SITUAÇÃO EPIDEMIOLÓGICA DOS CASOS NOTIFICADOS EM IDOSOS COM SÍFILIS ADQUIRIDA NO ESTADO DE ALAGOAS

EPIDEMIOLOGICAL SITUATION OF CASES NOTIFIED IN ELDERLY PEOPLE WITH ACQUIRED SYPHILIS IN THE STATE OF ALAGOAS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8033753


Mylena Francyele Queiroz Rocha1
Jandson de Oliveira Soares2
Alessandra Nascimento Pontes3


RESUMO

Introdução: O envelhecimento é um processo dinâmico, sequencial, individual e não patológico. Nele se observa modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas. O crescimento senil associado à melhoria da qualidade de vida implica numa nova tendência de aumento da proliferação de doenças infectocontagiosas nessa faixa etária, tais como as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), em especial a Aids e a sífilis. Objetivo geral: Avaliar a situação epidemiológica dos casos notificados em idosos com sífilis adquirida no Estado de Alagoas. Método:Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, retrospectivo e descritivo, referente aos casos notificados de Sífilis Adquirida em Idosos no Estado de Alagoas entre os anos de 2016 e 2021. A coleta de informações secundárias foi realizada pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), analisando dados tabulados no programa Microsoft Excel, relacionando a faixa etária da população idosa com o ano de notificação, região metropolitana, raça, sexo e escolaridade, respectivamente. Resultados e Discussão: Constatou-se que a faixa etária de idosos que teve maior notificação dos casos por sífilis adquirida em Alagoas foi entre 60 a 64 anos. As regiões com maior predomínio dos casos notificados por região metropolitana em Alagoas estão Maceió, Zona da Mata e Fora da Região Metropolitana. Observou-se ampla prevalência dos casos notificados de em Alagoas na raça parda, bem como, o predomínio da notificação dos casos de sífilis no sexo masculino. Também, verificou-se predominância dos casos notificados de sífilis adquirida em idosos analfabetos e que cursaram entre 1ª a 4ª série incompleta do ensino fundamental. Conclusão: A situação epidemiológica da sífilis adquirida no idoso no estado de Alagoas é um problema de saúde pública, portanto, tal cenário demanda atenção da gestão pública, implementando estratégias eficazes para o controle da doença nessa faixa etária. 

Descritores: Idoso; Infecções Sexualmente Transmissíveis; Sexualidade; Sífilis.

Abstract

Introduction: Aging is a dynamic, sequential, individual and non-pathological process. It shows morphological, functional, biochemical and psychological changes. The senile growth associated with the improvement of the quality of life implies a new trend of increased proliferation of infectious diseases in this age group, such as Sexually Transmitted Infections (STIs), especially AIDS and syphilis. General objective: To evaluate the epidemiological situation of reported cases in elderly people with acquired syphilis in the State of Alagoas. Method: This is a cross-sectional, retrospective and descriptive epidemiological study, referring to reported cases of Acquired Syphilis in the Elderly in the State of Alagoas between 2016 and 2021. The collection of secondary information was carried out by the Department of Informatics of the Health Single System (DATASUS), analyzing tabulated data in the Microsoft Excel program, relating the age group of the elderly population with the year of notification, metropolitan region, race, sex and education, respectively. Results and Discussion: It was found that the age group of elderly people who had the highest notification of cases of acquired syphilis in Alagoas was between 60 and 64 years old. The regions with the highest prevalence of cases notified by metropolitan region in Alagoas are Maceió, Zona da Mata and Outside the Metropolitan Region. There was a wide prevalence of reported cases of syphilis in Alagoas in the brown race, as well as the predominance of notification of syphilis cases in males. Also, there was a predominance of reported cases of acquired syphilis in illiterate elderly people who attended between the 1st and 4th incomplete grades of elementary school. Conclusion: The epidemiological situation of syphilis acquired in the elderly in the state of Alagoas is a public health problem, therefore, this scenario demands attention from public management, implementing effective strategies to control the disease in this age group.

