FOURNIER SYNDROME IN IMMUNOSUPPRESSED PATIENTS: CHALLENGES AND INTENSIVE MANAGEMENT STRATEGIES
REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/cl10202510151353
Kery Allyne de França Melo1 / Erick Ferretti Tapias2 / Douglas Maciel de Jesus Gonçalves3 / Maria Eduarda Cichowski Weiler Rieger4 / Ana Vitoria de Jesus Freire5 / Eduardo Jurandir Altair de Lima Sousa6 / José Obenicio Pereira Marques7 / Jorge Macedo Dudu8 / Monique Fortes9 / Antonio Marcos Rodrigues da Silva10 / Mycaella de Matos Cruz11 / Lorena Thaysa dos Santos Andrade12
Resumo
INTRODUÇÃO: A Síndrome de Fournier é uma fasciíte necrosante grave que acomete a região perineal e genital, caracterizada por rápida progressão e alta mortalidade. Em pacientes imunossuprimidos, sua evolução tende a ser mais agressiva devido à deficiência na resposta imunológica, tornando o diagnóstico e o manejo clínico grandes desafios para a equipe multiprofissional. OBJETIVO: Descrever a síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos: desafios e estratégias de manejo intensivo. METODOLOGIA: Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, realizada nas bases LILACS, MEDLINE e SciELO, utilizando os descritores do DeCS/MeSH: “imunossupressão”, “terapia intensiva” e “necrose”, combinados pelos operadores booleanos AND e OR. Foram incluídos artigos publicados entre 2020 e 2024, disponíveis em texto completo nos idiomas português, inglês e espanhol. Excluíram-se estudos duplicados, literatura cinzenta e artigos sem relação direta com o tema. RESULTADOS E DISCUSSÃO: Os estudos selecionados evidenciaram que pacientes imunossuprimidos apresentam maior risco de evolução rápida, complicações infecciosas graves e elevada mortalidade. O diagnóstico precoce, o desbridamento cirúrgico imediato e a antibioticoterapia de amplo espectro mostraram-se determinantes para o sucesso terapêutico. O suporte intensivo, incluindo cuidados hemodinâmicos, ventilatórios e nutricionais, é essencial para estabilizar o quadro clínico e reduzir complicações. O manejo da Síndrome de Fournier exige atuação multidisciplinar e contínua, com foco na identificação precoce dos sinais clínicos e na intervenção rápida. A imunossupressão representa um fator agravante, que dificulta o controle da infecção e prolonga a internação hospitalar. Estratégias baseadas em protocolos assistenciais e monitoramento intensivo mostraram-se eficazes na redução da mortalidade. CONCLUSÃO: A Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos é uma emergência médica de alta complexidade, que demanda abordagem integrada, desbridamento precoce e suporte intensivo qualificado. O fortalecimento das práticas multiprofissionais e o reconhecimento imediato dos sinais clínicos são fundamentais para aprimorar o prognóstico e a qualidade da assistência.
Palavras-chave: Atenção integral à saúde da mulher. Equipe multiprofissional. Serviços de saúde para a mulher. Violência sexual.
Abstract
INTRODUCTION: Fournier syndrome is a severe necrotizing fasciitis that affects the perineal and genital regions, characterized by rapid progression and high mortality. In immunosuppressed patients, its progression tends to be more aggressive due to impaired immune response, making diagnosis and clinical management significant challenges for the multidisciplinary team. OBJECTIVE: To describe Fournier syndrome in immunosuppressed patients: challenges and intensive management strategies. METHODOLOGY: This is an integrative literature review conducted in the LILACS, MEDLINE, and SciELO databases, using the DeCS/MeSH descriptors: “immunosuppression,” “intensive care,” and “necrosis,” combined by the Boolean operators AND and OR. Articles published between 2020 and 2024, available in full text in Portuguese, English, and Spanish, were included. Duplicate studies, gray literature, and articles not directly related to the topic were excluded. RESULTS AND DISCUSSION: The selected studies showed that immunosuppressed patients have a higher risk of rapid progression, severe infectious complications, and high mortality. Early diagnosis, immediate surgical debridement, and broad-spectrum antibiotic therapy were crucial for therapeutic success. Intensive support, including hemodynamic, ventilatory, and nutritional care, is essential to stabilize the clinical condition and reduce complications. The management of Fournier’s syndrome requires continuous multidisciplinary intervention, focusing on early identification of clinical signs and rapid intervention. Immunosuppression is an aggravating factor, hindering infection control and prolonging hospital stays. Strategies based on care protocols and intensive monitoring have proven effective in reducing mortality. CONCLUSION: Fournier’s syndrome in immunosuppressed patients is a highly complex medical emergency that requires an integrated approach, early debridement, and qualified intensive care. Strengthening multidisciplinary practices and prompt recognition of clinical signs are essential to improve prognosis and quality of care.
