TELEASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PRÉ-NATAL DE RISCO HABITUAL E SEGURANÇA DO PACIENTE: REVISÃO INTEGRATIVA

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10520364


Helayne Martins Menezes1
Maria Salete Bessa Jorge2
Camila Barroso Martins3
Maria Cibelly Pontes da Silva4
Beatriz Alves de Oliveira5
Jefferson Matos Araújo6
Maria Lucelena Alves Pires7
Victorya Leitão Lopes Teixeira8
Tifanny Horta Castro9
Diego da Silva Ferreira10


Resumo

A ocorrência de dano ao paciente ocasionada pelo cuidado inseguro é considerada pela Organização Mundial de Saúde como um desafio crescente na saúde pública global. Assim, uma importante estratégia que promova a segurança do paciente é a comunicação efetiva, na qual pode ser realizada através de teleconsulta, que é uma via potencial para abordar sobre os cuidados durante a gravidez. Dessa forma, este estudo tem como objetivo analisar as publicações que descrevem a teleassistência de enfermagem em mulheres atendidas no pré-natal de risco habitual e a interface com a segurança do paciente. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura seguindo seis etapas. Utilizou-se os descritores “Prenatal Care”, “Nursing” e “Telemedicine”. A pesquisa ocorreu nas seguintes bases: PUBMED, SCOPUS, COCHRANE, LILACS, SCIELO. Foram identificados 548 artigos nas buscas nas bases de dados, após a análise, resultou-se uma amostra de 31 artigos. Foram organizadas as seguintes categorias: aplicativos móveis; recursos de telemonitoramento; ferramentas audiovisuais; redes sociais. Conclui-se que há muitos entraves no que concerne à segurança do paciente e a teleassistência de enfermagem, sendo imprescindível a elaboração de estratégias para a superação.

Palavras-chave: Cuidado Pré-Natal. Telemedicina. Segurança do Paciente.

Abstract

The occurrence of harm to patients caused by unsafe care is considered by the World Health Organization as a growing challenge in global public health. Thus, an important strategy that promotes patient safety is effective communication, which can be carried out through teleconsultation, which is a potential way to address care during pregnancy. Therefore, this study aims to analyze publications that describe nursing telecare for women receiving prenatal care at usual risk and the interface with patient safety. This is an integrative literature review following six stages. The descriptors “Prenatal Care”, “Nursing” and “Telemedicine” were used. The research took place in the following databases: PUBMED, SCOPUS, COCHRANE, LILACS, SCIELO. A total of 548 articles were identified in the searches in the databases, after the analysis, a sample of 31 articles resulted. The following categories were organized: mobile applications; telemonitoring capabilities; audiovisual tools; social networks. It is concluded that there are many obstacles with regard to patient safety and nursing telecare, and it is essential to develop strategies for overcoming.

Keywords: Prenatal Care. Telemedicine. Patient Safety.

1 INTRODUÇÃO

Atualmente, há uma grande preocupação sobre a segurança do paciente nos diversos cenários da assistência ao sujeito e sua família. Compreende-se como segurança do paciente o conjunto de ações para prevenir e reduzir a ocorrência de incidentes na assistência e nos serviços de saúde – acontecimentos ou circunstâncias que provavelmente resultaria em prejuízo desnecessário para o paciente (WHO, 2021).

A Organização Mundial de Saúde (OMS) afirma que, atualmente, o dano ao paciente, devido ao cuidado inseguro, é um crescente desafio de saúde pública global, sendo uma das principais causas de morte e invalidez em todo o mundo, pois estes incidentes podem causar morte, deficiência e sofrimento para as vítimas e familiares (WHO, 2021). Os custos financeiros e econômicos das falhas de segurança são altos e a maior parte destes danos ao paciente é evitável. Na maioria das vezes, há diminuição da confiança nos serviços de saúde e nos profissionais dos sistemas locais de saúde quando tais incidentes são divulgados. Neste sentido, a Atenção Primária à Saúde (APS) é o nível de assistência em que se evidenciam ações de risco para a segurança do paciente. 

A APS é definida como um conglomerado de ações de saúde individuais, familiares e coletivas que englobam promoção, prevenção, proteção, diagnóstico, tratamento, reabilitação, redução de danos, cuidados paliativos e vigilância em saúde, criada através de práticas de cuidado integrais, ampliadas e de gestão qualificada, feita com equipe multiprofissional e direcionada à população em um território adscrito, sobre os quais as equipes assumem responsabilidade sanitária (Brasil, 2017). Além dessas, uma das ações desenvolvidas na APS é a consulta de enfermagem (Lima et al., 2021).

