SÍNDROME DE MÜNCHHAUSEN: O DESAFIO DIAGNÓSTICO EM PACIENTES COM COMPORTAMENTO DE SIMULAÇÃO DE DOENÇAS

MÜNCHUSEN SYNDROME: THE DIAGNOSTIC CHALLENGE IN PATIENTS WITH DOENÇAS SIMULATION BEHAVIOR

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ra10202502211102


Elaine Oliveira Araujo; Maria Clara Bandeira Ribas; Ana Luiza Rodrigues Araujo; Monyella Pedrosa Guarese; Elton Pessoa dos Santos; Sávio Nixon Passos Luz; Andressa Cristina Correa Machado Sousa; Ives Ribeiro Ponte; Agesilau Coelho de Carvalho; Yago Lima Santiago; Cintia Marçal Castro; Bruna Gonçalves Dantas de Almeida; Aristóteles Passos Araújo Neto; Júlia Araújo Machado; Ana Julia Lima Pereira


Resumo

A Síndrome de Münchhausen, um transtorno psicossocial raro e complexo, caracteriza-se pelo comportamento de simulação ou indução de doenças, com o objetivo de obter atenção e cuidados médicos. Esse transtorno, embora bem documentado na literatura médica, continua a ser um grande desafio diagnóstico, dado que os pacientes frequentemente apresentam uma ampla gama de sintomas que imitam diversas condições médicas. Diante desse cenário, o objetivo geral deste estudo é revisar a literatura sobre a Síndrome de Münchhausen, analisando os principais desafios no diagnóstico dessa condição em pacientes com comportamento de simulação de doenças. A pesquisa é fundamentada em uma revisão abrangente da literatura existente, para a coleta dos dados, foi utilizada a base de dados PubMed e Scielo, A pesquisa foi conduzida com os termos “Síndrome de Münchhausen”, “Diagnóstico”, “Tratamento”, aplicando o operador booleano “AND”. A revisão bibliográfica evidencia que a Síndrome de Münchhausen é uma condição complexa e desafiadora, tanto para o diagnóstico quanto para o manejo clínico. A simulação intencional de sintomas e a busca por atenção médica constituem o núcleo dessa síndrome, o que pode resultar em diagnósticos errôneos, tratamentos inadequados e uso excessivo de recursos médicos. O diagnóstico precoce é fundamental, mas frequentemente é dificultado pela variedade e complexidade dos sintomas apresentados pelos pacientes, além da resistência ao tratamento. É evidente que a abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, psiquiatras e psicólogos, é crucial para lidar com esses casos de forma eficaz. Embora o tratamento da Síndrome de Münchhausen seja desafiador, ele é possível com intervenções adequadas e acompanhamento contínuo. O manejo psicológico, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, tem mostrado resultados promissores no tratamento dos fatores psicossociais subjacentes à simulação de doenças. Contudo, mais pesquisas são necessárias para aprimorar os protocolos de diagnóstico e tratamento, além de melhorar a conscientização dos profissionais de saúde. Somente com um diagnóstico preciso e estratégias terapêuticas eficazes será possível proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes afetados por essa síndrome.

Palavras-chave: Síndrome de Münchhausen. Diagnóstico. Tratamento.

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome de Münchhausen, um transtorno psicossocial raro e complexo, caracteriza-se pelo comportamento de simulação ou indução de doenças, com o objetivo de obter atenção e cuidados médicos. Os pacientes com essa condição frequentemente se apresentam com sintomas fictícios ou exagerados, realizando manobras para criar a aparência de doenças físicas ou psicológicas. O comportamento de simulação é deliberado, mas, ao contrário de outros transtornos simuladores, os pacientes com a Síndrome de Münchhausen não buscam benefícios materiais, mas sim a satisfação emocional derivada da atenção médica e hospitalar. (ALGERI et al, 2014).

Esse transtorno, embora bem documentado na literatura médica, continua a ser um grande desafio diagnóstico, dado que os pacientes frequentemente apresentam uma ampla gama de sintomas que imitam diversas condições médicas. O diagnóstico precoce é difícil, pois os sintomas podem variar de simples queixas a situações de emergência médica, frequentemente associadas a intervenções cirúrgicas desnecessárias ou tratamentos prolongados. A necessidade de uma abordagem diferenciada e cuidadosa por parte da equipe de saúde é essencial para evitar complicações e tratar adequadamente esses pacientes. (DE CARVALHO BEZERRA et al, 2020).

