SÍNDROME DE BURNOUT EM TERAPEUTAS OCUPACIONAIS: UMA REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

BURNOUT SYNDROME IN OCCUPATIONAL THERAPISTS: INTEGRATIVE REVIEW OF THE LITERATURE

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10476854


Adriele Cristine Jimenes Pereira1
Samantha Hanna Seabra Castilho Simões2


Resumo 

A Terapia Ocupacional é uma profissão que atua com as ocupações humanas e, para tanto, intervém quanto a prevenção, tratamento, habilitação e/ou reabilitação de indivíduos com alterações perceptivas, cognitivas, afetivas e psicomotoras. Dessa forma, um evento atual que elevou os prejuízos à saúde mental de terapeutas ocupacionais foi, principalmente, a pandemia de 2019, também popularmente conhecido como COVID-19, devido, por exemplo a elevação do nível de estresse orgânico gerado pelas mudanças nas atividades de vida diárias e preocupações com a saúde de familiares. Sendo assim, este estudo objetivou descrever os fatores de risco ocupacional e proteção para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout em terapeutas ocupacionais. Dessa forma, realizou-se uma Revisão Integrativa da Literatura, com busca direcionada ao período de janeiro de 2018 a junho de 2023, na Biblioteca Virtual em Saúde, no Portal de Periódicos da CAPES e no American Journal of Occupational Therapy. Após a busca inicial, foi encontrado o total de 1203 artigos, após aplicados os critérios de exclusão, a leitura completa e excluídas as duplicatas obteve-se uma seleção de 10 artigos incluídos no presente estudo. Logo, foi possível perceber que os ambientes de trabalho com atividades mais intensas, com maior rotatividade e menores retornos financeiros colaboram para o mal-estar e esgotamento dos terapeutas ocupacionais criando um cenário propício para o surgimento da Síndrome de Burnout. Dessa forma, fatores protetivos devem ser aplicados visando o bem-estar dos terapeutas ocupacionais, de modo que estes possam realizar seus trabalhos em sua máxima potencialidade. 

Palavras-chave: Terapia Ocupacional. Saúde Mental. Saúde Ocupacional. 

Abstract 

Occupational Therapy is a profession that deals with human occupations and, as such, intervenes in the prevention, treatment, training, and/or rehabilitation of individuals with perceptual, cognitive, affective, and psychomotor alterations. Thus, a current event that has increased the mental health damages to occupational therapists was mainly the 2019 pandemic, also popularly known as COVID-19, due, for example, to the elevation of organic stress levels generated by changes in daily life activities and concerns about the health of family members. Therefore, this study aimed to describe the occupational risk and protective factors for the development of Burnout Syndrome in occupational therapists. Thus, an Integrative Literature Review was conducted, with a targeted search from January 2018 to June 2023, in the Virtual Health Library, in the CAPES Periodicals Portal, and in the American Journal of Occupational Therapy. After the initial search, a total of 1203 articles were found. After applying exclusion criteria, conducting a thorough reading, and eliminating duplicates, a selection of 10 articles included in this study was obtained. Therefore, it was possible to perceive that work environments with more intense activities, higher turnover, and lower financial returns contribute to the discomfort and exhaustion of occupational therapists, creating a conducive scenario for the emergence of Burnout Syndrome. Thus, protective factors should be applied to promote the well-being of occupational therapists, allowing them to perform their work to the fullest potential. 

Keywords: Occupational Therapy. Mental Health. Occupational Health. 

1. INTRODUÇÃO 

A Terapia Ocupacional é a profissão que possui a expertise para utilizar a ocupação humana como objeto terapêutico. De modo que os terapeutas ocupacionais utilizam de seus conhecimentos para proporcionar melhor engajamento e participação social, além de analisar profundamente sobre o contexto e o envolvimento do indivíduo em ocupações significativas, para assim conceber planos de intervenções baseados nas ocupações (GOMES et al., 2020). 

Nesse sentido, a ocupação dá sentido às pessoas, ressignifica-as, gera bem-estar, permite que se definam, participem de grupos sociais e, ao mesmo tempo, se diferenciam, com suas particularidades e singularidades. Dessa forma, quanto a atuação em Saúde Mental, o terapeuta ocupacional busca maneiras de possibilitar que o indivíduo em sofrimento mental possa retomar as suas atividades cotidianas com independência e autonomia, uma vez que, geralmente, os indivíduos encontram-se fragilizados em relação a estes aspectos, afetando as suas questões, por exemplo, sociais e laborais (OSÓRIO, 2022). 

