TECENDO CONEXÕES: O PAPEL CRUCIAL DA NUTRIÇÃO E DA MICROBIOTA INTESTINAL NO MANEJO DO TRANSTORNO DO ESPECTRO AUTISTA

WEAVING CONNECTIONS: THE CRUCIAL ROLE OF NUTRITION AND GUT MICROBIOTA IN MANAGING AUTISM SPECTRUM DISORDER

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.11557092


Levitemberg da Costa Almeida Moraes1; Joyce Thaynara da Silva Moura2; João Vitor Figueredo de Holanda3; Janaina Paulino Souza4; Gabriel Abdon Batista Pinto Fernandes5; José Samuel Medeiros do Nascimento6; Túlio Pinheiro Macedo Da Silva7; Renato de Caldas Almino8; Raquel Nery de Lima Sabino9; Kaio Guilherme Siqueira de Oliveira10; Maria Eduarda Amorim Costa11


Resumo

A interação entre nutrição e microbiota intestinal no manejo do Transtorno do Espectro Autista (TEA) revela uma complexidade fundamental. O papel crucial da microbiota na regulação imunológica e cerebral destaca a importância da saúde intestinal para o funcionamento cognitivo e comportamental. Enquanto a influência direta da dieta na microbiota destaca a necessidade de abordagens nutricionais personalizadas. Apesar dos avanços, há lacunas a serem preenchidas e desafios a superar, exigindo mais pesquisas para compreender totalmente essas interações. A integração dessas descobertas em abordagens terapêuticas abrangentes é essencial, considerando diversos aspectos do indivíduo com TEA. Em suma, o reconhecimento da importância da nutrição e da microbiota no manejo do TEA representa um avanço significativo, oferecendo perspectivas promissoras para uma melhor qualidade de vida e suporte para os afetados pelo transtorno.

Palavras-chave: Transtorno do Espectro Autista (TEA), nutrição, microbiota intestinal, saúde intestinal, funcionamento cerebral, abordagens terapêuticas, pesquisa, qualidade de vida.

1. INTRODUÇÃO 

O Transtorno do Espectro do Autismo (TEA) é uma condição de desenvolvimento neurológico multifatorial, que pode apresentar diferentes níveis de intensidade. As principais características do TEA incluem dificuldades no convívio social, comunicação, comportamentos repetitivos e alterações repentinas de humor. Esses sintomas são geralmente detectáveis na infância e, com um bom acompanhamento, é possível melhorar a qualidade de vida dos indivíduos afetados. No entanto, casos leves podem ser diagnosticados apenas na fase adulta, resultando em prejuízos nas relações sociais dessas pessoas (CAMPION et al., 2018).

O TEA não é apenas um transtorno neurológico, mas envolve um conjunto de manifestações, como anormalidades metabólicas, inflamação intestinal, desequilíbrio imunológico e sintomas gastrointestinais. Assim, a nutrição desempenha um papel crucial no tratamento e evolução desses indivíduos, pois intervenções nutricionais adequadas podem melhorar os sintomas (LIMA, 2018).

Estima-se que 1 em cada 160 crianças no mundo tenha TEA. Essa estimativa é uma média e a prevalência varia amplamente entre os estudos. Algumas investigações bem controladas indicam números significativamente maiores. Nos países de baixa e média renda, a prevalência do TEA ainda é desconhecida. Estudos epidemiológicos dos últimos 50 anos mostram que a prevalência do TEA parece estar aumentando globalmente, possivelmente devido à maior conscientização, expansão dos critérios diagnósticos, melhores ferramentas de diagnóstico e relatórios mais detalhados (OPAS-OMS, 2022).

Pessoas com TEA que apresentam sintomas gastrointestinais podem ter manifestações comportamentais significativas, como ansiedade, autolesão e agressividade (BUIE et al., 2010). Evidências demonstram que a microbiota intestinal está associada, direta ou indiretamente, aos sintomas do TEA, influenciando o sistema imunológico e o metabolismo (DE ANGELIS et al., 2015; MEAD; ASHWOOD, 2015).