As consequências para o sistema de saúde são consideráveis, uma vez que o comportamento de simulação pode resultar em tratamentos inadequados, uso excessivo de recursos médicos e prolongamento de internações. Além disso, o diagnóstico errôneo pode levar à rotulação do paciente como hipocondríaco ou paranoico, dificultando ainda mais o manejo e a compreensão de suas reais necessidades. Em muitos casos, o tratamento da Síndrome de Münchhausen requer um trabalho conjunto entre médicos, psiquiatras e psicólogos, com foco na identificação e no tratamento dos fatores psicossociais subjacentes. (GARCIA et al, 2019).

O objetivo deste artigo é revisar a literatura sobre a Síndrome de Münchhausen, analisando os principais desafios no diagnóstico dessa condição em pacientes com comportamento de simulação de doenças. Pretende-se também discutir as estratégias de manejo, as implicações para o tratamento e os recursos terapêuticos mais eficazes para lidar com esses casos na prática clínica.

2 METODOLOGIA 

A pesquisa adotou uma metodologia que combina análise, descrição e exploração, fundamentada em uma revisão abrangente da literatura existente. O objetivo principal desta revisão é compilar, sintetizar e analisar os achados de estudos anteriores sobre miomas uterinos. Esse método integra informações já publicadas, oferecendo uma visão crítica e estruturada do conhecimento disponível. A abordagem metodológica combina diversas estratégias e tipos de pesquisa, possibilitando a avaliação da qualidade e coerência das evidências e a integração dos resultados (BOTELHO, DE ALMEIDA CUNHA, MACEDO, 2011).

Para a coleta dos dados, foi utilizada a base de dados PubMed e Scielo. Diversos tipos de publicações foram consideradas, incluindo artigos acadêmicos, estudos e periódicos relevantes. A pesquisa foi conduzida com os termos “Síndrome de Münchhausen”, “Diagnóstico”, “Tratamento”, aplicando o operador booleano “AND” para refinar os resultados. As estratégias de busca adotadas foram: “Síndrome de Münchhausen” AND “Diagnóstico” AND “Tratamento”.

Os critérios para inclusão dos artigos foram: publicações originais, revisões sistemáticas, revisões integrativas ou relatos de casos, desde que fossem acessíveis gratuitamente e publicadas entre 2017 e 2024. Não houve restrições quanto à localização geográfica ou ao idioma das publicações. Foram excluídos artigos não científicos, bem como textos incompletos, resumos, monografias, dissertações e teses.

A seleção dos estudos seguiu critérios rigorosos de inclusão e exclusão. Após a definição desses critérios, foram realizadas buscas detalhadas nas bases de dados utilizando os descritores e operadores booleanos estabelecidos. Os estudos selecionados formam a base para os resultados apresentados neste trabalho.

3 RESULTADOS E DISCUSSÕES 

A revisão bibliográfica sobre a Síndrome de Münchhausen destacou a complexidade e os desafios no diagnóstico dessa condição. A maioria dos estudos revisados concorda que a principal característica da síndrome é a produção ou simulação intencional de sintomas físicos ou psicológicos, sem intenção de ganho material. O comportamento do paciente visa exclusivamente obter atenção médica, o que torna o diagnóstico um processo complexo. Pacientes com essa síndrome frequentemente se apresentam com sintomas que podem ser semelhantes a várias outras doenças, o que dificulta ainda mais a identificação da condição. (SOUSA et al, 2017).

O diagnóstico de Síndrome de Münchhausen é baseado em um conjunto de critérios clínicos, com destaque para a falsificação de doenças e a recusa em seguir o tratamento adequado. Além disso, os pacientes frequentemente buscam cuidados médicos de múltiplos profissionais e instituições, o que torna o diagnóstico ainda mais desafiador. A literatura aponta que, devido à natureza da doença, os médicos podem inicialmente suspeitar de outras condições, como transtornos somatoformes ou hipocondria, antes de considerar a síndrome como um diagnóstico definitivo. (LANDA-CONTRERAS, ALVITES-AHUMADA, FORTES-ÁLVAREZ, 2014).