Keywords:  Elderly; Sexually Transmitted Diseases; Sexuality; Syphilis.

1 INTRODUÇÃO

O envelhecimento é um processo dinâmico, sequencial, individual e não patológico. Nele se observa modificações morfológicas, funcionais, bioquímicas e psicológicas. O crescimento senil associado à melhoria da qualidade de vida implica numa nova tendência de aumento da proliferação de doenças infectocontagiosas nessa faixa etária, tais como as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), em especial a Aids e a sífilis (BASTOS et al., 2018).

Conforme EVANGELISTA et al. (2019), a sexualidade é entendida como um componente essencial da existência humana, que varia de acordo com o contexto social, cultural e religioso. No que tange a sexualidade na velhice, observa-se, ainda, preconceitos e mitos. A crença de que esteja ligada somente aos jovens contribui para a convicção de que a sexualidade para o idoso seja uma prática incomum.

Diante deste cenário, a divulgação de informações sobre métodos de prevenção na terceira idade é suprimida, bem como, há dificuldade por parte da população idosa em utilizar métodos contraceptivos, em virtude dos homens acreditarem que o preservativo atrapalha a ereção, e, as mulheres por não engravidarem devido as alterações hormonais que a velhice traz, acreditam que não precisam mais se prevenir, tornando-se vulneráveis às IST’s (OLIVEIRA et al., 2021).  Somado a isso, a demora na adoção de políticas de prevenção e a ausência de ações de educação em saúde relacionadas à IST, direcionadas para os idosos torna-os mais vulneráveis pela falta de informação e adiamento da testagem e diagnóstico (FERREIRA et al., 2019).

Segundo GASPAR et al. (2021), a sífilis é uma IST causada pelo Treponema pallidum, bactéria exclusiva do ser humano, cuja transmissão ocorre pelo contato sexual e por transmissão vertical, podendo ser transmitida, raramente, por transfusão de sangue ou acidente ocupacional. Durante a evolução natural da doença, ocorrem períodos de atividade com características clínicas, imunológicas e histopatológicas distintas, intercalados por períodos de latência, quando não há sinais ou sintomas, fato este que torna fundamental o acesso constante à testagem para auxiliar o diagnóstico precoce.

Ademais, é uma doença de evolução crônica, que vem surgindo mais frequentemente nos últimos anos. Estima-se que, no Brasil, sejam infectados todos os anos em torno de 937 mil pessoas. Conforme dados do Ministério da Saúde, a região Nordeste registrou 28,9%, que corresponde a 11.905 casos (BASTOS et al., 2018). Na capital de Alagoas, Maceió, entre 2016 e 2020, apresentou-se uma variação ascendente no número de casos de sífilis adquirida, foram registrados nesse período 5.386 casos, sendo 2.663 no sexo masculino e 2.723 no sexo feminino (PREFEITURA DE MACEIÓ, 2021).

De acordo com MEDEIROS et al (2021), salienta-se que a sífilis adquirida é agravo de notificação compulsória desde 2010, pela Portaria MS/SVS nº. 2.472, tendo a ficha de investigação liberada para digitação no Sistema Nacional de Agravos de Notificação (SINAN). Observa-se que o padrão de indivíduos acometidos também está mudando, com aumento significativo nas populações com maiores faixas etárias.

Sendo assim, a sífilis, na população idosa está apresentando alta incidência no Brasil, sobretudo no Nordeste, dessa forma, o estudo epidemiológico nessa faixa etária, somado a promoção de saúde, promovem o conhecimento de medidas preventivas, além de gerar informações acerca de teste rápido, diagnóstico e tratamento precoce da sífilis adquirida.

Nesse ínterim, a pergunta que norteou este estudo foi a seguinte: “Qual é a situação epidemiológica dos casos notificados em idosos com sífilis adquirida no estado de Alagoas? ”. Portanto, o objetivo deste estudo é avaliar a situação epidemiológica dos casos notificados em idosos com sífilis adquirida no Estado de Alagoas.

