REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th10241161305
Fabiano Caribé Pinheiro
Introdução:
Entende-se como suicídio dar fim à própria vida de forma voluntária como consequência de um conjunto de atitudes que passam pelo desejo (ideação suicida) e pelo comportamento intencional (condutas suicidas), podendo resultar ou não em suicídio consumado. O suicídio está entre as dez principais causas de morte na população mundial em todas as faixas etárias, sendo um fenômeno multicausal, influenciado por fatores ambientais, psicológicos, culturais, biológicos e políticos (More; Rosa; Schlösser, 2014; Pessoa et al., 2020 apud Silva; Priotto, 2023; Santos et al., 2021; Silva; Priotto, 2023). Atinge diferentes classes sociais, idades e raças, e como fenômeno social é ainda um tabu, compreendido como uma grande ferida emocional que poucos aceitam falar (Minayo, Cavalcante, Mangas, & Souza, 2012a apud Santos et al., 2019; Cordeiro et al., 2020 apud Silva; Priotto, 2023). O desejo e o comportamento intencional são o que diferem o suicídio da morte por causas naturais ou acidentais, já que, nestes últimos dois casos, a cessação da vida não teria caráter voluntário. Este conceito uniformizante, que pretende ser aplicável a qualquer indivíduo, esconde especificidades relacionadas a gênero e a valores culturais predominantes em cada sociedade, revelando o caráter biopsicossocial do suicídio. Reflete-se aqui sobre o suicídio praticado por homens de todas as faixas etárias, das diversas orientações sexuais e identidades de gênero1, cujas subjetividades tenham sido influenciadas pelo ideal tradicional de masculinidade.
Historicamente, os homens foram tidos como aqueles com quem a sociedade não precisa se preocupar. Este entendimento motivou que parte considerável da atenção primária da saúde pública brasileira fosse direcionada a categorias consideradas mais vulneráveis do que os homens: as crianças, as mulheres e os idosos. Este direcionamento, por sua vez, reforça o ideário cultural da figura masculina invulnerável e indestrutível, que não necessita de políticas públicas de saúde, e que, quando as têm, não as considera importantes, não se dedicando a práticas de autocuidado e prevenção (Garcia; De Oliveira Cardoso; Do Nascimento Bernardi, 2019). Nota-se aqui a forte influência dos valores culturais e ambientais como reforço destes comportamentos sociais, num círculo vicioso que se retroalimenta e que se reflete na saúde mental do homens, com consequências sobre as taxas de suicídio deste grupo, a ponto de “ser homem” ser considerado um fator de risco para o autoextermínio (Gomes; Iglesias; Constantinidi, 2019).
1 “A orientação sexual refere-se à capacidade de cada pessoa de ter uma profunda atração emocional, afetiva ou sexual por indivíduos de gênero diferente, do mesmo gênero ou de mais de um gênero, assim como ter relações íntimas e sexuais com essas pessoas […].
[…]
Identidade de gênero é uma experiência interna e individual do gênero de cada pessoa, que pode ou não corresponder ao sexo atribuído no nascimento, incluindo o senso pessoal do corpo […] e outras expressões de gênero, inclusive vestimenta, modo de falar e maneirismos […]” (Princípios apud Reis, 2018, p. 21 e 25).
Sabe-se que, entre 1980 e 2000, houve um aumento de 32,8% na taxa de suícidio entre homens no Brasil, verificado em todas as faixas etárias, sendo superior às taxas de suicídio entre mulheres, visto que estas possuem maiores índices em planejamento e tentativa, ao passo que os homens possuem maiores taxas em suicídio consumado (Gomes; Iglesias; Constantinidi, 2019; Baggio et al. apud More; Rosa; Schlösser, 2014). Discute-se que o ideal tradicional de masculinidade pode ter importante papel no aumento da taxa de suicídio entre homens, haja vista os valores socioculturais patriarcais relacionados à figura de provedor, tantas vezes abalada por reveses econômicos, decorrentes, por exemplo, de empobrecimento ou desemprego (More; Rosa; Schlösser, 2014). O avanço da idade também emerge como fator de risco, por atentar contra a idéia de utilidade social tão difundida pelo ideal tradicional de masculinidade, uma vez que o avanço da idade frequentemente está acompanhado de aposentadoria e redução de renda, morte de pessoas próximas, diagnóstico de enfermidades, isolamento, perda da função social e/ou dependência para as tarefas cotidianas (Beautrais, 2002; Conwell & Thompson, 2008 apud More; Rosa; Schlösser, 2014). Além dos aspectos mencionados acima, a subjetividade masculina é frequentemente construída a partir do ideal de virilidade, no qual se deve suprimir a expressão afetiva de fragilidade, o que leva a contenção de sentimentos e a não-compreensão de demandas psicológicas, contribuindo para a tristeza e a depressão (Zanello, 2014 apud Windmöller; Zanello, 2016), possíveis caminhos para o suicídio de homens, tanto crianças e adolescentes, quanto adultos e idosos, sejam heterossexuais ou homossexuais, sejam cisgênero ou transgênero.
