SÍNDROME DOLOROSA COMPLEXA REGIONAL TIPO II

COMPLEX REGIONAL PAIN SYNDROME TYPE II

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.7810868


Ananda Maia de Sá Nunes[1],
Diana Francisca Lustosa Silva Lopes[2],
Patrícia Ferreira de Paula Feder[3],
Larissa de Oliveira Cruz[4]


RESUMO

Introdução: As síndromes dolorosas persistentes, causam sofrimento e estresse para os portadores, engloba várias patologias caracterizadas pela presença de dor espontânea. Objetivo: estudar as manifestações e tratamento da Síndrome Dolorosa Complexa Regional tipo II. Material e Métodos: de revisão bibliográfica e sistemática, cujo levantamento dos dados foi através do acesso a banco de dados online, de busca de artigos  científicos indexados na Biblioteca Virtual de Saúde – BVS. Os critérios de inclusão foram os artigos de estudos primários de abordagem qualitativa, artigos enquadrados nos critérios de inclusão publicados entre o período de junho de 2022 a março de 2023. Resultados e Discussão: de acordo com estudos, constatou-se que a incidência da Síndrome Dolorosa Complexa Regional tipo II é em menos de 2% da população, sendo leve em 30 a 40% após as fraturas e traumas cirúrgicos. A idade média de acometimento é de 41 anos, com predomínio em mulheres. Associa-se em 65% dos casos ao trauma, 19% no pós-operatório, 2% após processos inflamatórios e 4% após outros fatores, como punção venosa. O tratamento, apesar de difícil e pouco eficaz, deve ser realizado de forma multidisciplinar, instituído em fase precoce da doença, com o objetivo de impedir seu agravamento. Conclusão:  sugere-se novos estudos na área de reabilitação em SCDR tipo II, uma vez que, a maioria dos estudos avaliados não caracterizam fortes evidências científicas.

Palavras-chave: Complexa. Dolorosa. Dor crônica. Síndrome.

ABSTRACT

Introduction: Persistent pain syndromes cause suffering and stress for patients, encompassing several pathologies characterized by the presence of spontaneous pain. Objective: to study the manifestations and treatment of Complex Regional Pain Syndrome type II. Material and Methods: bibliographical and systematic review, whose data was collected through access to an online database, search for scientific articles indexed in the Virtual Health Library – VHL. The inclusion criteria were articles from primary studies with a qualitative approach, articles that met the inclusion criteria published between June 2022 and March 2023. Results and Discussion: according to studies, it was found that the incidence of Down Syndrome Complex Regional Pain type II is present in less than 2% of the population, being mild in 30 to 40% after fractures and surgical trauma. The average age of involvement is 41 years, with a predominance in women. It is associated in 65% of cases with trauma, 19% in the postoperative period, 2% after inflammatory processes and 4% after other factors, such as venipuncture. Treatment, although difficult and ineffective, must be carried out in a multidisciplinary way, instituted in the early stages of the disease, with the aim of preventing its worsening. Conclusion: further studies are suggested in the area of ​​rehabilitation in SCDR type II, since most of the evaluated studies do not feature strong scientific evidence.

Keywords: Complex. Painful. Chronic pain. Syndrome.

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome Dolorosa Complexa Regional constitui importante causa de morbidade crônica que agrupa patologias semelhantes, como distrofia simpática reflexa, algodistrofia, síndrome dolorosa pós-traumática, causalgia e atrofia, e caracteriza-se pela presença de dor espontânea em queimação, hiperalgesia, edema, instabilidade vasomotora, alteração da função motora e anormalidades autonômicas.

Pode ser dividida em tipo 1, que é causada por traumas ou fraturas pequenas sem lesão nervosa detectável, e tipo 2, conhecida por causalgia, com lesão de nervo confirmada. Existem muitas dúvidas em relação à sua fisiopatologia, ao curso clínico imprevisível e ao tratamento, porém se sabe  que há uma prevalência maior em pacientes do sexo feminino, onde acomete na maioria das vezes apenas um dos membros, comumente o lado direito mais frequente proveniente com história prévia de trauma.

