SÍNDROME DE BURNOUT ENTRE ENFERMEIROS

REGISTRO DOI: 10.69849/revistaft/ni10202412071528


Gabriela Morais Guarido1
Roseangela da Silva Basílio1
Priscila da Silva Miranda1
Orientadora: Adriana Nastaro Cinelli


RESUMO: O estudo realizou uma pesquisa de revisão integrativa buscando identificar por meio da literatura, a ocorrência da Síndrome de Burnout (SB) e esgotamento profissional, entre os profissionais enfermeiros. Visto que a SB é uma condição psicossocial resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho e considerando o aumento de casos de SB entre enfermeiros, torna-se importante investigar os fatores estressores relacionados ao trabalho do enfermeiro. Foram selecionados 18 artigos, publicados no período de 2019 à 2023 para compor o estudo. Os resultados apontaram níveis de moderado/alto de SB nos profissionais enfermeiros em vários setores de trabalho, relacionados a uma variedade de fatores preditores tais como: exaustão emocional, insatisfação, falta de investimentos em pessoas e recursos. Vale ressaltar que estresse, sobrecarga, esgotamento emocional, insatisfação, frustação, desvalorização, se associaram às sensações de sofrimento. Alertando que os enfermeiros estão adoecendo em decorrência de condições inadequadas de trabalho, sobrecargas físicas, mentais e emocionais, estresse ocupacional e a falta de reconhecimento. Portanto torna-se importante criar estratégias que possam contribuir para a diminuição dos casos, fazendo com que os enfermeiros adquiram mais apoio emocional, mental, qualidade de vida no trabalho, bem estar e psicossocial, gerando ambientes de trabalhos saudáveis.

Palavras-chave: Síndrome de Burnout. Enfermagem. Esgotamento profissional.

ABSTRACT: The study carried out an integrative review research seeking to identify, through literature, the occurrence of Burnout Syndrome (BS) and professional exhaustion among professional nurses. Since BS is a psychosocial condition resulting from chronic stress in the workplace and considering the increase in BS cases among nurses, it is important to investigate the stressors related to nurses’ work. 18 articles, published between 2019 and 2023, were selected to compose the study. The results showed moderate/high levels of BS in nursing professionals in various work sectors, related to a variety of predictive factors such as: emotional exhaustion, dissatisfaction, lack of investment in people and resources. It is worth highlighting that stress, overload, emotional exhaustion, dissatisfaction, frustration, devaluation, were associated with feelings of suffering. Warning that nurses are falling ill as a result of inadequate working conditions, physical, mental and emotional overload, occupational stress and lack of recognition. Therefore, it is important to create strategies that can contribute to reducing cases, enabling nurses to acquire more emotional, mental, quality of life at work, well-being and psychosocial support, generating healthy work environments.

Keywords: Burnout Syndrome. Nursing. Professional burnout.    

1. INTRODUÇÃO

A Síndrome de Burnout (SB) é uma condição psicossocial resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho (1). A SB é definida como uma manifestação psicológica dividida em três dimensões: exaustão emocional, sensação de esgotamento de recursos físicos e emocionais; despersonalização ou cinismo, reação negativa ou excessivamente distanciada em relação às pessoas que devem receber o cuidado/serviço; e baixa realização pessoal, sentimentos de incompetência e de perda de produtividade (2). Várias ferramentas de avaliação são utilizadas para detectar a SB, entre elas o Maslach Burnout Inventory (MBI), desenvolvido por Maslach e Jackson em 1981 (1).

Atualmente, a SB é reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (OMS) como uma doença ocupacional e está incluída na Classificação Estatística Internacional de Doenças (CID11). Profissionais da saúde, especialmente enfermeiros, estão suscetíveis ao seu desenvolvimento (1). Essa classe de trabalhadores frequentemente sofre influência de vários estressores vistos no ambiente de trabalho, sendo assim estão mais propensos a desenvolver o estresse ocupacional, devido ao trabalho exaustivo e tenso, que poderá ocasionar uma SB. A ocorrência de SB entre os enfermeiros é mais elevada do que em outros profissionais da saúde, uma vez que eles vivenciam situações de muita pressão, além de atuarem no contato direto com os pacientes com prognósticos diferentes e diversos graus de sofrimento (3).