Por outro lado, quando ocorreu a Pandemia do Coronavirus disease em 2019 (COVID-19), evidenciou-se a importância de cuidar da saúde mental de toda a população, inclusive dos terapeutas ocupacionais; ao passo que o aumento dos prejuízos à saúde mental da população ocorreu devido a elevação do nível de estresse orgânico gerado pelo distanciamento social, mudanças nas atividades de vida diárias, comprometendo o ritmo social, agudizando preocupações com a saúde de familiares, modificações de rotina e perda de contato social, ou seja, várias foram as ameaças às ocupações (ARAÚJO et al., 2022). 

Em pessoas com transtornos mentais pré-existentes, todos esses problemas podem surgir com maior gravidade, com possíveis prejuízos nas relações sociais, nas atividades de autocuidado e na adesão à medicação (FERRARI, p. 2, 2022). 

Dessa maneira, intensificou-se a visualização da Síndrome de Burnout no contexto pandêmico, uma vez que a jornada sobrecarregada de trabalho causada pelo COVID-19, principalmente aos profissionais da saúde, cresceu de maneira desorganizada, ocasionando perturbações psicológicas e sociais, terminando por interferir na qualidade de vida dos profissionais da saúde, a qual, por vezes, acaba sendo negligenciada (BORGES, 2021).

Logo, foi possível acompanhar mais frequentemente que o nível de estresse crônico gerado no contexto ocupacional do trabalho, em uma situação atípica como a pandemia do COVID-19, ao não ser gerenciado com sucesso, demonstra o que é conceituado no Código Internacional de Doenças (CID-11) como: Síndrome de Burnout. Síndrome que possui três dimensões: 1- exaustão emocional que caracteriza-se por sensação de esgotamento emocional e físico; 2- despersonalização que revela-se através de atitudes de distanciamento emocional e 3- diminuição nos sentimentos de competência e realização no trabalho, sensação de ineficácia e falta de realização. 

Na comunidade científica há poucos artigos a respeito da síndrome de Burnout especificamente em terapeutas ocupacionais (FERREIRA, 2020). Logo, este estudo apresentou como objetivo descrever os fatores de risco ocupacional e proteção para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout em terapeutas ocupacionais. Visto que o estresse orgânico no ambiente ocupacional é um problema cada vez mais atual em diversas áreas e pode estar relacionado aos aspectos do processo de trabalho, como: à organização, à administração e às relações interpessoais. 

Em razão de a jornada de trabalho ser exaustiva, haver baixa remuneração, os procedimentos serem complexos e os profissionais estarem em exposição prolongada a todos esses estressores no ambiente laboral, o aumento da exaustão emocional é favorecido. Ademais, a baixa realização profissional, por sua vez, também causa riscos para a saúde do trabalhador (SHIN et al., 2022). 

O mundo contemporâneo é marcado pelo ritmo acelerado, a demanda por multitarefas e o bombardeio de informações. Uma vez que todos esses fatores são amplificados no cenário de atuação de terapeutas ocupacionais, tais fatores afetam diretamente a capacidade profissional desses indivíduos gerando um impacto direto na sua qualidade de vida (REIS et al., 2018). 

Em contrapartida diante da realidade observada nas aulas práticas e teóricas, acerca das questões que envolviam os reflexos de fatores psicossomáticos nas atividades ocupacionais de indivíduos, consequentemente, no seu estado geral de saúde, emergiu a decisão em pesquisar sobre essa temática para compreender a ocorrência da Síndrome de Burnout em terapeutas ocupacionais. 

Dessa forma, entender os processos que podem estar envolvidos com o surgimento de sintomas da Síndrome de Burnout em terapeutas ocupacionais é fundamental, já que pode ser limitador das atividades ocupacionais gerando um impacto na qualidade de vida, ou seja, é imprescindível reconhecer os sintomas, para que ocorra a prevenção da síndrome. Diante disso, podemos alcançar esse objetivo é agregar ao conhecimento científico os resultados sobre, por meio de uma revisão integrativa da literatura. 