Sendo assim, a SDCR-II é considerada como uma patologia que traz grande angústia, não só para o paciente pelo quadro álgico incapacitante como também para os profissionais de saúde. Diante disso, o objetivo geral foi descrever a patologia da Síndrome Dolorosa Complexa Regional. Já os objetivos específicos foram estudar a epidemiologia, fisiopatologia, manifestações clínicas e tratamento da doença.

A síndrome complexa de dor regional  – SCDR geralmente possui tratamento multidisciplinar, porém há uma lacuna na literatura referente aos tipos de tratamento e a conduta a ser utilizada. O tratamento e reabilitação da SDCR, por suas propriedades, mostram-se complexos e pouco eficazes. Além da complexidade, não existe um protocolo definido para o tratamento da SCDR. Assim, são inúmeras as propostas terapêuticas utilizadas pelos profissionais da saúde, principalmente os da reabilitação (fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais) e, muitas destas técnicas não apresentam resultados estatisticamente significativos que produzam evidência científica. Acredita-se que o mais importante para que haja boa resposta é o tratamento ser instituído em fase precoce da doença com o objetivo primário de alívio da dor.

Portanto, acredita-se que o acompanhamento do paciente deva ser multidisciplinar e multiprofissional devido aos vários componentes envolvidos na doença de SDCR-II, bem como, a avaliação e tratamento psicológico, a realização de fisioterapia e eletroestimulação transcutânea, e o uso de medicações indicadas em cada caso.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

A metodologia empregada neste estudo foi pelo método descritivo, de revisão de literatura sistemática, através de pesquisa bibliográfica em bases de dados científicos conceituados, fornecendo sínteses do estado do conhecimento em um campo, a partir do qual as futuras prioridades de pesquisa podem ser identificadas, podendo também identificar problemas na pesquisa primária para serem corrigidos em estudos futuros, e gerar ou avaliar teorias sobre como ou por que os fenômenos ocorrem (PAGE et al., 2021).

Este método permite maximizar o potencial de uma busca, encontrando o maior número possível de resultados de uma maneira organizada, construída em oito etapas: delimitação da questão a ser pesquisada;      escolha das fontes de dados; eleição das palavras-chave para a busca; armazenamento dos resultados; seleção de artigos pelo resumo, usando critérios de inclusão e exclusão;  extração dos dados dos artigos selecionados; avaliação dos dados e indicadores presentes nos artigos;   síntese, análise e interpretação dos dados obtidos.

O levantamento dos dados foi realizado através do acesso a banco de dados online, através da busca de artigos  científicos indexados na Biblioteca Virtual de Saúde – BVS, utilizando as seguintes bases de dados: Base de Dados da Enfermagem – BDENF, Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde – LILACS, combinadas com as bases de dados Scientific Eletronic Library Online – SciELO e US National Library of Medicine – NIH/PubMed. Os descritores foram: “síndrome”, “dolorosa”, “complexa”, “regional”, conforme orientação dos Descritores em Ciências da Saúde  – DeCS da Biblioteca Virtual em Saúde – BVS.

Os critérios de inclusão foram os artigos de estudos primários de abordagem qualitativa, artigos enquadrados nos critérios de inclusão publicados entre o período de junho de 2022 a março de 2023, nos idiomas          português, espanhol e inglês. Os critérios adotados para exclusão foram os artigos repetidos, que não tinham relação com a temática, relatos de experiências e sem acesso ao texto completo de maneira gratuita. Os dados foram coletados a partir de dos critérios de inclusão e exclusão de artigos, extraindo as informações dos artigos selecionados a partir dos critérios estabelecidos para análise e posterior discussão dos resultados.

