SÍNDROME HELLP: UM RELATO DE CASO

HELLP SYNDROME: A CASE REPORT

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10436284


Luana Maria Costa Cartaxo1


RESUMO

A síndrome HELLP consiste em sinais de hemólise, elevação de enzimas hepáticas e plaquetopenia em gestante ou puérpera portadora de pré-eclâmpsia grave ou eclâmpsia. O presente estudo objetiva relatar o caso de uma primigesta de 40 anos com queixas de cefaleia e dor em hipocôndrio direito, associados a pico hipertensivo, no qual foi feito diagnóstico da patologia em questão, além de discorrer brevemente sobre o tema.

Palavras–chave: Pré-eclâmpsia; HELLP.

SUMMARY

HELLP syndrome consists of signs of hemolysis, elevated liver enzymes and thrombocytopenia in pregnant or postpartum women with severe pre-eclampsia or eclampsia. The present study aims to report the case of a 40-year-old first-time pregnant woman with complaints of headache and pain in the right hypochondrium, associated with a hypertensive peak, in which the pathology in question was diagnosed, in addition to briefly discussing the topic.

Keywords: Pre-eclampsia; HELLP.

INTRODUÇÃO

As síndromes hipertensivas gestacionais são complicações presentes em aproximadamente 7% das gestações. Uma das formas mais graves é a síndrome HELLP, sigla usada para descrever a condição de paciente com pré-eclâmpsia grave que apresenta sinais de hemólise, níveis elevados de enzimas hepáticas e contagem baixa de plaquetas. O diagnóstico precoce é essencial e deve ser pesquisado de maneira sistemática nas gestantes e puérperas com pré-eclâmpsia grave, eclâmpsia e/ou dor no quadrante superior direito do abdome. Sua incidência oscila entre 2 e 12% do total de mulheres com diagnóstico de pré-eclâmpsia e interfere negativamente no prognóstico materno. Esta variação é reflexo da falta de consenso nos parâmetros laboratoriais estabelecidos para o diagnóstico, na dificuldade de identificação da doença e subnotificação de casos. Uma vez estabelecido o diagnóstico de síndrome HELLP, a resolução da gestação é imperativa, independentemente da idade gestacional, preferencialmente por parto vaginal. Diante da relevância do tema, opto por relatar o caso de uma gestante de 40 anos com queixas de cefaléia e dor em hipocôndrio direito associados à elevação dos níveis pressóricos, diagnosticada com síndrome HELLP.

RELATO

Paciente L.P.D., feminino, gestante, 40 anos, parda, doméstica, natural e procedente de Recife, Gestação: I, Paridade: ZERO, Aborto: ZERO, com idade gestacional pela ultrassonografia de primeiro trimestre 26 semanas e 2 dias, tipo sanguíneo: A+ e VDRL( Venereal Disease Research Laboratory) não reagente. Negava hipertensão arterial prévia e outras comorbidades. Procurou atendimento hospitalar com queixas de cefaleia holocraniana há 5 dias, pulsátil, associada a dor abdominal, escotomas cintilantes e náuseas. Negou vômitos, perda de líquido, corrimentos e sangramentos genitais.

Ao exame físico apresentava estado geral regular, consciente, orientada, anictérica, acianótica, afebril, eupneica, hidratada, normocorada e bem perfundida, com os seguintes sinais vitais: frequência cardíaca de 84 bpm e pressão arterial de 170X120mmhg. A ausculta cardiopulmonar não apresentava alterações. Paciente possuía discreto edema bilateral de membros inferiores (1+/4+), frios e indolores à palpação.  Ao exame físico obstétrico, os batimentos cardíacos fetais eram de 143 bpm, a altura de fundo uterina 24cm e a dinâmica uterina estava ausente. O toque vaginal evidenciou colo longo, posterior e pérvio para uma polpa digital.

