Dra. Fernanda Nelli Gomes Giuliani (DF)
Doutoranda no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília – UCB.
Dra. Karla Helena Coelho Vilaça e Silva (DF)
Professora doutora no Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Gerontologia da Universidade Católica de Brasília – UCB.
CONTEXTUALIZAÇÃO: O processo de envelhecimento traz consigo inúmeras alterações biológicas, emocionais e sociais. Tanto na senescência quanto em condições relacionadas às síndromes geriátricas, a atuação da fisioterapia visa a funcionalidade, independência e autonomia do idoso. A funcionalidade é um importante indicador de saúde e está relacionada à qualidade de vida dessa população, por essa razão, a reabilitação deve ser pautada dentro das potencialidades e especificidades do indivíduo idoso (PEREIRA et al., 2016).
Alinhado a esse processo, podemos observar um crescimento tecnológico nos últimos anos na área da gerontologia, visando aprimorar e facilitar o processo de independência pessoal, conforto e segurança dos idosos (AUGER et al., 2020).
DESENVOLVIMENTO: Há uma crescente tendência do uso de recursos tecnológicos na área da saúde e utilização de aplicativos móveis destinados à área do envelhecimento, podendo ser utilizados como uma ferramenta de monitoramento, informação, promoção de hábitos saudáveis, prevenção de doenças e complicações em idosos (AMORIM et al., 2018). Nesse sentido vale ressaltar que as tecnologias de saúde móvel (mHealth) podem contribuir para a motivação dos pacientes na manutenção do tratamento, e os profissionais de saúde a acompanhar e rastrear a adesão e progressão do tratamento, podendo promover adaptações necessárias, avaliações e encorajamento aos pacientes (SOCIEDADE BRASILEIRA DE GERONTECNOLOGIA; PETERSEN et al, 2020).
Andrade e Pereira (2009) realizaram uma revisão sobre o papel dos dispositivos de tecnologia assistiva para melhora da capacidade funcional e da qualidade de vida de idosos. De acordo com os autores o uso de tecnologia assistiva permite que o idoso desempenhe as atividades funcionais de vida diária com maior segurança, aumentando sua independência e autonomia, prevenindo quedas e hospitalizações, e melhorando dessa forma sua qualidade de vida. Contudo é importante ressaltar que nos últimos anos a tecnologia vem sem sendo aprimorada, são inúmeras pesquisas que apresentam recursos tecnológicos que buscam auxiliar idosos e profissionais de saúde que atendem essa população (AUGER et al., 2020).
A tecnologia pode ser utilizada em benefício dos idosos para identificação de queda, como é apresentado na pesquisa de Mano et al. (2016). O estudo teve como objetivo desenvolver e avaliar um modelo que permitisse identificar a atividade realizada do usuário, bem como prover um mecanismo que possa monitorar as atividades de seu cotidiano. A proposta utilizada para a identificação de quedas em idosos nesse estudo é conhecida como Smart Architecture para In-Home Healthcare (SAHHc), o qual baseia-se na utilização da tecnologia das coisas (internet of things – IoT) para o monitoramento inteligente e individualizado de pacientes idosos em suas casas. Os dados foram obtidos com a utilização de dois sensores distintos (acelerômetro e giroscópio) e tiveram precisão de 96,62% na identificação das atividades executadas pelo paciente (ao andar, correr, sentar, deitar, em pé e queda).
No caso de idosos sarcopênicos por exemplo, o uso de tecnologia como ferramenta clínica, usada em ambiente específico, pode impactar positivamente para independência desses indivíduos (ADDANTE et al. (2019). Outro exemplo de tecnologia que tem se mostrado eficaz, é a utilização da terapia de exposição à Realidade Virtual no manejo da dor (MALLOY, MILLING, 2010; WIEDERHOLD et al, 2014) e no tratamento de equilíbrio tanto em idosos saudáveis, quanto em indivíduos que sofreram acidente vascular cerebral (AVC) e portadores de Doença de Parkinson (PINHEIRO et al. 2017).