3 DISCUSSÃO E RESULTADOS

As síndromes dolorosas persistentes, elas acabam gerando um sofrimento e estresse para os portadores, onde as mesmas podem ser originadas por lesões que afetam as vias nervosas centrais e periféricas. As consequências na qualidade de vida geradas pela dor crônica podem afetar os diversos aspectos, físicos, psíquicos, emocionais e sociais do sujeito acometido. Além de estar relacionado com a ocorrência de depressão, incapacidade física, emocional, dependência, afastamento social, desequilíbrio econômico, desesperança, sentimentos de morte entre outros (DELLAROZA; PIMENTA; MATSUO, 2007).

Ademais, há dois tipos de SDCR, o tipo I e tipo II, onde a diferença entre ela é que no tipo II existe uma lesão nervosa real. A Síndrome Dolorosa Complexa Regional – SDCR, é uma síndrome dolorosa, onde a dor é o principal sintoma, sendo desproporcional ao real evento. Onde se apresentam sintomas e alterações sensoriais, sendo que a pele pode apresentar sinais e sintomas podendo ser observados como uma coloração anormal, mudanças de temperatura no membro afetado, edema, alterações sub motoras anormais, distonia, fraqueza muscular e até mesmo tremores podem estar presentes (CORDON; LEMONICA, 2002).

Ambroise Pare, cirurgião da corte inglesa, especificamente no século XVII, descreveu o caso do Rei Carlos IX que o mesmo após ter sido submetido a uma flebotomia para tratamento de varíola, começou a sofrer de dor persistente associada à contratura muscular que acabaram lhe limitando os movimentos do braço durante toda a sua vida. Portanto, em 1864, Mitchell empregou o termo causalgia para descrever casos de dor persistente, como, por exemplo, após ferimentos por arma de fogo com destruição de estruturas nervosas periféricas nos soldados durante a Guerra Civil Americana. Na mesma época, Wolff descreveu uma entidade crônica dolorosa afetando uma extremidade, sem causa neurológica aparente, acompanhada por alterações  vasomotoras. Diante disso, a SDCR, recebeu esse nome em 1993/1994, quando a Associação Internacional para o estudo da dor – AIED definiu critérios para o diagnóstico da patologia em questão, com o intuito de uniformizar a nomenclatura da condição dolorosa regional associada às alterações sensoriais decorrentes de um evento nóxico (GASPAR; ANTUNES, 2010, p.13).

Nos anos seguintes, havia evidências crescentes de um componente “inflamatório” bem como simpático em sua patogênese. Finalmente, o termo distrofia simpático reflexa foi abandonado em uma conferência de consenso realizada em Orlando, Flórida, em 1993, e o termo Síndrome Dolorosa Complexa Regional foi introduzido (CAVALCANTE, 2019).

Diante disso, para melhor compreensão acerca do tema proposto no presente estudo, será necessário analisar a patologia da Síndrome Dolorosa Complexa Regional tipo II, a sua epidemiologia, a fisiopatologia, as manifestações clínicas e o tratamento da doença.

3.1 Epidemiologia

Vale salientar que a epidemiologia não está bem definida, porém alguns estudos  falam de uma prevalência feminina. A SDRC crônica incide em menos de 2%, e a SDRC leve, em 30-40%, após fraturas e traumatismos cirúrgicos. Há remissão substancial de casos em um ano, entretanto, alguns achados como rigidez sugerem que a SDRC pode ser responsável por significativa morbidade ao longo prazo, mesmo em sua forma leve (ÁLVARES; et. tal., 2009).

A idade média dos pacientes acometidos é de 41 anos, com predomínio de mulheres. É acometido, frequentemente, um único membro, em proporções iguais entre os superiores e os inferiores, sendo a incidência maior do lado direito. Associa-se em 65% dos casos ao trauma, 19% no período pós-operatório, 2% após processos inflamatórios e 4% após outros fatores, como punção venosa (CORDON; LEMONICA, 2002).

Não existem evidências de que existam fatores de risco que predisponham  ao desenvolvimento da SDCR, embora a imobilização possa atuar como fator de lesão. Existem estudos que a relacionam a fatores genéticos de possível predisposição, principalmente envolvendo sistemas de antígenos leucocitários humanos.

