TECHNIQUES USED IN THE TREATMENT OF ASSISTED HUMAN REPRODUCTION: A LITERATURE REVIEW
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202411252005
Letícia Da Cruz Calegari
Prof.ª Orientador(a): Waleska Lazaretti
RESUMO: A reprodução humana assistida é uma área do conhecimento pertinente para se pensar mudanças e progressos no qual os avanços da ciência e da tecnologia oferecem inúmeros recursos para o tratamento da infertilidade humana. A esterilidade atinge aproximadamente de 8% a 15% dos casais e nos últimos anos houve intenso desenvolvimento de tecnologias, drogas e também condições laboratoriais que possibilitam maiores chances de sucesso no tratamento deste problema. O estudo aborda a relevância das técnicas de reprodução humana assistida, revisando métodos como, FIV, ICSI, IIU e TEC, destaca os avanços históricos, o impacto nos casais, além de questões éticas. Dessa forma, o objetivo deste estudo é atualizar os conceitos sobre a reprodução humana assistida, enfatizando principalmente as técnicas.
Palavras chave: infertilidade. Reprodução assistida. Criopreservação. Embriões. técnicas reprodutivas. Fertilização.
ABSTRACT: Assisted human reproduction is a field of knowledge relevant to understanding changes and progress in which advances in science and technology offer numerous resources for treating human infertility. Infertility affects approximately 8% to 15% of couples, and in recent years there has been significant development in technologies, drugs, and laboratory conditions that provide greater chances of success in addressing this issue. This study highlights the importance of assisted human reproduction techniques, reviewing methods such as IVF, ICSI, IUI, and FET. It underscores historical advancements, the impact on couples, and ethical considerations. Thus, the objective of this study is to update concepts related to assisted human reproduction, with a primary focus on these techniques.
Keywords: infertility, assisted reproduction, cryopreservation, embryos, reproductive techniques, fertilization.
1 INTRODUÇÃO
A infertilidade afeta entre 8% e 15% dos casais, apresentando causas variadas que impactam tanto homens quanto mulheres. Essa condição provoca grande sofrimento emocional em muitos casais que desejam ter filhos. No contexto brasileiro, aproximadamente 278 mil casais enfrentam dificuldades para conceber ao longo de suas vidas devido à infertilidade (LOURENÇO, 2016).
Infertilidade é compreendida como a incapacidade de um casal conceber ou levar uma concepção a termo, após um ano ou mais de relações sexuais regulares, sem o uso de tecnologia anticonceptiva. As razões podem estar associadas a fatores masculinos e femininos, dos quais os fatores masculinos respondem por cerca de 40% dos casos. Estima-se existir, no mundo, de 50 a 80 milhões de casais inférteis, havendo cerca de dois milhões de novos casos por ano (MOURA et al., 2013).
A infertilidade pode ser dividida em primária e secundária. A primária compreende os casais que não conseguem, nem nunca conseguiram conceber uma gravidez. A secundária remete-se aos casais que após gerarem um ou mais filhos passaram a evidenciar problemas relacionados com a fertilidade (ALEXANDRE et al, 2014).
Como exemplos de infertilidade primária podemos citar a mulher que aborta espontaneamente ou o caso de um natimorto. Já na infertilidade secundária podemos citar mulheres que abortam espontaneamente por diversas vezes (CHAVES; DANTAS, 2018).
Vários tipos de tratamento e drogas para a infertilidade humana são descritos na literatura. Os fármacos que contribuem na fertilidade normalmente são utilizados sozinhos como tratamento inicial para induzir a ovulação. Se há uma falha como terapia única, podem ser utilizadas técnicas de reprodução assistida (RA) (HUGHES et al, 2014).
O conjunto de procedimentos e tecnologias usados para auxiliar pessoas que possuem dificuldades para engravidar fisiologicamente recebe denominações variadas, tais como “reprodução assistida” (RA), “reprodução humana assistida” (RHA), ou ainda “técnicas de reprodução assistida” (TRA), que na prática se equivalem. (CORRÊA; LOYOLA, 2015).