Outro ponto importante identificado nos estudos revisados é a dificuldade de identificar sinais de simulação de doenças. Pacientes com a Síndrome de Münchhausen tendem a criar sintomas fictícios ou a manipular exames laboratoriais, o que pode levar à realização de intervenções médicas desnecessárias e prejudiciais. A identificação de inconsistências nos relatos dos pacientes, como discrepâncias entre os sintomas relatados e os achados clínicos, é uma ferramenta importante para os profissionais de saúde, mas nem sempre é suficiente para um diagnóstico precoce. (APARICIO-TURBAY, ALVARADO-CASTRO, NOGUERA-ALFONSO, 2019).

A literatura também mostrou que o tratamento dessa síndrome é um grande desafio, pois muitos pacientes não reconhecem a gravidade do transtorno e, muitas vezes, recusam a ajuda psicoterapêutica. O manejo clínico geralmente requer uma abordagem multidisciplinar, envolvendo psiquiatras, psicólogos e médicos. A terapia cognitivo-comportamental é uma das abordagens mais recomendadas, visando ajudar os pacientes a entenderem a origem de seus comportamentos e aprenderem maneiras mais saudáveis de lidar com suas emoções e necessidades psicológicas. (PELLITERO MARAÑA, ALONSO ÁLVAREZ, GONZÁLEZ-CARLOMAN GONZÁLEZ, 2018).

Além disso, a revisão revelou que os pacientes com Síndrome de Münchhausen frequentemente apresentam resistência ao tratamento. Muitos deles abandonam terapias que tentam ajudar a resolver os problemas psicológicos subjacentes, o que pode levar a um ciclo de relapso e reinício de comportamentos de simulação. Estudos destacam a importância de um acompanhamento contínuo e de longo prazo para esses pacientes, com ênfase em abordagens que promovam a conscientização sobre o transtorno e a importância da adesão ao tratamento. (SCHRADER, AASLY, BØHMER, 2017).

Outro desafio discutido na literatura é o impacto da Síndrome de Münchhausen no sistema de saúde. A busca constante por tratamento médico e a realização de procedimentos desnecessários podem levar ao uso excessivo de recursos de saúde, resultando em custos elevados e ocupação de leitos hospitalares. Além disso, o tratamento inadequado de pacientes com essa síndrome pode resultar em complicações graves, como infecções ou danos decorrentes de intervenções cirúrgicas não indicadas, o que torna o manejo ainda mais complexo. (ALKHATTABI et al, 2023).

A revisão também enfatizou a importância do diagnóstico diferencial, uma vez que a Síndrome de Münchhausen pode ser confundida com outros transtornos psicológicos, como o Transtorno de Personalidade Borderline ou o Transtorno de Somatização. O diagnóstico correto é crucial para evitar o tratamento inadequado e melhorar os resultados a longo prazo. Para isso, a colaboração entre profissionais de diversas áreas da saúde, como médicos, psiquiatras e psicólogos, é fundamental para garantir um diagnóstico preciso e um plano de tratamento adequado. (BABU, MOHAMED, DAS, 2019).

Por fim, os estudos revisados sugerem que mais pesquisas são necessárias para entender os fatores psicossociais que levam ao desenvolvimento da Síndrome de Münchhausen e para aprimorar os métodos de diagnóstico e manejo dessa condição. A escassez de estudos longitudinais sobre o comportamento dos pacientes ao longo do tempo e a falta de protocolos clínicos claros dificultam o avanço no tratamento da síndrome. Além disso, a educação e a conscientização dos profissionais de saúde sobre a Síndrome de Münchhausen são essenciais para a detecção precoce e o manejo adequado desses pacientes, o que pode melhorar substancialmente os resultados clínicos e a qualidade de vida desses indivíduos. (WEBER, GOKARAKONDA, DOYLE, 2023).