[…] as masculinidades são configurações de práticas sociais e culturais que passam por aprendizados, atos, códigos, performances e ritos. O aprendizado de ser homem começa na infância, espaços sociais, clube, escola e principalmente entre os seus pares. Segundo o autor, os códigos viram rito e, depois, operadores hierárquicos. Em nossa cultura, essa aprendizagem se faz no sofrimento, na dor de ter que competir, ser melhor, endurecer o corpo, não expressar fragilidade. (Welzer-Lang apud Windmöller; Zanello, 2016, p. 439).
Estudos apontam ainda que pessoas transgênero apresentam taxas de ideação suicida e de tentativa de suicídio ainda maiores, superiores à população em geral (Da Costa et al., 2023), o que sugere que os preconceitos acerca de orientações sexuais e identidades de gênero não- normativas podem colaborar para sentimentos de inadequação social, não-aceitação familiar da diversidade e não-pertencimento, ampliando a influência do ideal tradicional de masculinidade na decisão suicida.
A discriminação, o silenciamento e marginalização de pessoas transgênero ocorrem também em pesquisas existentes sobre a saúde LGBTQIAPN+. Apesar das evidências claras que mostram que o suicídio é um grande problema de saúde pública para pessoas transgênero, há uma sub-representação de pesquisas sobre pessoas que vivenciam as transmasculinidades – designados do gênero feminino no nascimento e que se identificam em uma identidade masculina, transgênero ou não binária (McDowell, 2019; Suarez et al., 2021 apud Da Costa et al., 2023).
Objetivo:
O presente estudo tem por objetivo promover uma revisão descritiva sobre a maneira como a Psicologia compreende a influência do ideal tradicional de masculinidade na decisão suicida de homens, independentemente da idade, da orientação sexual e da identidade de gênero. Busca-se confirmar a seguinte hipótese: o ideal tradicional de masculinidade, baseado na imagem de homem heterossexual, provedor, invulnerável, socialmente funcional e viril, influencia na decisão suicida de homens heterossexuais ou homossexuais, cisgênero ou transgênero, de todas as idades, que não consigam apresentar-se ou sustentar-se socialmente adaptados ao referido ideal.
Método:
A pesquisa por artigos foi realizada em setembro de 2024 através da base de dados Google Acadêmico utilizando-se as seguintes palavras-chave: psicologia, suicídio, homens, causas e masculinidades. Como critérios de inclusão, buscou-se artigos: 1) em língua portuguesa; 2) produzidos por psicólogos; 3) que sejam artigos de revisão; 4) que abordem suicídio em geral, e suicídio masculino em particular. Foram encontrados 8.080 artigos, motivo pelo qual se restringiu a busca optando pela categoria “artigos de revisão”, resultando em 130 fontes. Foi realizada a leitura dos resumos dos artigos para identificar aqueles a serem utilizados, sendo aproveitados 11 artigos e descartados 119, em razão dos seguintes critérios de exclusão: 1) artigos repetidos; 2) TCC’s, monografias, dissertações de mestrado e teses de doutorado na área de Psicologia e em outras áreas; 3) nenhuma relação com o tema; 4) relação indireta com o tema; 5) outras ciências e áreas do conhecimento; 6) sites considerados inseguros pelos sistemas de antivírus; 7) sites com acesso pago ou inacessíveis. Uma vez selecionados, foi realizada a leitura integral dos 11 artigos, que servem de base para este trabalho. Além destes, recorreu-se ainda ao Manual de Comunicação LGBTI+ (Reis, 2018) para a correta utilização de conceitos relacionados à orientação sexual e à identidade de gênero.