Keywords: Comprehensive women’s health care. Multidisciplinary team. Women’s health services. Sexual violence
INTRODUÇÃO
A Síndrome de Fournier é uma forma grave e rapidamente progressiva de fasciíte necrosante que acomete a região perineal, genital e perianal, caracterizando-se por uma infecção polimicrobiana que leva à destruição dos tecidos subcutâneos e fáscias musculares. Trata-se de uma emergência médica e cirúrgica, cuja mortalidade permanece elevada mesmo com o avanço das terapias antimicrobianas e dos cuidados intensivos. O diagnóstico precoce e o manejo adequado são fatores determinantes para o prognóstico dos pacientes acometidos (Penha et al., 2024).
A doença foi descrita pela primeira vez em 1883 pelo médico francês Jean-Alfred Fournier, que relatou casos de gangrena genital em homens jovens previamente saudáveis. Atualmente, sabe-se que a síndrome não se restringe a esse grupo, podendo afetar também mulheres, crianças e, principalmente, indivíduos imunocomprometidos. Essa mudança no perfil epidemiológico reflete a ampliação dos fatores predisponentes associados à imunossupressão, como diabetes mellitus, neoplasias, infecção pelo HIV, uso prolongado de corticosteroides e terapias imunobiológicas (Penha et al., 2024).
Os pacientes imunossuprimidos apresentam maior vulnerabilidade à infecção pela incapacidade do sistema imunológico de conter a proliferação bacteriana. Nesses casos, a Síndrome de Fournier tende a apresentar evolução mais rápida, resposta terapêutica reduzida e maior risco de complicações sistêmicas. A deficiência imunológica contribui para o estabelecimento de um ambiente propício à disseminação dos microrganismos e à necrose tecidual, agravando o quadro clínico e dificultando o controle da infecção (Barbosa et al., 2022).
Do ponto de vista microbiológico, a síndrome é geralmente causada por uma infecção mista envolvendo bactérias aeróbias e anaeróbias. Os principais agentes etiológicos incluem Escherichia coli, Klebsiella spp., Streptococcus spp., Staphylococcus aureus e Bacteroides fragilis. Essa combinação de microrganismos favorece a produção de toxinas e enzimas que destroem os tecidos, comprometendo a circulação local e acelerando o processo de necrose. A compreensão da etiologia é essencial para a escolha adequada da antibioticoterapia empírica e direcionada (Barbosa et al., 2022).
O diagnóstico clínico precoce é desafiador, especialmente em pacientes imunossuprimidos, nos quais os sinais clássicos de infecção, como febre e leucocitose, podem estar ausentes. O reconhecimento rápido de sintomas como dor desproporcional à lesão, edema, eritema e crepitação na região genital ou perineal é crucial. A confirmação diagnóstica pode ser auxiliada por exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, que permitem avaliar a extensão da infecção e orientar o planejamento cirúrgico (Moreira et al., 2017)
O tratamento da Síndrome de Fournier é complexo e multidisciplinar, exigindo a integração entre equipes de cirurgia, terapia intensiva, infectologia e enfermagem. A conduta baseia-se na associação entre antibioticoterapia de amplo espectro, desbridamento cirúrgico agressivo e suporte intensivo. A rapidez na tomada de decisão é fundamental, uma vez que cada hora de atraso no desbridamento está associada ao aumento da mortalidade. O manejo cirúrgico visa remover todo o tecido necrosado e controlar a infecção, sendo muitas vezes necessário realizar múltiplas intervenções (Silva; Colombo, 2021).
