“SLIME E SAÚDE INFANTIL: ANÁLISE DOS RISCOS E RECOMENDAÇÕES PARA UMA BRINCADEIRA SEGURA”

“SLIME AND CHILD HEALTH: ANALYZING RISKS AND RECOMMENDATIONS FOR SAFE PLAY”

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202407311955


Ana Carolina Mourão Passos1
Isabella de Oliveira Santana2
Antônia Quarti de Andrade3


RESUMO

Introdução: Oslime conquistou a atenção das crianças, tornando-se uma febre nas redes sociais. Sua popularidade cresceu com a divulgação de receitas caseiras práticas e acessíveis. No entanto, sua composição, incluindo bórax, cola e água, levanta preocupações devido aos riscos à saúde. Componentes adicionais, como detergentes, álcool polivinílico, bicarbonato de sódio, leite ou amido de milho, complicam ainda mais as formulações caseiras. Com a popularização do slime, surgiram relatos de reações alérgicas e irritações cutâneas, motivando estudos sobre os efeitos desses ingredientes. Metodologia: Foi realizada uma revisão sistemática de literatura na base de dados Scielo e Pubmed.  A amostra final contou com 13 artigos, nos idiomas português e inglês, publicados desde 2018. Foram excluídos artigos sem aderência ao tema. Resultados e Discussões: O slime tornou-se popular entre crianças, amplamente divulgado através de receitas caseiras. Contudo, sua produção pode desencadear reações na pele, como dermatite de contato alérgica (DCA) e irritante (DCI), devido a ingredientes como metilisotiazolinona (MI) e metilclorotiazolinona (MCI). Estudos indicam que essas reações são mais comuns em meninas e indivíduos com tendência atópica. O diagnóstico de DCA é feito pelo Patch Test, e o tratamento envolve evitar o alérgeno, podendo incluir corticosteróides em casos graves. Portanto, é essencial explorar os riscos associados ao uso de slime. Conclusão: O slime pode causar dermatite de contato irritante e alérgica, especialmente em preparações caseiras com MCI e MI. Embora benéfico para o desenvolvimento motor e familiar, esses ingredientes representam riscos significativos, destacando a necessidade de supervisão cuidadosa durante a preparação.

Palavras- Chave: Criança. Slime. Dermatite.

ABSTRACT

Introduction: Slime has captured children’s attention, becoming a social media sensation. Its popularity surged with the spread of practical and accessible DIY recipes. However, its composition, including borax, glue, and water, raises health concerns. Additional components, such as detergents, polyvinyl alcohol, baking soda, milk, or cornstarch, further complicate homemade formulations. With the rise in slime’s popularity, reports of allergic reactions and skin irritations have emerged, prompting studies on the effects of these ingredients. Methodology: A systematic literature review was conducted using the Scielo and Pubmed databases. The final sample included 13 articles in Portuguese and English published since 2018. Articles not relevant to the topic were excluded. Results and Discussion: Slime has become popular among children and is widely shared through homemade recipes. However, its production can trigger skin reactions, such as allergic contact dermatitis (ACD) and irritant contact dermatitis (ICD), due to ingredients like methylisothiazolinone (MI) and methylchloroisothiazolinone (MCI). Studies indicate that these reactions are more common in girls and individuals with atopic tendencies. ACD is diagnosed through a Patch Test, and treatment involves avoiding the allergen, potentially including corticosteroids in severe cases. Therefore, exploring the risks associated with slime use is essential. Conclusion: Slime can cause irritant and allergic contact dermatitis, particularly in homemade preparations containing MCI and MI. Although it is beneficial for motor development and family bonding, these ingredients pose significant risks, underscoring the need for careful supervision during preparation.

Keywords:  “child”. “Slime”.‘’dermatitis’’.

Introdução:

O slime é um brinquedo viscoso e pegajoso que ganhou popularidade entre as crianças nos últimos anos, amplamente divulgado na internet através de inúmeras receitas caseiras que utilizam ingredientes comuns encontrados em casa. Apesar de sua popularidade crescente, o slime não está isento de riscos associados à sua composição, que pode incluir ingredientes potencialmente tóxicos. Os principais componentes do slime incluem bórax, cola e água, mas receitas caseiras frequentemente incorporam aditivos como detergentes, álcool polivinílico, bicarbonato de sódio, leite ou amido de milho. Embora muitos desses ingredientes sejam considerados seguros em pequenas quantidades, sua combinação pode levar a reações adversas, especialmente quando manipulados por crianças.

A ascensão do slime tem sido acompanhada por um aumento notável em casos de reações alérgicas e irritativas entre as crianças, incluindo dermatite de contato alérgica (DCA) e dermatite de contato irritante (DCI). Essas condições dermatológicas são frequentemente associadas à presença de conservantes e aditivos como metilisotiazolinona (MI) e metilclorotiazolinona (MCI), substâncias conhecidas por induzir sensibilização cutânea e reações alérgicas. Estudos recentes indicam que a exposição a esses compostos pode exacerbar reações alérgicas em crianças com predisposição atópica, uma condição caracterizada por uma barreira cutânea mais vulnerável e maior suscetibilidade a irritantes.