O aumento na busca por técnicas de Reprodução Humana Assistida (RHA) está relacionado ao adiamento da primeira gestação pelas mulheres, muitas vezes devido ao uso prolongado de contraceptivos. Além disso, fatores como tabagismo, consumo excessivo de álcool e drogas, abortos induzidos, histórico de endometriose, apendicite supurada, ovários policísticos e outros desequilíbrios hormonais contribuem para a infertilidade (MOURA MD et al., 2009). Aspectos emocionais como ansiedade, depressão, raiva e baixa autoestima também estão frequentemente associados à infertilidade conjugal, influenciando a busca por esses tratamentos (SERRA AM et al., 2012).
A RHA concretiza o desejo da maternidade e da paternidade, ocasionando um bem-estar emocional. A situação dramática da infertilidade faz com que os casais se deliberem a tudo para superá-la, retirando a procriação do âmbito privado e inserindo-a cada vez mais nas mãos da medicina e suas novas revoluções (FARINATI, 1996; SOUZA; ALVES, 2016).
A Resolução CFM Nº 2.320/2022 afirma que “As técnicas de reprodução humana assistida (RHA) têm o papel de amparar a resolução dos problemas de reprodução humana, facilitando o desenvolvimento da procriação. As técnicas de RHA podem ser usadas desde que exista probabilidade efetiva de sucesso e não se cometa em risco grave de saúde para a paciente ou o possível descendente, e a idade máxima das candidatas à gestação de RA é de 50 anos”.
Muitas técnicas são utilizadas no tratamento de infertilidade e a procura pelo tratamento na área de reprodução humana vem crescendo cada vez mais no Brasil, perante a isso algumas técnicas têm se ressaltado pela sua eficácia e entre elas estão: A inseminação intrauterina (IIU); Fertilização In Vitro (FIV); Injeção Intracitoplasmática de espermatozóides (ICIS) e a Transferência de Embrião Congelado (TEC).(ALVES & SOUZA, 2016).
A reprodução humana era conceituada como algo impossível, mas as evoluções tecnológicas evidenciaram que era sim possível. Diversos aspectos se modificaram do início até hoje, novas tecnologias surgiram e novas técnicas foram criadas, fazendo com que a reprodução assistida obtivesse espaço, abrindo assim portas para novas discussões e novas pesquisas (ALVES & SOUZA, 2016).
Tendo em vista o número crescente de casais com problemas de fertilidade ou dificuldade para gerar filhos, o estudo busca entender as possibilidades da reprodução humana assistida a fim de solucionar tais problemas. Além de que é importante ressaltar que de acordo com a percepção dos especialistas em fertilidade esse problema está se tornando cada vez mais frequente, pois os casais deixam para planejar a gravidez cada vez mais tarde (LENHARO, 2013).
2 METODOLOGIA
Para este estudo foi realizado um estudo descritivo como uma revisão de literatura sobre o tratamento da Reprodução Humana Assistida, também denominada RHA. Os dados foram obtidos através das bases de dados: SciElo (Scientific Electronic Library Online), Google acadêmico, PubMed (National Library of Medicine) e Medline (Sistema Online de Busca e Análise de Literatura Médica).
Como critérios de inclusão foram considerados os artigos referentes ao tema publicados no período de 2015 a 2023, nos dois idiomas: inglês e português, com dados bibliográficos que abordaram temas sobre reprodução humana e outras informações específicas correlacionadas ao assunto. Foram excluídas publicações anteriores ao ano de 2015 e artigos que não tratam sobre a temática aplicada no estudo ou que não contenham informações relevantes. Em seguida, foi realizada uma leitura analítica para requerer as informações e identificar o objeto de estudo.
3 REVISÃO DE LITERATURA
3.1 INFERTILIDADE
A infertilidade sempre foi considerada como algo estigmatizante. No entanto, antigamente, era vista como uma fatalidade biológica, um “castigo divino” e, portanto, algo impossível de ser superado. Hoje em dia, muitas pessoas não aceitam essa situação, já que as técnicas de reprodução assistida frequentemente possibilitam a superação dessas dificuldades em engravidar, permitindo assim a realização do sonho de ter filhos (PATRÃO NEVES M. C. & OSSWALD W, 2014). Pesquisas recentes indicam que, na Europa, 1 em cada 50 nasce graças a esses tratamentos (DE GEYTER, C. et al, 2018). No entanto, esta é uma maneira complexa e dispendiosa de enfrentar a infertilidade. Idealmente, cada pessoa deve estar atenta aos seus fatores de risco e adotar hábitos de vida que aumentem a sua possibilidade de, agora ou no futuro, gerar um filho.
Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), infertilidade é considerada como a incapacidade de obtenção da gestação no decorrer de um ano sem métodos contraceptivos, em um casal ativo sexualmente (JÚNIOR, REIS E MADEIRA, 2010). De acordo com dados da OMS a porcentagem de indivíduos portadores de algum problema de fertilidade pode chegar a 15% da população (JÚNIOR, REIS E MADEIRA, 2010).
Globalmente, estima-se que cerca de 10-15% dos casais sejam inférteis (Tamrakar, S.R & Hazlina, N.H.N., et al, 2022). No entanto, esta estimativa apresenta variações geográficas, sendo que em países mais desenvolvidos 3,5% a 16,7% dos casais são inférteis, enquanto que em países menos desenvolvidos a infertilidade varia entre os 6,9% e 9,3% (Saúde, D.G.d, 2011)
A idade da mulher é um dos fatores considerados mais importantes para a fertilidade de um casal, por isso tem grande influência no sucesso das técnicas de reprodução assistida. Entre os 30 e 35 anos, a fertilidade feminina diminui pela metade e, entre os 35 e 40 anos, cai para um terço do nível inicial (FÉLIS, K. C. & ALMEIDA, R. J, 2016)
Em relação a influência da idade masculina, esta possui efeitos mais tardios mas que obviamente, não são para se descartar. (BRESCHI, M. et al, 2020)Está relacionada principalmente com a diminuição na qualidade seminal (redução dos parâmetros do espermograma – volume, contagem, morfologia e mobilidade dos espermatozoides) e da integridade genética dos gâmetas masculinos, em conjunto com as alterações da função sexual (SOBRAL, D. et al, 2011),
Adiar os planos de ter filhos é uma atitude muito característica em nossa sociedade atual, porém essa opção contém consequências muito graves: da parte feminina ocorre uma diminuição drástica em relação a quantidade e a qualidade dos ovócitos (RODRIGUES, C. & CALHAZ-JORGE, C; UBALDI, F. M. et al. 2019) Desta maneira, é profundamente afetada a capacidade de engravidar de forma natural, porém também é comprometida a taxa de sucesso de qualquer técnica de reprodução humana assistida e a mulher vê de forma agravada às complicações obstétricas associadas a uma gravidez de idade mais avançada (SOBRAL, D. et al, 2012).
3.1.1 INFERTILIDADE FEMININA
A infertilidade feminina está associada, em 20% a 30% dos casos, a problemas ovulatórios e hormonais, que são causados por alterações no sistema reprodutivo, uma vez que a ovulação é regulada pelo sistema hormonal (ISAAC,2016).
Segundo Lourenço e Lima (2016, pg 116): Podemos observar como fatores de infertilidade nas mulheres: a idade, fatores ovarianos-hormonais, fatores tubo-peritoneais, além de fatores uterinos, imunológicos e genéticos. Dentre esses a idade é o mais frequente, vem seguida dos fatores associados ao balanço hormonal como ovários policísticos, anovulação e disfunções de um modo geral. Em relação às tubas uterinas e ao útero tem como fatores de infertilidade as infecções, endometriose, aderências, miomas, pólipos e alterações cervicais.
Entre as causas da infertilidade feminina, 35% são devido a obstruções tubárias, outras 35% devido a disfunção ovulatória, 20% a endometriose e 10% a causas desconhecidas. As obstruções tubárias, que são responsáveis por 35% dos casos, causam aderências, tecido cicatricial e ainda bloqueio nas trompas de Falópio e na cavidade uterina, o que pode acarretar na dificuldade de fertilização e implantação do embrião. (ISAAC, 2016)
Se relaciona ainda como causa da infertilidade feminina o fator idade “pelo fato de que na mulher na faixa etária dos 20 – 24 anos a probabilidade de engravidar é de 86%, já dos 30 – 34 anos esse número decai para 63% e dos 40 – 44 anos diminui ainda mais tendo uma probabilidade de apenas 1%” (LOURENÇO & LIMA, 2016)
Relacionado aos maus hábitos de vida e hábitos alimentares, podemos citar o consumo de substâncias tóxicas como o álcool, cigarro, entre outras, bem como o sedentarismo, os quais propiciam disfunções hormonais, que causam alterações no ciclo menstrual e problemas nos ovários (SAVIOLI, 2017).
