TELEMEDICINA NO SUS: IMPACTOS NA PRÁTICA MÉDICA E NA GESTÃO DOS SERVIÇOS DE SAÚDE

REGISTRO DOI:10.5281/zenodo.10204424


¹Gabriel Brito da Silva  baixa
²Roque Lages Furtado Filho
³Serafim Santana de Sousa Filho
4Matheus Christovam Borges Luz
5Magno Silva de Aguiar
6Vanderlei José de Sousa Junior
7Cassio de Salgado Rego
8Helder Junior Gualter Sales
9Augusto Oliveira de Moura
10Vanessa Cristina de Castro Aragão Oliveira 


Resumo

A implementação da telemedicina no Sistema Único de Saúde (SUS) tem o potencial de gerar impactos significativos tanto na prática médica quanto na gestão dos serviços de saúde. A telemedicina pode permitir o acesso a especialistas mesmo em áreas remotas e carentes de recursos. Isso amplia a capacidade dos médicos locais de receberem orientações de especialistas em diagnósticos e tratamentos complexos, melhorando a qualidade do atendimento. Através de consultas virtuais e análise de exames à distância, a telemedicina pode agilizar diagnósticos. Para médicos e pacientes, a teleconsulta elimina a necessidade de deslocamentos frequentes, economizando tempo e recursos. Isso é especialmente relevante em lugares distantes de grandes centros de saúde. Assim, analisamos alguns benefícios como: descentralização dos serviços de saúde, distribuindo a carga de pacientes de maneira mais equilibrada entre diferentes regiões do país, redução de custos operacionais, coleta de dados em tempo real, contribuindo para um monitoramento mais eficaz de indicadores de saúde.

Palavras-chave: Telemedicina, SUS.

Abstract

 The implementation of telemedicine in the Unified Health System (SUS) has the potential to generate significant impacts on both medical practice and the management of health services. Telemedicine can allow access to specialists even in remote and resource-poor areas. This expands the ability of local doctors to receive guidance from experts on complex diagnoses and treatments, improving the quality of care. Through virtual consultations and analysis of remote exams, telemedicine can speed up diagnoses. For doctors and patients, teleconsultation eliminates the need for frequent travel, saving time and resources. This is especially relevant in places far from large health centers. Thus, we analyzed some benefits such as: decentralization of health services, distributing the patient load in a more balanced way between different regions of the country, reduction of operational costs, real-time data collection, contributing to more effective monitoring of health indicators .

Keywords: Telemedicine, Health Unic System.

Introdução

A telemedicina tem se revelado como uma ferramenta inovadora e transformadora no âmbito da saúde, desempenhando um papel crucial na modernização e aprimoramento dos serviços oferecidos pelo Sistema Único de Saúde (SUS). No contexto brasileiro, o SUS desempenha um papel fundamental ao garantir o acesso universal, integral e equitativo à saúde, e a adoção da telemedicina representa um avanço significativo para superar desafios geográficos, otimizar recursos e proporcionar uma assistência mais eficiente e acessível à população.

A aplicação da telemedicina no SUS vai além da superação de barreiras geográficas, incluindo a oferta de cuidados à distância, monitoramento remoto, consultas virtuais e a integração de tecnologias da informação e comunicação na gestão de pacientes. Essa abordagem inovadora não apenas facilita o acesso aos cuidados de saúde, mas também contribui para a promoção da prevenção, diagnóstico precoce e tratamento eficaz de diversas condições médicas.

Nesse cenário, é essencial explorar as implicações éticas, legais e regulatórias da telemedicina no contexto do SUS, garantindo que sua implementação esteja alinhada com os princípios fundamentais da saúde pública. Além disso, é crucial avaliar os impactos socioeconômicos, a aceitação por parte dos profissionais de saúde e da população, bem como a eficácia dos serviços prestados por meio dessa modalidade.

Este artigo científico tem como objetivo analisar e discutir de maneira crítica a introdução da telemedicina no SUS, destacando seus benefícios, desafios e oportunidades. A compreensão aprofundada desse fenômeno emergente é essencial para informar políticas públicas, orientar práticas clínicas e contribuir para a construção de um sistema de saúde mais resistente e eficiente.