 A consulta de enfermagem na APS é uma atividade privativa do enfermeiro. Nesta consulta é englobado o Processo de Enfermagem, que está sustentado na sistematização da assistência de enfermagem que é dividida em cinco etapas: coleta de dados de Enfermagem (ou Histórico de Enfermagem); diagnóstico de enfermagem; planejamento de enfermagem; implementação; e avaliação dos processos e seus resultados (COFEN, 2009). A consulta sistematizada visa propor uma consulta com maior rigor e melhor segurança para os pacientes e um dos cenários que ela é implementada é na APS. Dentre as consultas realizadas no contexto da APS, existe a consulta de enfermagem no pré-natal.

O objetivo do acompanhamento pré-natal é garantir que ocorra o desenvolvimento da gestação e assistência segura, possibilitando o parto do recém-nascido de forma adequada e saudável, sem ou com menor impacto possível para a saúde materna, incluindo os aspectos biopsicossociais e as atividades educativas e preventivas (Brasil, 2013). 

Uma consulta adequada de pré-natal segura e eficiente pode gerar impactos positivos na saúde pública: redução na mortalidade neonatal; promoção à saúde; prevenção de doenças; detecção e tratamento precoce de complicações; orientações sobre preparo para o nascimento; entre outros aspectos (Brasil, 2013). Quando acontece uma falha na comunicação, na segurança e na assistência de pré-natal, na maioria das vezes, os profissionais de saúde envolvidos em incidentes graves envolvendo morte ou dano grave a um paciente podem sofrer danos psicológicos e sentimentos profundos de culpa e autocrítica (WHO, 2021).

Há vários fatores que podem interferir em práticas seguras na assistência ao pré-natal: sobrecarga profissional; baixo número de consultas, materiais e recursos adequados disponíveis; demora na realização e entrega dos resultados dos exames; ausência de referência e contrarreferência; entre outros fatores (Ibañez-Cuevas et al., 2020). 

Além destes fatores, a comunicação efetiva na assistência à saúde é uma importante estratégia para a segurança do paciente. Uma atenção à saúde planejada e organizada avalia a comunicação como algo fundamental, referindo-se ao processo de compartilhar um mesmo objeto de consciência que informa e empodera as pessoas, pois sabe-se que a comunicação ineficaz está entre as causas raízes de mais de 70% dos erros na atenção à saúde (REBRAENSP, 2013).

Diante desse contexto, a saúde eletrônica emerge como um campo que está atraindo a atenção para uma variedade de condições de saúde, concentrando recursos na prestação de serviços de saúde e informações por meio de programas baseados na web, monitoramento remoto, teleconsulta e atendimento com suporte de dispositivo móvel (Silang et al., 2021). Essa é uma via potencial para abordar cuidados na gravidez.

Dada a natureza acessível das intervenções de saúde eletrônica, algumas grávidas podem participar de intervenções. Assim, evidencia-se a necessidade de discorrer sobre os riscos existentes na teleassistência de enfermagem, bem como potencialidades para a segurança do paciente. Acredita-se que este estudo contribuirá para disseminar informações relevantes para uma assistência segura às mulheres durante o pré-natal, e evidenciar as dificuldades para que estratégias sejam elaboradas para superar os entraves que permeiam a teleassistência e segurança para os pacientes. 

Portanto, objetivou-se analisar as publicações que descrevem a teleassistência de enfermagem em mulheres atendidas no pré-natal de risco habitual e a interface com a segurança do paciente.

2 METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura. Assim, adotou-se a seguinte sucessão de etapas: identificação do tema e a elaboração da pergunta de pesquisa; estabelecimento dos critérios de inclusão e exclusão dos estudos e busca na literatura; categorização dos estudos selecionados; análise dos estudos incluídos na revisão; interpretação dos resultados e síntese do conhecimento; e apresentação da revisão (Mendes; Silveira; Galvão, 2008). 

A questão norteadora foi elaborada com base na estratégia PICO (Stillwell et al., 2010). Assim, o primeiro elemento (P = População) consiste em mulheres atendidas no pré-natal de risco habitual, o segundo (I = Intervenção) de teleassistência de enfermagem, o terceiro (C = Comparação) não foi considerado, e o quarto (O = Resultado) foi segurança do paciente. Dessa forma, elaborou-se a questão norteadora: “Quais as publicações disponíveis na literatura que descrevem a teleassistência de enfermagem em mulheres atendidas no pré-natal de risco habitual e sua interface com a segurança do paciente?”.