3.1.2 INFERTILIDADE MASCULINA
A infertilidade masculina envolve múltiplos fatores, dificultando um diagnóstico preciso. De acordo com estatísticas, 47% dos casos não tem causa aparente, 13% são associados a varicocele, 7% decorrem de infecções, 8% estão ligados a fatores imunológicos, sexuais ou endócrinos congênitos e 26% resultam de anormalidades do sêmen” (LOURENÇO e LIMA, 2016).
As causas de infertilidade masculina são denominadas por Gonçalves (2017) de três formas: pré-testiculares, testiculares e pós-testiculares. As causas consideradas pré-testiculares se relacionam com falhas genéticas.
As alterações testiculares, conhecidas como varicocele, são consideradas uma causa de infertilidade pois afetam a produção de espermatozoides, isso ocorre porque as deformidades nas veias do plexo pampiniforme alteram a temperatura e a oxigenação local, prejudicando a nutrição celular e aumentando a liberação de radicais livres nas células testiculares (ISAAC, 2016)
As alterações pós-testiculares se caracterizam pela presença de antígenos antiespermatozoides, que dificultam a mobilidade do espermatozoide e a sua capacidade de se fixar ao óvulo, provocando assim obstruções e inflamações. Além disso há outras causas de infertilidade masculina, incluindo fatores genéticos e questões como vasectomia, exposição a fatores ambientais, hábitos de vida pouco saudáveis (como alimentação pobre em nutrientes, sedentarismo e uso de drogas), uso de alguns medicamentos, câncer e outras doenças crônicas, além de questões como a ejaculação precoce e dificuldades na penetração (COSTA et al., 2016)
3.2 CONTEXTO HISTÓRICO DA REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA
A ideia de reprodução assistida surgiu inicialmente na Idade Média, por volta de 1300. Segundo o relatório de Chevalier, Le Bom tentou aplicar a reprodução artificial em animais, utilizando de uma técnica imperfeita e original. Experiências semelhantes só foram possíveis em humanos em 1790, pelo médico britânico John Hunter que o executou e obteve sucesso ao aplicá-la em uma mulher (JOPPERT JUNIOR et al, 2002).
No começo da década de 1970, as técnicas de Reprodução Humana Assistida (RA) eram focadas principalmente no tratamento da infertilidade de portadores de obstrução tubária com idade acima de 30 anos, utilizando métodos como a fertilização in vitro (FIV) clássica (ORTONA, 2019).
A primeira gravidez humana resultante de uma fertilização in vitro ocorreu em 1973, sendo relatada por Carl Wood e John Leeton em Melbourne, Austrália. Infelizmente, essa gestação terminou com uma perda embrionária precoce, com menos de uma semana de desenvolvimento. Durante aqueles anos, esse procedimento gerou muita controvérsia e críticas relacionadas às transferências de embriões humanos; no entanto, alguns pesquisadores, como Patrick Steptoe e Robert Edwards, persistiram nos estudos relacionados à fertilização in vitro em humanos e, em 1976, conseguiram sua primeira gravidez com a fertilização in vitro; porém, houve grande decepção ao descobrirem que se tratava de uma gravidez ectópica (MIRANDA, ZAPIEN, 2019).
A partir deste período (1976) a fertilização in vitro obtém uma grande repercussão com o nascimento de Louise Brown em 1978, proporcionando assim o surgimento de técnicas mais modernas.