O cuidado intensivo desempenha papel central na estabilização clínica dos pacientes. A sepse e o choque séptico são complicações frequentes, exigindo monitorização rigorosa, reposição volêmica, uso de drogas vasoativas e suporte ventilatório quando necessário. A equipe de enfermagem tem atuação essencial no controle rigoroso dos sinais vitais, na prevenção de infecções secundárias e na manutenção da integridade da ferida cirúrgica. Além disso, o suporte nutricional adequado é indispensável para favorecer a cicatrização e a recuperação imunológica (Silva; Colombo, 2021).
Nos pacientes imunossuprimidos, a abordagem deve ser ainda mais cautelosa, com atenção especial à correção das condições predisponentes e à otimização do estado imunológico. A interrupção temporária de terapias imunossupressoras, quando possível, pode contribuir para a recuperação da resposta imune. O acompanhamento laboratorial contínuo, com avaliação dos parâmetros inflamatórios e metabólicos, é imprescindível para guiar as condutas terapêuticas e prevenir complicações sistêmicas (Souza et al., 2019).
Apesar dos avanços tecnológicos e terapêuticos, a mortalidade associada à Síndrome de Fournier permanece alta, variando entre 20% e 40%, sendo ainda maior entre pacientes imunossuprimidos. Essa elevada taxa reflete não apenas a gravidade da doença, mas também as dificuldades relacionadas ao diagnóstico tardio e à resistência bacteriana crescente. Nesse contexto, a prevenção e o reconhecimento precoce dos fatores de risco assumem papel estratégico no enfrentamento da síndrome (Souza et al., 2019).
Portanto, estudar a Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos é essencial para compreender os desafios clínicos e organizacionais envolvidos em seu manejo. A análise das estratégias de tratamento intensivo, bem como o papel das equipes multiprofissionais, contribui para aprimorar o cuidado e reduzir a mortalidade. O tema tem grande relevância para a prática clínica e para a enfermagem, pois envolve não apenas o domínio técnico, mas também a sensibilidade no cuidado de pacientes em condições críticas e potencialmente fatais.
Justifica-se pela necessidade de aprofundar o conhecimento sobre a Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos, uma condição rara, porém extremamente grave, que representa um grande desafio para a equipe multiprofissional de saúde. Esses pacientes apresentam maior vulnerabilidade à infecção e evolução mais rápida da doença, o que exige diagnóstico precoce, intervenções imediatas e manejo intensivo adequado. Dessa forma, o estudo é relevante por contribuir para a compreensão dos fatores de risco, das dificuldades encontradas no tratamento e das estratégias que podem otimizar o cuidado, reduzir a mortalidade e aprimorar a qualidade da assistência prestada em ambientes hospitalares, especialmente nas unidades de terapia intensiva.
METODOLOGIA
Este estudo consiste em uma revisão integrativa da literatura, elaborada conforme o modelo metodológico proposto em seis etapas: (1) identificação do tema e formulação da questão norteadora; (2) definição dos critérios de inclusão e exclusão; (3) categorização dos estudos e determinação das informações a serem extraídas; (4) avaliação crítica dos estudos selecionados; (5) interpretação dos resultados; e (6) apresentação da revisão com síntese do conhecimento (Sousa et al., 2018). Essa metodologia foi escolhida por permitir uma análise ampla, sistemática e crítica da produção científica existente sobre a Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos, favorecendo a compreensão dos principais desafios clínicos, terapêuticos e organizacionais envolvidos no manejo intensivo dessa condição.
A questão norteadora da pesquisa foi construída com base na estratégia PICo, adequada para revisões qualitativas, em que P representa a população ou problema de interesse, I o fenômeno de interesse e Co o contexto (Araújo, 2020). A partir dessa estrutura, formulou-se a seguinte pergunta: “Quais são os principais desafios e estratégias de manejo intensivo descritos na literatura científica sobre a Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos?”. Essa questão guiou todo o processo de busca, seleção e análise dos estudos, assegurando a coerência metodológica e a relevância das evidências para os objetivos da pesquisa.
A busca dos artigos foi realizada nas bases de dados LILACS, MEDLINE (via Biblioteca Virtual em Saúde – BVS) e SciELO, reconhecidas por sua abrangência e qualidade científica. Foram utilizados os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) e os Medical Subject Headings (MeSH), combinados com os operadores booleanos AND e OR para otimizar os resultados. Os descritores empregados foram: “Síndrome de Fournier”, “imunossupressão”, “terapia intensiva”, “infecções necrosantes” e “manejo clínico”. A busca contemplou publicações entre os anos de 2019 e 2024, disponíveis em texto completo e gratuito, nos idiomas português, inglês e espanhol.