Resultados:
Todos os 11 artigos selecionados são produção científica nacional, abordando o tema aqui proposto da seguinte forma:
Assunto | Quantidade de artigos |
Autocuidado e adoecimento em homens | 1 |
Comportamento suicida ao longo da vida – homens e mulheres | 1 |
Suicídio entre idosos – homens e mulheres | 2 |
Suicídio entre adolescentes – homens e mulheres | 3 |
Depressão e masculinidades | 1 |
Produções científicas em Psicologia sobre comportamento suicida | 1 |
Comportamento suicida relacionado a gênero – transsexualidade | 2 |
Discussão:
Fatores culturais afetam a forma como os homens e a sociedade em geral enxergam a necessidade de promover o autocuidado e a prevenção ao adoecimento masculino. O autocuidado é considerado um atributo feminino, em razão de atentar contra a ideia de que o homem é forte e viril, de que é capaz de suportar qualquer condição como uma máquina indestrutível, não respeitando seus limites, e levando à busca por ajuda apenas quando o adoecimento já se encontra instalado, preterindo as providências de prevenção que poderiam ser eficazes e de menor custo. Os homens sentem-se constrangidos, desconfortáveis e vivenciam medo quando necessitam se submeter a exames, procurar serviços de saúde ou internar-se para tratamentos (Garcia; De Oliveira Cardoso; Do Nascimento Bernardi, 2019), pois temem o julgamento social e o questionamento da masculinidade, fato ainda mais acentuado quando o homem é acometido por doenças psiquiátricas (Boysen, 2017; Gomes et al., 2011; Mascayano et al., 2016 apud Garcia; De Oliveira Cardoso; Do Nascimento Bernardi, 2019).
[…] a cultura machista exerce influência nos padrões de comportamentos e emoções masculinas. Sendo assim, adoecer, necessitar de ajuda com a saúde que se debilitou é percebido por eles próprios e por alguns membros da sociedade, como sinal de impotência, de fracasso, algo não previsto que desperta temor e incertezas. O medo e a vergonha são destacados […] quando é lembrado que os homens são reprimidos socialmente em relação a reconhecer fragilidades e manifestar emoções. Com isso, a procura por um serviço de saúde passa a ser um movimento que os remete à sua fragilidade (Garcia; De Oliveira Cardoso; Do Nascimento Bernardi, 2019, p. 27).
O hábito cultural de se medir o valor do homem através da sua utilidade social e financeira também contribui para o afastamento do público masculino dos serviços de atendimento à saúde. O trabalho tem fundamental importância na construção do ideal tradicional de masculinidade, pois para os homens é fundamental exercer a função de provedor e protetor da família. Atender às demandas de saúde implicaria em afastar-se das atividades laborais, supostamente colocando em risco a renda familiar e/ou a relação de emprego/trabalho, deparando-se muitas vezes com unidades públicas de saúde que funcionam apenas em horário comercial, além do receio de longo tempo de espera para ser atendido (Garcia; De Oliveira Cardoso; Do Nascimento Bernardi, 2019). A sensação de diminuição da utilidade social e financeira também pode se apresentar em razão do decurso natural do ciclo da vida, do envelhecimento, que, se não for enfrentado e ressignificado pelos homens, em alguns casos culminará em suicídio. O ciclo da vida é um conjunto de fases que cada indivíduo atravessa desde a sua concepção até a morte (Alarcão, 2006, apud More; Rosa; Schlösser, 2014), e engloba a infância, a adolescência, a vida adulta e a velhice. O suicídio afeta pessoas de todas as idades, surgindo como opção quando não se encontra formas de lidar com o sofrimento psíquico, visualizando a morte como única alternativa viável (Santos apud Santos et al., 2019), ocorrendo em maior número entre homens do que entre mulheres (Tsai AC, et al., 2015 apud Santos et al., 2021; Minayo et al., 2012b apud Santos et al., 2019).