Já no No Brasil, Nakamura, no ano de 1984 conquistou a primeira gravidez, que resultou no nascimento de Anna Paula Caldeira, em São José dos Pinhais (Paraná), o primeiro bebê brasileiro nascido através de uma fertilização in vitro. O primeiro laboratório de Reprodução Humana da América do Sul foi fundado por Nilson Donadio, na Faculdade de Medicina da Santa Casa de São Paulo, no ano de 1982. Aroldo Fernando Camargos, em 1988, originou o Laboratório de Reprodução Humana do Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais (PEREIRA, 2001).
No ano de 1995, aconteceu uma reunião com a maior parte dos centros de Medicina Reprodutiva, ocasionando o início à Rede Latino-Americana de Reprodução Assistida (REDLARA), nosso país tem buscado cada vez mais aperfeiçoar suas técnicas o que nos possibilitou alcançar o quesito máximo por parte da Red Latinoamericana de Reproducción Asistida (JUNIOR et al., 2002).
Desde então muita coisa se transformou, principalmente em razão dos avanços tecnológicos. Em 1992 ocorreu um grande marco mundial só que desta vez em casos de infertilidade masculina, onde nasceu a primeira criança que foi concebida pela técnica de injeção intracitoplasmática de espermatozoide (ICSI). (AMARAL, 2018)
Em 2014, na Suécia, foi realizado o primeiro transplante de útero bem-sucedido, criando uma nova oportunidade para mulheres que não podiam engravidar de forma natural. (AMARAL, 2018).
Nos últimos dez anos, não obtivemos muitos avanços, nos quais podemos destacar a criopreservação de óvulos por meio da técnica de vitrificação, que ultimamente vem demonstrando resultados positivos em termos de gravidez.
3.3 REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA (RHA)
Reprodução Humana Assistida é o termo utilizado para determinar as técnicas que são utilizadas para tratar a infertilidade ou a esterilidade, na qual abrange a manipulação de ao menos um dos gametas. (GONÇALVES, 2022)
A Reprodução Humana Assistida (RHA), refere-se a um conjunto de métodos médico-tecnológicos que permitem a realização de gestações que não ocorreriam de forma espontânea, ou seja, que dependem da intervenção médico- tecnológica para acontecer. Essa abordagem está se tornando uma alternativa cada vez mais comum para lidar com dificuldade involuntária em gerar filhos (RAMÍREZ -GÁLVEZ, 2008)
A RHA se classifica por ser uma área muito diversa e complexa, que assiste o processo reprodutivo, oportuniza qualquer pessoa legalmente capaz, independentemente de seu estado civil ou orientação sexual, que tem o desejo da concepção, utilizando-se dos métodos para gestação, preservação da fertilidade ou viabilidade genética. (LEITE TH, 2019).
Diante de um diagnóstico de infertilidade, as mulheres e os homens com dificuldade engravidar, optam por métodos da Reprodução Assistida para realizar o seu desejo de ter filhos.( ROCHA KNS et al., 2022) De acordo com Pedrosa Neto e Franco Junior sobre a necessidade biológica de ter filhos: “o determinismo biológico da reprodução e a satisfação que isso trás justificam plenamente a utilização das técnicas de reprodução assistida”.
A RHA compreende um conjunto de técnicas da medicina reprodutiva voltadas para o tratamento da infertilidade e para alcançar a concepção (LAMAITA RM., et al 2018). No entanto, a parentalidade na cultura é considerada complexa, influenciada pelas mudanças nas relações afetivas e nos papéis de pai e mãe, além dos inúmeros modos de operação das tecnologias, que estão em constante evolução diante do desejo de ter filhos (GIACON, FLÁVIA, 2022)
Assim, o rápido desenvolvimento das técnicas e dos avanços tecnológicos vai além do apoio gerado para pessoas inférteis, estendendo-se também àqueles que desejam ou necessitam preservar sua fertilidade, seja por questões fisiológicas ou devido a doenças. (BOSCH E., et al, 2020)
3.4 TÉCNICAS DE REPRODUÇÃO HUMANA ASSISTIDA
3.4.1 INSEMINAÇÃO INTRA UTERINA (IIU)
A inseminação intrauterina (IIU) ou também chamada inseminação artificial é a técnica em que os espermatozoides (sêmen) serão processados em laboratório e logo após é feito a introdução no canal cervical da mulher (BORGES JÚNIOR, E.,et al, 2020)
Esse método é considerado o mais simples, porém nos dias atuais é menos utilizado em razão à necessidade de tratamentos de alta complexidade, relacionados aos diagnósticos e avanços tecnológicos. (GIACON, FLÁVIA, 2022)
Essa técnica ocorre no período ovulatório da paciente. No procedimento é feita a coleta do sêmen do marido e o mesmo é preparado em laboratório, logo após é introduzido no interior do útero da mulher utilizando um cateter específico. Este método se baseia em depositar os espermatozoides capacitados no laboratório, podendo ser tanto do parceiro ou doador no útero, usando um cateter sem anestesia ou internamento (AVELAR, 2008). O tratamento pode se dividir em três etapas:
1ª Etapa: Estimulação Ovárica: “A estimulação ovariana é uma fase essencial para o sucesso do tratamento de inseminação intrauterina (IIU). Com o objetivo de estimular a produção de mais de um ovócito, limitando-se a dois ou três no máximo” (INSEMINAÇÃO…, 2015). Geralmente são utilizados medicamentos que induzem a ovulação, para aumentar a eficácia do procedimento.
