida, além de reduzir a incidência de sífilis congênita (Souza et al., 2022).
Conclusão
O estudo das tendências temporais da sífilis no Brasil revela um aumento significativo nos casos ao longo dos últimos anos, refletindo tanto as melhorias na notificação quanto o agravamento da situação epidemiológica. A análise sociodemográfica mostrou que grupos específicos, como jovens adultos e homens, são mais vulneráveis, indicando a necessidade de ações direcionadas para esses segmentos da população. A evolução do quadro de infecção por sífilis demanda um fortalecimento das políticas públicas de saúde, com ênfase em estratégias de prevenção, diagnóstico precoce e tratamento adequado. Além disso, a integração de programas educativos e a ampliação do acesso aos serviços de saúde são fundamentais para reduzir a disseminação da doença. É necessário também que as campanhas de conscientização abranjam os fatores sociais e comportamentais que contribuem para a transmissão, visando diminuir o estigma e promover mudanças nos comportamentos de risco. Portanto, o acompanhamento constante das tendências da sífilis é essencial para ajustar as estratégias de saúde pública e garantir uma resposta eficaz no combate à doença.
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1Santosmca@icloud.com
Acadêmica de Medicina Unoeste – Guarujá
2paola.medicina19@gmail.com
Acadêmica de Medicina Unoeste – Guarujá
3paulocezar@fampfaculdade.com.br
Médico especialista em pediatria FAMP – Mineiros
4isabela809ss@gmail.com
Acadêmica de Medicina Unoeste -Guarujá