SUTURA ELÁSTICA: SOLUÇÃO ACESSÍVEL NO FECHAMENTO DE FERIDAS.

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202412131854


Isadora Alves Silva Debs Procópio


RESUMO

A sutura elástica emerge como uma solução inovadora e acessível no fechamento de feridas, destacando-se por sua eficiência e aplicabilidade em diversas áreas da cirurgia. Ao integrar práticas cirúrgicas simples, princípios da biomecânica e tecnologia avançada, como a inteligência artificial, esta técnica não só otimiza a cicatrização, mas também minimiza complicações e tempos de hospitalização. A colaboração multidisciplinar entre profissionais de saúde é fundamental para a escolha adequada do tratamento, que deve considerar aspectos como custo, localização da lesão e condições do paciente. Assim, a sutura elástica não apenas promove a restauração funcional e estética da região afetada, mas também simboliza um avanço significativo na prática cirúrgica contemporânea, reafirmando a importância de inovações que priorizam o bem-estar e a recuperação rápida do paciente.

PALAVRAS-CHAVE: sutura elástica/ inovação/ cirurgia plástica/ fechamento de feridas/ cirurgia

INTRODUÇÃO

A melhor abordagem cirúrgica é aquela orientada pela técnica mais simples1, sendo este, um fundamento da cirurgia reconstrutiva. Sob essa perspectiva, sabe-se que por muitas vezes o tratamento de grandes feridas é um desafio, mas que o fechamento primário, quando possível, deve ser a primeira escolha1

A primeira parte do processo é desbridar, e é a essência de qualquer terapia, uma vez que quando o tecido é inviável, atrasa a cicatrização ao aumentar a resposta inflamatória e também propicia o crescimento de microrganismos pois facilita a formação de biofilmes2.

Após esse feito, a nova preocupação é como realizar o fechamento. Em várias situações, contudo, não é possível o fechamento primário no manejo da fase aguda de perdas cutâneas, seja por possíveis complicações infecciosas, seja pela isquemia prevista dada extensão de lesão ou pela distância das artérias nutridoras. Além disso, há uma dificuldade técnica no fechamento de áreas do corpo em que o movimento é constante, como as articulações. Entende-se, portanto, a necessidade de aliar o proveito do tempo de incisão aberta aos princípios da biomecânica da pele e a garantia do estiramento e a adaptação aos movimentos anatômicos.

METODOLOGIA

Para realizar esta revisão bibliográfica pesquisou-se os seguintes descritores:

“sutura elástica”, “inovações cirurgia plástica”, “dificuldade no fechamento de feridas” e “feridas complexas” nos endereços eletrônicos: PubMED, Scielo e Google acadêmico. Foram selecionados 12 artigos para análise.

DISCUSSÃO

Pensando nisso, Raskin3, em 1993, descreveu o uso de sutura elástica (SE), que evita a manipulação de enxertos e de retalhos na cobertura da ferida, permitindo aproximar bordas com execução simples e de baixo custo. Por meio da física aplicada (“creep pheromenon”)4, a força tênsil causada pelo elástico promove elasticidade e complacência cutâneas, de forma a restaurar a anatomia local e as funções dos planos. Essa propriedade é possível devido à gradativa e progressiva melhora viscoelástica da pele quando submetida à tração contínua.

Em incremento, Leite5, em 1996, otimizou essa técnica ao propor a fixação do elástico no subcutâneo e na fáscia superficial, de forma a dificultar a ocorrência de isquemia causada pela força elástica da borracha.

Similar a esse cenário, tem-se a constante inovação técnica ao conciliar tecnologias, o que possibilita a melhoria rápida e eficaz do quadro clínico, permitindo menor morbidade e garantia de poucos efeitos adversos.

Nesse caso, a inteligência artificial (IA) atua como agente ímpar, uma vez que possibilita detectar complicações e concluir decisões a partir da análise de dados e de imagens, reduzindo erros e até mesmo propiciando a alta precoce, no entanto, possui limitações importantes a serem compreendidas6. Sabe-se que a IA nada mais é que um mecanismo informático capaz de criar algoritmos, como o ChatGPT, a facilitarem o dia a dia, mas, principalmente, aumentar a eficiência técnica. 

