REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/th102411081254
Elton Átila Vilela1
Minerva Lepoldina de Castro Amorim2
Kayth Anne Sousa Nascimento Andrade3
Jaqueline Lima de Souza4
Thatiane Cristina da Silva Baima5
Elizeu Martins de Magalhães6
Introdução
O Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de São Paulo (IFSP) é uma autarquia federal vinculada ao Ministério da Educação (MEC), especializada na oferta de Educação Profissional e Tecnológica (EPT), criada por meio da Lei nº 11.892, de 29 de dezembro de 2008, que também instituiu a
Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica, da qual o IFSP é integrante. Ainda que vinculado ao MEC, o IFSP detém autonomia administrativa, patrimonial, financeira, didático-pedagógica e disciplinar, nos termos do Art. 1º, Parágrafo único, da Lei nº 11.892/2008. Atualmente o IFSP conta com 41 campis. O Campus Avançado Ilha Solteira iniciou suas atividades em outubro de 2014 oferecendo cursos técnicos na área de infraestrutura. Os cursos oferecidos são os de desenho em construção civil e edificações. Atualmente o IFSP Ilha Solteira tem seis (6) turmas sendo duas salas de primeiro ano, duas salas de segundo ano e duas salas de terceiro ano. A Educação Física é um componente pedagógico que oferece uma aula semanal para os terceiros anos. O relato sobre as experiências das aulas ocorreram no terceiro bimestre do ano de 2024.
O ensino do esporte nas aulas de Educação Física Escolar (EFE) é constantemente discutido para atender os objetivos educacionais. No intuito de aproximar o esporte desse papel, o ensino dos conteúdos nessa disciplina é proposto por meio de três dimensões: conceitual, procedimental e atitudinal. O Atletismo é uma modalidade esportiva que serve de base para todas as outras modalidades esportivas, um esporte individual sendo bastante difundido sua prática. No entanto, nas escolas ainda pouco praticado. “O atletismo é considerado um conteúdo clássico da Educação Física, mas, é pouco difundido nas escolas e clubes brasileiros”. (MATTHIESEN, 2012, p.17). Pela grande variedade de gestos motores e pela ampla quantidade de provas oferecidas pela modalidade, que abrange diversos tipos de movimento que caracterizam diversos grupos de habilidades, o atletismo se apresenta como grande estimulador da aprendizagem de habilidades fundamentais (Frainer, Abad, DeOliveira, & Pazin, 2017) .
De acordo com Mariano (2012) o atletismo é um conjunto de provas individuais ou coletivas que se baseiam em marcha, corrida, salto e arremesso de objetos, bem como provas combinadas. Matthiesen (2012) aponta a viabilidade do atletismo na escola. Contudo ela afirma que o ensino desta modalidade deve ser de qualidade, aliando a teoria e a prática de forma indissociável sendo que isso é fundamental no processo de aprendizagem, devendo abordar um histórico da modalidade e que posteriormente isso desemboque nas práticas corporais. E esse conteúdo rico da Educação Física foi apresentado aos alunos dos terceiros anos da instituição visto que quase toda a totalidade da sala não havia tido esta experiência no ensino fundamental. Após uma conversa inicial abordando a temática foi proposto uma sequência de aulas para os terceiros anos utilizando a metodologia Sport Education (SE) ou Educação Esportiva.
O modelo Sport Education (SE) ou Educação Esportiva, que foi criado por Siedentop na década de 1980. A ideia é ofertar experiências esportivas autênticas no contexto das aulas de Educação Física. Para Siedentop (1998) este método de ensino apresenta três metas elementares, que são: Competência esportiva, onde o esportista competente entende as estratégias e pode executálas adequadas a complexidade do jogo; a Literacia esportiva que é um atleta que entende e valoriza as regras, rituais e tradições do esporte diferenciando de forma positiva as boas práticas e o entusiasmo esportivo, que é a parte atitudinal, como parte do estilo de vida, a proteção e a preservação da cultura esportiva com o objetivo aumentar a acessibilidade das práticas. O objetivo do SE é criar jogadores competentes, literatos e entusiastas favorecendo não só os habilidosos mas ampliando a visão com alunos que participem em todas as nuances oferecidas pelo esporte e não só o jogo pelo jogo, mas tudo aquilo que circunda a prática (DYSON; GRIFFIN; HASTIE, 2004). Os princípios pedagógicos mais relevantes dessa prática segundo Dyson, Griffin e Hastie, (2004) são: a abordagem centrada em cada aluno, buscando a participação de todos; aprendizagens que incluam aspectos sociais, físicos e cognitivos; grupos de trabalho pequenos para que uns ajudem os outros e um professor facilitador que seja um tutor e transfira a responsabilidade para o grupo.