De onde vem sendo frequentemente um único membro acometido, sendo igualmente, inferiores e superiores. A maioria dos casos está relacionada a trauma, normalmente fraturas, pós-operatórios, processos inflamatórios. A  imobilização por períodos prolongados pode atuar como um fator de lesão.

3.2 Fisiopatologia

Ainda há poucos estudos, onde podemos afirmar que sua fisiopatologia é incerta. SDCR reflete alterações na regulação da inflamação, envolvendo principalmente fibras nervosas sensoriais do tipo C e Aδ, que atuam nos reflexos nociceptivos de retirada, minimizando ou evitando potenciais lesões tissulares. Em resposta à injúria nervosa ou tecidual, ocorrem várias mudanças na regulação do SNC para se adaptarem a essa alteração, incluindo alterações nos neurônios do corno dorsal na medula espinhal, com aumento da eficiência da transmissão sináptica (WASNER; BACKONJA; BARON, 1998).

Esse processo inflamatório desproporcional, de uma lesão inflamatória, é como rubor, calor, dor, edema, eritema e perda da função. Sabe que há uma liberação de mediadores como bradicinina, leucotrienos, serotonina, histamina e prostaglandina, podendo ativar nociceptores no local da lesão e causar uma sensibilização no local (SMART; WAND; O’CONNELL, 2016).

Outras estruturas provavelmente envolvidas são as células do sistema imune da pele e músculos flexores. Outra teoria aceita é o aumento do número de α-adrenoceptores nos tecidos periféricos, sensíveis à norepinefrina nas terminações simpáticas, provocando a dor através da sua atuação nos receptores. A lesão do nervo periférico provoca alterações plásticas no nervo aferente primário e nos neurônios simpáticos pós-ganglionares, levando a alterações degenerativas e regenerativas e ligações bioquímicas, tanto nos neurônios lesados quanto nos não lesados, presentes no gânglio da raiz dorsal. Essas ligações são responsáveis pela ativação dos nervos aferentes primários pelo sistema simpático, sendo provável mediador norepinefrina (CORDON; LEMONICA, 2002).

A apresentação clínica da fase aguda da SDCR apoia a hipótese de que o desenvolvimento desta condição é devido a uma resposta inflamatória exagerada ao trauma. Porém, alguns achados clínicos do membro afetado revelam dor, edema, eritema, aumento da temperatura e função prejudicado, observando-se os cincos sinais cardinais da inflamação.

O trauma tecidual acaba desencadeando a liberação de citocinas pró-inflamatórias tais como interleucinas (IL) -1b, IL-2, IL-6 e fator de necrose tumoral-a (TNF-a) juntamento com neuropeptídeos, incluindo peptídeo geneticamente relacionado à calcitonina, bradicinina e substância P . (MARINUS et al., 2011, p 26).

Sendo que essas substâncias aumentam significativamente o extravasamento de plasma e vasodilatação, produzindo os traços característicos da SDCR.

Para diagnóstico da SDCR o paciente deve apresentar ao menos dois dos seguintes sintomas: sensorial (hiperestesia), vasomotor (alteração na temperatura e/ou coloração), submotor (edema, sudorese e/ou ambos), motor (fraqueza, diminuição da motricidade, tremores, amputação funcional do membro) ou todos (NEVES; THOM; ROSA, 2018).

 Sendo, portanto, um diagnóstico basicamente clínico, podendo solicitar possíveis exames complementares. O Raio-X do membro afetado pode indicar a desmineralização óssea, que ocorre pelo desuso do membro. No caso de SDCR tipo II, a  eletroneuromiografia pode indicar uma lesão nervosa. A pletismografia mostra a diferença de perfusão do membro e a termografia mostra a diferença de temperatura do membro afetado e do normal (SMART; WAND; O’CONNELL, 2016).