Metodologia

O presente estudo trata-se de uma revisão bibliográfica de caráter formativo, que se propôs a integrar, sintetizar e analisar de maneira crítica e ampla as implicações da telemedicina no SUS e seus impactos na prática e gestão médica a partir do levantamento ordenado e sistematizado dos estudos publicados mais relevantes sobre a temática em questão.

A revisão se desenvolveu mediante as seguintes etapas: identificação do tema, seleção da hipótese e objetivos da revisão formativa, estabelecimento de critérios de inclusão e exclusão de artigos, definição das principais informações que seriam coletadas de cada artigo, análise e interpretação dos resultados encontrados, apresentação e discussão desses resultados e pôr fim a apresentação da revisão.

   Por conseguinte, para a definição da questão de investigação e dos critérios de inclusão e exclusão, foi utilizada a estratégia Pico (acrônimo para Paciente, intervenção, comparação e “Outcomes” ou desfechos), na qual a questão norteadora definiu-se: “Quais as implicações do uso da telemedicina no SUS na melhora da qualidade de atendimento e redução dos custos operacionais do sistema de saúde identificadas na produção bibliográfica nacional e internacional no período de 2012 a 2023”.

     Para o levantamento dos artigos na literatura, realizou-se uma busca nas seguintes bases de dados: Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS), Medical Literature Analysis and Retrieval Sistem on-line (Medline), National Library of Medicine (PubMed) e Scientific Electronic Library Online (SciELO). Foram utilizados, para busca dos artigos, o operador booleano “AND” e os seguintes descritores pesquisados na plataforma de Descritores em Ciências da Saúde (DeCS), em português: “Telemedicina”, “Serviço de Telemedicina”, “Telemedicina para Zonas Rurais e de Difícil Acesso”, “Prática Médica Geral”, “Gestão em Saúde”; em inglês: “Telemedicine”, “Telemedicine  for Rural and Remote Areas”, “General Practice”, “Health Management” e espanhol: “Servicio de Telemedicina”, “Telemedicina para las Zonas Rurales y de Dificil Acceso”, “Medicina General”, “Gestión en Salud”.

   Os critérios de inclusão definidos para a seleção dos artigos a serem analisados foram: artigos publicados em português, inglês e espanhol, artigos que retratam a temática abordada e artigos publicados e indexados nos referidos bancos de dados nos últimos sete anos. Não obstante, os critérios de exclusão adotados na pesquisa presente foram: temáticas desconexas com a questão norteadora, duplicidade, indisponibilidade do texto completo nas bases de dados, outras revisões bibliográficas e ausência de resultados conclusivos dos estudos.

Resultados e Discussão

Diante dos desafios crescentes na atenção básica à saúde, a telemedicina surge como resposta urgente Um dos resultados mais destacados da introdução da telemedicina no SUS é a expansão significativa da acessibilidade aos serviços de saúde. Ao superar as barreiras geográficas por meio de consultas remotas, a telemedicina tem possibilitado o acesso a cuidados médicos em regiões distantes e áreas carentes de infraestrutura de saúde. Isso não apenas contribui para reduzir as disparidades geográficas, mas também promove uma distribuição mais equitativa dos recursos de saúde. (ALMINO et al., 2014).

A eficiência operacional é outro aspecto crucial dos resultados da telemedicina no SUS. Consultas virtuais, monitoramento remoto de pacientes crônicos e a possibilidade de realizar exames diagnósticos à distância têm agilizado os processos, reduzindo o tempo de espera para os pacientes e otimizando a utilização dos recursos disponíveis, esta melhoria na eficiência não apenas beneficia os pacientes, mas também contribui para uma gestão mais eficaz dos serviços de saúde (BARROS et al., 2021). A integração dessa abordagem em especialidades médicas como dermatologia, psiquiatria, cardiologia e radiologia demonstra eficiência na distribuição de recursos, apesar de desafios na coleta de informações específicas (LOPES et al, 2019).