Nesse contexto foi ministrado as aulas de atletismo utilizando as técnicas do Sport education (SE) ou Educação Esportiva para as turmas dos terceiros anos do ensino médio de forma que o aluno se torne o centro de uma aprendizagem significativa e que propõe experiências desportivas autênticas, positivas e inclusivas nas aulas de Educação Física e pode ser aplicado em diversas modalidades, inclusive no atletismo (Deenihan, McPhail, & Young, 2011; Ginciene; Silva, Matthiesen, 2015).
Objetivo
Envolver os alunos dos terceiros anos do ensino médio, numa atividade participativa e colaborativa, desenvolvendo as atividades de lançamento de dardo, corrida de 100 metros e revezamento 4 x 100 utilizando a metodologia do Sport Education.
Objetivo Específico
Promover a inclusão e participação.
Desenvolver habilidades motoras e conhecimento técnico.
Fomentar o trabalho em equipe e a cooperação.
Integrar conhecimento prático e teórico.
Desenvolvimento
Começamos o trabalho com uma roda de conversa procurando entender o que o aluno já trazia de conhecimentos prévios do Atletismo. O aluno E. do terceiro desenho mencionou que conhecia “ o Bolt”. A aluno G. do Terceiro Ano Edificações comentou que o atletismo “envolvia provas de corrida”, o aluno T. também do terceiro edificações relatou que “viu o recorde mundial do Duplantis nas Olimpíadas de Paris e que isso faz com ele pesquisasse sobre quem era”. Houve outros relatos também. No decorrer das semanas foi repassado aos alunos um histórico do atletismo. O Terceiro Ano Desenho tem 35 alunos na sala e o Terceiro Ano Edificações tem 40 alunos. Na primeira dividimos a sala em 7 grupos de 5 alunos e na segunda dividimos em 8 grupos de 5 alunos. Foram repassados aos alunos temas relevantes do histórico do atletismo brasileiro para que pudessem ser identificados atletas que representaram muito bem a modalidade no Brasil. Foram temas da pesquisa atletas importantes do século XX como: Adhemar Ferreira da Silva, João Carlos de Oliveira ( João do Pulo), Aída dos Santos, Joaquim Cruz, Zequinha Barbosa, Robson Caetano E nomes do século XXI como Maurren Maggi, Thiago Braz, Rosângela Santos, Vanderlei Cordeiro e Alison dos Santos. Essa parte do trabalho compreende o momento da literácia esportiva, pois entender o histórico da modalidade é fundamental para melhor fruir a modalidade.
Na sequência foram apresentados as modalidades de campo e de pista. Nessa parte foram utilizados momentos esportivos da Olimpíadas de Paris 2024 bem como vídeos do Youtube. No que diz respeitos às aulas práticas foram executadas aulas adaptadas. Na escola disponibilizamos de apenas 3 dardos e foi preciso adaptar os outros implementos. Usamos pratos de plástico para trabalhar o lançamento do disco e medicine ball para trabalhar o arremesso de peso. As corridas usamos os arredores da quadra e o campo de futebol do bairro, onde fizemos jogos de estafeta e outros jogos de corrida como: elefante colorido e mãe da rua para experimentar de forma lúdica as corridas. Em seguida foi ensinado o tipo de saída das corridas rasas, no caso, a saída baixa. Os alunos mostraram muito interesse nessa parte e chegamos a realizar corridas curtas de 40 metros, que era o tamanho do campo. Nessa sequência de aulas objetivou-se trazer a competência de como realizar cada tarefa. Foi possível observar no decorrer do bimestre outros alunos que em princípio não queriam também fazendo parte das atividades. Foram muitos os momentos em que os alunos estavam agindo de forma colaborativa e explicando detalhes das práticas uns para os outros.
Foi então que por indicação dos próprios alunos das salas criássemos um evento onde eles pudessem fazer a prática de modo formal no estádio Frei Arnaldo aqui na cidade de Ilha Solteira unindo as duas turmas. Diante disso foi explicado que a abordagem metodológica utilizada naquela unidade temática foi o Sport Education e que a ideia de eles fazerem o evento esportivo ia ao encontro daquilo que o professor imaginava. Então as salas se dividiram e atribuíram funções dentro da equipe para cada um da sala. Os alunos ficaram divididos em: atletas, técnicos, árbitros, impressa, e torcidas. As modalidades que foram escolhidas por meio de votação foram o lançamento de dardo, a corrida de 100 metros e o revezamento 4 x 100 metros.