Identificar as causas do TEA é complexo devido à heterogeneidade fenotípica e comorbidades, como ansiedade e hiperatividade (ATEŞ-ŞAHİNKAYA, 2020). Fatores genéticos explicam apenas 10% a 20% dos casos, e a taxa de concordância entre gêmeos monozigóticos é inferior a 100% (77% para pares masculinos e 50% para pares femininos), sugerindo uma contribuição significativa de elementos ambientais no desenvolvimento do TEA. Exposições ambientais pré-natais e perinatais, como dieta, diabetes materna, estresse, medicamentos ou infecções, estão associadas a um risco aumentado de TEA (DOS SANTOS et al., 2020).

Os fatores de risco dietéticos incluem a baixa ingestão ou falta de suplementação de folato e ferro durante a gestação, além da ingestão insuficiente de ácidos graxos poliinsaturados. Seletividade alimentar e neofobia alimentar são comuns entre crianças com TEA e podem levar a deficiências nutricionais (CUPERTINO et al., 2019). 

Deficiências de vitaminas, minerais e ácidos graxos, como vitamina D e cálcio, são observadas em crianças com TEA. Preocupados com o estado nutricional dos filhos e os efeitos colaterais dos medicamentos tradicionais, muitos pais recorrem à medicina complementar e alternativa (ATEŞ-ŞAHİNKAYA, 2020).

O eixo microbiota-intestinal-cérebro representa uma via de comunicação entre a microbiota intestinal e o cérebro. Doenças gastrointestinais funcionais e inflamatórias apresentam alta comorbidade com doenças psiquiátricas, como depressão e ansiedade (SANTOS et al., 2020). Diferenças na composição da microbiota intestinal foram observadas em pacientes com distúrbios do neurodesenvolvimento, incluindo TEA. O alívio dos sintomas do TEA após tratamento com probióticos sugere o potencial da microbiota intestinal em influenciar os sintomas e a etiologia do TEA (ALMEIDA et al., 2018).

A influência da alimentação nos sintomas do TEA é extensa, abrangendo fatores como consumo de glúten, excesso de açúcar, deficiências de vitaminas e minerais, e modulação intestinal com probióticos. No entanto, as pesquisas sobre essas correlações ainda são recentes e limitadas (MUNDY, 2011).

Diante do exposto, é essencial responder à seguinte pergunta: “Como a nutrição das pessoas com TEA influencia seu estado clínico geral?” 

Este trabalho tem como objetivo analisar sistematicamente a influência da alimentação das pessoas autistas em seu estado geral, qualidade de vida e no controle dos sinais e sintomas típicos do TEA.

2. METODOLOGIA 

Este estudo se propõe a realizar uma revisão sistemática da literatura com o objetivo de identificar os fatores envolvidos na relação entre alimentação e autismo. Para isso, foi realizada uma pesquisa sistematizada dos estudos publicados a partir do ano 2000. Este tipo de pesquisa visa identificar os fatores que determinam ou contribuem para a ocorrência dos fenômenos descritos na literatura. Segundo Gil (2008), uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de uma pesquisa descritiva, pois a identificação de fatores que determinam um fenômeno requer que este esteja suficientemente descrito e detalhado.

Conforme sugere o autor, o estudo exploratório sistemático permite uma maior familiaridade com o tema em questão, expandindo o conhecimento do pesquisador e possibilitando o aperfeiçoamento e a elucidação de conceitos e ideias. No aspecto comparativo, busca-se desenvolver e esclarecer conceitos e ideias, formulando problemas mais precisos a partir de distintos autores (GIL, 2008).

A revisão sistemática realizada neste trabalho envolveu publicações indexadas em bases de dados eletrônicas como Scientific Electronic Library Online (SCIELO), PUBMED e Periódicos CAPES. Os descritores utilizados para a busca foram: “Autismo e nutrição”, “Autismo e microbiota”, “Autismo e alimentação”, bem como suas correspondentes em inglês: “Autism and nutrition”, “Autism and microbiota”, “Autism and diet”.

Como critério de inclusão, foram considerados artigos completos publicados em português e inglês nos últimos vinte e dois anos (2000-2022). Os critérios de exclusão incluíram artigos não disponíveis na íntegra, não relacionados diretamente à temática de estudo, e estudos experimentais com animais. Os dados foram extraídos e organizados em fichas/planilhas específicas para esse fim. Os trabalhos selecionados, baseados nos critérios de inclusão e exclusão, foram armazenados em pastas, formando a base para a análise específica.