Os descritores foram buscados no Medical Subject Headings (MeSH) e coincidiram com os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): “Prenatal care”;Telemedicine”; “Nurse”. Utilizou-se o operador booleano AND na seguinte combinação: “Prenatal Care” AND “Telemedicine” AND “Nursing”.

A busca ocorreu entre novembro de 2021 nas seguintes bases e bibliotecas virtuais: PUBMED; Scopus; Cochrane; Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (Lilacs); e Scientific Electronic Library Online (SciELO).

Foram incluídos artigos disponíveis na íntegra e publicados em português, inglês e espanhol. Foram excluídos os artigos de revisão, notas prévias, editorias, relatos de experiência, estudos reflexivos, resenhas, dissertações, monografias, teses, resumos em anais de eventos e artigos duplicados. A pré-seleção do artigo ocorreu por meio da leitura do título, resumo e descritores, e a seleção dos artigos pela leitura na íntegra.

Foram identificados 548 artigos nas buscas empregadas nas bases de dados selecionadas para a condução da revisão, sendo excluídos 40 publicações duplicadas, e, após a leitura de títulos, resumos e descritores, 37 artigos foram analisados na íntegra. Desses, 27 foram excluídos por não responderem à questão norteadora da pesquisa. Na Figura 1 são apresentadas as referências excluídas.

Figura 1 – Fluxograma de identificação do processo de seleção dos estudos para compor a revisão integrativa.

Fonte: Elaborado pelos autores.

Para extração dos dados, utilizou-se um instrumento construído pelos autores que permite a identificação da pesquisa, tipo de tecnologia, delineamento metodológico e principais resultados e conclusões. Cada artigo selecionado foi lido na íntegra por dois revisores independentes para constatar a conveniência do estudo. Os dados foram armazenados em um banco de dados no software Microsoft Office Excel® versão 2016 e apresentados em quadros sinópticos. Os resultados foram agrupados em quatro categorias: aplicativos móveis; recursos de telemonitoramento; ferramentas audiovisuais; e redes sociais.

3 RESULTADOS 

A amostra deste estudo foi composta por 10 artigos. Quanto ao desenho do estudo, cinco eram estudos transversais, dois estudos de coorte, dois estudos de desenvolvimento tecnológico e um ensaio clínico randomizado. Quanto à origem dos artigos, seis eram dos Estados Unidos da América, um do Canadá, um de Uganda, um da Finlândia e um do Reino Unido. Todos os artigos foram publicados nos últimos 5 anos. Salienta-se que não foi identificado nenhuma publicação em língua portuguesa sobre a temática. A Tabela 1 apresenta dados sobre os artigos identificados.

Tabela 1 – Caracterização dos artigos selecionados. Fortaleza, Ceará, Brasil, 2021.