Estudos mostram que a SB impacta negativamente a equipe de enfermagem, comprometendo a qualidade do atendimento ao paciente. Os sintomas da síndrome podem prejudicar a tomada de decisões e dificultar o estabelecimento de relações terapêuticas com os pacientes (1). No âmbito pessoal, a SB diminui, significativamente, o bem-estar pessoal desencadeando sentimentos de insatisfação e infelicidade que podem ter consequências psicológicas como falta de vontade e ânimo para atividades habituais, desenvolvimento de transtorno de pânico, ansiedade generalizada e pode até levar ao suicídio (4).

De acordo com dados da Associação Nacional de Medicina do Trabalho, aproximadamente 30% dos trabalhadores brasileiros sofrem com a SB. Atualmente, o Brasil é o segundo país com mais casos diagnosticados no mundo. Ficando atrás do Japão que é o país com mais casos de SB, cerca de 70% da população (5).

Considerando o aumento de casos de SB entre enfermeiros, torna-se importante investigar os fatores estressores relacionados ao trabalho do enfermeiro.

OBJETIVO

Identificar por meio da literatura, a ocorrência da Síndrome de Burnout e esgotamento profissional, entre os profissionais enfermeiros.

MATERIAL E MÉTODO

Pesquisa de revisão integrativa da literatura. Para o levantamento bibliográfico foram utilizadas as bases eletrônicas científicas: biblioteca virtual em saúde Scientific Electronic Libary On Line (SCIELO). Foram definidos três descritores: Síndrome de Burnout / enfermagem / esgotamento profissional, associados com o operador booleano “AND”. A pesquisa ocorreu nos meses de agosto e setembro de 2024 obedecendo os critérios de inclusão: artigos publicados em português entre 2019 e 2023 relacionados ao tema e ao objetivo do trabalho e com texto completo. Os critérios de exclusão adotados foram: artigos de revisão bibliográfica, editoriais, resumos, dissertações e teses.

RESULTADOS

Foram encontrados 219 artigos utilizando os descritores citados acima, conforme busca na base de dados da SCIELO. Selecionados artigos com pesquisa de campo aplicada no Brasil, com linguagem em Português, publicados entre os anos de 2019 a 2023, com tema relacionado a Ciências de Saúde, Enfermagem e com texto completo, tendo restado 29 artigos.

A partir da leitura de cada artigo, foram excluídos 11 artigos. Restando, 18 artigos relacionados ao tema e ao objetivo do trabalho que foram selecionados para compor a revisão.

A busca na literatura foi limitada por período de tempo, entre os anos avaliados, o menor fluxo de publicações elegíveis foi 2019, com apenas 01 artigo. O ano com maior número de publicações foi 2022, com 06 artigos.

A quantidade de participantes do estudo variou entre 17 e 1052 profissionais enfermeiros, sendo predominante o sexo feminino, com variação da faixa etária entre 33 à 45 anos de idade.

Os artigos foram classificados por autor/ano, base utilizada, tema, método aplicado e a conclusão apresentada (Quadro 1).

Quadro 1 – Artigos inclusos para revisão.