2 MÉTODO

Trata-se de um estudo epidemiológico transversal, retrospectivo e descritivo, referente aos casos notificados de Sífilis Adquirida em Idosos no Estado de Alagoas entre os anos de 2016 e 2021. A coleta de informações secundárias foi realizada pelo Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde (DATASUS), utilizando a ferramenta de tabulação TABNET, na aba Epidemiológica e Morbidade, usando dados das Doenças e Agravos de Notificação de 2007 em diante, disponíveis no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN), abrangendo o Estado de Alagoas.

Durante a pesquisa no TABNET, na seção linha, foi selecionado o termo “Faixa etária”, na seção coluna, foram selecionados os termos: “Ano de notificação, região metropolitana, raça, sexo e escolaridade” e, na variável conteúdo, “Todos os casos”, considerando o intervalo de tempo citado.

Os dados coletados foram tabulados no programa Microsoft Excel e as análises foram feitas relacionando a faixa etária da população idosa com o ano de notificação, região metropolitana, raça, sexo e escolaridade, respectivamente.  

Por fim, os dados passaram por uma análise estatística descritiva e posteriormente foram elaborados gráficos, visando apresentar a situação epidemiológica dos casos notificados da sífilis adquirida em idosos entre os anos utilizados no Estado de Alagoas.

O fluxograma do método utilizado neste estudo está descrito na Figura 1.

Figura 1. Fluxograma do método

Fonte: Autora, 2023.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

A partir da metodologia utilizada, construíram-se os Gráficos a seguir, em que o Gráfico 1 apresenta os casos notificados de sífilis adquirida em idosos por ano em Alagoas no período de 2016 a 2021.

Gráfico 1 – Casos Notificados de Sífilis Adquirida em Idosos por Ano em Alagoas no Período de 2016 – 2021

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

Conforme o Gráfico 1, observa-se que em 2016 foram notificados 18 casos, sendo 9 em idosos entre 60 a 64 anos, 6 entre 65 a 69 anos, 2 entre 70 a 79 anos e 1 entre 80 e mais. Em 2017 foram notificados 45 casos, sendo 21 em idosos entre 60 a 64 anos, 10 entre 65 a 69 anos, 8 entre 70 a 79 anos e 6 entre 80 e mais. Em 2018 foram notificados 50 casos, sendo 18 em idosos entre 60 a 64 anos, 10 entre 65 a 69 anos, 17 entre 70 a 79 anos e 5 entre 80 e mais. Em 2019 foram notificados 29 casos, sendo 11 em idosos entre 60 a 64 anos, 8 entre 65 a 69 anos, 10 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. Em 2020 foram notificados 21 casos, sendo 7 em idosos entre 60 a 64 anos, 3 entre 65 a 69 anos, 8 entre 70 a 79 anos e 3 entre 80 e mais. Em 2021 foram notificados 11 casos, sendo 5 em idosos entre 60 a 64 anos, 2 entre 65 a 69 anos, 3 entre 70 a 79 anos e 1 entre 80 e mais.

Logo, constata-se que a faixa etária de idosos que teve maior notificação dos casos por sífilis adquirida em Alagoas no período de 2016 a 2021 foi entre 60 a 64 anos, totalizando 71 casos durante os anos analisados, sendo 2017 o ano de maior notificação de casos. Em contrapartida a faixa etária de idosos que teve menor notificação foi entre 80 e mais, totalizando 16 casos durante os anos analisados, sendo 2020 o ano onde não tiveram notificação de casos. Ressalta-se que em 2020 ocorreu a Pandemia da COVID-19, o que pode ter impactado nas notificações da sífilis adquirida em idosos, ocasionando subnotificações.

Para BATISTA et al (2020), a subnotificação fragiliza as informações no sistema de saúde brasileiro, acarretando danos à medida que as doenças subnotificadas constituem risco à saúde dos indivíduos. Portanto, o conhecimento desses agravos é imprescindível para o estabelecimento de ações de controle.