Resultados
O evento de encerramento da unidade temática foi um momento ímpar e muito relevante. O engajamento dos alunos nas atividades foi algo que surpreendeu. Como avaliação dos resultados e feedback, foi pedido na aula seguinte ao evento que os alunos se reunissem em grupos de cinco ou seis alunos e escrevessem sobre os pontos que mais chamaram a atenção na execução da competição esportiva. Foram muitos feedbacks interessantes. Um grupo fez o seguinte relato: “Observamos as atividades de perto tendo a oportunidade de torcer e conhecer muitas modalidades esportivas antes desconhecidas para nós. Vivemos toda a adrenalina do esporte mesmo nem todos participando como atletas, pois aprendemos que é preciso um conjunto de pessoas para que a competição aconteça”. Outro grupo relatou: “ A experiência foi muito legal e interativa pois o evento nos proporcionou momentos de integração entre as turmas. A diversidade de funções que ficou atribuída a cada aluno como: árbitro, imprensa, técnicos e torcida fizeram com que ninguém se sentisse excluído”. Diante dos relatos obtidos foi possível observar que os objetivos foram alcançados, inclusive porque um dos grupos sugeriu que a atividade fosse feita em conjunto com as outras salas da escola, sendo que os terceiros anos seriam os organizadores da competição. Atividade que já ficou agendada para dezembro, no fim do calendário escolar.
Considerações Finais
Foi possível observar durante a atividade o nível de entrega de cada participante, bem como a satisfação de ser incluído de alguma forma na atividade. Dentro das aulas de Educação Física devemos oportunizar experiências que proporcionem aos nossos alunos a responsabilidade e a autonomia. O papel do professor é sempre questionar o fazer pelo fazer e desenvolver atividades que criem um ambiente inclusivo, uma competição saudável com engajamento e motivação.
Referencias Bibliográficos
Deenihan, J. T., McPhail, A., & Young, A. M. (2011). ‘Living the curriculum’: Integrating sport education into a Physical Education Teacher Education programme. European Physical Education Review, 17(1), 51-68
DYSON, B.; GRIFFIN, L. L.; HASTIE, P. Sport Education, Tactical Games, and Cooperative Learning: Theoretical and Pedagogical Considerations. Quest, v.56, n.2, p.226–240. 2004. doi:10.1080/00336297.2004.10491823.
Frainer, D. E. S., Abad, C. C. C., De-Oliveira, F. R., & Pazin, J. (2017). Análise da produção científica sobre atletismo no Brasil: uma revisão sistemática. Revista brasileira de ciência e movimento, 25(1), 199-211.
Ginciene, G & Matthiessen, S. (2015) Ensinando o atletismo para além do ensino tradicional: refletindo sobre novas abordagens de ensino. In: Anais do 5º Congresso Internacional do Jogos Desportivos. Belo Horizonte, Minas Gerais.https://ist.ifsp.edu.br/index.php/cel-ist/60-menu-superior/institucional/77-historico-da-instituicao#:~:text=Apesar%20da%20portaria%20de%20autoriza%C3%A7%C3%A3o%20se r%20de%202015%2C,Solteira%20%28FUNEDISA%29%2C%20possibilitando%20o%20IF SP%20pudesse%20se%20instalar. Acesso em 01/10/2024.https://www.ifsp.edu.br/sobre-o-campus acesso em 01/10/2024.
MARIANO, Cecília. Educação Física: o atletismo no currículo escolar. 2. ed. Rio de Janeiro: Wak, 2012
MATTHIESEN, Sara Quenzer. Atletismo se aprende na escola. 2 ed. São Paulo: Editora Fontoura, 2012.
SIEDENTOP, D. What is Sport Education and How Does it Work? Journal of Physical Education, Recreation & Dance, v.69, n.4, p.18–20. 1998. doi:10.1080/07303084.1998.10605528.
1 elton.vilela@ifsp.edu.br – Universidade Federal do Amazonas – UFAM- ORCIDhttps://orcid.org/0009-0002-2829-1682
2 minervaamorim@ufam.edu.br – Universidade Federal do Amazonas – UFAM- ORCID- https://orcid.org/ 0000-0002-5350-3563
3 kayth.andrade@prof.am.gov.br – Universidade Federal do Amazonas–UFAM-ORCID-https://orcid.org/0000-0002-5013-7625
4 jaqueline.souza@semed.manaus.am.gov.br – Universidade Federal do Amazonas –UFAM- ORCID- https://orcid.org/0009-0008-8863-7482
5 thatiane.baima@prof.am.gov.br – Universidade Federal do Amazonas –UFAM- ORCID- https://orcid.org/0009-0007-7065-8499
6 elizeumartinsdemagalhaes@gmail.com- Universidade Federal do Amazonas–UFAM-ORCID-https://orcid.org/0009-0006-9064-1320