2. METODOLOGIA 

Trata-se de uma Revisão Integrativa da Literatura de caráter empírico sobre a ocorrência da Síndrome de Burnout em terapeutas ocupacionais. Esse tipo de pesquisa é utilizado para identificar, reunir/analisar e sintetizar o conhecimento, por meio da análise estendida e aprofundada dos resultados dos estudos publicados. A partir desses segmentos, é possível sintetizar os achados sobre determinado tema ou questão, assim como sinalizar lacunas que necessitam de mais estudos para serem preenchidas (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2008). 

Para elaboração dessa pesquisa, foram seguidas as 6 etapas de construção da revisão integrativa, segundo (Mendes, Silveira e Galvão, 2008): 

1) estabelecimento da hipótese ou questão de pesquisa, 2) amostragem ou busca na literatura; 3) categorização dos estudos; 4) avaliação dos estudos incluídos na revisão; 5) interpretação dos resultados; 6) síntese do conhecimento ou apresentação da revisão. 

Sendo assim, para direcionar a presente revisão, surge a seguinte questão norteadora: ‘’Quais são as evidências disponíveis na literatura sobre os fatores de risco e proteção para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout em terapeutas ocupacionais?’’. Logo, com base no acrônimo PCC que significa ‘’População, Conceito e Contexto’’, foi possível organizar a o seguinte estrutura: População: Terapeuta Ocupacional, Conceito: Síndrome de Burnout e Contexto: Fatores de risco e de proteção ocupacional. 

Vale ressaltar que foram elencados como critérios de inclusão: artigos completos disponíveis gratuitamente e integralmente, com tema apresentado de modo isolado ou em conjunto a outras temáticas, desde que contendo a atuação terapêutica ocupacional, publicados no período de janeiro de 2018 a julho de 2023, ou seja, contemplando os estudos dos últimos 5 anos, os mais atuais na comunidade científica. Optou-se por realizar o levantamento bibliográfico dos últimos cinco anos, pois compreende-se que esse intervalo temporal representa as publicações mais recentes na comunidade científica. 

Quanto aos critérios de exclusão, compreendem: publicações que não respeitassem a delimitação do tema e o objetivo do estudo, bem como as resultantes de artigos de opinião, estudos de caso ou reflexão, apostilas, cartas, anais de eventos científicos, bancos de Teses e Dissertações, por serem documentos que não foram submetidos a revisão por pares editoriais, assim como, documentos ministeriais, capítulos de livro e artigos duplicados.

Para a construção deste trabalho, o levantamento dos estudos bibliográficos ocorreu sem uma escolha específica das bases de dados que seriam utilizadas. Dessa forma, foi realizada a busca na Biblioteca Virtual em Saúde (BVS), na American Journal of Occupational Therapy (AJOT) e no Portal de Periódicos da CAPES. Para melhor identificação dos estudos pretendidos, utilizaram-se combinações dos seguintes Descritores em Ciências da Saúde (DeCS): ‘’Terapia Ocupacional’’, ‘’Burnout’’ e ‘’Saúde Ocupacional’’. Sendo a busca realizada com tais descritores nos idiomas português e inglês, e os artigos a serem selecionados sendo apenas nesses 2 idiomas também. 

Para identificação dos melhores resultados, todos os descritores citados anteriormente foram associados pelo operador booleano “AND” e adicionado ‘’AND NOT’’ para excluir ‘’terapia intensiva’’ visto este estar ampliando o quantitativo de resultados não correspondentes. Seguindo-se ainda a especificidade de cada base de dados, utilizando: parênteses, aspas e colchetes sempre que necessário, com filtro de busca direcionada ao título, resumo e assunto do artigo. 

Após a aplicação da estratégia de busca (como demonstrado no quadro 1) em cada uma das bases de dados, os resultados obtidos foram exportados para o software gerenciador de referências Mendeley – Reference Management Software. 

Quadro 1: Estratégia de busca dos descritores nas bases de dados selecionadas.

Fonte: Arquivo pessoal, 2023.

A análise dos estudos selecionados ocorreu de forma descritiva, a fim de possibilitar a observância e a descrição dos dados, dessa forma sendo possível reunir o conhecimento sintetizado sobre a temática em questão. A partir do referencial, foram elaboradas 3 categorias empíricas, que foram apresentadas na discussão. 