CódigoAutor e AnoTecnologiaRecursosConclusões
A1Cawley et al. (2020).Aplicativo móvel que fornece informações de saúde, gravidez, recuperação pós-parto e cuidados infantis.Conteúdo informativo, listas de tarefas e lembretes, ferramentas para rastrear o movimento fetal, ganho de peso na gravidez, vacinas, alimentação.O uso do aplicativo foi associado a um aumento em certos comportamentos saudáveis ​​e conhecimentos sobre saúde, embora não tenha havido impacto nos resultados clínicos de saúde.
A2Chatwin et al. (2021).Grupos de discussão on-line privados sobre maternidade, hospedados na plataforma de mídia social do Facebook.Comunidades “virtuais” de cuidado; compartilhamento de informações; moderador que confirma ou refuta afirmações das participantes. Imprecisas e enganosas.O estudo sugere que as mães grávidas encontraram uma abordagem baseada nas redes sociais bem posicionada para fornecer cuidados pré-natais e apoio durante a pandemia Covid-19.
A3Duryea et al. (2021).Visitas pré-natais virtuaisSomente áudio.A implementação de consultas pré-natais virtuais apenas com áudio não foi associada a mudanças nos resultados perinatais.
A4Futterman et al. (2021).Atendimento pré-natal virtual.Televisitas foram realizadas no final de um encontro por telefone.A telessaúde permitiu a continuação adequada de cuidados pré-natais satisfatórios sem impacto na percepção da satisfação do paciente com o atendimento.
A5Kingston et al. (2017).Triagem eletrônica foi uma avaliação psicossocial.Ferramenta de triagem eletrônica baseada na Web.As descobertas deste estudo apoiam a viabilidade e aceitabilidade da triagem eletrônica entre mulheres grávidas, sugerindo que é uma opção de prestação de serviço viável para a triagem de saúde mental.
A6Mackert et al. (2017).Aplicativo móvel para melhorar o conhecimento dos homens sobre informações de saúde relacionadas à gravidez.Design responsivo; tópicos cobertos em módulos individuais; e layout de cartão.Envolver os homens no tópico é uma abordagem promissora, mas amplamente subutilizada. Direcionar eficazmente aos homens com intervenções de e-saúde bem elaboradas é uma abordagem promissora para gerar melhores resultados de saúde materno-infantil.
A7Madden et al. (2020).Visitas por vídeo.Aplicativo Epic Connect e mychart em seus telefones ou outros dispositivos portáteis.A rápida transição para telessaúde para o cuidado pré-natal foi viável e associada à satisfação do provedor.
A8Mugyenyi et al. (2017).Monitor fetal sem fio.Usa tecnologia baseada em Doppler para avaliar e registrar a frequência cardíaca fetal combinada com sensores de pressão para rastrear as contrações uterinas. Dados enviados via Bluetooth.Este monitor de FCF sem fio protótipo funcionou bem em um ambiente de poucos recursos e foi considerado aceitável e útil para mulheres grávidas. O dispositivo também parecia ter potencial para melhorar a experiência dos usuários em comparação com o padrão de atendimento.
A9Sarhaddi et al. (2021).Sistema de monitoramento de saúde materna baseado em internet das coisas (IoT).Smartwatch, um aplicativo móvel de plataforma cruzada, um dispositivo de pressão arterial e informações básicas.O sistema implementado é viável em termos de utilização do sistema durante nove meses. O smartwatch, tem eficiência energética aceitável no monitoramento de longo prazo e é capaz de coletar dados confiáveis.
A10Militello et al., (2021).Aplicativo móvel de tecnologia de voz: Self-Management Intervention – Life Essentials (SMILE).Podcasts e agente de conversação.Os resultados demonstram a viabilidade a curto prazo de disseminar o suporte perinatal baseado em evidências por meio de podcasts e dados captados por voz de curadoria de mulheres perinatais.

Fonte: Elaborado pelos autores.

A Tabela 3 mostra os principais riscos à segurança do paciente de cada tipo de tecnologia.

Tabela 3 – Principais riscos à segurança do paciente de cada tipo de tecnologia.

Fonte: Elaborado pelos autores.

4 DISCUSSÃO

4.1 Aplicativos

Um estudo com o aplicativo Circle foi realizado com o objetivo de fornecer conteúdo confiável e personalizado para suas pacientes grávidas e pais. Os desenvolvedores do sistema de saúde de Providence viram o aplicativo como uma ferramenta potencial para ajudar a reduzir a incidência de resultados negativos no pré-natal e nascimento. Este mesmo estudo detectou que o uso do Circle estava associado a impactos positivos em vários comportamentos de saúde importantes e resultados de conhecimento, mas não tem impacto significativo nos resultados clínicos de saúde. Esses comportamentos de saúde e resultados de conhecimento têm benefícios importantes para gestações ​​e cuidados infantis saudáveis (Cawley et al., 2020).

Outro estudo apontou que as mulheres com problemas de saúde mental que receberam informações não confiáveis, sem saber se seus sintomas são normais ou não durante a gravidez podem ter adoção de atitudes e práticas inadequadas que podem colocar sua segurança em risco (Kingston et al., 2017).

Problemas podem emergir na comunicação verbal, escrita e eletrônica entre integrantes da equipe, usuários e familiares. A complexidade do cuidado à saúde exige sensibilidade e integração entre todos os atores envolvidos neste processo de diversas áreas, serviços e níveis de atenção para que exista uma comunicação assertiva e que proporcione boas práticas e escolhas (REBRAENSP, 2013).

Um estudo que englobou homens utilizando um aplicativo sobre o pré-natal mostrou que alguns receberam informações ambíguas, gerando interpretações equivocadas sobre os diversos fatores que acontecem neste momento singular para a mulher grávida (Mackert et al., 2017).

