SUTURA ELÁSTICA COMO UMA ALTERNATIVA PARA TRATAMENTO DE FERIDAS TRAUMÁTICAS NA URGÊNCIA: UM RELATO DE CASO

ELASTIC SUTURE AS AN ALTERNATIVE FOR THE TREATMENT OF TRAUMATIC WOUNDS IN THE EMERGENCY ROOM: A CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10777121


Jéssica Bravin Ferrari1; Reinaldo Machado Júnior2; Ana Lara Mazzoni Rocha3; Letícia Teixeira de Siqueira Valadares4; Pedro de Araújo Alves5; Thayná Alves Fernandes6; Ludmilla Vieira Magalhães7


Resumo

Introdução: Feridas traumáticas são caracterizadas por por extensa perda de solução de continuidade do tecido cutâneo, necessitam de tratamento adequado em tempo hábil para evitar a evolução para processos infecciosos e lesões crônicas. Métodos: As informações do caso foram obtidas através da revisão do prontuário do paciente e revisão da literatura. Foram utilizados os bancos de dados PubMed e SciELO. Conclusão: Os resultados do estudo apresentado demonstram a sutura elástica como uma alternativa na abordagem de feridas extensas, representando uma técnica segura e eficiente. A técnica é capaz de proporcionar bons resultados estéticos, além de reduzir os riscos de complicações ao paciente.

Palavras-Chave: Sutura elástica; Cirurgia Plástica; Feridas traumáticas; Urgência.

Abstract

Introduction: Traumatic wounds are characterized by an extensive loss of continuity of the skin tissue and require appropriate treatment in a timely manner to prevent them from developing into infectious processes and chronic lesions. Methods: The case information was obtained by reviewing the patient’s medical records and reviewing the literature. PubMed and SciELO databases were used. Conclusion: The results of this study show that elastic suturing is an alternative approach to extensive wounds, representing a safe and efficient technique. The technique is capable of providing good aesthetic results, as well as reducing the risk of complications for the patient.

Keywords: Elastic suture; Plastic surgery; Traumatic wounds; Emergency.

1. INTRODUÇÃO

No atendimento de urgência, o tratamento de feridas complexas com grande perda cutânea, resultantes de traumas extensos, constitui-se um desafio ao cirurgião, cujo principal objetivo é a obtenção de um resultado satisfatório do ponto de vista funcional e estético (PETRAGLIA NETO, TAVARES FILHO, 2016). Dessa forma, a decisão pela técnica a ser utilizada é fundamental para o sucesso da reconstrução (TONATTO FILHO et al, 2022) e, por isso, diferentes abordagens — enxertia, retalhos, expansores de tecidos e sutura elástica — já foram descritas na literatura, evidenciando seus prós e contras. A sutura elástica, em especial, foi utilizada pela primeira vez em 1993 pelo cirurgião Keith Raskin. Sumariamente, o método baseava-se na fixação de um elástico entrelaçado, fixado aos bordos da pele, fazendo uma tensão contínua da pele, colocando em prática o conceito de elasticidade e complacência cutânea (TONATTO FILHO et al, 2022). Por apresentar-se como um procedimento de simples execução e baixo custo capaz de propiciar bons resultados para casos de perdas teciduais (VIDAL, MENDES JUNIOR, SANCHES, 2014), o presente trabalho visa relatar um caso de sua utilização em um atendimento de urgência.

2. METODOLOGIA

O presente estudo consta de uma revisão de prontuário associado à revisão da literatura atual. Foram analisados estudos das bases de dados indexadas PubMed e SciELO, dos últimos 10 anos.

Sendo assim, cita-se como critérios de inclusão: publicação dentro do período de 2014 a 2024, com discussão acerca da atuação da cirurgia plástica no pronto atendimento e sutura elástica. Foram excluídos os artigos que não contemplavam o objetivo proposto. Como descritores, foram utilizados os termos sutura elástica e cirurgia plástica na urgência.

3. RELATO DE CASO

Paciente do sexo masculino, 58 anos, pedreiro e morador de zona rural. Procura atendimento médico devido a acidente com telha de cerâmica há 02 dias, sendo atingido por tal objeto em membro inferior direito (figura 01). Nega comorbidades e uso de medicações diárias. Ao exame, paciente em bom estado geral, afebril e sem sinais de sangramento ativo e de inflamação no local de ferida.

Figura 01. Ferimento em membro inferior direito.

Após a avaliação do caso, o procedimento utilizado para aproximação dos tecidos foi a técnica de Raskin devido a dificuldade em aproximar as bordas com sutura em ponto simples.          Posteriormente           a limpeza, antissepsia e assepsia, realizou-se anestesia local do ferimento. Com mononylon 2.0 foi feito a ancoragem do elástico, previamente estéril, seguido de sua fixação nas bordas da lesão (Figura 02).