Foram incluídos os estudos que abordavam, de forma direta, aspectos clínicos, terapêuticos e de manejo intensivo da Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos, incluindo relatos de caso, revisões, estudos observacionais e experimentais. Foram excluídos os artigos duplicados, textos que tratavam da síndrome em populações não imunossuprimidas, publicações sem acesso integral e literatura cinzenta (como teses, dissertações e anais de eventos).
O processo de seleção foi conduzido em duas etapas: inicialmente, realizou-se a leitura dos títulos e resumos para identificar a pertinência dos estudos; em seguida, os artigos potencialmente elegíveis foram submetidos à leitura integral, a fim de confirmar sua adequação aos critérios definidos. Essa triagem criteriosa buscou garantir a qualidade e a consistência das informações incluídas na revisão.
Das publicações selecionadas, foram extraídas informações referentes a: autores, ano de publicação, objetivos, tipo de estudo, perfil dos pacientes, intervenções realizadas, desfechos clínicos, complicações associadas, estratégias de manejo intensivo e principais conclusões. A análise dos dados foi conduzida de forma qualitativa e descritiva, permitindo identificar padrões de tratamento, condutas terapêuticas, desafios enfrentados pelas equipes multiprofissionais e avanços na abordagem dos pacientes imunossuprimidos.
A avaliação crítica dos estudos considerou a relevância metodológica, a clareza dos objetivos, a consistência dos resultados e a aplicabilidade das estratégias apresentadas na prática clínica. Essa análise foi fundamental para distinguir evidências robustas das observações pontuais, assegurando a validade científica da síntese final.
Os resultados foram organizados e sintetizados em categorias temáticas que abordaram aspectos como: fisiopatologia da Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos, fatores de risco, diagnóstico precoce, abordagens terapêuticas, cuidados intensivos e o papel da equipe multiprofissional. Essa categorização possibilitou uma visão integrada dos desafios clínicos e das condutas mais eficazes descritas na literatura.
A sistematização das evidências obtidas permitiu a elaboração de uma síntese crítica sobre as práticas e estratégias de manejo intensivo da Síndrome de Fournier em indivíduos imunossuprimidos, destacando lacunas no conhecimento e oportunidades para aprimoramento dos protocolos assistenciais. Essa abordagem reforça a importância da atuação interdisciplinar, do reconhecimento precoce dos sinais clínicos e da intervenção imediata como determinantes para a sobrevida desses pacientes.
Dessa forma, a presente revisão integrativa busca contribuir para o avanço do conhecimento científico sobre uma patologia de alta complexidade e risco, promovendo reflexões relevantes para a prática clínica, o cuidado intensivo e o desenvolvimento de estratégias que qualifiquem o atendimento a pacientes imunossuprimidos acometidos pela Síndrome de Fournier.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
A Síndrome de Fournier apresenta-se como uma infecção necrosante de rápida progressão e elevada letalidade, cuja gravidade é intensificada em pacientes imunossuprimidos. O comprometimento do sistema imunológico torna o organismo incapaz de responder adequadamente à invasão bacteriana, permitindo a disseminação rápida da infecção pelos tecidos moles. Esse cenário cria um desafio clínico significativo, já que o curso da doença é frequentemente mais agressivo, e a resposta às terapias convencionais tende a ser mais limitada nesses indivíduos (Andrade et al., 2024).
Nos casos observados na literatura, a imunossupressão tem diversas origens, incluindo o uso prolongado de corticosteroides, a presença de doenças autoimunes, transplantes de órgãos sólidos, neoplasias malignas e infecções virais como o HIV. Pacientes com diabetes mellitus, por sua vez, representam uma parcela expressiva dos acometidos, devido à hiperglicemia crônica e à disfunção vascular, que favorecem o crescimento bacteriano e reduzem a oxigenação tecidual. Essas condições criam um ambiente propício para o surgimento e a evolução da Síndrome de Fournier (Andrade et al., 2024)
Os estudos analisados apontam que o início dos sintomas costuma ser insidioso, mas a progressão é extremamente rápida. Dor intensa na região perineal, desproporcional à lesão aparente, é um dos primeiros sinais relatados, acompanhada de edema, eritema e, posteriormente, de necrose e secreção fétida. Em pacientes imunossuprimidos, no entanto, os sintomas podem se apresentar de forma atípica, com manifestações locais discretas e sinais sistêmicos ausentes ou retardados, o que frequentemente leva ao atraso diagnóstico (Cornejo; Campos, 2024).
