SÍNDROME DE BURNOUT: IMPACTOS NA SAÚDE OCUPACIONAL E ESTRATÉGIAS DE PREVENÇÃO NA SAÚDE PUBLICA

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ar10202502261552


Camila Magalhães Seixas¹


Resumo

A síndrome de Burnout é um fenômeno ocupacional reconhecido pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como resultado do estresse crônico no ambiente de trabalho que não foi gerenciado com sucesso. Caracteriza-se por exaustão emocional, despersonalização e redução da realização profissional, impactando diretamente a produtividade e a saúde dos trabalhadores. Este estudo tem como objetivo analisar os impactos da síndrome de Burnout na saúde ocupacional, com enfoque nas consequências para os trabalhadores e no afastamento laboral. Além disso, discute estratégias de prevenção e promoção da qualidade de vida no ambiente de trabalho, com ênfase na saúde publica. A metodologia adotada inclui uma revisão bibliográfica baseada em publicações cientificas e diretrizes de saúde ocupacional, além de um estudo de caso que ilustra a relação entre Burnout e afastamentos laborais. Os resultados demonstram a importância da implementação de políticas de prevenção e do fortalecimento da assistência psicossocial no ambiente de trabalho. Conclui-se que a gestão da saúde ocupacional deve ser uma prioridade para reduzir os impactos do Burnout na saúde publica e no sistema previdenciário.

Palavras-chave: Burnout, saúde ocupacional, afastamento no trabalho, qualidade de vida no trabalho.

1. Introdução

O ambiente de trabalho tem um papel fundamental na qualidade de vida dos trabalhadores, podendo ser um fator de proteção ou um gatilho para doenças ocupacionais. A síndrome de Burnout, classificada pela OMS no CID-11 como um fenômeno ocupacional, está relacionada ao estresse crônico no trabalho e à incapacidade de enfrentamento adequado das demandas profissionais. Essa condição afeta não apenas a saúde mental dos trabalhadores, mas também impacta diretamente a economia e o sistema de saúde publica, uma vez que pode levar a afastamentos laborais e aposentadorias precoces.

Este estudo busca compreender os impactos da síndrome de Burnout na saúde ocupacional e discutir estratégias eficazes de prevenção e intervenção no contexto da saúde pública. A pesquisa aborda a relevância do tema na atualidade, considerando o aumento do absenteísmo, a sobrecarga mental dos trabalhadores e as limitações dos modelos tradicionais de gestão do estresse ocupacional.

2. Revisão de Literatura

2.1 Conceito e Diagnostico da Síndrome de Burnout

A síndrome de Burnout foi inicialmente descrita por Freudenberger em 1974 e posteriormente aprofundada por Maslach e Jackson, que desenvolveram o Maslach Burnout Inventory (MBI), instrumento amplamente utilizado para avaliação do transtorno. Segundo a OMS, a síndrome é caracterizada por três dimensões principais:

  • Exaustão emocional: Sensação de esgotamento físico e mental;
  • Despersonalização: Distanciamento emocional e negativismo em relação ao trabalho e às pessoas;
  • Baixa realização profissional: Sentimento de ineficácia e falta de motivação no ambiente de trabalho.

2.2 Fatores de Risco Ocupacionais

Os principais fatores ocupacionais associados ao Burnout incluem:

  • Carga horária excessiva e alta demanda de trabalho;
  • Falta de autonomia e controle sobre as tarefas;
  • Conflitos interpessoais no ambiente profissional;
  • Falta de reconhecimento e suporte da gestão;
  • Trabalho emocionalmente exigente, especialmente em profissões como saúde, educação e segurança publica.

2.3 Consequências para a Saúde e o Trabalho

Estudos indicam que a síndrome de Burnout está associada a diversos impactos negativos, como:

  • Aumento dos casos de depressão e transtornos de ansiedade;
  • Maior risco de doenças cardiovasculares e distúrbios do sono;
  • Redução da produtividade e aumento do absenteísmo;
  • Maior incidência de afastamentos laborais e aposentadorias precoces por invalidez.

3. Metodologia

Este estudo adota uma abordagem qualitativa baseada em revisão bibliográfica e estudo de caso. Foram analisadas publicações cientificas indexadas em bases de dados como PubMed, Scielo e Google Scholar, além de diretrizes oficiais da OMS e do Ministério da Saúde. O estudo de caso foi conduzido com base na análise de prontuários de trabalhadores afastados por diagnostico de Burnout, avaliando fatores de risco, tempo de afastamento e estratégias de intervenção.