Para garantir o sucesso deste estudo, foram descritos e distribuídos os resultados em tabelas, com destaque para os principais achados de cada pesquisa. Quanto à discussão, foi realizada a elucidação de forma descritiva, a fim de alcançar os objetivos da construção de uma revisão integrativa. 

3. RESULTADOS E DISCUSSÕES 

Após a busca inicial nas bases de dados, foi encontrado o total de 1203 artigos, sendo 243 na BVS, 275 na AJOT e 685 na CAPES. Após aplicados os critérios de exclusão restaram 415 artigos que foram selecionados para leitura do título e resumo, restando assim um total de 142 artigos, destes foram excluídos após a leitura completa 113 artigos por estarem fora do tema ou por não se caracterizarem na proposta desta revisão ou não estarem disponíveis na íntegra gratuitamente. Restando assim 29 artigos o qual, após serem excluídas as duplicatas, obteve-se ao final uma seleção de 10 artigos incluídos na presente revisão. Todos os artigos incluídos tiveram em comum o fato de estarem na língua inglesa. 

3.1. Fatores de Risco 

A Síndrome de Burnout constitui uma variável de significativo interesse em investigações, dado que se encontra correlacionada ao desempenho laboral, em consonância com a complexidade e o caráter estimulante inerentes a todos os domínios de prática da Terapia Ocupacional (KATSIANA et al., 2021). 

Caracteriza-se por três níveis de dimensões: 1- fadiga emocional, 2- despersonalização no tratamento interpessoal e 3- dificuldade em sentir a redução da satisfação pessoal; sendo uma resposta a acontecimentos no contexto laboral durante um tempo prolongado e que se manifesta através de sinais e sintomas globais que variam conforme o indivíduo, surgindo de forma acumulativa e aumentando progressivamente a gravidade dos sintomas provocando graves consequências a médio e longo prazo, em diferentes níveis (KIM et al., 2020; ESCUDEIRO-ESCUDEIRO; SEGURA-FRAGOSO; CANTERO-GARLITO, 2020). 

A nível individual, pode ocasionar fadiga crônica, cefaléia, mialgias, distúrbios do sono, hipertensão, maior incidência de abuso de álcool e drogas e suscetibilidade a ocorrência de acidentes de trabalho; a nível cognitivo-emocional, cria sensação de desamparo e fracasso, ansiedade, dificuldade de concentração e tomada de decisões, diminuição da autoestima, avaliação negativa e pensamentos suicidas; No âmbito do espectro sócio-familiar, observa-se tanto a degradação dos laços interpessoais, quanto o acentuamento dos conflitos no seio familiar (ESCUDEIRO-ESCUDEIRO; SEGURA-FRAGOSO; CANTERO-GARLITO, 2020). 

A nível organizacional, as consequências observadas são o absenteísmo, o aumento da rotatividade de pessoal e a deterioração da qualidade dos serviços, incluídas as intervenções realizadas pelos próprios terapeutas ocupacionais (ESCUDEIRO-ESCUDEIRO; SEGURA-FRAGOSO; CANTERO-GARLITO, 2020). 

Apontadas as consequências, evidencia-se a Síndrome de Burnout enquanto problemática que engloba não somente o ambiente de trabalho, ao passo em que as consequências advindas da mesma atingem variados aspectos da vida dos indivíduos acometidos. Mas também, representa um problema social e de saúde pública crescente, com impacto na saúde dos profissionais e implicação de elevados préstimos socioeconômicos, ao que o esgotamento dos terapeutas ocupacionais pode afetar não somente na qualidade de vida, mas também a eficácia dos serviços de tratamento (ESCUDEIRO-ESCUDEIRO; SEGURA-FRAGOSO; CANTERO-GARLITO, 2020; PARK, 2021). 

Portanto, destacam-se como fatores de risco: diferenças de gênero na experiência de discriminação pessoal, esgotamento e elevação do nível de estresse ocupacional entre fisioterapeutas e terapeutas ocupacionais, associados à perda de emprego, má qualidade do trabalho e elevada rotatividade (LEE et al., 2021). 

Entre as variáveis psicológicas, verificou-se que os maiores desafios no trabalho e acréscimos e intenção de rotatividade estavam associados a altos níveis da Síndrome de Burnout (PARK, 2021). Outras descobertas revelam as diferenças observadas entre a Síndrome de Burnout e o estado civil: ser solteiro denota níveis mais elevados de esgotamento. Relevante também é a forma com que se dispõe o horário de trabalho, de modo que profissionais com turnos divididos manifestaram maior percentual de Burnout que os que trabalhavam em apenas um dos turnos — manhã ou tarde (ESCUDEIRO-ESCUDEIRO; SEGURA-FRAGOSO; CANTERO-GARLITO, 2020). 