2ª Etapa: Capacitação Espermática: Nesta etapa, os espermatozóides são preparados em laboratório utilizando técnicas de capacitação. Uma das mais comuns e utilizadas é a técnica “migração ascendente” (swim-up): em que o sêmen é colocado no fundo de um tubo de ensaio e coberto por uma pequena quantidade de meio de cultura tamponado. Os espermatozoides de melhor qualidade se desprendem e movem-se para a superfície”.13
3ª Etapa: Inseminação: Durante a inseminação, o ginecologista utiliza um espéculo, e introduz no útero um cateter contendo os espermatozóides selecionados na etapa de capacitação. “Após a inseminação a mulher deve permanecer em repouso por cerca de 30 minutos, depois, recebe alta, e pode retomar a sua rotina, mantendo a frequência das relações sexuais, inclusive no dia do procedimento”13. Caso o procedimento não tenha causado sucesso após três tentativas, geralmente é recomendado outro método como fertilização in vitro. “ Embora seja um tratamento efetivo e amplamente utilizado, sua eficácia diminui significativamente após várias tentativas sem sucesso, se limitando a três ou quatro ciclos (BORGES, 2003)
3.4.2 FERTILIZAÇÃO IN VITRO (FIV)
A fertilização in vitro (FIV) é uma técnica de reprodução humana assistida que consiste na manipulação em laboratório de ambos os gametas (espermatozóides e óvulo), com o objetivo de obter embriões de boa qualidade. A indicação clássica para FIV é a obstrução tubária, mas outras condições que também podem justificar o tratamento são: infertilidade por fator masculino; infertilidade sem causa aparente e casos que não responderam a outros tratamentos (CORRÊA, 2001)
De acordo com (LIMA, 2014), a técnica de fertilização in vitro permite o encontro do óvulo com o espermatozoide ocorra fora do corpo da mulher em uma placa de cultura ou em um tubo de ensaio. O método consiste na coleta de um ou mais óvulos da mulher, que geralmente é estimulada por hormônios para o aumento na produção de óvulos. Em seguida do procedimento, os óvulos são colocados em um meio nutritivo em conjunto ao esperma para que ocorra a fecundação. Após algumas horas ou podendo ser até dois dias, o óvulo fecundado é transferido ao útero da mulher, onde, se houver a implantação a gravidez segue seu ritmo normal.
A taxa de sucesso deste procedimento tem uma variação entre 30% e 35% em mulheres com até 35 anos e, a partir dos 40 anos, a taxa de gravidez decai para 15% (AVELAR, 2008).
A FIV promoveu o avanço das técnicas de reprodução assistida (TRAs), trazendo a esperança de gestação aos casais inférteis ao redor do mundo, com o primeiro nascimento vivo, após anos de tentativas. (BORGES JÚNIOR, E., et al, 2020).