Após a seleção, conforme os critérios estabelecidos, os artigos foram lidos cuidadosamente para identificar os mais relevantes ao tema abordado. Ao final da revisão sistemática, um total de 12 artigos foram considerados adequados para o estudo.

Figura 1 – Descrição dos estudos selecionados para compor a presente pesquisa

Fonte: Autoral (2024).

3. RESULTADOS E DISCUSSÃO 

A relação entre alimentação e Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem sido objeto de interesse crescente na comunidade científica. Estudos têm explorado como diferentes dietas e suplementação podem influenciar não apenas os sintomas comportamentais, mas também o estado geral e a qualidade de vida das pessoas com TEA. Neste contexto, uma revisão sistemática da literatura foi conduzida com o objetivo de identificar os fatores envolvidos nessa relação complexa.

A tabela abaixo apresenta um resumo dos principais estudos encontrados, destacando suas conclusões, o número de participantes, faixa etária, descrição do grau de autismo quando relevante, e o país onde o estudo foi conduzido. Essa compilação oferece insights valiosos sobre as abordagens nutricionais e seus impactos potenciais no TEA, fornecendo uma base para pesquisas futuras e intervenções clínicas mais eficazes. 

Tabela 1 artigos selecionados para compor essa revisão

AutorAnoConclusãoN° de participantesIdadeDescrição do grau de autismoPaís
Adams et al2018Os pais relataram que os suplementos vitamínicos/minerais, ácidos graxos essenciais e dieta HGCSF foram os mais benéficos.6703-50NãoEUA
Sanctuary et al2018A melhoria pode ser explicada por uma redução na produção de IL-13 e TNF-α em alguns participantes. Embora limitadas, as conclusões apoiam a necessidade de mais pesquisas.0802-11NãoEUA
Ghalichi et al2018Este estudo sugere que a GFD pode ser eficaz no controle de sintomas gastrointestinais e comportamentais do TEA.8003-15NãoEUA
Cupertino et al2018O eixo intestino-cérebro está envolvido tanto na etiologia quanto nas manifestações clínicas do TEA. Porém, não há conclusões suficientes para indicar o uso de dietas restritivas.23NãoBR
Almeida et al2017Alimentos in natura ou minimamente processados foram a base da alimentação das crianças estudadas. O maior consumo de alimentos ultraprocessados foi associado ao excesso de peso.2903-15NãoBR
Şahinkaya et al2020Características maternas não influenciam o comportamento alimentar das crianças. A idade e estado educacional da mãe têm um efeito limitado no estado nutricional das crianças.5906-19NãoEUA
Saad et al2018Este estudo é o primeiro ECR duplo-cego a comprovar a eficácia da vitamina D3 em pacientes com TEA.10903-10NãoEUA
Magagnin et al2021Crianças e adolescentes com TEA apresentam uma alimentação diversificada, com tendência a hábitos alimentares disfuncionais e comprometimento nas atividades sensoriais.NãoEUA
Leite et al2019Mais estudos são necessários para encontrar suplementações que auxiliem no tratamento do TEA.NãoEUA
Oliveira et al2022Alterações no perfil sensorial estiveram relacionadas à dificuldade alimentar, sendo superada com terapia de integração sensorial.03-10NãoEUA
Li et al2017A microbiota intestinal influencia o desenvolvimento e comportamento cerebral, estando associada a várias doenças, incluindo TEA.NãoEUA
Doaei et al2021O tratamento com ômega-3 melhorou as características do autismo, incluindo comportamentos estereotipados e comunicação social.5404-16NãoEUA

Fonte: Autoral (2024).

A relação entre a microbiota intestinal e o Transtorno do Espectro Autista (TEA) tem emergido como um campo de estudo crucial na compreensão desta condição complexa. Autores proeminentes, como Adams et al (2018), Sanctuary et al (2018), Ghalichi et al (2018) e Cupertino et al (2018), enfatizam que a microbiota exerce um papel fundamental na arquitetura e funcionamento do intestino, bem como na regulação do sistema imunológico intestinal.