Surpreendentemente, dados sugerem altos níveis de esgotamento emocional associados à imposição de manter-se e preservar uma rotina saudável (ROUNDY et al., 2023). Observa-se, assim, fatores de risco vinculados ao ambiente de trabalho, mas não necessariamente ligados exclusivamente a esse, e sim apresentando reações provenientes de altas demandas e pressões existentes nesses espaços, que configuram e fazem a manutenção de tais mecanismos, de modo a exigir cada vez mais do empregado, em tempo mais curto e com maior qualidade.

Uma interpretação que poderia ser proferida é que a Síndrome de Burnout não é mais um fenômeno de acumulação do nível de estresse orgânico relacionado a frustração e negação de expectativas, uma vez que estudos apontam questões distintas do terapeuta ocupacional relacionadas a tópicos de identidade ocupacional e fraco reconhecimento interprofissional e interdisciplinar das atribuições essenciais da profissão (KATSIANA et al., 2021). 

Desse modo, é relevante ressaltar que a natureza laboral inerente à prática do terapeuta ocupacional demanda, por sua vez, tanto saúde psicológica equilibrada, quanto estabilidade emocional, uma vez que o aumento dos índices de estresse e exaustão amplia consideravelmente a probabilidade de não alcançar os objetivos profissionais e atender às necessidades dos clientes (KATSIANA et al., 2021). 

Assim, ao analisar os fatores de risco preponderantes, urge a proposição de alternativas que auxiliem a prevenção e diminuição de tais agravos gerados no ambiente laboral, ao mesmo tempo em que pauta-se a defesa das necessidades dos profissionais e valorização de seus respectivos desempenhos nos espaços laborais. 

Pautado nesse cenário, destacam-se os fatores protetivos como mecanismos importantes para o processo de melhora da saúde dos indivíduos. 

3.2. Fatores de Proteção 

Os resultados da pesquisa de Katsiana et al. (2021), evidenciam que os terapeutas ocupacionais constituem um dos grupos profissionais mais vulneráveis, havendo, contudo, escasso desenvolvimento no que tange à provisão de mecanismos para a sobrevivência e proteção destes profissionais. 

Shin et al. (2022) comprova, em seu estudo, que o esgotamento de profissionais terapeutas ocupacionais pode ser conceituado como uma questão de saúde e segurança no local de trabalho, detendo potencial para intervenções amplas envolvendo diversos grupos de segmentos interessados para os abordar, com enfoque em fatores estruturais. 

Nesse sentido, os supervisores também detêm função importante na redução desse esgotamento, podendo esses promover políticas e culturas no espaço laboral que apoiem os profissionais da área educacional. 

Ainda, verificou-se que a satisfação vinculada à renda financeira foi um fator protetivo contra sentimentos de esgotamento. Desse modo, uma forma de prevenir ou reduzir tal esgotamento está na defesa dos salários, sendo essa uma iniciativa que pode ser prestada e auxiliada por profissionais, mentores e educadores (SHIN et al., 2022). 

Nessa premissa, curiosamente, o esgotamento e sua mitigação podem estar mais associados ao fato de os profissionais encontrarem um sentimento de pertencimento no seu ambiente laboral. Visto que, apresentam funções ocupacionais que auxiliem que se alinhem com os seus valores e crenças, ou serem capazes de participar em um trabalho que ajuda a cumprir um senso de propósito na vida (ROUNDY et al., 2023). 

Outro fator relevante se mostrou como sendo o estado civil, ao que, conforme o resultado apresentado nas pesquisas, indica que o esgotamento de terapeutas ocupacionais casados foi menor do que nos solteiros, haja vista estes receberem apoio de suas famílias (PARK, 2021). No contexto de um bom relacionamento com os colegas, uma vez que os profissionais solteiros têm maior probabilidade de esgotamento, fornecer um sistema de apoio com amigos e colegas de trabalho poderia aliviar tais níveis, cujos objetivos e valor existem em uma vasta literatura (PARK, 2021; KATSIANA et al., 2021). 