3.4.3 INJEÇÃO INTRACITOPLASMÁTICA DE ESPERMATOZÓIDES (ICSI)
A técnica de Injeção Intracitoplasmática de Espermatozoides (ICSI) baseia-se em, com o auxílio de um microscópio invertido e agulhas chamadas micro injetoras, injetar o espermatozoide no interior do citoplasma do oócito, sendo assim a fertilização e desenvolvimento embrionário comum à FIV. Primeiramente foi uma proposta para solucionar a infertilidade masculina grave, escolhendo apenas os espermatozoides móveis e morfologicamente normais, podendo realizar a extração dos mesmos do epidídimo ou testículos se não houver motilidade. Esse tratamento obteve sua primeira gestação de sucesso em 1992, por Gianpiero Palermo e colaboradores (BORGES JÚNIOR, E., et al, 2020)
Mais detalhadamente o procedimento da ICSI se inicia com a estimulação dos ovários, para qual são usados medicamentos agonistas de GNRH (Hormônio liberador de Gonadotrofinas) para suprimir a atividade hormonal e estimular a ovulação, controlando o crescimento dos folículos. O crescimento dos folículos é monitorado através de ultrassom transvaginal e exames hormonais. Logo em seguida, os oócitos são coletados, sob anestesia, com a orientação por um ultrassom transvaginal. No mesmo dia o sêmen é coletado sendo o método mais comum a masturbação em uma sala preparada para o procedimento. Em alguns casos para obter a amostra, pode ser necessário pequenos procedimentos como aspiração do epidídimo ou biópsia testicular. Após esses procedimentos, a ICSI é realizada. No dia seguinte é feita uma verificação para confirmar se a fertilização ocorreu, o que é identificado pela presença de dois pró-núcleos. Três dias após a fertilização, o embrião é transferido para o útero e, quinze dias depois é realizado o teste de gravidez com o exame βHCG (Beta Gonadotrofina Coriônica Humana) (SCHUFFNER, 2017)
Esta técnica foi um grande avanço no tratamento da infertilidade, especialmente após a FIV clássica. A ICSI se tornou uma solução para os casos de infertilidade por fator masculino grave, mas também é indicada para os casais com falha de fertilização pela FIV convencional. (SILVA; VERZELETTI, 2014).
3.4.4 TRANSFERÊNCIA DE EMBRIÃO CONGELADO (TEC)
A Transferência de embrião congelado é uma técnica atual e vem ganhando bastante atenção devido a sua taxa de exatidão. Desde o nascimento da vitrificação a TEC tem conquistado espaço para o tratamento da infertilidade pois possui uma taxa de preservação embrionária considerada muito boa. Esta técnica é indicada para casais inférteis, isto é, casais que não podem ter filhos biológicos.(SOUZA, KARLA., et al, 2016
Aproximadamente um terço dos pacientes que passam pelo tratamento da RHA geram embriões excedentes, os quais podem ser criopreservados, o que irá oferecer a possibilidade de uma futura gravidez para os casais que não obtiveram sucesso em uma primeira tentativa ou também para aqueles que possuem o desejo do segundo filho, porém não queiram reiniciar todo o processo de indução à ovulação. (DIMITRI, AITA., et al, 2015)
A vitrificação pode envolver o congelamento de gametas masculinos, que seriam os espermatozoides, femininos, os óvulos ou também embriões, seno especialmente recomendada para pacientes que necessitam realizar tratamentos oncológicos, como a quimioterapia ou radioterapia, que podem prejudicar na fertilidade. (DIMITRI, AITA., et al, 2015)
Atualmente, a técnica mais usada na criopreservação é a vitrificação, um processo de congelamento rápido em que o embrião é colocado em uma solução crioprotetora que irá permitir a desidratação osmótica, após o embrião é transferido para uma palheta identificada e rapidamente congelado no nitrogênio líquido á -196ºC.(ROCHA, KNS., et al, 2022)
As principais vantagens dessa técnica incluem: aumento nas taxas de implantação e de gravidez, redução das taxas de aborto espontâneo, menor risco de parto prematuro, bebes com maior peso ao nascer e menos chance de sangramentos durante a gestação. Um estudo realizado na cidade de Nova Iorque mostrou que, nos ciclos naturais de transferência de embriões congelados, a taxa de gravidez foi de 36,76%, enquanto nos ciclos com reposição hormonal, essa taxa foi de 22,99%, isso demonstra que a vitrificação tem um impacto positivo nas chances e sucesso na gestação. (MOZOROV, 2007).