A imobilização prolongada tem sido estudada como possível causa para alguns dos achados, sendo sugerido como mecanismo a quebra entre o input sensorial e o output motor. O fator psico-emocional, que tem sido historicamente proposto como etiologia provável para a dor crônica, não tem demonstrado, nos estudos realizados, relação consistente que suporte a teoria. A única associação demonstrada com antecedentes psicológicos é a exacerbação da dor na SDRC, assim como em outras doenças.

3.3 Manifestações clínicas

Após a realização do diagnóstico, é realizado também a exclusão de outra causa possível que explique a sintomatologia, sobretudo as condições infecciosas e reumatológicas que cursam com dor espontânea, hiperalgesia/hiperestesia não limitada ao dermátomo correspondente e desproporcional ao evento, alodínia, edema, aumento da temperatura local, sudorese, alterações motoras e tróficas principalmente em regiões distais, osteoporose e rigidez articular (ÁLVARES; et. tal., 2009).

A dor tipicamente é em queimação, e há evidente piora com alguns estímulos, especialmente com as mudanças de temperatura, o toque e o movimento. Pode ser agravada por estímulos mais sutis, como ruídos de trânsito, conversas ou gotejamentos de torneira. É importante ressaltar que, mesmo diante de lesão nervosa evidenciada, não é possível explicar todas as manifestações clínicas. Essa dificuldade diagnóstica estimulou a busca de vários sistemas de critérios diagnósticos (AIDO; PINTO; DIAS; MAGALHÃES, 2018, p.31).

A evolução da doença é bifásica, iniciando com edema e evoluindo ao longo prazo com contratura e rigidez articular. A SDRC começa cerca de um mês após o trauma, com dor difusa debilitante e neuropática. As queixas de ardor espontâneo, hiperalgesia, alodinia (dor aos estímulos táteis) são comuns, entretanto, não universais. A dor é incessante, embora frequentemente não afete o sono do paciente. A instabilidade vasomotora e o edema dominam a fase inicial, embora seja menos marcado na SDRC mais proximal (ÁLVARES; et. tal., 2009).

Na apresentação clássica, o membro é inicialmente seco, quente e avermelhado, tornando-se rapidamente azulado, úmido e edemaciado. A dor e o edema limitam a mobilidade das articulações. Na fase tardia, a instabilidade vasomotora cede, o edema entra em resolução e o membro atrofia. A pele é fina, o tecido adiposo é escasso, unhas e cabelos tornam-se frágeis e descoloridos. As fascias palmar e plantar atrofiam e contraem-se, caracterizando a Contratura de Depuytren. Os músculos, ligamentos e tendões estão atrofiados e aderidos, o que limita a movimentação articular (BRUEHL, 2001).

3.4 Tratamento

O mais importante, apesar de o tratamento ser difícil e pouco eficaz, é que ele deve ser instituído na fase precoce da doença. O tratamento precoce fornece ótimos resultados, por isso, a suspeita clínica deve ser confirmada rapidamente. Não existe um protocolo padrão de tratamento, e a tendência atual é de acompanhamento multidisciplinar e multiprofissional, incluindo psicólogos e fisioterapeutas (ÁLVARES; et. tal., 2009).

O tratamento não é mais concentrado na manipulação do sistema nervoso simpático, mas na reabilitação funcional para quebrar o círculo vicioso de desuso com consequente agravamento da doença. O tratamento inicial é baseado em excelente analgesia, mais pela administração de anti-inflamatórios não-esteroides do que por opióides, e em intensiva e cuidadosa fisioterapia para evitar a exacerbação da dor. Devem ser evitadas a imobilização e colocação de talas (MCCABE, et. tal. 2003).

A segunda linha de tratamento é frequentemente ineficaz e produz efeitos adversos. Entre eles, estão o uso de analgésicos centrais, anestesia regional, bloqueio simpático, dessensibilização de nervos periféricos, estimulação neuronal transcutânea ou implante estimulador da coluna dorsal. As terapias farmacológicas são variadas, sendo o bloqueio simpático bastante aceito.