Um requisito essencial para a continuidade e participação do cuidado e a segurança do paciente é uma comunicação compreensível, consistente e coesa entre os profissionais-usuário-familiares para que as informações sejam compreendidas de forma adequada e, assim, estes sujeitos se sintam pertencentes a este processo e se sintam confortáveis para se comunicarem e solicitarem esclarecimento (REBRAENSP, 2013).

4.2 Telemonitoramento

Um estudo realizado sobre a monitorização fetal mostrou que alguns médicos expressaram preocupação sobre: a incapacidade do dispositivo de permitir o armazenamento de dados, limitando-os a revisar os traçados exibidos no smartphone continuamente apenas dentro da distância recomendada da tecnologia habilitada para Bluetooth; segurança do protótipo; problemas de bateria e conectividade regular com a internet para permitir a disponibilidade constante de rastreamentos; e preocupações sobre a implementação da tecnologia (Mugyenyi et al., 2017). 

O telemonitoramento possui o potencial para melhorar a experiência dos usuários e expandir a capacidade de monitoramento em comparação com o padrão tradicional de atendimento e orientar os cuidados com a maternidade para promover a saúde a longo prazo no nível da população, bem como prevenir complicações agudas na gravidez em indivíduos (Mugyenyi et al., 2017; Sarhaddi et al., 2021).

O monitoramento da saúde materna é importante para garantir a saúde e o bem-estar da mãe e de seu filho, uma vez que muitas complicações de saúde ocorrem durante a gravidez com efeitos para a vida toda (Sarhaddi et al., 2021). 

No telemonitoramento, há dificuldades que precisam ser ponderadas, como por exemplo, dificuldades de compreensão de mensagens e imagens encaminhadas pelo emissor. Neste sentido, os profissionais envolvidos na assistência aos pacientes precisam proporcionar condições adequadas para a passagem de informações e uma comunicação efetiva, minimizando interrupções e ruídos, condições que venham a interferir em uma assistência segura e eficaz (REBRAENSP, 2013).

4.3 Recursos audiovisuais

Um estudo avaliou a viabilidade de fornecer educação em saúde perinatal por meio da voz entre um grupo de mulheres perinatais e sugeriu que o conteúdo de promoção da saúde perinatal transmitido por voz deve ser preciso e sucinto, destacando as principais lições, como também envolver os membros da família, especialmente os cônjuges, possibilitando comunicação efetiva (Militello et al., 2021).

Todavia, no momento, não há evidências suficientes para apoiar o uso seguro e eficaz da voz entre pacientes e provedores. Depender de assistentes de conversação para informações médicas acionáveis representa um risco de segurança para os pacientes e, em alguns casos, pode representar danos. Nessa perspectiva, deve-se explorar oportunidades para ampliar o uso da tecnologia de voz e favorecer a segurança do paciente à medida que os recursos do dispositivo se expandem (Militello et al., 2021).

Sugere-se tanto a viabilidade na implementação em larga escala de um modelo de atenção pré-natal com visitas integradas de áudio quanto a aceitabilidade desse modelo de atenção em termos de resultados maternos e neonatais importantes. Outro estudo sugere que as visitas virtuais síncronas com apenas áudio devem ser consideradas um tipo legítimo de visita de telessaúde, com base na satisfação do paciente e nos resultados obstétricos e neonatais. Apesar disso, as consultas pré-natais virtuais apenas com áudio não são consideradas aceitáveis como consultas completas, mas sim como medida de emergência (Duryea et al., 2021).

As barreiras linguísticas entre profissionais e pacientes podem resultar em uma falta de compreensão de instruções, maior uso do departamento de emergência e acompanhamento inadequado. Neste sentido, ter disponível uma fonte usual de cuidados de saúde reduz as barreiras não financeiras para a obtenção de cuidados, a melhora do acesso aos serviços e o aumento da frequência de contatos com os prestadores de cuidados de saúde. Em particular, ter uma fonte usual de atendimento fornece um ponto de entrada em um sistema de saúde complexo quando o atendimento é necessário (Futterman et al., 2021).

A comunicação efetiva é bidirecional. Para que ela exista com segurança, é imperativo que haja resposta e validação das informações emitidas. A técnica “leia de volta” (read-back), ou repita o que foi dito, pode ser usada, por exemplo, para ratificar as informações transmitidas para as pessoas (REBRAENSP, 2013). Neste sentido, há uma necessidade de capacitação e compreensão da segurança dos pacientes e sua interface com o uso das tecnologias. 