4 DISCUSSÃO
O estudo em questão aborda um tema que possui grande relevância no campo da biomedicina, evidenciando o avanço e a aplicação das técnicas de reprodução humana assistida (RHA). A infertilidade, que afeta de 8% a 15% dos casais, é um problema crescente devido a fatores biológicos e sociais, como o adiamento da maternidade, hábitos de vida e condições médicas subjacentes. A pesquisa, ao revisar as principais técnicas disponíveis, como inseminação intrauterina (IIU), fertilização in vitro (FIV), injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI) e transferência de embrião congelado (TEC), sendo a FIV, a mais utilizada em decorrência de sua alta taxa de sucesso, sua versatilidade, possibilidade de combinação de técnicas, além de avanços tecnológicos. Sendo assim, o estudo nos fornece uma visão abrangente das alternativas existentes para o tratamento da infertilidade.
O impacto emocional e social da infertilidade é um dos aspectos discutidos. Casais que enfrentam dificuldades para conceber frequentemente lidam com frustração e angústia, tornando o acesso a tratamentos eficazes não apenas uma necessidade médica, mas também uma questão de bem-estar psicológico. Nesse contexto, o trabalho ressalta como a RHA oferece uma esperança real, transformando a vida desses casais.
A análise histórica apresentada no estudo é outro ponto positivo. Ela contextualiza a evolução das técnicas desde os primeiros experimentos até os avanços recentes, como o uso da vitrificação para criopreservação de embriões e o primeiro transplante de útero bem-sucedido. Isso destaca como a biomedicina tem sido fundamental para superar barreiras que, há poucas décadas, eram consideradas impossíveis.
No entanto, há também desafios éticos e legais associados ao uso dessas tecnologias, que são discutidos de maneira ainda superficial no trabalho. Questões como o acesso imparcial a esses tratamentos, a manipulação de gametas e embriões e os limites impostos pela legislação brasileira poderiam ser aprofundadas para enriquecer a discussão.
Por fim, a crescente demanda por técnicas de RHA no Brasil reforça a necessidade de estudos como este, que não apenas informam a população sobre as possibilidades existentes, mas também estimulam a reflexão sobre o impacto das tecnologias reprodutivas na sociedade contemporânea. O trabalho cumpre seu objetivo de contribuir para o conhecimento sobre RHA e se apresenta como um recurso valioso tanto para a comunidade acadêmica quanto para profissionais da área de saúde.
5 CONCLUSÃO
Este estudo reafirma a relevância das técnicas de reprodução humana assistida (RHA) como ferramentas indispensáveis no enfrentamento da infertilidade, uma condição que impacta não apenas a saúde física, mas também o equilíbrio emocional e social dos casais. Procedimentos como IIU, FIV, ICSI e TEC têm se mostrado avanços fundamentais, permitindo que muitos casais realizem o desejo da parentalidade.
Os resultados apontam para a crescente demanda por tratamentos reprodutivos, impulsionada tanto pelo adiamento da maternidade quanto pelas evoluções tecnológicas. No entanto, o sucesso dessas técnicas está associado a desafios éticos e legais que precisam ser continuamente debatidos.
Conclui-se que a reprodução assistida não apenas viabiliza soluções para a infertilidade, mas também promove qualidade de vida, sendo um tema que demanda atenção constante da ciência e da sociedade. Assim, o trabalho contribui significativamente para a compreensão das possibilidades e dos limites das RHA no contexto atual.
6. REFERÊNCIAS
– Aleixo AM, Almeida V. Infertilidade. Rev Ciência Elem. 2021;9(4):66.
– Brasil. Resolução CFM Nº 2.320/2022 de 15 de junho de 2021. Adota normas éticas para a utilização de técnicas de reprodução assistida. Brasília, DF, 1º de setembro de 2022.
– Da Silva Junior LA, et al. Reprodução humana assistida: uma revisão sistemática sobre os métodos utilizados e fatores associados ao sucesso e fracasso da inseminação artificial e fertilidade in vitro. Braz J Dev. 2021;7(11):106682-106693.
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