Diante do exposto, foi aventada hipótese diagnóstica de pré-eclâmpsia grave com sinais de iminência de eclâmpsia. Como conduta inicial, foi optado por internamento hospitalar; realização de sulfato de magnésio a 50%, para estabilização da paciente; betametasona 12mg, para amadurecimento pulmonar fetal; e hidralazina endovenosa, para controle da pressão arterial; solicitação de exames laboratoriais direcionados e perfil biofísico fetal completo. A rotina de pré-eclâmpsia revelou fita de proteinúria positiva, plaquetopenia de 92.000/mm3, transaminase glutâmico oxalacética (TGO)=216UI/L, transaminase glutâmico pirúvica(TGP):100UI/L, lactato desidrogenase(LDH)=1100, razão internacional normalizada(INR):1,17. A função renal estava preservada com ureia de 30mg/dl, creatinina de 0,76mg/dl e ácido úrico de 6,5. Bilirrubina total (BT)= 1,4mg/dl e bilirrubina direta(BD)=0,4mg/dl. Sumário de urina sem alterações. A ultrassonografia com doppler de artéria umbilical demonstrou aumento de resistência vascular placentária com diástole zero e de artéria cerebral média evidenciou vasodilatação cerebral com aumento do fluxo diastólico e centralização fetal com hipoxia, ambos sinais compatíveis com sofrimento fetal.

Diante dos achados dos exames, além da confirmação da hipótese formulada inicialmente, paciente também fechou critérios para síndrome HELLP agravando o quadro. Após condutas anteriormente descritas e estabilização da paciente, a mesma foi encaminhada ao centro cirúrgico para interrupção da gestação com a realização de cesárea de urgência, sem intercorrências. Houve nascimento de feto vivo, único, do sexo feminino, pesando 645 gramas, com sinais de insuficiência respiratória. Foi realizado imediatamente clampeamento de cordão umbilical e passos iniciais da reanimação neonatal, sendo a recém nascida posteriormente encaminhada à UTI neonatal, evoluindo, dez horas depois, a óbito. A puérpera evoluiu sem complicações após resolução da gestação, havendo regressão do quadro clínico e laboratorial, recebendo alta hospitalar no quinto dia de internamento, com níveis pressóricos controlados e sem uso de anti-hipertensivos.

Apresentava os seguintes resultados de exames no momento da alta: hemoglobina 12g/dl, plaquetas 150.000/mm3, TGO: 40UI/l, TGP: 25UI/l, LDH: 503UI/l, BT: 0,6mg/dl, BD:0,1mg/dl, ureia de 31mg/dl, creatinina: 0,75mg/dl e leucócitos 10.500/mm3. A paciente foi encaminhada para acompanhamento psicológico e seguimento ambulatorial com unidade básica de saúde.

DISCUSSÃO

As síndromes hipertensivas gestacionais, particularmente a síndrome HELLP, estão relacionadas a uma grande morbimortalidade do binômio materno-fetal (REZENDE, 2008). Sendo assim, para o manejo adequado é de substancial importância o diagnóstico precoce desta condição. Alguns dos fatores de risco associados são: nuliparidade, hipertensão arterial crônica, diabetes mellitus, obesidade e gemelaridade. Pode complicar com evolução para eclâmpsia, disfunção renal e hepática, além de repercussões para o feto, como prematuridade e sofrimento fetal. Diante da gravidade potencial da doença, gestantes com queixas de dor epigástrica e/ou em quadrante superior, associadas a níveis tensionais elevados, devem ser investigadas por meio de propedêutica para síndrome HELLP. A confirmação diagnóstica é feita por meio de exames laboratoriais, sendo necessário a presença das seguintes alterações, de acordo com Sibai: LDH >600U/L, BT >1,1mg/dl, TGO> 69U/L e plaquetas<100.000. Medidas como de sulfato de magnésio para profilaxia de eclâmpsia e o uso de hidralazina para o controle da urgência hipertensiva, caso presente, são essenciais no manejo inicial e estabilização do quadro. Contudo, a resolução da gestação pela via mais rápida possível é o único tratamento definitivo do diagnóstico em questão.

CONCLUSÃO

O diagnóstico oportuno e a tomada de condutas corretas diante de uma síndrome HELLP são de grande importância para evitar desfechos negativos. Contudo, a prematuridade extrema ainda é uma complicação desafiadora da doença em questão, sendo um grande fator de mortalidade perinatal.

REFERÊNCIAS

  1. Pereira MN, Montenegro, CAB, Rezende Filho J. Síndrome HELLP: diagnóstico e conduta. Femina.2008; 36(2);111-6.
  2. Manual de gestação de alto risco,FEBRASGO,2017
  3. Sibai BM, Taslimi MM, el-Nazer A, Amon E, Mabie BC, Ryan GM. Maternal-perinatal outcome associated with the syndrome of hemolysis, elevated liver enzymes, and low platelets in severe preeclampsia-eclampsia. Am J Obstet Gynecol. 1986; 155(3):501-9.

1Universidade de Pernambuco, Recife- Pernambuco. E Mail: luanamccartaxo95@hotmail.com