A infância e adolescência se caracterizam por serem períodos de baixa morbidade e mortalidade, tendo como principais causas de morte as doenças oncológicas, o homicídio e o suicídio. Sobre a intenção de morrer, vale destacar que a noção de irreversibilidade de morte não está presente em crianças antes dos oito anos de idade em razão de o indivíduo ainda não ter atingido o amadurecimento neurológico e cognitivo necessário a esta compreensão (Bella et al. apud More; Rosa; Schlösser, 2014). A partir da adolescência, o suicídio passa a ser efetivado com consciência e noção da implicação final (Silva; Priotto, 2023), tendo como fatores de risco a depressão, ansiedade, dificuldades no enfrentamento de frustrações pessoais, disfunção familiar, abuso sexual, maus tratos (Caballero MA, et al. apud Santos et al., 2021; Psic apud More; Rosa; Schlösser, 2014), intensidade de sentimentos, modificações hormonais e sociais (De Moreira; De Bastos apud Melo et al., 2023), abuso de drogas e álcool (Silva LLT, et al., 2015 apud Santos et al., 2021), influência de séries, filmes e internet, falta de expectativas para o futuro, conflitos relacionados à orientação sexual (Caballero MA, et al., 2017 apud Santos et al., 2021), descontentamento com a própria imagem corporal (Claumann et al., 2018 apud Silva; Priotto, 2023), ameaça direta da autoimagem ou da dignidade (bullying), morte de um ente querido, conflitos interpessoais, indisciplina na escola, aceitação do suicídio como forma de resolução de problemas, pressão do grupo a cometer suicídio sob determinadas circunstâncias, fracasso no desempenho escolar, exigência elevada de pais e professores, além de outros fatores que causam angústia e desesperança (Pérez Abreu et al., 2018 apud Silva; Priotto, 2023).
Fernandes et al., (2020) analisou a tendência de suicídio entre 1997 a 2016 e notou um aumento nas mortes por suicídio em indivíduos do sexo masculino, com idades entre 10 a 19 anos, em quase todos os estados do país, inclusive, no estado do Tocantins. Esse dado é confirmado por outros estudos da literatura científica disponível, o que pode ser correlacionado com a maior facilidade de acesso, que os homens possuem a recursos mais agressivos e potencialmente letais. Outra questão é como a masculinidade é trabalhada e ensinada em nosso país, predispondo homens a maior impulsividade e violência, associado à negligência com a saúde mental (Santos; Dinis, 2018; Silva et al., 2021 apud Melo et al., 2023, p. 6).
No Brasil, as taxas de suicídio em homens com menos de 60 anos apresentou declínio de 2005 para 2006, todavia, em 2006, ano no qual se constatou redução, a relação de suícidio entre gêneros foi de 3,4 suicídios de homens para cada mulher (More; Rosa; Schlösser, 2014). Os principais fatores de risco para suicídio na idade adulta são problemas familiares ou sociais tais como perdas afetivas, rompimentos interpessoais significativos, problemas financeiras e histórico familiar de suicídio, abuso de substâncias psicoativas, enfermidades terminais e transtornos mentais severos (Almeida et al., 2009; Meneghel et al., 2004; Rogers, 2001; Weir, 2001; Who, 2000/2008 apud More; Rosa; Schlösser, 2014). Homens que fogem do padrão “macho de ser” também apresentam elevado risco de suicídio (Santos; Dinis, 2018 apud Silva; Priotto, 2023).
As pessoas idosas são consideradas o grupo mais vulnerável ao suicídio em todo o mundo (Cavalcante e Minayo apud Santos et al., 2019), cujas taxas apresentam aumento quando comparadas à população jovem, visto que os idosos são mais letais em seus comportamentos suicidas (Baptista et al. apud More; Rosa; Schlösser, 2014). No Brasil, considerado um país com baixo índice, as taxas de suicídio entre pessoas acima de 60 anos são o dobro da população em geral, com um aumento exponencial no grupo de idosos do sexo masculino (Da Silva Maia et al., 2020; Lovisi et al.; Minayo, Cavalcante, & Souza apud More; Rosa; Schlösser, 2014). No país, de 1996 a 2007, de um total de 91.009 casos constatados de suicídio, 14,2% foram de idosos com 60 anos ou mais, com maior prevalência entre homens (82,2%) e de maior número na região do Sul (30,7%) (Pinto et al., 2012a apud Santos et al., 2019). O suicídio é resultado da subjetividade de cada idoso, que envolve a interpretação atribuída às experiências vivenciadas, podendo receber influências de aspectos psicológicos, emocionais, culturais e sociais, de fatores micro e macrossociais (Sousa et al., 2014 apud Santos et al., 2019). Entre idosos, são fatores de risco para suicídio: aposentadoria, morte de pessoas próximas, diagnóstico de uma enfermidade, isolamento social, perda de função social, depressão, ansiedade, desenvolvimento de transtornos psicológicos e/ou neurológicos, sentimentos de culpa e dependência, rigidez e impulsividade (Beautrais, 2002; Conwell & Thompson, 2008 apud More; Rosa; Schlösser, 2014).