Figura 02. Início da técnica da sutura elástica.

A próxima etapa é a rotação em 180º com nova fixação e o procedimento se repete por toda a extensão até ao final da ferida. A partir da força de tração proporcionada pelo elástico nota-se a aproximação das bordas (Figura 03).

Figura 03. Aspecto final da sutura elástica.

O paciente foi orientado a seguimento ambulatorial para acompanhamento, além de ter iniciado antibioticoterapia. Idealmente, em 7 a 15 dias a aproximação da ferida se amplia e a força de tração do elástico diminui. O próximo passo é a remoção do elástico e a sutura primária da lesão.

4. DISCUSSÃO

Feridas traumáticas, caracterizadas por extensa perda de solução de continuidade do tecido cutâneo, podem gerar ruptura das estruturas locais e da função normal dos tecidos acometidos. Tais perdas, se não solucionadas adequadamente, podem evoluir para lesões crônicas e infecções.

Assim sendo, são desejáveis resoluções rápidas que melhorem a qualidade de vida do paciente e reduzam a mobilização de custos hospitalares para lesões complicadas. Neste cenário, com a escolha pela sutura elástica, os custos do tratamento são reduzidos, além de apresentar resultado estético superior e de melhor qualidade quando comparado à enxertia de pele, alternativa geralmente empregada em grandes feridas (SANTOS, OLIVEIRA, 2012).

Para a realização da sutura, inicialmente é fixado o elástico no vértice da ferida, em seguida, entrelaça-se ao longo da lesão, fixando-o com o fio, de modo que, ainda assim, ele seja capaz de deslizar entre o ponto como uma polia. Deve se atentar em não tracionar excessivamente o elástico, para que não gere tensão excessiva na pele. Por fim, ao terminar o procedimento, nota-se uma aproximação das bordas, e com o passar dos dias essa aproximação se intensifica e o elástico perde sua força de tração. (VIDAL, MENDES JUNIOR, SANCHES, 2014)

Nota-se, portanto, que ao fixar o elástico nas bordas da lesão, tal técnica permite a reparação local sem que sejam necessárias áreas doadoras. Logo, utilizando-se do princípio biomecânico da tensão tecidual, onde o aumento da atividade metabólica induz o crescimento dos vasos e a proliferação de fibras colágenas, consegue-se estiramento da pele além dos limites normais de expansibilidade (VIDAL, MENDES JUNIOR, SANCHES, 2014). Dessa forma, torna-se possível redistribuir as forças de tração cutânea necessárias à sutura, sem que permaneçam áreas de isquemia.

5. CONCLUSÃO

A partir dos dados apresentados, nota-se, pois, que a sutura elástica emerge como um método inovador e eficaz na tentativa de aproximação do tecido cutâneo nos casos de perda tecidual significativa. A técnica, além de segura e de fácil execução, propicia bons resultados estéticos, com menor risco de complicações ao paciente. Em virtude dos notáveis benefícios da sutura com elástico, o presente estudo, além de apresentar o sucesso obtido no caso em específico, pretende incentivar análises mais aprofundadas na área, por meio de pesquisas originais e revisões sistemáticas voltadas a comparar a eficácia e segurança dessa técnica com a de outras de princípios semelhantes, a exemplo da técnica de Figueiredo.

REFERÊNCIAS

PETRAGLIA NETO, Antonio; TAVARES FILHO, João Medeiros. Sutura elástica como alternativa para o primeiro atendimento de ferida na urgência. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 31, p. 118-122, 2016

SANTOS, Eduardo Luiz Nigri dos; OLIVEIRA, Ricardo Araujo. (2012). Sutura elástica para tratamento de grandes feridas. Revista Brasileira De Cirurgia Plástica, v. 27, n. 3, p. 475–477, 2012.

TONATTO FILHO, Antoninho José et al. Uso concomitante de sutura elástica associada ao curativo a vácuo no fechamento de grandes perdas de partes moles. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 37, p. 463-466, 2022.

VIDAL, Manoel Alves; MENDES JUNIOR, Carlos Eduardo da Silveira; SANCHES, José Antônio. Sutura elástica-uma alternativa para grandes perdas cutâneas. Revista Brasileira de Cirurgia Plástica, v. 29, p. 146-150, 2014.


1Acadêmica de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – campus Governador Valadares.
2Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – campus Governador Valadares.
3Acadêmica de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – campus Governador Valadares.
4Acadêmica de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – campus Governador Valadares.
5Acadêmico de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – campus Governador Valadares.
6Acadêmica de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – campus Governador Valadares.
7Acadêmica de Medicina da Universidade Federal de Juiz de Fora – campus Governador Valadares.