SÍNDROME DO RESPIRADOR BUCAL, SUAS ALTERAÇÕES E A ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA JUNTO A UMA EQUIPE MULTIDISCIPLINAR

Chronic oral breathing, its amendments and the performance of physiotherapy with a multidisciplinary team
Amanda L. Widomski ¹, Camila P. Kötz², Fernanda D. Wenzel¹, Tissiani Morimoto¹,
João Antônio Bonnato Costa³.
1 Acadêmicas do curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS
2 Aluna graduada do curso de Fisioterapia do Centro Universitário FEEVALE.
3 Professor Doutor do curso de Fisioterapia da Universidade do Vale do Rio dos Sinos – UNISINOS, São Leopoldo/RS.
Resumo
Alterações do equilíbrio do alinhamento anatômico do ser humano podem decorrer de uma obstrução nasal crônica, que origina uma respiração bucal. O presente artigo aborda os problemas decorrentes da respiração bucal e a importância de um tratamento multidisciplinar. Através de uma revisão bibliográfica, foram analisadas as características, classificações, fisiopatologia, etiologia, conseqüências e tratamento desta síndrome. Observa-se o quanto a respiração bucal provoca alterações, trazendo assim conseqüências negativas na qualidade de vida do portador. A síndrome do respirador bucal é um problema muito complexo de se sanar devido aos múltiplos sinais e sintomas que surgem a cada dia, sendo o trabalho conjunto o ponto de partida para a solução dos problemas.
Palavras – chave: respiração bucal; qualidade de vida; sinais e sintomas.
Abstract
Changes in the posture balance may be due to chronic nasal obstruction producing mouth breathing. The present article boards the mouth breathing alterations and the importance of a multidiscipline treatment. Ten articles were consulted and we analyzed characteristics, classifications, physiopathology, etiologies, consequences and treatment of this syndrome. We have got how the mouth breathing causes changes. It brings negative consequences in life quality of a person who breath in this way. The mouth breathing syndrome is a very hard sickness to avaid. It has many symptoms that appear every day. The start point to get solution is the combined work what involves multidiscipline groups.
Keywords: mouth breathing; quality of life ; signs and symptoms.
INTRODUÇÃO
A respiração é a primeira função desenvolvida ao nascimento, estabelecendo-se como principal função do organismo. O ser humano foi programado para ter uma respiração nasal, entretanto, no decorrer da vida parte da respiração pode ser bucal. Um exemplo é durante a realização de uma atividade física intensa, ou também por uma gripe, rinite alérgica, ou até mesmo um traumatismo facial, que faz com que a criança desenvolva uma respiração completamente oral. Caso o obstáculo à respiração seja temporário, a criança poderá se recuperar sem que as alterações se efetivem. Caso a alteração se prolongue, alterações osteomusculares podem desenvolver-se, acarretando em uma síndrome que é denominada Síndrome do Respirador Bucal.
DESENVOLVIMENTO
Fisiopatologia e a importância da respiração nasal
O processo da respiração, que compreende a ventilação pulmonar, tem seu início através da captação do ar atmosférico. Por meio das trocas gasosas, a respiração tem por objetivo fornecer oxigênio aos tecidos e remover dióxido de carbono.
Para ocorrer a ventilação é necessário que os pulmões, o sistema respiratório e a caixa torácica expandam-se acima do volume de repouso e retraiam-se para o nível de repouso. Esse movimento só se torna possível quando é realizada força suficiente para superar a retração elástica e a resistência do fluxo aéreo. É na cavidade nasal que o ar é preparado para poder, em melhores condições, atingir os pulmões, o que não acontece quando a respiração é bucal. À medida que o ar passa pelo nariz, ele é aquecido, umidificado e filtrado. Assim, as fossas nasais desempenham, através de um forro mucoso, papel relevante na fisiologia respiratória, constituindo-se de uma barreira protetora das vias respiratória inferiores, além de promover a ventilação também de regiões vizinhas, como os seios paranasais.
A importância da respiração nasal é devido ao aquecimento, umidificação e filtração que realiza no ar inspirado. Fica evidente que o indivíduo que apresenta respiração bucal não terá o preparo do ar inspirado como o respirador nasal.
Definição e classificação
A síndrome do Respirador Bucal é definida como uma substituição no padrão correto de respiração para um padrão inadequado, bucal ou misto (1).
Segundo Alvarenga (2) os respiradores bucais podem ser basicamente classificados em três tipos:
• Respirador bucal orgânico: apresenta obstáculos mecânicos que podem ser nasais, retronasais e/ou bucais. São diagnosticados através da clínica e de radiografia. Como exemplos: estenose nasal e atresia maxilar, retromagnatismo, alteração de tônus, postura e tamanho de língua, entre outros.