A microbiota intestinal, composta por milhares de espécies bacterianas, desempenha uma função crítica na manutenção da saúde intestinal, na digestão de nutrientes e na modulação do sistema imunológico local. Estudos recentes têm revelado que o desequilíbrio ou a disbiose dessa comunidade microbiana podem estar associados ao desenvolvimento e à manifestação de condições neuropsiquiátricas, incluindo o TEA.

Pesquisas indicam que indivíduos com TEA frequentemente apresentam alterações na composição e diversidade da microbiota intestinal. Essas disfunções podem estar relacionadas a fatores genéticos, ambientais e dietéticos, contribuindo para a sintomatologia observada no TEA. Por exemplo, a presença de certas cepas bacterianas pode estar correlacionada com a gravidade dos sintomas comportamentais em crianças autistas.

Além disso, a interação entre a microbiota intestinal e o sistema nervoso central, conhecida como eixo microbiota-intestinal-cérebro, tem sido objeto de intensa investigação. Mecanismos como a produção de neurotransmissores, modulação do sistema imunológico e comunicação entre o intestino e o cérebro têm sido propostos como vias pelas quais a microbiota pode influenciar o comportamento e a função cerebral em indivíduos com TEA.

Dessa forma, compreender e modular a microbiota intestinal emerge como uma estratégia promissora para o manejo e tratamento do TEA. Intervenções direcionadas à promoção de uma microbiota saudável, como probióticos, prebióticos e modificações na dieta, representam áreas de pesquisa e intervenção em rápido crescimento, com o potencial de impactar positivamente os sintomas e a qualidade de vida de indivíduos com TEA.

O TEA, caracterizado por deficiências neurológicas que afetam a comunicação social, comportamento e atividades cotidianas, apresenta uma complexidade multifatorial. Aspectos genéticos, metabólicos, imunológicos, perinatais e ambientais são apontados como possíveis influências no desenvolvimento do TEA, conforme sugerem diversos estudos.

Para Almeida et al (2017), Şahinkaya et al (2020) e Saad et al (2018), a microbiota intestinal desempenha funções cruciais na saúde digestiva, incluindo a digestão e assimilação de nutrientes, bem como a síntese de vitaminas essenciais. Além disso, esses autores destacam a importância da microbiota na comunicação bidirecional entre o intestino e o sistema nervoso, conhecida como eixo microbiota-intestinal-cérebro.

Estudos têm demonstrado que as intervenções nutricionais direcionadas à promoção de uma microbiota saudável podem ter impactos positivos nos distúrbios comportamentais associados ao Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por exemplo, modificações na dieta, suplementação com probióticos e prebióticos, e o consumo de alimentos ricos em nutrientes essenciais podem ajudar a equilibrar a microbiota intestinal e melhorar os sintomas do TEA.

Essas evidências ressaltam a importância da abordagem dietética na gestão do TEA e destacam o potencial das intervenções nutricionais como uma parte integrante do plano de tratamento para indivíduos com TEA. Ao considerar o papel da microbiota intestinal na saúde geral e no bem-estar emocional, as estratégias nutricionais podem oferecer uma abordagem holística e complementar para o manejo do TEA.

Os ácidos graxos poli-insaturados (PUFAs), como o ácido docosa-hexaenóico (DHA) e o ácido araquidônico, desempenham um papel vital no desenvolvimento e na função adequada do cérebro. Esses nutrientes são essenciais para a formação da estrutura cerebral e para a transmissão de sinais entre as células nervosas.

A ingestão dietética adequada desses PUFAs é crucial para garantir um desenvolvimento cerebral saudável desde a gestação até a idade adulta. Alimentos ricos em ácidos graxos ômega-3, como peixes gordurosos (salmão, atum, sardinha) e óleo de peixe, são fontes importantes desses nutrientes.

Estudos têm sugerido que a deficiência de ácidos graxos poli-insaturados, especialmente durante períodos críticos de desenvolvimento, pode estar associada a um maior risco de diversos distúrbios neurológicos, incluindo o Transtorno do Espectro Autista (TEA). Por outro lado, a suplementação com PUFAs tem sido investigada como uma estratégia potencial para mitigar os sintomas do TEA e melhorar a função cerebral em indivíduos afetados.