No que se refere as notificações, no período de 2010 a junho de 2018, foram notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN) 479.730 casos de sífilis adquirida, dos quais 56,4% ocorreram na região Sudeste, 22,3% no Sul, 11,3% no Nordeste, 5,8% no Centro-oeste e 4,1% no Norte (FILHO et al., 2021).

O Gráfico 2 apresenta os casos notificados de sífilis adquirida em idosos por região metropolitana em Alagoas no período de 2016 a 2021.

Gráfico 2 – Casos Notificados de Sífilis Adquirida em Idosos por Região Metropolitana em Alagoas no Período de 2016 – 2021

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

De acordo com o Gráfico 2, identifica-se que em Maceió houve 60 casos notificados de idosos com sífilis adquirida, sendo 24 entre 60 a 64 anos, 17 entre 65 a 69 anos, 11 entre 70 a 79 anos e 8 entre 80 e mais. No Agreste houveram 7 casos notificados, sendo 4 entre 60 a 64 anos, 1 entre 65 a 69 anos, 2 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. No Vale da Paraíba houveram 14 casos notificados, sendo 4 entre 60 a 64 anos, 5 entre 65 a 69 anos, 5 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. Na Zona da Mata houveram 46 casos notificados, sendo 21 entre 60 a 64 anos, 6 entre 65 a 69 anos, 16 entre 70 a 79 anos e 3 entre 80 e mais. Em Palmeira dos Índios houveram 4 casos notificados, sendo 1 entre 60 a 64 anos, 0 entre 65 a 69 anos, 1 entre 70 a 79 anos e 2 entre 80 e mais. Em Caetés houveram 5 casos notificados, sendo 3 entre 60 a 64 anos, 2 entre 65 a 69 anos, 0 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. No Sertão houveram 3 casos notificados, sendo 1 entre 60 a 64 anos, 1 entre 65 a 69 anos, 1 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. No Médio Sertão houveram 6 casos notificados, sendo 1 entre 60 a 64 anos, 1 entre 65 a 69 anos, 3 entre 70 a 79 anos e 1 entre 80 e mais. Fora da Região Metropolitana houveram 26 casos notificados, sendo 9 entre 60 a 64 anos, 6 entre 65 a 69 anos, 9 entre 70 a 79 anos e 2 entre 80 e mais.

Em face do exposto, constata-se que as regiões com maior predomínio dos casos notificados de sífilis adquirida em idosos por região metropolitana em Alagoas no período de 2016 a 2021 estão Maceió, Zona da Mata e Fora da Região Metropolitana, totalizando 60 casos notificados, 46 casos notificados e 26 casos notificados, respectivamente.

No que tange as regiões listadas no período estudado, pôde-se notar que idosos na faixa entre 60 a 64 anos apresentou destaque nos casos, totalizando 68 notificações. Em segundo lugar, estão idosos entre 70 a 79 anos, totalizando 48 notificações. Em terceiro lugar, estão idosos entre 65 a 69 anos, totalizando 39 notificações. Em quarto e último lugar estão idosos entre 80 e mais, totalizando 16 notificações.

O Gráfico 3 representa os casos notificados de sífilis adquirida em idosos por raça em Alagoas no período de 2016 a 2021.

Gráfico 3 – Casos Notificados de Sífilis Adquirida em Idosos por Raça em Alagoas no Período de 2016 – 2021

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

Conforme o Gráfico 3, ocorreram 21 notificações dos casos de sífilis adquirida em idosos da raça branca, sendo 7 entre 60 a 64 anos, 4 entre 65 a 69 anos, 8 entre 70 a 79 anos e 2 entre 80 e mais. Na raça preta ocorreram 16 notificações dos casos de sífilis adquirida em idosos, sendo 6 entre 60 a 64 anos, 7 entre 65 a 69 anos, 1 entre 70 a 79 anos e 2 entre 80 e mais. Na raça parda ocorreram 116 notificações dos casos de sífilis adquirida em idosos, sendo 49 entre 60 a 64 anos, 24 entre 65 a 69 anos, 33 entre 70 a 79 anos e 10 entre 80 e mais.