Além disso, associam-se antidepressivos tricíclicos, gabapentina, opioides e capsaicina tópica. Em casos refratários, pode-se recorrer à cirurgia, mas seu uso é bastante restrito. Procedimentos como simpatectomia e amputação de membros devem ser muito bem indicados, pelo risco de exacerbação da dor, pela limitada garantia de seu sucesso e pelo risco de complicações como infecções e piora funcional do membro (GUNGOR; AIYER; BAYKOCA, 2018).

Os principais objetivos do tratamento são: informar; educar o paciente; promover a utilização do membro afetado; minimizar a dor; evitar cronificação; as modalidades de tratamento incluem: fisioterapia; terapia ocupacional; tratamento farmacológico; agentes físicos; bloqueios simpáticos; neuromodulação; terapia cognitivo-comportamental e tratamento psicológico (GASPAR; ANTUNES, 2011).

Portanto, sabe que, de fato, não existe tratamento definitivo e nenhum fármaco foi aprovado pela Food and Drug Administration – FDA dos Estados Unidos para o tratamento de SDCR. Porém, o principal objetivo da terapêutica farmacológica é controlar a dor para permitir a realização do programa de reabilitação e, assim, restituir a funcionalidade (CAVALCANTE, 2019, p.32).

Logo o tratamento farmacológico deve ser instituído progressivamente, sendo com aumentos sucessivos de dose e associação de fármacos para otimizar resultados, até à dose mínima eficaz para reduzir a incidência de efeitos adversos.

Cavalcante, afirma que as classes farmacológicas mais utilizadas são os anti-inflamatórios não esteróides – AINE e esteróides – corticosteróides, os analgésicos opióides, os anticonvulsivantes, antidepressivos, os bifosfonatos, a Capsaicina, a Lidocaína tópicas e a Calcitonina nasal. O Paracetamol e os AINES são frequentemente usados na fase inicial de aparecimento dos sintomas em que predominam a dor e os fenômenos inflamatórios, mesmo apesar de a sua utilização no SDRC não estar comprovada (CAVALCANTE, 2019).

Porém, os canais de sódio são complexos de proteínas transmembranares heteroméricas constituídos por uma subunidade alfa muito grande e uma ou até 2 subunidades beta menores. Onde ambos os canais, sendo as sensíveis a tetrodotoxina na 1,3 e 1,7, e os resistentes na 1,8 e 1,9, têm sido implicados na etiologia e manutenção da dor (ROGERS et al.,2006).

Logo, observa-se que a ativação desses canais de sódio voltagem dependente pode, portanto, desempenhar um papel na patogênese e manutenção da dor neuropática e inflamatória .

Foram constatadas várias evidências, onde sugerem que a proliferação e ativação dos canais de sódio após lesão nervosa e dor induzida por carragenina pode então resultar em descargas ectópicas provenientes do local da lesão, gânglios da raiz dorsal ou até mesmo de neurônios adjacentes não lesados. Portanto, a Lidocaína atenua na sensibilização dos nociceptores periféricos e a hiperexcitabilidade central através de sua ação bloqueadora do canal de sódio.

Alguns métodos são indicados para o tratamento e alívio da dor. Bloqueios simpáticos com anestésico local, como também bloqueio do gânglio estrelado quando o membro afetado for superior, para membros inferiores o bloqueio deve ser da cadeia simpática lombar paravertebrais (ASHWAL et al., 1988).

Como também existem testes para comprovar o envolvimento do sistema nervoso simpático nas gêneses da dor podem ser realizados e irão auxiliar na elaboração do diagnóstico e na escolha da terapêutica adequada, como administrações endovenosas ou bloqueios regionais, usando fármacos como guanetidina, fenitolamina, lidocaína. Teste da guanetidina que faz uma depleção das reservas de norepinefrina, das fibras simpáticas pós-ganglionares, observados na realização dos testes relatos do paciente se referindo a dor, calor ou pressão na região acometida, sendo que após o desgarroteamento sente-se uma diminuição da dor referida anteriormente. Teste da fentolamina que é um antagonista α adrenérgico, realizado através de infusão venosa simples, que pode diminuir a dor durante as infusões (DOMIN et al., 2021, p.37).