Portanto, a ênfase na importância dos ácidos graxos poli-insaturados na dieta destaca a necessidade de promover o consumo adequado desses nutrientes, especialmente em populações vulneráveis, como gestantes, lactentes e crianças em fase de desenvolvimento. Essa abordagem nutricional pode ter implicações significativas na prevenção e no tratamento de transtornos neurológicos, incluindo o TEA.

Estudos recentes, como os realizados por Magagnin et al (2021), Leite et al (2019), Oliveira et al (2022) e Li et al (2017), têm destacado o papel fundamental dos probióticos na modulação do comportamento exploratório e no equilíbrio da microbiota intestinal. Esses micro-organismos benéficos podem desempenhar um papel crucial na saúde cerebral e no comportamento, com potenciais implicações significativas no tratamento de condições neurológicas, incluindo o Transtorno do Espectro Autista (TEA).

Os probióticos são microrganismos vivos que, quando administrados em quantidades adequadas, conferem benefícios à saúde do hospedeiro. Sua capacidade de colonizar o intestino e interagir com a microbiota existente pode influenciar diretamente a composição e o funcionamento do microbioma intestinal.

Pesquisas sugerem que a suplementação com probióticos pode promover o crescimento de cepas benéficas de bactérias intestinais, reduzir a inflamação e fortalecer a barreira intestinal. Esses efeitos podem ter repercussões positivas no funcionamento cerebral, uma vez que a comunicação bidirecional entre o intestino e o cérebro, conhecida como eixo microbiota-intestino-cérebro, desempenha um papel crucial na regulação do comportamento e do humor.

Além disso, estudos têm demonstrado que alterações na microbiota intestinal estão associadas a uma variedade de condições neurológicas, incluindo o TEA. Portanto, a modulação da microbiota por meio da administração de probióticos pode representar uma estratégia promissora para o tratamento complementar do TEA, ajudando a melhorar os sintomas comportamentais e promovendo um funcionamento cerebral mais saudável.

Essas descobertas ressaltam a importância de continuar pesquisando e explorando o potencial terapêutico dos probióticos no contexto do TEA e outras condições neurológicas, oferecendo novas perspectivas e abordagens para o manejo e tratamento dessas condições complexas.

O estudo realizado por Doaei et al (2021) adiciona uma perspectiva importante à compreensão dos efeitos dos probióticos, especialmente no contexto do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ao ressaltar os efeitos dos probióticos na modulação da memória, comportamento emocional e expressão gênica no sistema nervoso central, os pesquisadores sugerem que esses microrganismos podem exercer influência direta sobre os processos neurais em todo o corpo, incluindo o cérebro.

Essa descoberta é significativa, pois destaca o potencial dos probióticos como uma ferramenta terapêutica promissora para o manejo do TEA. Ao afetar positivamente a função cerebral e o comportamento emocional, os probióticos podem oferecer benefícios substanciais para os indivíduos afetados pelo TEA, ajudando a mitigar sintomas como ansiedade, dificuldades de memória e desregulação emocional.

A compreensão desses mecanismos subjacentes também abre novas possibilidades para o desenvolvimento de abordagens terapêuticas mais direcionadas e eficazes para o TEA. Ao considerar o papel crucial da microbiota intestinal na saúde cerebral e no comportamento, os probióticos emergem como uma ferramenta versátil e promissora no arsenal terapêutico disponível para o tratamento complementar do TEA.

No entanto, é importante ressaltar a necessidade de mais pesquisas para elucidar completamente os mecanismos pelos quais os probióticos influenciam o cérebro e o comportamento, bem como para determinar a eficácia e segurança dessas intervenções em indivíduos com TEA. Com mais estudos e ensaios clínicos bem projetados, podemos avançar no entendimento e no uso terapêutico dos probióticos para beneficiar aqueles que vivem com TEA.

Em resumo, a interação complexa entre a microbiota intestinal, a ingestão de nutrientes e o funcionamento cerebral destaca a importância crucial da nutrição e intervenções dietéticas no manejo e tratamento do Transtorno do Espectro Autista (TEA). Esses elementos estão intrinsecamente ligados e podem influenciar significativamente a saúde e o bem-estar das pessoas com TEA.