Diante do exposto, observa-se ampla prevalência dos casos notificados de sífilis adquirida em idosos por raça em Alagoas na raça parda entre 2016 a 2021, totalizando 116 notificações, sendo a maior notificação na faixa etária entre 60 a 64 anos e a menor notificação na faixa etária entre 80 e mais.

Vale ressaltar, pardo é um termo que foi inicialmente usado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) para configurar os grupos de “cor” ou “raça”, que compõem a população brasileira. O Instituto define o significado como a mistura de cores de pele, desde a miscigenação “mulata” (negros e brancos), “cabocla” (brancos e ameríndios) e “cafuza” (descendentes de negros e indígenas). Com o tempo, a classificação atravessou as barreiras institucionais e começou a ser usado largamente na sociedade, sendo o pardo uma categoria do grupo étnico negro. Mas, atualmente o termo já começa a ser questionado em seu uso ideológico (AURELIANO; DE SANTANA, 2021).

Segundo dados do IBGE no censo de 2010 os estados do Nordeste com maior população parda estão em Alagoas, Maranhão (ambos com 66,9%) e Piauí (64,3%). O Nordeste se estabelece como a região mais negra do Brasil, com 9,5% da população preta e 59,8% de população parda (AURELIANO; DE SANTANA, 2021).

Construiu-se o Gráfico 4, onde, se indica os casos notificados de sífilis adquirida em idosos por sexo em Alagoas no período de 2016 a 2021.

Gráfico 4 – Casos Notificados de Sífilis Adquirida em Idosos por Sexo em Alagoas no Período de 2016 – 2021

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

De acordo com o Gráfico 4, percebe-se que ocorreram 71 casos notificados em idosos entre 60 a 64 anos, sendo 40 casos do sexo masculino e 31 casos do sexo feminino. Em idosos entre 65 a 69 anos, foram notificados 39 casos, sendo 23 casos do sexo masculino e 16 casos do sexo feminino. Em idosos entre 70 a 79 anos, foram notificados 48 casos, sendo 28 casos do sexo masculino e 20 casos do sexo feminino. Em idosos entre 80 e mais, foram notificados 16 casos, sendo 10 casos do sexo masculino e 6 casos do sexo feminino.

Perante o exposto, evidencia-se que a faixa etária que detêm maior prevalência de notificação de sífilis adquirida em idosos por sexo em Alagoas no período de 2016 a 2021 foi entre 60 a 64 anos, totalizando 71 casos notificados, à medida que a faixa etária que detêm menor prevalência foi entre 80 e mais, totalizando 16 casos notificados.

Nessa perspectiva, salienta-se também o predomínio da notificação dos casos de sífilis adquirida em idosos no estado de Alagoas no sexo masculino no período de 2016 a 2021, em todas as faixas etárias analisadas é perceptível a prevalência de notificações nesse sexo.

O aumento da expectativa de vida do idoso atual agregado ao uso de fármacos para a disfunção erétil e a negligência na prática do uso de preservativo, coloca o mesmo em destaque na infecção por sífilis adquirida, elevando o número de notificações nesta população, principalmente entre o sexo masculino (OLIVEIRA; JUSKEVICIUS, 2019).

Ademais, vale ressaltar questões que contribuem para o aumento dos riscos em idosos, principalmente, mulheres, que são as mudanças fisiológicas, ou seja, apresentam-se em mulheres, acima dos 60 anos, baixos níveis de estrogênio na perimenopausa, assim, acarretam pouca lubrificação e, consequentemente, redução da espessura da mucosa vaginal. Dessa forma, por sua vez, causam micro feridas na parede durante o ato sexual, o que facilita o contágio por IST’s, inclusive, a sífilis (SILVA et al., 2020). A partir dos dados coletados, percebe-se que houve um aumento, de forma significativa, dos casos de internações por sífilis em mulheres acima de 60 anos, entre janeiro de 2010 a dezembro de 2019 (SANTOS et al., 2022).