Esse diagnóstico tardio é um dos principais fatores associados ao aumento da mortalidade. O reconhecimento precoce dos sinais clínicos e o estabelecimento do tratamento imediato são determinantes para o prognóstico. Exames de imagem, como tomografia computadorizada e ressonância magnética, têm se mostrado ferramentas essenciais para identificar a extensão da necrose e guiar o planejamento cirúrgico, principalmente nos casos em que a apresentação clínica é sutil (Cornejo; Campos, 2024).
No contexto hospitalar, o manejo da Síndrome de Fournier requer uma abordagem multidisciplinar intensiva. O tratamento baseia-se na tríade composta por antibioticoterapia de amplo espectro, desbridamento cirúrgico agressivo e suporte hemodinâmico intensivo. O uso de antimicrobianos deve abranger tanto bactérias aeróbias quanto anaeróbias, sendo comum a associação entre carbapenêmicos, aminoglicosídeos e metronidazol. Essa cobertura empírica inicial é ajustada posteriormente conforme os resultados das culturas microbiológicas (Silva et al., 2024).
O desbridamento cirúrgico é considerado o pilar fundamental da terapia. Estudos revisados relatam que a realização de múltiplas abordagens cirúrgicas é comum, devido à natureza progressiva da necrose. O objetivo principal é a remoção completa do tecido desvitalizado, prevenindo a disseminação da infecção e reduzindo a carga bacteriana. Nos casos mais graves, a extensão da necrose pode exigir reconstruções posteriores, com o uso de enxertos cutâneos ou retalhos musculares (Silva et al., 2024).
Nos pacientes imunossuprimidos, o risco de complicações pós-operatórias é substancialmente maior. A fragilidade imunológica compromete a cicatrização, aumenta a suscetibilidade a infecções secundárias e prolonga o tempo de internação hospitalar. Além disso, há maior probabilidade de necessidade de suporte ventilatório, uso prolongado de drogas vasoativas e intervenções adicionais para controle do foco infeccioso. Esses fatores, somados à instabilidade clínica, reforçam a importância do acompanhamento contínuo em unidades de terapia intensiva (Alves et al., 2022).
O suporte intensivo tem papel essencial na estabilização hemodinâmica e na prevenção do choque séptico. A sepse é uma das complicações mais frequentes e graves, sendo responsável por grande parte dos óbitos. O manejo inclui reposição volêmica rigorosa, administração de vasopressores e monitorização invasiva, além de controle glicêmico e suporte ventilatório quando necessário. A equipe multiprofissional atua de forma integrada, garantindo intervenções rápidas e adequadas às necessidades de cada paciente (Carnejo et al., 2024).
A atuação da enfermagem é especialmente relevante no contexto da Síndrome de Fournier. O cuidado contínuo com a ferida cirúrgica, o controle dos parâmetros vitais, a administração precisa de antibióticos e a prevenção de infecções hospitalares são responsabilidades fundamentais. Além disso, o apoio psicológico e o manejo da dor são aspectos indispensáveis para o conforto e a recuperação dos pacientes submetidos a múltiplas intervenções cirúrgicas e longos períodos de internação (Castro et al., 2021).
O suporte nutricional adequado também é um componente indispensável do tratamento intensivo. A desnutrição é comum nesses pacientes devido à resposta hipermetabólica à infecção, às restrições alimentares e ao catabolismo acentuado. O fornecimento precoce de nutrição enteral ou parenteral é essencial para favorecer a cicatrização, fortalecer o sistema imunológico e reduzir complicações infecciosas (Carnejo et al., 2024).
Outro ponto recorrente nas publicações analisadas é o impacto psicológico e emocional causado pela Síndrome de Fournier. O trauma físico, as múltiplas cirurgias e as alterações corporais significativas, como perda de partes genitais, afetam profundamente a autoestima e a qualidade de vida. Nesse sentido, a abordagem multiprofissional deve incluir o acompanhamento psicológico e o apoio social, visando a reabilitação integral do paciente após a estabilização clínica (Miño et al., 2024).