4 CONCLUSÃO

A Síndrome de Münchhausen é uma condição complexa e desafiadora, tanto para o diagnóstico quanto para o manejo clínico. A simulação intencional de sintomas e a busca por atenção médica constituem o núcleo dessa síndrome, o que pode resultar em diagnósticos errôneos, tratamentos inadequados e uso excessivo de recursos médicos. O diagnóstico precoce é fundamental, mas frequentemente é dificultado pela variedade e complexidade dos sintomas apresentados pelos pacientes, além da resistência ao tratamento. É evidente que a abordagem multidisciplinar, envolvendo médicos, psiquiatras e psicólogos, é crucial para lidar com esses casos de forma eficaz.

Embora o tratamento da Síndrome de Münchhausen seja desafiador, ele é possível com intervenções adequadas e acompanhamento contínuo. O manejo psicológico, especialmente a terapia cognitivo-comportamental, tem mostrado resultados promissores no tratamento dos fatores psicossociais subjacentes à simulação de doenças. Contudo, mais pesquisas são necessárias para aprimorar os protocolos de diagnóstico e tratamento, além de melhorar a conscientização dos profissionais de saúde. Somente com um diagnóstico preciso e estratégias terapêuticas eficazes será possível proporcionar uma melhor qualidade de vida aos pacientes afetados por essa síndrome.

REFERÊNCIAS

ALGERI, Simone et al. Síndrome de Münchausen por procuração: revisão integrativa. Revista de Enfermagem UFPE On Line. Recife. Vol. 8, n. 11 (nov. 2014), p. 3983-3991, 2014.

ALKHATTABI, Fadiah et al. Munchausen syndrome by proxy: a case report. Journal of Medical Case Reports, v. 17, n. 1, p. 148, 2023.

APARICIO-TURBAY, Soraya; ALVARADO-CASTRO, Camilo; NOGUERA-ALFONSO, Efraín. Síndrome de Münchhausen. Acta Médica Colombiana, v. 44, n. 1, p. 43-46, 2019.

BABU, Anuradha Kakkanatt; MOHAMED, Akbar; DAS, Namitha. Munchausen syndrome by proxy. Indian Dermatology Online Journal, v. 10, n. 4, p. 496-497, 2019.

BOTELHO, Louise Lira Roedel; DE ALMEIDA CUNHA, Cristiano Castro; MACEDO, Marcelo. O método da revisão integrativa nos estudos organizacionais. Gestão e sociedade, v. 5, n. 11, p. 121-136, 2011.

DE CARVALHO BEZERRA, Larissa et al. A importância da informação dos Profissionais da Saúde sobre a Síndrome de Munchausen por procuração: Uma Revisão Sistemática. Saúde Coletiva (Barueri), v. 10, n. 58, p. 3935-3950, 2020.

GARCIA, Nathália Pereira et al. Síndrome de munchausen: um caso de confissão espontânea da simulação de sinais e sintomas. In: Colloquium Vitae. ISSN: 1984-6436. 2019. p. 52-58.

GONÇALVES, Izabela Machado et al. O transtorno factício das síndrome de Munchausen e síndrome de Munchausen por Procuração: uma revisão narrativa de literatura. Revista Eletrônica Acervo Saúde, v. 13, n. 11, p. e9072-e9072, 2021.

LANDA-CONTRERAS, Ernesto; ALVITES-AHUMADA, María P.; FORTES-ÁLVAREZ, José L. Síndrome de Munchausen por poderes: presentación de un caso y revisión de la literatura. Revista de la Asociación Española de Neuropsiquiatría, v. 34, n. 124, p. 791-795, 2014.

PELLITERO MARAÑA, Ariana; ALONSO ÁLVAREZ, Mª; GONZÁLEZ-CARLOMAN GONZÁLEZ, Lucía. Síndrome de Munchausen por poderes: dificultades diagnósticas y terapéuticas. Pediatría Atención Primaria, v. 20, n. 80, p. 105-108, 2018.

SCHRADER, Harald; AASLY, Jan O.; BØHMER, Thomas. Challenges presented by Munchausen syndrome. Tidsskrift for Den norske legeforening, 2017.

SOUSA, Daniel de et al. Síndrome de Munchausen e síndrome de Munchausen por procuração: uma revisão narrativa. Einstein (São Paulo), v. 15, p. 516-521, 2017.

WEBER, Brennan; GOKARAKONDA, Srinivasa B.; DOYLE, Michael Q. Munchausen syndrome. In: StatPearls [Internet]. StatPearls Publishing, 2023.