AUTOR/ANOBASETEMAMÉTODOCONCLUSÃO
Aragão et al. 2020SCIELOSíndrome de burnout e Fatores Associados em Enfermeiros de Unidade de Terapia IntensivaEstudo transversal, populacionalIdentificado a prevalência da SB em 53,6% nos enfermeiros. Observou-se associação com vários fatores. Os resultados deste estudo podem contribuir para ampliação de discussão sobre condições estressantes no ambiente de Unidade de Terapia Intensiva.
Borges et al. 2020SCIELOBurnout entre enfermeiros: um estudo multicêntrico comparativoEstudo descritivo, correlacional, comparativo e transversal, de natureza quantitativa.  Os resultados sugerem que essa síndrome em enfermeiros é um fenômeno global. Estressores diários e maiores demandas da profissão de enfermagem são elementos cruciais para preparar os enfermeiros para lidar com situações complexas, evitar burnout e reduzir o impacto negativo na sua saúde e na qualidade dos cuidados que prestam.    
Borges et al. 2022SCIELOQualidade de vida no trabalho e Burnout em trabalhadores da estratégia saúde da família.  Estudo correlacional, transversal.Analisou a correlação entre qualidade de vida no trabalho e as dimensões do Burnout em trabalhadores da Estratégia Saúde da Família. Conclui-se que a correlação negativa forte entre Exaustão Emocional e os domínios Físico/Saúde.
Borges et al. 2022SCIELOQualidade de vida no trabalho e Burnout em trabalhadores da estratégia saúde da família.Estudo correlacional, transversalConcluiu-se que os melhores índices de Qualidade de vida no trabalho estiveram correlacionados a menores escores de exaustão emocional e despersonalização e a maiores escores de realização profissional.
Boufleuer et al. 2023SCIELO“Tentamos salvar vidas e nossas próprias vidas”:  o trabalho da enfermagem na pandemia da COVID-19.Estudo exploratório e descritivo de natureza qualitativa.O estudo concluiu que a pandemia  e falta de preparo contribuiram para o aumento do desgaste da enfermagem. Sugerindo investigar a formação de recursos emocionais e gerenciais das equipes para o enfrentamento das adversidades.
Magalhães et al. 2021SCIELOEsgotamento profissional da equipe de enfermagem atuante no enfrentamento à pandemia do novo coronavírus.Estudo transversal de natureza descritiva, inferencial e comparação múltiplaIdentificou o esgotamento profissional, onde o Burnout foi significativamente presente entre os enfermeiros do sexo feminino. O presente estudo reforçou a necessidade de elaborar estratégias de promoção de saúde do trabalhador para reduzir risco assistências laborais.      
Medeiros et al. 2023SCIELOEstresse e sofrimento em Enfermeiros Hospitalares: Relação com variáveis pessoais, laborais e hábitos de vidaEstudo transversal, quantitativo, exploratório e correlacional  O estresse vivenciado na atividade laboral do enfermeiro recebe forte influência da baixa remuneração. O esgotamento profissional e a falta de reconhecimento são estressores que impulsionam mecanismos de defesa, entre eles o desejo de mudar de emprego.    
Möller et al. 2021.SCIELOAmbiente de prática de enfermagem em terapia intensiva e burnout profissionalEstudo transversal, descritivo com abordagem quantitativa dos dadosO controle do ambiente, a autonomia e o suporte foram considerados pontos críticos, destacando a importância avaliar fatores das instituições que possam melhorar as condições laborais para a equipe de enfermagem.  
Moreira e Lucca 2020SCIELOFatores Psicossociais e Síndrome de burnout entre os profissionais dos serviços de saúde mentalEstudo transversal de abordagem quantitativaO baixo controle foi o principal fator psicossocial no trabalho associado à Síndrome de Burnout, tornando necessário o desenvolvimento de ações que promovam a autonomia do trabalhador e a melhoria da gestão dos fatores psicossociais desencadeantes de estresse.  