Além dos componentes químicos, a prática de fazer slime em casa pode não seguir padrões rigorosos de higiene, o que pode introduzir contaminantes adicionais, exacerbando o risco de infecções e reações alérgicas. A falta de regulamentação sobre a segurança dos ingredientes e das receitas caseiras aumenta a preocupação com os possíveis impactos adversos na saúde infantil. Nesse contexto, é fundamental que os pais e responsáveis estejam cientes dos riscos potenciais associados ao slime e tomem precauções adequadas para minimizar esses riscos, garantindo que as brincadeiras permaneçam seguras e benéficas para o desenvolvimento das crianças.

Metodologia:

Este estudo foi conduzido através de uma revisão sistemática da literatura, utilizando as bases de dados Scielo e PubMed. Foram empregados os descritores “criança”, “slime” e “dermatite” para identificar os artigos relevantes. A seleção dos estudos seguiu critérios rigorosos, resultando em uma amostra final composta por 13 artigos, publicados desde 2018, e disponíveis nos idiomas português e inglês. Artigos que não apresentavam aderência ao tema proposto foram excluídos da análise. Esta abordagem garantiu uma análise abrangente e atualizada sobre os riscos e cuidados associados ao uso de slime por crianças.

Resultados e discussões:

A literatura revisada indica que o slime caseiro pode causar dermatite de contato alérgica (DCA) e dermatite de contato irritante (DCI). Essas condições são caracterizadas por reações cutâneas que podem variar de irritações leves a reações graves, dependendo dos ingredientes e da frequência de contato.

Os dados mostram que a maioria dos casos relatados de reações cutâneas envolve crianças e adolescentes do sexo feminino, com 76,47% dos casos ocorrendo em meninas. Isso pode ser atribuído a fatores como maior exposição e tendência a reações alérgicas na pele mais sensível desses grupos. Ingredientes comuns na preparação de slime, como detergentes, cola de acetato de polivinila e conservantes como metilisotiazolinona (MI) e metilclorotiazolinona (MCI), estão frequentemente associados a respostas alérgicas em testes de contato.

As reações observadas incluem dermatite de contato irritante e alérgica, que podem mimetizar outras condições dermatológicas, como eczema disidrótico e dermatite atópica. O diagnóstico é frequentemente realizado através de inspeção visual e histórico de exposição, com o teste de contato (Patch Test) sendo o método padrão para identificar alérgenos específicos. O tratamento geralmente envolve evitar o contato com o agente causador, uso de luvas durante a manipulação do slime e aplicação de corticosteróides tópicos quando necessário.

Além dos ingredientes principais como bórax e cola, outros aditivos como cremes de barbear e detergentes podem conter ingredientes sensibilizantes adicionais, incluindo fragrâncias e conservantes, que aumentam o risco de sensibilização cutânea. Estudos recentes destacam o uso de ácido bórico para proporcionar elasticidade ao slime, que pode causar queimaduras químicas em concentrações elevadas. A combinação de bórax, que é um irritante conhecido, e outros compostos pode resultar em lesões teciduais e dermatites.

Enquanto o slime é reconhecido por seus benefícios no desenvolvimento motor e na interação familiar, é crucial que os pais e responsáveis estejam cientes dos riscos associados. A preparação e o manuseio do slime devem ser feitos com cuidado e sob supervisão de adultos para minimizar a exposição a ingredientes potencialmente irritantes e alérgicos. Recomenda-se o uso de receitas que evitem aditivos conhecidos por causar reações adversas e a adesão a práticas seguras durante a manipulação do slime.

A literatura ainda carece de informações detalhadas sobre os ingredientes específicos em produtos comerciais de slime, o que limita a capacidade de prever reações alérgicas baseadas apenas em sua composição. Estudos futuros devem explorar a presença de conservantes e outros aditivos em produtos comerciais e fornecer diretrizes claras para garantir a segurança das crianças ao brincar com slime.

Conclusões: O Slime pode causar Dermatite de Contato Irritante e Alérgica, principalmente quando é feito em casa. Nas preparações caseiras, ingredientes já citados para sua composição contém MCI e MI que foram associados a respostas positivas em testes de contato em indivíduos afetados pelo slime.

A natureza das reações observadas indicam a necessidade de maior atenção e supervisão durante a preparação e uso do slime. Ingredientes potencialmente irritantes e alergênicos, como conservantes e detergentes, podem causar reações cutâneas severas e devem ser manejados com cautela. É fundamental que pais e responsáveis adotem práticas seguras ao preparar slime, como o uso de receitas que minimizem a presença de substâncias sensibilizantes e a supervisão constante durante a atividade.

Embora o slime ofereça oportunidades educativas e de entretenimento, é essencial equilibrar esses benefícios com a conscientização dos riscos potenciais. Futuras pesquisas devem focar na identificação dos ingredientes específicos em produtos comerciais e no desenvolvimento de diretrizes claras para garantir a segurança durante a manipulação do slime.

A educação contínua sobre os ingredientes e a implementação de medidas preventivas são cruciais para proteger a saúde das crianças e permitir que o slime continue a ser uma atividade segura e divertida.

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1, 2, 3Acadêmica de Medicina da UNESA