Existem, portanto, alguns métodos que acaba incluindo vários fatores de melhora, sendo por exemplo o bloqueio simpático lombar indicado para diagnóstico, prognóstico e tratamento de condições associadas a disfunções simpáticas tanto para a SDCR tipos I e II, como também para herpes zoster, dor do membro fantasma e doença vascular periférica inoperável de membros inferiores. Logo, uma alternativa ao bloqueio simpático lombar, consiste no bloqueio de nervos periféricos guiados por ultrassonografia. Além de dispensar a utilização de fluoroscopia, não está associado a ocorrência dos eventos adversos relacionados ao bloqueio do plexo lombar, a curva de aprendizado é menor e o conforto para o paciente superior, visto que pode ser feito ao nível ambulatorial e não requer decúbito ventral para realização (BECCO; GOMES, 2019).

As terapêuticas medicamentosas são as mais utilizadas para tais métodos, sendo que tem várias formas de administração, como, por exemplo: bloqueios venosos com lidocaína e fentolamina. Bloqueios regionais com guanetidina, clonidina, dexmedetomidina, reserpina, bretílio ou corticoides (SMART; WAND; O’CONNELL, 2016).

Não deixando de citar a importância da fisioterapia e a eletroestimulação transcutânea, onde as mesmas vêm sendo indicadas pelo seu efeito analgésico e técnicas de dessensibilização para os pacientes com alodínia.

Os antidepressivos tricíclicos, por exemplo, não apresentam boa resposta, seu efeito é de melhorar a qualidade do sono desses portadores desta síndrome. Já a adenosina mostrou bons resultados nos estudos com cobaias humanas, mas ainda precisa de trabalhos mais expressivos. E os opioides têm pacientes que apresentam bons resultados no alívio da dor e outros não apresentam melhoras (HALICKA et al., 2020).

A gabapentina é um anticonvulsivante que vem sendo utilizado e alguns estudos sobre essa droga mostram uma boa atuação na SDCR. Os bloqueios ganglionares simpáticos promovem um alívio dos sintomas, porém seu mecanismo de ação ainda não é claro e vem sendo estudado se a atuação se dá nas fibras somáticas ou nas fibras simpáticas (CORDON et al., 2002).

O tratamento é muito dificultado pela escassez de conhecimentos sobre a etiologia da SDCR, portanto acaba limitando o desenvolvimento de terapias mais direcionadas para sua abordagem. O mesmo ainda afirma que a maioria das medicações de primeira linha para patologia em questão, têm sido investigadas na abordagem de outras desordens neuropáticas logo aplicadas então para SDCR com resposta terapêutica variável. Cita ainda que as modalidades terapêuticas mais predominantes são a fisioterapia, agentes farmacológicos e procedimentos intervencionistas (BENZON, et al., 2014, p.46).

Contudo, observa-se que esta temática é pouco abordada, sendo assim, pouco se tem discutido sobre o processo de reabilitação desta síndrome. Nesse sentido, faz-se necessário outros estudos relacionados a condutas terapêuticas ocupacionais no tratamento da SCDR. Esta doença impõe limitações nas AVD, AIVD, atividades de lazer e trabalho, assim, comprometendo gravemente os papéis ocupacionais dos sujeitos acometidos por esta síndrome (PONTE, et al., 2017).

O surgimento do quadro álgico e os agravos físicos decorrentes desta síndrome comprometem diretamente as habilidades funcionais dos portadores dessa patologia. Nesse sentido, uma abordagem ao tratamento psicológico para a dor crônica é a terapia cognitivo-comportamental (TCC) focada no controle de sensações de dor, pensamentos relacionados à dor e emoções negativas (BUSSA et al., 2015).