É crucial notar que a anamnese e o exame físico, determinantes no diagnóstico, podem apresentar deficiências críticas na avaliação online, devido à falta de detalhamento nos exames físicos (ALMINO et al., 2014). As barreiras tecnológicas, embora significativas, não podem ser ignoradas, apesar da redução do deslocamento dos pacientes e da diminuição das filas de espera no SUS com a implementação da telemedicina (BARROS et al., 2021).

Profissionais de saúde e gestores do SUS devem adaptar-se ao novo modelo de consulta, reconhecendo não apenas benefícios, como ampliação do acesso, agilidade no atendimento e promoção da educação médica, mas também desafios estruturais, regulatórios e de desigualdade de acesso (CATAPAN et al., 2021). Apesar dos benefícios evidentes, a expansão da telemedicina também levanta desafios éticos e de segurança da informação. A proteção da privacidade do paciente, a confidencialidade das informações médicas e a segurança cibernética emergem como preocupações críticas. A colaboração entre governo, profissionais de saúde e instituições é essencial para superar tais desafios, estabelecendo políticas claras e investindo em infraestrutura tecnológica e educacional (CHIARATTO FILHO et al., 2022).

A telemedicina, apesar de seus benefícios, requer abordagens cuidadosas para alcançar seu pleno potencial na transformação efetiva do sistema de saúde pública no Brasil, a incorporação bem-sucedida da telemedicina no SUS demanda uma adaptação significativa por parte dos profissionais de saúde.(KUR et al, 2023) A capacitação adequada para o uso de novas tecnologias e a integração dessas ferramentas no cotidiano clínico são fundamentais. A resistência à mudança e a falta de treinamento podem representar obstáculos significativos para uma adoção efetiva da telemedicina. Portanto, estratégias de capacitação profissional devem ser implementadas de forma abrangente. (ALMINO et al., 2014; DE MORAES et al., 2016). Associada à facilitação do acompanhamento de pacientes crônicos, a telemedicina também destaca seu papel na restrição do avanço de doenças altamente contagiosas (WOHLERS DE ALMEIDA, 2017).

Em relação à educação médica, LÉLIS e MENEZES (2022) destacam a implementação da telemedicina como recurso para combater o tabagismo em uma unidade de saúde da família bem como um fator catalisador para o fortalecimento da atenção primária à saúde.

Através do acompanhamento remoto de pacientes, a promoção da prevenção e a gestão integrada de casos, ela contribui para a transformação do modelo assistencial, priorizando a prevenção e o cuidado contínuo. Este fortalecimento da atenção primária não apenas melhora a qualidade do atendimento, mas também reduz a demanda nos serviços de urgência e emergência, aliviando a pressão sobre o sistema de saúde como um todo (MEDEIROS, 2023; SIMÕES et al, 2015).

Conclusão

Diante da análise dos artigos, torna-se evidente que a telemedicina está se consolidando como uma ferramenta indispensável para enfrentar os crescentes desafios que o SUS enfrenta, especialmente na atenção básica, onde a sobrecarga do sistema tornou-se uma preocupação premente. No entanto, existem obstáculos relacionados à coleta de informações essenciais para realizar uma anamnese e exame físico adequados. Esses elementos desempenham um papel crucial no processo de diagnóstico médico, e a avaliação remota de pacientes apresenta deficiências quando comparada ao atendimento presencial. Isso ocorre devido à limitação na realização de exames físicos minuciosos e na observação de detalhes importantes para um diagnóstico preciso e um tratamento eficaz.

Além disso, as barreiras tecnológicas se configuram como um desafio significativo, uma vez que nem todos os pacientes têm acesso à tecnologia necessária para participar de consultas online no contexto brasileiro. A adaptação dos profissionais de saúde e dos gestores do SUS também é um fator agravante, dado que enfrentam desafios que envolvem a superação de obstáculos estruturais, regulatórios e desigualdades de acesso, bem como a resistência à mudança. Nesse sentido, é fundamental adquirir competências tecnológicas e estabelecer protocolos, políticas e diretrizes claras.