4. Resultados e Discussões

A revisão bibliográfica evidencia que a síndrome de Burnout está diretamente associada a ambientes de trabalho de alta demanda e baixa autonomia. Profissionais da saúde, professores e trabalhadores do setor público são especialmente vulneráveis. O estudo de caso analisado demonstrou que trabalhadores afastados por Burnout frequentemente apresentam comorbidades psiquiátricas associadas, como transtorno depressivo maior e transtorno de ansiedade generalizada, reforçando a necessidade de intervenções precoces.

Os dados coletados também destacam a importância da implementação de políticas de prevenção, como programas de bem-estar no trabalho, suporte psicológico, acompanhamento periódico com Médico do Trabalho e ajustes na carga de trabalho. Países que adotaram estratégias de gestão de estresse ocupacional, como a Suécia e a Alemanha, registraram redução nos afastamentos laborais e melhora na satisfação profissional.

5. Estratégias para Redução de Afastamentos

Para mitigar os afastamentos decorrentes da síndrome de Burnout, diversas estratégias podem ser adotadas:

5.1 Promoção da Saúde Mental no Ambiente de Trabalho: Implementação de programas de assistência psicológica e terapia ocupacional para apoiar os profissionais no gerenciamento do estresse.

5.2Gestão de Carga Horaria: Redução de jornadas exaustivas e adoção de escalas mais flexíveis, permitindo períodos de descanso adequados.

5.3 Treinamento e Educação: Capacitação continua dos profissionais em estratégias de resiliência, técnicas de mindfulness ( técnica de meditação para se concentrar no aqui e agora) e inteligência emocional.

5.4 Melhoria das Condições de Trabalho: Oferta de espaços adequados para descanso, melhoria na infraestrutura e revisão das condições ergonômicas do ambiente laboral.

5.5 Apoio Organizacional: Desenvolvimento de uma cultura organizacional que valorize o bem-estar dos trabalhadores, promovendo diálogos abertos e práticas de reconhecimento profissional.

5.6 Monitoramento Continuo: Implementação de indicadores para avaliar o nível de estresse ocupacional e ações preventivas baseadas em dados coletados periodicamente.

5.7 A aplicação dessas estratégias pode contribuir significativamente para a redução dos afastamentos laborais, promovendo um ambiente de trabalho mais saudável e sustentável para os profissionais da saúde.

6. Conclusão

Diante do aumento da incidência de Burnout no ambiente de trabalho, especialmente no setor da saúde publica, torna-se imperativo o desenvolvimento e a implementação de estratégias eficazes para sua prevenção e manejo. A síndrome de Burnout não apenas compromete a saúde física e mental dos trabalhadores, mas também impacta a qualidade dos serviços prestados à população e a sustentabilidade dos sistemas de saúde.

A adoção de políticas públicas voltadas para a promoção do bem-estar no ambiente ocupacional, a criação de programas institucionais de apoio psicológico e a flexibilização da carga de trabalho são medidas essenciais para reduzir os índices de afastamento e promover um ambiente de trabalho mais saudável. Além disso, a valorização do profissional, a oferta de treinamentos contínuos e a construção de uma cultura organizacional que priorize o equilíbrio entre vida profissional e pessoal são fundamentais para mitigar os efeitos do Burnout.

Portanto, o enfrentamento da síndrome de Burnout deve ser uma prioridade tanto para gestores de saúde quanto para os próprios profissionais, exigindo uma abordagem integrada e multidisciplinar. Somente por meio de ações coordenadas e sustentáveis será́ possível garantir a qualidade de vida dos trabalhadores e a eficiência dos serviços de saúde publica.

A síndrome de Burnout é um problema crescente na saúde ocupacional, impactando não apenas os trabalhadores, mas também o sistema de saúde publica e previdência social. Este estudo reforça a necessidade de estratégias preventivas para mitigar os impactos do estresse ocupacional. Entre as medidas recomendadas, destacam-se a criação de programas de suporte psicológico, flexibilização da jornada de trabalho e campanhas de conscientização sobre saúde mental no ambiente corporativo.

A pesquisa sugere que novas investigações sejam realizadas para avaliar a eficácia das estratégias de prevenção e para desenvolver protocolos de intervenção mais eficazes para trabalhadores em risco.

7. Referencias Bibliográficas

– OMS. Internacional Classification of Diseases 11th Revision (CID-11). 

– Maslach, C., Jackson, S. “Burnout: The Cost of Caring”.

– Artigos acadêmicos sobre saúde ocupacional e Burnout.


¹médica, atuando em medicina do trabalho no serviço publico do Estado do Tocantins, no Núcleo de Atenção a Saúde do trabalhador, em atendimento ocupacional junto aos servidores públicos. E-mail: kmilaseixas@hotmail.com