Rhoden et al. 2021SCIELOEstresse e resiliência de enfermeiros antes e depois da avaliação para acreditação hospitalar  Pesquisa observacional e longitudinal, de natureza quantitativa.Gerenciar pessoas, processos e assistência são atividades desgastantes no processo de acreditação e elevamos níveis de estresse dos enfermeiros. 
Ribeiro et al. 2020SCIELOInfluência da síndrome de burnout na qualidade de vida de profissionais da enfermagem: estudo quantitativoEstudo transversal, analítico.A síndrome de burnout apresenta influência no desfecho de qualidade de vida de profissionais da enfermagem, sendo mais prevalente entre profissionais com idade mais avançada e renda elevada.
Robba et al. 2022SCIELOImpacto na saúde mental de enfermeiros pediátricos: um estudo transversal em hospital pediátrico terciário durante a pandemia de COVID-19Estudo transversal.Concluiu-se que os enfermeiros estavam em linha de frente em condições precárias, equipe reduzida e perdas expressivas de renda. Ansiedade e burnout foram condições mentais na realidade desses profissionais.
Rohwedd er1 et al. 2023SCIELOAssociação entre comportamentos ofensivos e risco de burnout e de depressão em trabalhadores de saúdeEstudo transversal, descritivo, de natureza quantitativa.  Comportamentos ofensivos no trabalho em saúde são frequentes e característicos; o burnout e os sintomas depressivos aumentam as chances do trabalhador sofrer comportamentos ofensivos no ambiente de trabalho.
Saura et al. 2022.SCIELOFatores associado ao Burnout em equipe multidisciplinar de um hospital oncológicoTrata-se de um estudo quantitativo do tipo descritivo, com descrição observacional e transversal.Muitas variáveis estavam relacionadas a fatores associados ao burnout, identificando perigo iminente aos trabalhadores e expondo os pacientes e a instituição.    
Sillero e Zabalegui 2019SCIELOAnálise do ambiente laboral e intenção de enfermeiras perioperatórias de abandonar o trabalhoEstudo transversal na área cirúrgica de um hospital universitário público espanhol.Deve-se considerar implementar estratégias de retenção das enfermeiras perioperatória e criar ambiente de trabalho positivos baseados nos valores magnéticos.    
Tavares et al. 2022SCIELOAlterações psíquicas em profissionais da enfermagem pertencentes ao grupo de risco para complicações da COVID-19.Estudo transversal multicêntrico.Concluiu-se que o grupo de risco apresenta maior exposição às alterações psíquicas. O estudo contribuiu para planejamento de intervenções laborais, a fim de diminuir fatores de acometimento da SB.    
Viana e Kawagoe 2023SCIELOPronto Socorro e COVID-19: Burnout e empatia reportada pelos profissionais de enfermagem e percebida pelos pacientes.Estudo transversal.Investigou a SB e empatia entre equipe de enfermagem e paciente. Concluiu-se que os profissionais apresentaram baixo nível de SB e alto nível de empatia.    
Vieira et al. 2022SCIELOBurnout e resiliência em profissionais de enfermagem de terapia intensiva frente à COVID-19: estudo multicêntrico:Estudo transversal multicêntrico, de delineamento transversal.Concluiu-se que a resiliência interfere nos domínios: desgaste emocional e baixa realização. Sendo desenvolvido a resiliência no âmbito institucional para moderar o adoecimento.  
Villagran et al. 2022SCIELOAssociação do sofrimento moral e Síndrome de Burnout em enfermeiros de hospital universitárioEstudo descritivo-analíticoOs resultados sinalizam a necessidade de investigar intervenções urgentes para amenizar as situações e as manifestações do sofrimento moral e a síndrome de Burnout, elaborando estratégias para a saúde dos trabalhadores.