As evidências demonstram que a taxa de mortalidade permanece elevada, variando entre 20% e 40%, mesmo com avanços tecnológicos e terapêuticos. Entre os pacientes imunossuprimidos, essa taxa pode ser ainda maior, alcançando índices superiores a 50%. A gravidade da infecção, o diagnóstico tardio, a resistência bacteriana e o estado imunológico comprometido são os principais fatores que contribuem para esse desfecho (Andrade et al., 2024).
Os estudos também destacam a importância da prevenção como estratégia fundamental para reduzir a incidência e a gravidade da Síndrome de Fournier. O controle rigoroso de doenças crônicas, o acompanhamento regular de pacientes imunossuprimidos e a educação em saúde são medidas eficazes para identificar precocemente sinais de infecção e prevenir complicações mais graves (Borges, 2021).
Do ponto de vista clínico e organizacional, o manejo da Síndrome de Fournier exige preparo técnico, estrutura hospitalar adequada e protocolos de atendimento bem estabelecidos. A integração entre cirurgiões, intensivistas, infectologistas, enfermeiros e nutricionistas é essencial para garantir uma abordagem global e eficaz. A comunicação entre os profissionais e o acompanhamento contínuo dos indicadores clínicos são determinantes para a redução da mortalidade e a recuperação funcional do paciente (Borges, 2021).
Diante de todos os achados, torna-se evidente que a Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos constitui uma emergência médica de extrema complexidade, cuja condução requer diagnóstico precoce, intervenção cirúrgica imediata e suporte intensivo contínuo. A literatura reforça que o sucesso terapêutico depende tanto da atuação técnica da equipe multiprofissional quanto da capacidade de identificar precocemente os fatores de risco e de promover cuidados humanizados e integrados, voltados à recuperação global do paciente (Junior et al., 2024).
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As evidências analisadas permitem concluir que a Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos representa um desafio clínico e terapêutico de alta complexidade, exigindo diagnóstico precoce, intervenção cirúrgica imediata e manejo intensivo rigoroso. A imunossupressão agrava a evolução da doença, aumenta o risco de complicações e eleva significativamente a taxa de mortalidade, reforçando a necessidade de protocolos assistenciais bem estruturados e atuação integrada entre as equipes multiprofissionais.
O tratamento eficaz depende da rapidez na identificação dos sinais iniciais, da escolha adequada da antibioticoterapia e da execução de desbridamentos cirúrgicos sucessivos, aliados a suporte hemodinâmico, nutricional e psicológico intensivo. Dessa forma, o manejo da Síndrome de Fournier em pacientes imunossuprimidos deve ser pautado em estratégias multidisciplinares que visem não apenas o controle da infecção e a preservação da vida, mas também a reabilitação integral e a melhoria da qualidade da assistência prestada.
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1Graduanda em Enfermagem – Faculdade de Educação em Ciências da Saúde – kerymeloenf@gmail.com
2Graduando de medicina – Escola Superior de Ciências da Santa Casa de Misericórdia de Vitória (EMESCAM). https://orcid.org/0000-0002-7408-3887
3Graduando em Enfermagem – Uninassau.
4Bacharela em Medicina – Universidade Federal de Pelotas (UFPEL).
5Bacharela em Enfermagem, Pós-graduada em Saúde da Família Universidade Tiradentes. https://orcid.org/0009-0007-8727-3042.
6Bacharel em Enfermagem, Pós-graduando em Gestão da Saúde – Universidade Federal Rural de Pernambuco (UFRPE). https://orcid.org/0009-0009-2609-9647
7Bacharel em Enfermagem, pós-graduado em Docência em Enfermagem, Enfermagem Pediátrica e Saúde Mental – Universidade Paulista. https://orcid.org/0009-0003-5741-9945
8Licenciatura em História e Pedagogia, Pós-graduação em Atendimento Educacional Especializado e Neuroeducação – Autarquia Educacional do Belo Jardim (AEB).
9Bacharela em Medicina – Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). https://orcid.org/0000-0002-2996-4909.
10Bacharel em Enfermagem – Universidade Estadual da Paraíba (UEPB). https://orcid.org/0009-0003-8048-1923.
11Bacharela em Enfermagem – Faculdade (UNIRB).
12Bacharela em Enfermagem – Universidade Estácio de Sá.