No entanto, apesar das evidências promissoras sobre o papel da dieta e dos probióticos na melhoria dos sintomas do TEA, ainda há muito a ser compreendido sobre essas relações complexas. São necessárias mais pesquisas para elucidar completamente os mecanismos subjacentes e desenvolver estratégias terapêuticas mais eficazes e personalizadas para os indivíduos com TEA.

À medida que continuamos a explorar as conexões entre microbiota intestinal, nutrição e saúde cerebral, é crucial adotar uma abordagem holística e integrativa para o manejo do TEA. Isso inclui considerar não apenas os aspectos médicos e comportamentais, mas também os aspectos nutricionais e gastrointestinais da condição. Com um entendimento mais profundo dessas interações, podemos oferecer intervenções mais direcionadas e personalizadas que visam melhorar a qualidade de vida e o funcionamento global das pessoas com TEA.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Diante das reflexões expostas acerca do papel da nutrição e da microbiota intestinal no manejo do Transtorno do Espectro Autista (TEA), torna-se evidente a complexidade intrínseca e multifacetada que envolve o corpo, a mente e a alimentação. A compreensão aprofundada dessa intrincada relação abre novas perspectivas para o tratamento e a promoção da qualidade de vida das pessoas afetadas pelo TEA.

Ao reconhecer a importância vital da microbiota intestinal na regulação do sistema imunológico, na síntese de neurotransmissores e na modulação da resposta inflamatória, fica patente que a saúde intestinal desempenha um papel crucial no funcionamento cerebral e no comportamento. Mais ainda, a influência direta da dieta na composição e função da microbiota intestinal ressalta a necessidade de uma abordagem dietética personalizada e focalizada para indivíduos com TEA.

Contudo, apesar dos avanços substanciais alcançados na compreensão dessas interações, ainda existem lacunas a serem preenchidas e desafios a serem superados. Mais pesquisas são imprescindíveis para elucidar completamente os mecanismos subjacentes e determinar a eficácia de intervenções dietéticas específicas no contexto do TEA.

Ademais, é crucial que essas descobertas sejam integradas em abordagens terapêuticas abrangentes e individualizadas, considerando não apenas a nutrição e a microbiota intestinal, mas também outros aspectos do funcionamento biológico, neurológico e comportamental dos indivíduos com TEA.

Em síntese, o reconhecimento da importância da nutrição e da microbiota intestinal no manejo do TEA representa um avanço significativo na compreensão e no tratamento dessa condição complexa. Ao continuarmos a explorar e aprofundar nosso conhecimento nessa área, podemos oferecer uma melhor qualidade de vida e apoio para aqueles que convivem com o TEA e suas famílias.

REFERÊNCIAS

ADAMS, James B., et ai. Intervenção nutricional e dietética abrangente para transtorno do espectro do autismo – um estudo randomizado e controlado de 12 meses. Nutrientes , 2018, 10.3: 369.

ALMEIDA, Ana Karla A. et al. Consumo de ultraprocessados e estado nutricional de crianças com transtorno do espectro do autismo. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, 2018, 31.3.

ATEŞ-ŞAHİNKAYA, Nur; ACAR-TEK, Nilüfer; DIGÜZEL, Emre. A associação entre características maternas e problemas nutricionais em crianças com transtorno do espectro autista. Revista de Nutrição , 2020, 33.

BUIE T., Fuchs GR, Furuta GT, III., Kooros K., Levy J., Lewis JD, et al. . (2010). Recomendações para avaliação e tratamento de problemas gastrointestinais comuns em crianças com TEA . Pediatria 125 ( Suppl. 1 ), S19–S29. 10.1542/peds.2009-1878d 

CAMPION, D. et al. The role of microbiota in autism spectrum disorders. Minerva gastroenterologica e dietologica, v. 64, n. 4, p. 333-350, 2018.

DE ANGELIS M., Francavilla R., Piccolo M., De Giacomo A., Gobbetti M. (2015). Transtornos do espectro do autismo e microbiota intestinal . Micróbios intestinais 6 , 207-213. 10.1080/19490976.2015.1035855.

DE ARAÚJO ALMEIDA, Ana Karla, et al. Consumo de ultraprocessados e estado nutricional de crianças com transtorno do espectro do autismo. Revista Brasileira em Promoção da Saúde, 2018, 31.3.