DISCUSSÃO

A SB é um transtorno psicológico provocado pela exposição constante ao estresse no ambiente de trabalho (6). Subdividida em três dimensões: exaustão emocional, despersonalização e realização profissional a SB é caracterizada como um grande risco profissional, desde a década de 1970 e nos ultimos 10 anos tem se tornado prevalente. Em maio de 2019 destacou-se como sendo um fenômeno ocupacional (4,6).

No Brasil, Espanha e Portugal, aproximadamente 42% dos enfermeiros apresentavam níveis moderados/altos de Burnout, portanto os resultados sugerem que a SB em enfermeiros é um fenômeno global (6). Em um Hospital Universitário público espanhol de alta tecnologia, 20% das enfermeiras perioperatórias relataram a vontade de abandonar o trabalho (7). Os fatores preditores para o abandono foram: exaustão emocional, insatisfação, falta de investimentos em pessoas e recursos. Ambos os artigos utilizaram a escala de Maslach Burnout Inventory (MBI) e destacam a importância de investimentos na infraestrutura criando ambientes de trabalho positivos (6,7).

A SB esta associada ao setor de trabalho, uso de psicotrópicos, baixo controle no trabalho e insatisfação com a chefia, quando analisada dentro da Saúde Mental. Para esta análise foram utilizados instrumentos de pesquisa a escala Job Stress Scale e MBI (8).

Os enfermeiros que apresentaram maiores fatores associados a SB, em um hospital oncológico foram onde os profissionais que mais presenciaram número de óbitos, conflitos no seu ambiente de trabalho, com jornada noturna, faziam de uso de fármacos e não praticavam crença religiosa. Enfatizando a importância da educação permanente e bem-estar biopsicossocial do profissional ao enfermeiro oncológico (9).

Analisando e comparando níveis de estresse e resiliência antes e depois da avaliação para a acreditação hospitalar, concluiu-se que nos dois momentos avaliados, os níveis de estresse se mantiveram médios e os profissionais encontravam-se com capacidade de resiliência média e alta. Os resultados encontrados podem ser utilizados para desenvolver estratégias para redução do estresse e manter os profissionais saudáveis e produtivos. Como instrumento para coleta de dados foram utilizadas a Escala Bianchi de Stress e a Escala de Resiliência (10).

Analisando a associação entre Sofrimento Moral (SM) e SB através do questionário sociodemográfico e laboral, Escala Brasileira de Distresse Moral em Enfermeiros e MBI, identificou-se que enfermeiros em baixa realização profissional e em alta exaustão emocional apresentaram níveis mais elevados para sofrimento moral, sinalizam que há a necessidade de investigar intervenções para amenizar as manifestações de SM e SB, criando estratégias para a saúde dos trabalhadores (11).

Afim de identificar as possíveis associações entre estresse e o sofrimento com as variáveis pessoais, laborais e hábitos de vida, utilizando o inventário de Estresse em Enfermeiros e Escala de Indicadores de Prazer e Sofrimento no Trabalho mostrou-se que o estresse, sobrecarga, esgotamento emocional, insatisfação, frustação, desvalorização, se associaram às sensações de sofrimento. Alertando que os enfermeiros estão adoecendo em decorrência de condições inadequadas de trabalho, sobrecargas físicas, mentais e emocionais, estresse ocupacional e a falta de reconhecimento (12).

Para analisar a correlação entre qualidade de vida no trabalho e as dimensões do Burnout na Estratégia Saúde da Família, identificou-se que os melhores índices de qualidade de vida no trabalho estiveram correlacionados à menores indicadores de exaustão emocional (13). A SB em um Pronto Atendimento apresenta influência no desfecho de qualidade de vida dos enfermeiros. Para coleta de dados foram utilizados o questionário de avaliação da qualidade de vida no trabalho e o MBI, destaca-se a necessidade de desenvolvimentos de estratégias e ações para melhorias das condições da qualidade de vida no trabalho e menores chances de adoecimento por Burnout (13,14).

Avaliando e comparando a prevalência de Burnout entre os enfermeiros da Unidade de Terapia Intensiva utilizando como instrumento para a coleta de dados o Nursing Work Index – Revised e MBI, nota-se que a prevalência de Burnout entre enfermeiros chega a 2,5% no Hospital público e a 9,1% no privado (15). Em Unidade de Terapia Intensiva identifica-se a prevalência de fatores associados à SB em 53,6% nos enfermeiros avaliados na pesquisa (16). Estes estudos relacionam a importância de avaliar fatores que contribuam para melhorar as condições laborais dos enfermeiros (15,16).