• Respirador bucal funcional: esse tipo de respirador bucal geralmente já foi submetido a tonsilectomia e também a amigdalectomia, mas permanece respirando pela boca, mesmo tendo o trato respiratório superior permeável. Apresentam quadros de catarros repetitivos, característicos das rinites alérgicas.
• Respirador bucal impotente funcional: respiradores bucais que desencadeiam quadro alterado de respiração por disfunção neurológica. Muitos desses quadros estão acompanhados de alterações psiquiátricas.
Etiologia
A respiração bucal decorre de uma associação de dois fatores anatômicos: passagem de ar estreita e obstrução nasal (2). Na infância, as maiores causas de obstrução nasal nos respiradores bucais são: hipertrofia de adenóides, hipertrofia de amígdalas, rinites alérgicas, desvio de septo nasal, hematoma de septo nasal, infecções repetitivas das vias aéreas superiores, palato ogival, hipertrofias das estruturas dos cornetos nasais, traumas faciais, pólipos nasais, presença de corpos estranhos, abscessos e tumores nasais, obstrução nasal por iatrogenia (pós-cirurgia e medicamentosa) e rinite vasomotora e ou atrófica.
A deformidade septal é uma das causas principais de obstrução nasal e dificuldade alimentar na infância, além de poder causar bloqueio dos ductos nasolacrimais, episódios de rinossinusite, otites médias de repetição e as graves seqüelas do respirador bucal.
Alterações desencadeadas pela respiração bucal
Existem alterações características dessa síndrome, que são destacadas por Costa (3), como sendo:
• Alterações craniofaciais e dentárias, que consistem em crescimento craniofacial predominantemente vertical, mordida cruzada, protusão dos incisivos superiores, palato inclinado, desenvolvimento dos maxilares, etc.;
• Alterações dos órgãos fonoarticulatórios, que consistem em hipotrofia, hipotonia e hipofunção dos músculos elevadores da mandíbula, hipofunção dos lábios e bochecha, lábios ressecados e rachados, lábio superior retraído e inferior invertido, etc.;
• Alterações posturais, que consistem de deformidades torácicas, musculatura abdominal flácida, cabeça mal posicionada com alteração para a coluna, ombros caídos, protusão abdominal, joelhos valgos, pés planos, aumento da lordose cervical e lombar, escápulas aladas.
A criança respiradora oral protui a cabeça, retificando o trajeto das vias respiratórias e fazendo o ar chegar mais rápido aos pulmões. Por apresentar uma interdependência das estruturas corporais, a respiração oral leva a uma anteriorização dos ombros, acarretando um encurtamento dos músculos peitorais, ao fechamento da cadeia anterior, explicando, dessa forma, a abdução das escápulas e a retificação dorsal e levando, conseqüentemente, a diminuição da expansibilidade torácica.
O aparecimento de joelhos valgos pode estar relacionado com a adaptação músculo-esquelética frente à respiração bucal, associada ao padrão postural hipotônico.
Alterações das funções orais, que consistem em mastigação ineficiente, levando a engasgos pela incoordenação da respiração com a mastigação, e problemas digestivos, deglutição atípica, fala imprecisa, com excesso de saliva, etc.;
Outras alterações possíveis, como sinusites e otites freqüentes, halitose e diminuição do paladar e do olfato, alteração do apetite, sede constante, sono perturbado, enurese noturna, etc.
Em conseqüência da ventilação nasal deficiente, o respirador bucal pode apresentar a membrana timpânica opacificada e retraída, o que causa um mau funcionamento da tuba auditiva.
A baixa de oxigênio sangüíneo durante o sono ocorre na fase de sono REM (fase de movimento rápido dos olhos), assim como no despertar. Esta fragmentação do sono é responsável por sintomas como sono perturbado, enurese noturna, dificuldade de atenção e concentração, gerando dificuldades escolares, olheiras (4).
Atuação da fisioterapia e importância de uma equipe multidisciplinar
Primeiramente é necessário saber distinguir claramente causa e conseqüência, do contrário, serão feitas intervenções desnecessárias que acabam levando a sérios prejuízos e agravamento dos sintomas. Essa distinção será feita durante a avaliação, que deve combinar uma rigorosa e cuidadosa anamnese, seguida de um exame clínico minucioso, com atenção especial às possíveis alterações morfológicas congênitas, atitude postural e respiratória, humor, apetite, sede, atitude nasal, labial, lingual, sono.
Devemos observar também alguns dos componentes do sistema estomatognático (mandíbula e maxila, articulação temporomandibular, músculos).