A telemedicina, apesar de representar uma ferramenta poderosa, necessita abordar de maneira eficaz os desafios mencionados para atingir o seu potencial máximo. Caso isso seja realizado com sucesso, a telemedicina poderá efetivamente transformar o sistema de saúde público no Brasil, tornando-o mais eficiente e acessível a todos os cidadãos.

Referências

ALMINO, Maria Auxiliadora Ferreira Brito et al. Telemedicina: um instrumento de educação e promoção da saúde pediátrica. Revista Brasileira de Educação Médica, v. 38, p. 397-402, 2014.

BARROS, Victor Vasconcelos et al. Uma análise das teleconsultorias assíncronas em saúde auditiva do Núcleo de Telessaúde do Rio Grande do Norte. Audiology-Communication Research, v. 26, 2021.

CATAPAN, Soraia de Camargo; WILLEMANN, Maria Cristina Antunes; CALVO, Maria Cristina Marino. Estrutura e processo de trabalho para implantação da teleconsulta médica no Sistema Único de Saúde do Brasil, um estudo transversal com dados de 2017-2018. Epidemiologia e Serviços de Saúde, v. 30, p. e2020305, 2021.

CHIARATTO FILHO, Dionísio et al. TELEMEDICINA RURAL: UM INSTRUMENTO INOVADOR PARA OTIMIZAR A ESTRATÉGIA SAÚDE DA FAMÍLIA. Revista Científica da Faculdade de Educação e Meio Ambiente, v. 13, n. edespmams, 2022.

DE CAMPOS MOREIRA, Taís et al. Tradução, adaptação transcultural e validação de questionário de satisfação em telemedicina. Revista Brasileira de Medicina de Família e Comunidade, v. 17, n. 44, p. 2837-2837, 2022.

DE MORAES, Eraldo Ribeiro Ferreira Leão et al. Prevalência de bloqueios atrioventriculares em pacientes da Atençao Básica de Saúde: análise por telemedicina: Prevalência de bloqueios atrioventriculares em pacientes da Atençao Básica de Saúde: análise por telemedicina. Journal of Cardiac Arrhythmias, v. 29, n. 1, p. 12-15, 2016.

KUR, Andréia Da Silva Sales; DA SILVA, Silvia Ortiz Garcia; DE PINHO, Silvia Teixeira. TELEMEDICINA NO SUS: GARANTIA DE ACESSO AOS SERVIÇOS DE SAÚDE PARA A POPULAÇÃO RURAL. Brazilian Journal of Implantology and Health Sciences, v. 5, n. 5, p. 814-831, 2023.

LÉLIS, Rafael Carneiro de; MENEZES, Marta Silva. Processo de implementação e utilização da telemedicina como recurso para apoio em estratégia de combate ao tabagismo em uma unidade de saúde da família. 2022.

LOPES, Marcelo Antônio Cartaxo Queiroga et al. Diretriz da Sociedade Brasileira de Cardiologia sobre Telemedicina na Cardiologia–2019. Arquivos brasileiros de cardiologia, v. 113, p. 1006-1056, 2019.

MEDEIROS, Luíza Emília Bezerra de. Utilização de um serviço de teleconsultoria síncrona por médicos atuantes na atenção primária à saúde no Rio Grande do Sul e o impacto nas internações por condições sensíveis à atenção primária entre 2014 e 2019: um estudo ecológico. 2023.

SIMÕES, Nelson et al. Cooperação nacional e internacional na Rede Universitária de Telemedicina RUTE na Infraestrutura da Rede Nacional de Ensino e Pesquisa RNP. A História da Telessaúde da Cidade para o Estado do Rio de Janeiro, p. 69, 2015.

WOHLERS DE ALMEIDA, Marcio. Desigualdade social e em saúde no Brasil: a telemedicina como instrumento de mitigação em João Pessoa-PB. JBES: Brazilian Journal of Health Economics/Jornal Brasileiro de Economia da Saúde, v. 9, n. 3, 2017.


¹Acadêmico de Medicina – FAHESP – Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí – IESVAP, Parnaíba/PI, Brasil.
 ²Docente de Medicina – FAHESP – Faculdade de Ciências Humanas, Exatas e da Saúde do Piauí – IESVAP, Parnaíba/PI, Brasil.