Os profissionais e os pacientes precisam ser treinados e capacitados para utilizarem os recursos da telessaúde de forma satisfatória, tendo suporte por meio de visita presencial, remotamente por meio de orientação telefônica e/ou por envio de instruções por e-mail. Dessa forma, deve-se realizar reuniões regulares com uma equipe dedicada de liderança em telessaúde para revisar o progresso, solucionar problemas de áreas e revisar a inscrição e o agendamento de pacientes. Neste sentido, percebe-se a necessidade de uma educação permanente e comunicação efetiva e segura (Madden et al., 2020).

4.4 Redes sociais

O uso de mídias digitais relaciona-se ao pré-natal, comportamentos saudáveis ​​e autocuidado, mostrando também uma ligação entre o apego pré-natal e o compartilhamento de informações sobre o feto e a gravidez (Harpel, 2018).

Nessa perspectiva, um estudo explorou as experiências de mães que estavam usando um serviço de suporte pré-natal baseado em uma comunidade virtual no Facebook durante os estágios iniciais do bloqueio ocasionada pela Covid-19 no Reino Unido. Nas discussões surgiram temas relacionados a: fornecimento e verificação de informações; administrar e reduzir sentimentos de isolamento; questões específicas do serviço, incluindo adaptações para crises; e impacto nos cuidados de rotina (Chatwin et al., 2021).

Para maximizar as redes de apoio, especialmente para mulheres grávidas que carecem de suporte, os profissionais devem estar cientes do valor potencial do apoio obtido por meio da mídia social. As gestantes buscam informações e conselhos por meio do Facebook, aliado ao fato de uma abundância de informações imprecisas estarem disponíveis na Internet e, provavelmente, compartilhadas nas redes sociais. Legitima-se ainda mais a necessidade de profissionais utilizarem o Facebook e outras plataformas de mídias sociais para fornecerem informações precisas para mulheres grávidas (Harpel, 2018).

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O pré-natal é um momento de muitas dúvidas e curiosidades e que precisa de interação entre profissionais e usuárias, com uma comunicação assertiva e segura para que se desfrute deste momento sem riscos ou com a menor quantidade possível deles.

O uso da tecnologia de forma inovadora pode melhorar a eficiência do atendimento em meio à contínua escassez de profissionais. A telessaúde deve continuar como uma ferramenta para fornecer cuidados pré-natais, especialmente em momentos de distanciamento social e nas tentativas de limitar os encontros presenciais entre profissionais e pacientes.

Há muitos entraves no que concerne à segurança do paciente e à teleassistência. Entretanto, este é um processo que está em construção e que possui vários desafios, os quais precisam de estratégias para a superação, como a educação em saúde e uma comunicação segura e efetiva que englobe todos os atores envolvidos. Assim, evidencia-se, neste estudo, uma lacuna sobre segurança do paciente no pré-natal e uma literatura que aborde esta temática de forma direcionada para este assunto. 

REFERÊNCIAS

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Atenção ao pré-natal de baixo risco. Brasília: Ministério da Saúde, 2013.

BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. PORTARIA Nº 2.436, DE 21 DE SETEMBRO DE 2017. Brasília: Diário Oficial da União, 2017.

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1 Especialista em Saúde da Família e Comunidade pela Escola de Saúde Pública do Ceará (ESP). E-mail: helaynemm@hotmail.com
2 Docente emérita da Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: maria.salete.jorge@gmail.com
3 Mestre em Medicina Translacional pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: camilabmn@gmail.com
4 Especialista em saúde da família e comunidade pela escola de saúde pública do Ceará. E-mail: cibellyfarma@hotmail.com
5 Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: beatriz_a.o@hotmail.com
6 Pós-graduando em Estomaterapia pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: Jefferson.matosaraujo2018@gmail.com
7 Especialista em Saúde da Família: Planejamento e Gestão pela Universidade de Fortaleza (Unifor). E-mail: lucelena.pires@gmail.com
8 Graduanda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará (UFC). E-mail: victoryaleitao@alu.ufc.br
9 Mestranda em Enfermagem pela Universidade Federal do Ceará. E-mail: tifannyhortacastro@gmail.com
10 Doutorando em Saúde Coletiva pela Universidade Estadual do Ceará (UECE). E-mail: prof.diego.ferreira.enfermeiro@gmail.com