Analisando as dimensões do Burnout e a resiliência no trabalho dos enfermeiros em setor de Terapia Intensiva, utilizando como instrumento para coleta de dados, a MBI e Resilience at Work Scale 20 mostra-se que a resiliência interfere nos níveis do desgaste emocional e baixa realização profissional, tendo a necessidade de promover o desenvolvimento da resiliência no âmbito institucional, a fim de moderar o adoecimento (17). Compreendendo as complicações das condições de trabalho durante a pandemia, utilizando como método um questionário sociodemográfico, laboral e de saúde, evidenciou-se o aumento de demandas de trabalho e da exaustão e falta de apoio da instituição. Considerou-se que a pandemia fomentou desgaste dos enfermeiros com destaque na falta de preparo para situações de crise, sugerindo ser investido na formação de recursos emocionais para enfrentamento das adversidades (18). Afim de investigar a SB e empatia correlacionada entre enfermeiros e pacientes, foi realizado estudo em um Pronto Socorro público e constatou-se que os enfermeiros reportaram baixo nível de SB e alto nível de empatia na pandemia (19). Com a finalidade de identificar o esgotamento profissional e fatores associados nos enfermeiros, utilizando a ferramenta a MBI o estudo concluiu que a presença do Burnout foi significativamente prevalente entre os enfermeiros, tendo a necessidade de elaboração de estratégias de promoção de saúde do trabalhador proporcionando melhorias do serviço de saúde e redução de risco laboral (20). Identificando as alterações psíquicas em enfermeiros pertencentes ou não ao grupo de risco para complicações da COVID-19, utilizando a MBI e Self-Reporting Questionnaire, mostrou que os enfermeiros pertencentes ao grupo de risco apresentaram maior exposição à alterações psíquicas, porém a SB não tem relação a pertencer ou não ao grupo de risco. O planejamento de intervenções laborais visa diminuir possíveis fatores relacionados a SB e a distúrbios psíquicos menores (21). Para avaliar problemas de saúde utilizando o método de pesquisa o MBI e questionário Research Electronic Data Capture, mostra que a maioria dos enfermeiros que atuavam na linha de frente do COVID-19, trabalhando com equipe reduzidas e condições precárias apresentaram SB e ansiedade (22). Comportamentos ofensivos no trabalho, estresse, SB e depressão em enfermeiros também foi sinalizado, através de um formulário eletrônico gratuito via Google Forms, utilizando questionário sociodemográfico e laboral, a versão curta do Copenhagem Psychosocial Questionnaire II e o inventário de depressão de Beck II, demonstrando que a ocorrência de comportamentos ofensivos no trabalho é frequente. A SB e os sintomas depressivos sinalizam a necessidade de maior atenção à saúde mental dos trabalhadores, adotando medidas que inibem práticas ofensivas e construindo um ambiente de trabalho saudável (23).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerando o aumento de casos de SB entre enfermeiros, torna-se importante investigar os fatores estressores relacionados ao trabalho, ainda criar estratégias que possam contribuir para a diminuição dos casos, fazendo com que os enfermeiros adquiram mais apoio emocional, mental, qualidade de vida no trabalho, bem estar e psicossocial, gerando ambientes de trabalhos saudáveis. Há a necessidade de investimentos na infraestrutura no local de trabalho, na saúde mental, a fins de minimizar o estresse, sobrecarga emocional, física e mental, esgotamento emocional, insatisfação, desvalorização e frustração, pois são os fatores que contribuem para a SB, que é a condição psicossocial resultante do estresse crônico no ambiente de trabalho. Uma vez que minimizamos os fatores de risco da síndrome, temos profissionais saudáveis, com melhores performances de trabalho.

REFERÊNCIAS

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1UNIFACCAMP