Portanto, a SDCR é uma doença sem boas perspectivas de tratamento, pois seu entendimento ainda é insuficiente e muitas vezes um resultado esperado não se confirma na realidade. Os tratamentos atualmente disponíveis tentam de alguma forma tratar ou diminuir os sintomas. Onde, portanto se faz mais do que necessário que novas pesquisas sejam realizadas para que o processo fisiopatológico seja compreendido e tratamentos mais efetivos sejam instituídos.

4 CONCLUSÃO

A Síndrome Dolorosa Complexa Regional tipo II não possui um tratamento específico e totalmente eficaz para reduzir a incidência de efeitos adversos da doença. Tendo em vista que o evento precipitante se dá início aos sintomas relacionados a lesão de um nervo periférico específico ou de seus ramos principais.

Diante disso, a fisioterapia pode contribuir com a melhoria na qualidade de vida a partir da redução do quadro álgico, além dos demais benefícios aliados aos recursos e técnicas utilizadas. Dentre estes, os encontrados na literatura foram a eletroestimulação, cinesioterapiacom exercícios ativos e alongamentos musculares, terapias manuais, RPG, mobilizaçãoneural, hidroterapia, fototerapia crioterapia, e termoterapia.

Apesar da fisioterapia contribuir com a melhora da qualidade de vida das pacientes acometidas por SDCRII, estudos evidenciam que a intervenção fisioterapêutica quando iniciada de forma precoce pode ser capaz de prevenir estas e outras várias complicações, justificando a sua atuação e vantagem da sua inserção de preferência sempre que possível.

Logo, uma alternativa, seria também o bloqueio simpático, que consiste no bloqueio de nervos periféricos guiados por ultrassonografia. O bloqueio do gânglio estrelado quando o membro afetado for superior, e para membros inferiores o bloqueio deve ser da cadeia simpática lombar paravertebrais.

As terapêuticas medicamentosas são as mais utilizadas para tais métodos, sendo que tem várias formas de administração, como, por exemplo: bloqueios venosos com lidocaína e fentolamina. Os antidepressivos tricíclicos, por exemplo, não apresentam boa resposta, seu efeito é de melhorar a qualidade do sono desses portadores desta síndrome. Já a adenosina mostrou bons resultados nos estudos com cobaias humanas, mas ainda precisa de trabalhos mais expressivos. A gabapentina é um anticonvulsivante que vem sendo utilizado e alguns estudos sobre essa droga mostram uma boa atuação na SDCR, pois promovem um alívio dos sintomas.

Devido aos vários componentes envolvidos na doença de SDCR-II, ainda se tem grande dificuldade em obter resultados positivos no tratamento, sendo assim, sugere-se que novos estudos clínicos sejam realizados abordando este assunto, pois a literatura ainda é escassa diante de pesquisas e estudos relacionados a esse tema, para que a dor seja o mais controlado possível nestes casos, evitando assim outras complicações e maiores comprometimentos na qualidade de vida do paciente.

REFERÊNCIAS

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CAVALCANTE, Herberth D. Avaliação do efeito antinociceptivo da associação de cetamina a lidocaína na realização do bloqueio de gânglio estrelado guiado por ultrassonografia em pacientes portadores de síndrome dolorosa complexa regional do tipo II. Ribeirão Preto/SP. 2019. Disponível em: https://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/17/17142/tde-18082020-221411/publico/HERBERTHDUARTECAVALCANTE.pdf. Acesso em: 11 fev. 2023.

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[1]Graduanda em Medicina pela Faculdade Metropolitana. E-mail: ananda.maia030@gmail.com
[2]Graduanda em Medicina pela Faculdade Metropolitana. E-mail: dianalustosa20@gmail.com
[3]Graduanda em Medicina pela Faculdade Metropolitana. E-mail: patriciapaulafeder@gmail.com
[4]Profª Orientadora. Médica Anestesiologista. Especialista em Dor. E-mail: larissacruzpvh3@gmail.com