A perda do trabalho ou a aposentadoria são exemplos, assim como limitações por conta da faixa etária ou doenças, exigindo do idoso uma mudança na sua rotina, este passando então a frequentar por mais tempo seu ambiente familiar. Levando em conta a divisão do trabalho ligada ao sexo e competências historicamente, a casa é um espaço da mulher e o homem não o ocupa para não colocar em risco a sua masculinidade. Atualmente permanecem status relacionados ao papel social masculino, sendo este o de provedor, partindo do pressuposto de honra e responsabilidade pelas mulheres e crianças. Quando o indivíduo ingressa na velhice e ve esse papel sendo direcionado a outra pessoa, observa-se emanar sentimentos de solidão (Minayo e Cavalcante apud Santos et al., 2019, p. 27).
Independentemente do ciclo da vida, questões referentes à orientação sexual e identidade de gênero também exercem forte influência na decisão suicida masculina. Adolescentes homossexuais, por exemplo, apresentam 3 vezes mais ideação suicida do que indivíduos heterossexuais da mesma faixa etária (Santos et al., 2021), visto que a descoberta da homossexualidade masculina implica em não-enquadramento aos padões impostos pela sociedade estruturada sob o ideal familiar machista (Santos; Dinis, 2018 apud Silva; Priotto, 2023), sendo obrigados a suprimirem emoções e modificarem costumes, como a maneira de se vestirem e de falarem, sentindo-se constantemente ameaçados, contribuindo para quadros de depressão e suicídio (Silva; Priotto, 2023). Pessoas transgênero também apresentam elevado fator de risco para suicídio (Baére; Zanello, 2018) em razão da violência, do preconceito e da discriminação, sendo que o suicídio é maior entre mulheres transgênero do que entre homens transgênero. Entre os fatores de risco para suicídio entre pessoas transgênero estão isolamento social, falta de apoio social, conflito familiar, rejeição, incompreensão, desemprego, disforia em relação ao próprio corpo, percepção de ser um peso para outras pessoas e para a sociedade, capacidade de autoagressão em razão de repetida exposição à experiências de medo e dor (Da Costa et al., 2023).
Thoma et al. (2019) examinaram as disparidades no comportamento suicida entre adolescentes transgênero e adolescentes cisgênero. Eles relatam que os adolescentes transgênero apresentaram taxas mais altas de ideação e tentativa de suicídio quando comparados com os jovens cisgênero. Outro dado indica que os adolescentes não binários – designados do gênero feminino ao nascer – apresentaram maior risco de ideação e tentativa do que os jovens cisgênero masculinos. Os achados apontam que os homens transgêneros e adolescentes NB/AFAB têm maior risco de ideação e tentativa de suicídio (Da Costa et al., 2023).
Conclusão:
Conclui-se que o ideal tradicional de masculinidade influencia na decisão suicida de homens, visto que ameaça sua saúde física, psicológica e social, potencialmente conduzindo-os ao suicídio como forma de eliminar o sofrimento decorrente dos sentimentos de inadequação, inutilidade, rejeição, isolamento social, solidão, fracasso e vulnerabilidade, sejam eles homens heterossexuais ou homossexuais, cisgênero ou transgênero, independentemente de sua idade, sendo certo que cada um destes grupos é influenciado em diferentes proporções, em decorrência do referido ideal tradicional de masculinidade não abarcar a diversidade própria do ser humano, que faz de cada pessoa um indivíduo autêntico, repleto de potencialidades. É necessário fortalecer novos ideais de masculinidade, mais voltados à melhoria da qualidade de vida dos homens, promovendo autocuidado e autoconhecimento. Diga-se sim à saúde masculina!
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