Por SOUZA et al (2022), em relação as informações e orientações da equipe em saúde sobre assuntos de cunho sexual é possível constatar que, quanto mais idoso o paciente é, menos se aborda temas sobre saúde sexual e reprodutiva. Nesse sentido, a ausência de orientações sobre o uso de preservativo ou até mesmo a não solicitação de exames de diagnóstico de IST’s aumentam o risco de contágio na população.

Os casos notificados de sífilis adquirida em idosos por escolaridade em Alagoas no período de 2016 a 2021 estão indicados no Gráfico a seguir.

Gráfico 5 – Casos Notificados de Sífilis Adquirida em Idosos por Escolaridade em Alagoas no Período de 2016 – 2021

Fonte: Ministério da Saúde/SVS – Sistema de Informação de Agravos de Notificação – Sinan Net

Conforme o Gráfico 5, nota-se que ocorreram 31 casos notificados de sífilis adquirida em idosos analfabetos, sendo 10 entre 60 a 64 anos, 7 entre 65 a 69 anos, 13 entre 70 a 79 anos e 1 entre 80 e mais. Ocorreram 38 casos notificados de sífilis adquirida em idosos que cursaram 1ª a 4ª série incompleta do ensino fundamental, sendo 18 entre 60 a 64 anos, 10 entre 65 a 69 anos, 7 entre 70 a 79 anos e 3 entre 80 e mais. Ocorreram 8 casos notificados de sífilis adquirida em idosos que cursaram 4ª série completa do ensino fundamental, sendo 7 entre 60 a 64 anos, 1 entre 65 a 69 anos, 0 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. Ocorreram 11 casos notificados de sífilis adquirida em idosos que cursaram 5ªa 8ª série incompleta do ensino fundamental, sendo 5 entre 60 a 64 anos, 1 entre 65 a 69 anos, 1 entre 70 a 79 anos e 4 entre 80 e mais. Ocorreram 2 casos notificados de sífilis adquirida em idosos que cursaram o ensino fundamental completo, sendo 2 entre 60 a 64 anos, 0 entre 65 a 69 anos, 0 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. Ocorreram 3 casos notificados de sífilis adquirida em idosos que cursaram o ensino médio incompleto, sendo 0 entre 60 a 64 anos, 0 entre 65 a 69 anos, 3 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais. Ocorreram 4 casos notificados de sífilis adquirida em idosos que cursaram o ensino médio completo, sendo 2 entre 60 a 64 anos, 1 entre 65 a 69 anos, 1 entre 70 a 79 anos e 0 entre 80 e mais.

Posto isto, observa-se predominância dos casos notificados de sífilis adquirida em idosos analfabetos e que cursaram entre 1ªa 4ª série incompleta do ensino fundamental em Alagoas no período de 2016 a 2021, totalizando 31 casos e 38 casos notificados, respectivamente. A faixa etária mais acometida dos analfabetos estão idosos com 70 a 79 anos com 13 casos notificados e a menos acometida estão idosos com 80 e mais com 1 caso notificado. Enquanto a faixa etária mais acometida entre 1ª a 4ª série incompleta do ensino fundamental estão idosos com 60 a 64 anos com 18 casos notificados e a menos acometida estão idosos com 80 e mais com 3 casos notificado.

Nesse contexto, a baixa escolaridade representa uma vulnerabilidade à sífilis, pois pessoas com poucos anos de estudo tendem a apresentar mais dificuldade em assimilar informações e, geralmente, menor autonomia na adoção de medidas de autocuidado (MORAES; SOUZA; SILVA, 2021). Portanto, a situação traz desafios para a equipe multiprofissional de saúde quanto às estratégias a serem utilizadas para incrementar a conscientização e absorção das informações (SILVA et al., 2020).