Na cirurgia plástica (CP), não é diferente e a IA já é usada no planejamento cirúrgico, na cirurgia robótica e na monitoração pós operatória. Contudo, é importante salientar a limitação da AI, uma vez que cada paciente é único sendo imprescindível a vivência da equipe médica6. Essa insuficiência é justificada pela diversidade de gêneros, etnias, e também pela interação humana com o meio e com a sociedade.

Buscando embasamento científico, Valente6 descreveu, em maio de 2023, a aplicabilidade do ChatGPT na CP e concluiu que a observação de assimetrias, a predição de desfechos para maior acurácia do resultado final, a identificação de riscos e a individualização do procedimento já são aparatos possíveis a complementar a avaliação do cirurgião. Sob essa perspectiva, dentre as atualizações esperadas tem-se a inclusão em guidelines dos dados coletados em procedimentos que utilizaram da IA, afim de beneficiar as práticas cirúrgicas, além de criar consistência na literatura médica.

Na SE, então, elásticos de borracha estéreis (de poliéster ou polipropileno) são ancorados ao tecido de pele viável usando agulha ou colchete. Essa técnica possibilita a aproximação das bordas com o passar dos dias conforme ocorre perda da força de tração do elástico. 

Dentre as indicações da SE, por exemplo, tem-se na CP para estiramento facial (lifting facial), abdominoplastia, contorno corporal e reconstrutiva; na ortopedia, para reconstruir tendões e ligamentos; na cirurgia gastrointestinal, para reparar hérnias e na cirurgia cardiovascular, para reconstruir válvulas cardíacas.

Diferentemente do uso de expansores teciduais, enxertos de pele, retalhos microcirúrgicos e locais, tem-se que além de ser uma ferramenta prática e fácil de ser executada, a SE possibilita a constante reavaliação para refino da tração sem necessidade de procedimentos complexos. 

Existe também outra vantagem ao uso do método com elástico, que é a proteção do enxerto de pele no seu leito receptor. Nesse caso, contando com uma compressão adequada, há possibilidade de evitar a formação de hematoma sob o enxerto ao reduzir o tamanho do espaço morto7. Além dessa situação, retrata-se em literatura que a menor retração cicatricial como consequência às forças de tração homogêneas leva à menor formação de queloides e cicatrizes hipertróficas, além do menor tempo para fechamento da lesão, o que acarreta em desospitalização precoce8.

Esse proveito vai de desencontro, por exemplo, ao uso de expansores, que aumentam a quantidade de tecido para cobertura, mas têm dificuldades técnicas (instrumentos e equipes habituadas), indicações precisas (nem sempre pode ser realizado em paciente pediátrico, área afetada sem cicatrizes ou severamente danificada) e riscos associados (vazamento do expansor e infecções)9, além do desconforto social durante o método.

Ademais, outra terapia é a realização de enxertos ou retalhos, mas se cria outro defeito na área doadora, e também razões estéticas como tonalidade de cor de pele ou presença de pelos, a permanência hospitalar e de possíveis complicações como isquemia e infecções.

Dentre informações importantes a saber da SE, tem-se a possível isquemia local pelo excesso de tração, mas que pode ser evitada pela homogeneização da força e constante reavaliação, facilitada ao associar a IA.

Em relação às melhorias da técnica, observa-se a possível associação ao curativo à vácuo, que estimula a granulação e a cicatrização devido à pressão negativa, o que diminui o edema, a pressão intersticial e também colônias bacterianas10. Além disso, um dos grandes benefícios em associar as terapêuticas é o de diminuir o sofrimento vascular cutâneo em razão do aumento da vasodilatação arterial provocada pelo vácuo.

Há ainda, a descrição na literatura do uso de tela de polipropileno fixado à pele e à fáscia superficial através de pontos de ancoragem com fio Mononylon 2.0, que objetiva redistribuir as forças de tração sobre a tela. Dentre os estudos, verifica-se, em relato de 16 anos de experiência, resultado final favorável descrito em 78 casos, mas com alargamento de cicatriz em alguns pacientes11.

Discute-se também12, sobre a possibilidade em realizar força nos eixos de ordenada e coordenada (X e Y, respectivamente) para melhor direção de força e garantia de aceleração do vetor. Esse estudo relatado aborda a aplicação da Física Mecânica clássica na composição de um movimento, ou seja, na capacidade das linhas de força (que têm módulo, direção e sentido) em causar deslocamento de acordo com o ângulo aplicado e com contra força presente. De acordo com essa ideia, ao aplicar forças de compressão ao longo da ferida nos dois eixos e uma contra força, há uma sutura de menor tensão, o que diminui o tempo de fechamento da lesão.