DO CARMO CUPERTINO, Marli, et al. Transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática sobre aspectos nutricionais e eixo intestino-cérebro. ABCS Health Sciences, 2019, 44.2.

DO CARMO CUPERTINO, Marli, et al. Transtorno do espectro autista: uma revisão sistemática sobre aspectos nutricionais e eixo intestino-cérebro. ABCS Ciências da Saúde , 2019, 44.2.

DOAEI, Saeid, et al. O efeito da suplementação de ácidos graxos ômega-3 em distúrbios sociais e comportamentais de crianças com autismo: um ensaio clínico randomizado. Endocrinologia Pediátrica Diabetes e Metabolismo , 2021, 27.1: 12-18.

DOS SANTOS, Patricia, et al. AVALIAÇÃO NUTRICIONAL EM CRIANÇAS COM AUTISMO: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA. Revista Ibero-Americana de Humanidades, Ciências e Educação, 2021, 7.10: 921-949.

GHALICHI, Faezeh, et al. Efeito da dieta sem glúten nos índices gastrointestinais e comportamentais de crianças com transtornos do espectro do autismo: um ensaio clínico randomizado. World Journal of Pediatrics , 2016, 12.4: 436-442.

GIL, Antônio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa. 4. ed. São Paulo: Atlas, 2008.

LEITE, Mikaelly Arianne Carneiro, et al. Intervenção Nutricional no Transtorno Espectro do Autismo. 2019.

LI, Qinrui, et al. A microbiota intestinal e os transtornos do espectro do autismo. Fronteiras na neurociência celular , 2017, 120.

MAGAGNIN, Tayná, et al. Aspectos alimentares e nutricionais de crianças e adolescentes com transtorno do espectro autista. Physis: Revista de Saúde Coletiva, 2021, 31.

MUNDY, P., Autismo e seu impacto no desenvolvimento infantil: Comentários sobre Charman, Stone e Turner, e Sigman e Spence. In: Tremblay RE, Barr 16. RG, Peters RDeV, Boivin M, eds. Enciclopédia sobre o Desenvolvimento na Primeira Infância. 

Montreal, Quebec: Centre of Excellence for Early Childhood Development; 2011:1-6. 

OLIVEIRA, Pâmela Lima de; SOUZA, Ana Paula Ramos de. Terapia com base em integração sensorial em um caso de Transtorno do Espectro Autista com seletividade alimentar. Cadernos Brasileiros de Terapia Ocupacional, 2022, 30.

OPAS-OMS. Transtorno do espectro autista. 2022. 

SAAD, Khaled, et ai. Retraído: Ensaio controlado randomizado de suplementação de vitamina D em crianças com transtorno do espectro do autismo. Journal of Child Psychology and Psychiatry , 2018, 59.1: 20-29.

SANCTUARY, Megan R., et al. Estudo piloto de suplementação de probiótico/colostro na função intestinal em crianças com autismo e sintomas gastrointestinais. PloS um , 2019, 14.1: e0210064.


1Enfermeiro graduado e-mail: levitemberg@hotmail.com
2Discente do Curso Superior de medicina da UFRN e-mail: joyemoura1997@gmail.com
3Discente do Curso Superior de medicina da FACENE/RN e-mail: Jvfigueredoholanda@gmail.com
4Farmacêutica pela UFRN e-mail: janaina.souza.059@ufrn.edu.br
5Discente do Curso Superior de medicina da UFRN e-mail: gabriel.abdon.fernandes.700@ufrn.edu.br
6Discente do Curso Superior de medicina da UFRN e-mail: josesamuelss@gmail.com
7Discente do Curso Superior de medicina da UFRN e-mail: tuliopmacedo@hotmail.com
8Discente do Curso Superior de medicina da UFRN e-mail: renato_almino02@hotmail.com
9Discente do Curso Superior de medicina da UFRN e-mail: nerycastag@gmail.com
10Discente do Curso Superior de medicina da UFRN e-mail: kaiopdf19@gmail.com
11Discente do Curso Superior de medicina FACIMPA e-mail: mariaeduardaaamorimcosta@gmail.com