Logo, os profissionais de saúde, veículos de comunicação e políticas públicas podem ser efetivamente utilizados como meios informativos voltados para idosos, através de propagandas, cartilhas, grupos de apoio, programas governamentais e debates, por exemplo (NATÁRIO et al., 2022).

4 CONCLUSÃO

A situação epidemiológica da sífilis adquirida no idoso, no estado de Alagoas, é um problema de saúde pública, os dados notificados demonstram grande prevalência dessa patologia nessa faixa etária, sobretudo, é importante salientar, também, as subnotificações de casos, o que pode tornar os dados ainda mais preocupantes.

Nessa conjuntura, é importante enfatizar a importância das políticas públicas voltadas para a saúde sexual dessa população, visto que, a vida sexual do idoso, por muitas vezes, acaba sendo ignorada pela sociedade em que o idoso está inserido, bem como, pelos profissionais de saúde, fazendo com que se tornem mais suscetíveis as Infecções Sexualmente Transmissíveis (IST’s), a exemplo, a sífilis adquirida.

Partindo dessa premissa, torna-se imprescindível abordar essa temática com os idosos alagoanos, desmistificando a vida sexual na terceira idade, logo, cabe aos profissionais de saúde estimularem e empoderarem essa população acerca da vida sexual segura, através do acolhimento, orientações e promoções das medidas preventivas contra as IST’s.

Sendo assim, conclui-se a relevância deste estudo para o panorama atual da sífilis adquirida em idosos em Alagoas, devido à alta incidência do agravo na população idosa alagoana, portanto, tal cenário demanda atenção da gestão pública, implementando estratégias eficazes para o controle da doença nessa faixa etária.

REFERÊNCIAS

AURELIANO, Niara Oiara da Silva; SANTANA, Nara Maria Carlos de. Quem é pardo no nordeste brasileiro? Classificações de “Morenidade” e tensões raciais. Maracanan, 27, 94-117, 2021. DOI: 10.12957/revmar.2020.5367. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/servlet/articulo?codigo=8089111. Acesso em: 24 maio 2023.

BASTOS, Luzia Mesquita et al. Avaliação do nível de conhecimento em relação à Aids e sífilis por idosos do interior cearense, Brasil. Ciência & Saúde Coletiva, 23(8), 2495-2502, 2018. DOI: 10.1590/1413-81232018238.10072016. Disponível em: https://www.scielosp.org/article/csc/2018.v23n8/2495-2502/. Acesso em: 26 mar. 2023.

BATISTA, Maria Amanda Lima et al. Panorama epidemiológico dos idosos acometidos por sífilis adquirida em um município da zona da mata pernambucana. Revista de Atenção à Saúde, 18(65), 2020. DOI: 10.13037/ras.vol18n65.671. Disponível em: https://seer.uscs.edu.br/index.php/revista_ciencias_saude/article/view/6715/3161. Acesso em: 03 maio 2023.

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EVANGELISTA, Andressa da Rocha et al. Sexualidade de idosos: conhecimento/atitude de enfermeiros da Estratégia Saúde da Família. Revista da Escola de Enfermagem da USP, 53, e03482, 2019.  DOI: http://dx.doi.org/10.1590/S1980-220X2018018103482. Disponível em: https://www.scielo.br/j/reeusp/a/qzXZrjQtkBG9H73RrGK9Bwc/abstract/?lang=pt. Acesso em: 26 mar. 2023.

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1Graduanda do Curso de Enfermagem do Centro Universitário Cesmac; mylenaqueiroz96@gmail.com
2Prof. Mestre em Enfermagem – UFAL; Docente Cesmac; Jandson.oliveira@cesmac.edu.br
3Doutoranda em Distúrbios do Neurodesenvolvimento – Mackenzie; profanpontes@gmail.com