É muito importante o trabalho de uma equipe multidisciplinar com o respirador bucal, pois é impossível uma amplitude de conhecimentos necessários, para que apenas um profissional possa resgatar todas as diferentes alterações funcionais, estruturais, patológicas, posturais e emocionais do respirador bucal. Para isso, a equipe deve ser composta por dentistas, fonoaudiólogos, fisioterapeutas, alergistas, otorrinolaringologistas e psicólogos. O tratamento fisioterapêutico consiste na fisioterapia respiratória, através da cinesioterapia respiratória e pela reeducação funcional respiratória, pois fornecem ao paciente suporte muscular respiratório e melhora da mobilidade tóraco-abdominal, a fim de prevenir complicações respiratórias reincidentes, sobretudo pneumonias e outras complicações pulmonares ou torácicas. Para correção postural vários métodos podem ser utilizados para o tratamento como a reeducação postural global, o iso-stretching e a cinesioterapia clássica (1).
A respiração oral é uma condição clínica freqüente na infância. Embora muitos pesquisadores acreditem que possa estar relacionado a várias alterações de postura, ainda pouco se tem estudado a respeito (5).
A respiração nasal propicia adequado crescimento e desenvolvimento do complexo craniofacial e postural. Alguns estudos relatam que a respiração buconasal não é necessariamente prejudicial ao crescimento (6). Entretanto, quando o espaço aéreo nasofaríngeo e orofaríngeo estão reduzidos, são produzidas respostas posturais exageradas nos respiradores buconasais como relatam a maioria dos autores.
Os autores Yi (5), Parra (7), Costa (3), Breda (1) e Lima (8) através dos seus métodos de análise, obtiveram como principais alterações da postura corporal: protusão dos ombros, anteroversão da pelve, protusão da cabeça, escápulas abduzidas e aladas, joelhos valgos, hiperlordose lombar, retificação dorsal e pés planos.
Outro dado citado nos trabalhos realizados por Parra (7) e Di Francesco (4) é que a síndrome do respirador bucal se apresenta principalmente em crianças do sexo masculino.
Muitos dos estudos relatam as etiologias causadoras dessa síndrome, chegando até a utilizá-las como material de estudo para definir seus resultados. As principais etiologias citadas são as hipertrofias adenoideana, adenoamigdaliana e rinite alérgica.
Sabemos que são várias as causas da respiração oral, descrevendo diversas doenças com fisiopatologias muito distintas, então, talvez fique difícil compilar todos os respiradores orais dentro de um grupo homogêneo quanto às suas características.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Nesta revisão bibliográfica foram encontradas poucas opiniões divergentes entre os autores consultados. Observa-se o quanto a respiração oral provoca alterações, trazendo conseqüências negativas na qualidade de vida do portador. A síndrome do respirador bucal é um problema muito complexo de se sanar devido aos múltiplos sintomas que surgem a cada dia, o trabalho conjunto é o ponto de partida para a solução dos problemas, sempre lembrando de uma boa avaliação que permita diferenciar causas e conseqüências para que desta forma seja possível uma conduta adequada de tratamento. A pessoa portadora da síndrome do respirador bucal se destaca por sua má postura e outras alterações decorrentes, merecendo atenção especial, pois as conseqüências podem ser mais graves quanto mais tempo se retarda a intervenção, tornando cada vez mais freqüentes as manifestações que solicitam a atuação do fisioterapeuta e da equipe multidisciplinar.
REFERÊNCIAS
1. Breda D, Moreira HSB – Avaliação postural e da função respiratória em crianças com rinite alérgica, hipertrofia de adenóide e síndrome do respirador bucal – fisioterapia brasil, v.4, n.4, jul./ago. 2003, p.247-251.
2. Alvarenga AL, Pádua IPM, Silveira IA – O respirador bucal – Revista científica do UNILAVRAS, v.2, n.2, jan./jun. 2003, p.21-25.
3. Costa D – Fisioterapia respiratória na correção da respiração bucal – Fisioterapia em movimento, vol. X, nº 1, abr./set. 1997, p. 111-120.
4. Di Francesco RC, Passerotii G, Paulucci B, Miniti A – Respiração oral na criança: repercussões diferentes de acordo com o diagnóstico – Revista Brasileira de otorrinolaringologia, v.70, n.5, set./out. 2004, p. 665-70.
5. Yi LC, Guedes ZFC, Pignatari S, Weckx LLM. – Avaliação postural em crianças de 5 a 12 anos que apresentam respiração oral – Fisioterapia em movimento, v.16, n.3, jul./set. 2003, p.29-33.
6. Lessa FCR, Enoki C, Feres MFN, Valera FCP, Lima WTA, Matsumoto MAN – Influência do padrão respiratório na morfologia craniofacial – Revista Brasileira de otorrinolaringologia, v.71, n.2, mar./abr. 2005, p. 156-60.
7. Parra Y – El paciente respirador bucal una propuesta para el estado nueva esparta 1996-2001 – Acta Odontológica Venezolana, v.42, nº2, 2004.
8. Lima LCO, Baraúna MA, Sologurem MJJ, Canto RST, Gastaldi AC – Postural alterations in children with mouth breathing assessed by computerized biophotogrammetry – Journal of Applied oral science, 12(3), 2004, p. 232-7.