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Sendo assim, podemos observar pelas pesquisas que os avanços tecnológicos podem contribuir de forma benéfica para a saúde do idoso (CHEN 2020). Os recursos variam desde aplicativos para avaliação, treinamento, monitoramento e reabilitação, até utilização de games e realidade virtual para redução de dor e treino de equilíbrio. Vale ressaltar que a tecnologia é importante aliada do profissional de saúde para prevenção de doenças e comorbidades, bem como para tratamentos nos casos de síndromes geriátricas. As pesquisas sobre o uso de tecnologia à serviço do idoso são recentes, muitas delas sendo estudos pilotos com poucos participantes, de forma que se faz necessário estudos mais aprofundados com amostras maiores a fim de observamos efetivamente os benefícios dessas tecnologias.
REFERÊNCIAS:
Addante, F; Gaetani, F; Patrono, L.; Sancarlo, D.; Sergi, I; Vergari, G. An Innovative AAL System Based on IoT Technologies for Patients with Sarcopenia. Sensores, 19, 4951. 2019.
Amorim, D., Sampaio, L., Carvalho, G., & Vilaça Silva, K. Aplicativos móveis para a saúde e o cuidado de idosos. Revista Eletrônica de Comunicação, Informação e Inovação em Saúde, 12(1). 2018. doi: https://doi.org/10.29397/reciis.v12i1.1365
Andrade, V; Pereira, L. (2009). Influência da tecnologia assistiva no desempenho funcional e na qualidade de vida de idosos comunitários frágeis: uma revisão bibliográfica. Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia. 12. 113-122. 2009. 10.1590/1809-9823.2009120110
Auger C, Mortenson WB, Jutai JW, Seguin-Tremblay N, Chenel V, Guay M. Older adults\’ use of an online decision support system: Usability and stability of assistive technology recommendations. Assist Technol. 2020 Oct 13:1-10. doi: 10.1080/10400435.2020.1815251. Epub ahead of print. PMID: 32865488.
Chen LK. Gerontechnology and artificial intelligence: Better care for older people. Arch Gerontol Geriatr. 2020 Sep 10;91:104252. doi: 10.1016/j.archger.2020.104252. Epub ahead of print. PMID: 32979638; PMCID: PMC7482590.
Lee, JA., Choi, M., Lee, S.A. et al. Effective behavioral intervention strategies using mobile health applications for chronic disease management: a systematic review. BMC Med Inform Decis Mak 18, 12 (2018). https://doi.org/10.1186/s12911-018-0591-0
Malloy, KM; Milling, LS. The effectiveness of virtual reality distraction for pain reduction: A systematic review. Clinical Psychology Review 30, 1011–1018. 2010.
Mano, LY; Funes, MM; Volpato, T; Torres Neto, JR. Explorando tecnologias de IoT no contexto de Health Smart Home: uma abordagem para detecção de quedas em pessoas idosas. Journal on Advances in Theoretical and Applied Informatics, [Sl], v. 2, n. 1, pág. 46-57, agosto. 2016. ISSN 2447-5033. Disponível em: < https://revista.univem.edu.br/jadi/article/view/1667. doi: https://doi.org/10.26729/jadi.v2i1.1667
Pereira, LSM; Dias, RC, Dias, JMD, Gomes, GC; Sitta, MI. Fisioterapia em Gerontologia. In Freitas et al. Tratado de Geriatria e Gerontologia. Cap 128, 2195-2200. 2016.
Petersen CL, Halter R, Kotz D, Loeb L, Cook S, Pidgeon D, Christensen BC, Batsis JA. Using Natural Language Processing and Sentiment Analysis to Augment Traditional User-Centered Design: Development and Usability Study. JMIR Mhealth Uhealth. 2020 Aug 7;8(8):e16862. doi: 10.2196/16862. PMID: 32540843; PMCID: PMC7442942.
Pinheiro, YT; Moreira, DC RT; Mendonça, R. de M; Freire, B HF., Freire, BHF; Veloso, L. de SG. Eficácia da realidade virtual sobre o equilíbrio de idosos. Archives of Health Investigation, 6(2). 2017. https://doi.org/10.21270/archi.v6i2.1788
Sociedade Brasileira de Gerontecnologia. https://sbgtec.org.br/. Acesso em 21 de outubro de 2020.
Wiederhold BK, Gao K, Sulea C, Wiederhold MD. Virtual reality as a distraction technique in chronic pain patients. Cyberpsychol Behav Soc Netw. 17(6):346-352. 2014. doi:10.1089/cyber.2014.0207