Sabe-se também, que a solubilidade de um gás num líquido depende da pressão parcial (Lei de Henry), portanto, quanto mais a pressão parcial aumenta, mais o gás se torna solúvel. Pensando dessa forma, na câmara hiperbárica, lugar em que a pressão do oxigênio é maior, o oxigênio dissolve mais na hemoglobina e é entregue em maior quantidade, o que ajuda na recuperação muscular e diminui processos inflamatórios. Logo, faz-se interessante sessões em câmaras hiperbáricas no pós operatório.

Nesse sentido, embora associar a IA seja conveniente e represente um importante aliado na melhoria cirúrgica e na escolha da mais adequada terapia adjuvante e neoadjuvante, é importante lembrar do resguardo dos dados clínicos do paciente, além de ajudá-lo a entender as limitações técnicas da IA. Essas questões em conjunto a uma equipe de saúde (médicos, enfermeiros, fisioterapeutas, nutricionistas, psicólogos e massoterapeutas) preparada e qualificada possibilita maior êxito na efetivação do objetivo terapêutico e estético.

CONCLUSÃO

Conclui-se, logo, que a sutura elástica é uma técnica importante a ser considerada no fechamento de feridas e que a escolha da propedêutica total deve ser discutida entre as equipes médica, de enfermagem, de estomaterapia e de saúde como um todo. Sendo importante considerar custo, local de lesão, comorbidades e acesso à saúde, a fim de manter a forma e a função da região, assim como possibilitar alta precoce sem intercorrências e retorno às atividades cotidianas.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

1.  Mathes SJ, Nahai F. Reconstructive Surgery: Principles, Anatomy Techinique. New York: Churchill Livingstone and Qualit Medical Publishing; 1997.

2.  Soares, C, Fialho, RJ, Romanii, LK., Pereira, M., Girondi, JBR, & Gomes,

ICZ. Desbridamento de feridas e as decisões para a prática clínica: revisão integrativa. Simpósio Brasileiro De Estomaterapia Norte-Nordeste. 2022. Recuperado de https://anais.sobest.com.br/sben/article/view/360

3.  Raskin KB. Acute vascular injuries of the upper extremity. Hand Clin. 1993;9(1):115-30.

4.  Briggs SE, Banis JR, Kaebnick H. Distal Revascularization and Microvascular Free Tissue Tranfer. J. Vasc Surg. 1985; 2:806-11

5.  Leite NM, Reis FB, Christian RW. Tratamento de ferimentos deixados abertos com o método da sutura elástica. Rev Bras Ortoped 31: 687-689, 1996

6.  Valente DS, et al. (2023). Artificial Intelligence in Plastic Surgery. Mathews J Dermatol. 7(1):20

7.  Ersoy B, Şirinoğlu H, Tezel E. Tie-over dressing with criss-cross lacing pattern. Dermatol Surg. 2011;37(11):1671-3. DOI: http:// dx.doi.org/10.1111/ j.1524-4725.2011.02165.x

8.  Bellón JM, Pérez-López P, Simón-Allue R, Sotomayor S, PérezKöhler B, Peña E, et al. New suture materials for midline laparotomy closure: an experimental study. BMC Surg. 2014;14:70. DOI: http://dx.doi.org/10.1186/1471-2482-14-70

9.  Shin D, Kim YH, Song HG, Hong JW. Serially expanded flap use to treat large hairless scalplesions. Arch Craniofacial Surg. 2019;20(6):408–11

10.  Oliveira MSL, Komatsu CA, Ching AW, Faiwichow L. Tratamento de feridas complexas com uso de pressão negativa local método a vácuo. Rev Bras Cir Plást. 2010;25(3 Suppl 1):66.

11.   Vidal MA, Mendes Junior CES, Sanches JA. Sutura elástica – uma alternativa para grandes perdas cutâneas. Rev Bras Cir Plást. 2014;29(1):146-50.

12.  Petraglia Neto A, Tavares Filho JM. Sutura elástica como alternativa para o primeiro atendimento de ferida na urgência. Rev. Bras. Cir. Plást.2016;31(1):118-122