Surge, então, na discussão, o termo ‘’Resiliência’’, que faz menção à capacidade de gerir o nível de estresse orgânico, adaptar-se a situações adversas e recuperar e aprender com contratempos inesperados, mantendo-se saudável. Nesse sentido, a resiliência pode ser importante para reduzir o esgotamento e promover o bem-estar entre os profissionais de saúde, especialmente durante períodos de elevada procura ocupacional e elevação do nível de estresse orgânico, como no caso da pandemia de COVID-19 abordada nos estudos de Roundy et al. (2023). 

Maior resiliência na atividade foi significativamente associada a menor esgotamento emocional, com a manutenção da perspectiva e gestão do estresse, sendo assim, as estratégias destinadas a abordar o esgotamento e a aumentar a resiliência entre os especialistas em reabilitação podem ser otimizadas quando relacionadas na melhoria dos comportamentos e atitudes associados à resiliência no ambiente de trabalho (ROUNDY et al., 2023). 

Outra investigação sugere, ainda, que a resiliência, a satisfação no trabalho e o esgotamento dos profissionais da saúde se vinculam à carga de trabalho, à autonomia, ao equilíbrio esforço-recompensa e ao apoio organizacional, os quais envolvem a colaboração entre organizações e médicos (ROUNDY et al., 2023). 

Nesse sentido, no Brasil, conforme estipulada pela Lei nº 8.856/94, de 1° de Março de 1994, os profissionais de Terapia Ocupacional ficam sujeitos à prestação máxima de 30 horas de trabalho, totalizando 6 horas diárias de serviços (BRASIL, 1994). 

Portanto, ao analisar os fatores favoráveis à proteção dos profissionais, nota-se que estar em ambientes laborais que respeitem o que é previsto pela Lei minimiza a possibilidades de maiores riscos ao desenvolvimento da Síndrome de Burnout. Além da valorização de vínculos afetivos e sociais entre colegas, amigos e companheiros como algo a se destacar, juntamente com melhores condições de infraestrutura e amparo financeiro, de modo a fomentar sentimentos de reconhecimento da profissão. 

Nesse sentido, visando reduzir riscos a grupos vulneráveis, faz-se necessário compreender a natureza do trabalho do terapeuta, os fatores que aumentam inevitavelmente o risco de estresse ocupacional e esgotamento, além de reduzir cargas de trabalho, melhorar dinâmicas para a eficiência do trabalho e criar ambientes de trabalho adequados (KIM et al., 2020). 

Logo, ao analisar os fatores protetivos evidenciados, tem-se a perspectiva de realização de uma análise crítica a respeito de sua empregabilidade nos variados indivíduos dos ambientes laborais, de modo a captar suas maiores demandas para, enfim, estabelecer ênfase na prática com os mecanismos protetivos adequados a tal população específica. 

Com isso em mente, há a necessidade de dialogar a respeito das variáveis que atingem os indivíduos, de maneira a identificar os fatores de maior prevalência entre esse público.

3.3. Dimensões em evidência 

Ao passo em que são realizados levantamentos tendo como contexto a Síndrome de Burnout relacionado à população de terapeutas ocupacionais, sendo adequados por apresentarem implicações segundo variáveis investigadas nos estudos (gênero, idade e carreira), esses também se apresentam insuficientes para uma verificação científica abrangente e sistemática das variáveis que afetam a Síndrome de Burnout em tais profissionais (PARK, 2021). 

Ainda, estudos individuais são aplicados em diferentes populações, com variedade em suas ferramentas, métodos de amostragem e estatísticos, e as características desses ensaios podem resultar em associações encontradas nos mesmos, que podem vir a ser contraditórias (PARK, 2021). 

Nesse sentido, Janus et al. (2018), caracteriza como a primeira subescala a exaustão emocional enquanto o sentir-se emocionalmente sobrecarregado e com menos recursos emocionais, que resulta em sentimentos de sobrecarga e enfrentamento de conflitos no trabalho; por sua vez, a segunda subescala é a despersonalização que significa indiferença ou reações negativas destinadas aos atos de alguém. Por último, a terceira subescala da Síndrome de Burnout diz respeito ao sentimento manifestado pelos participantes da pesquisa, marcado pela sensação de inadequação e inaptidão profissional, associada à incapacidade de enfrentar as exigências laborais. 

Nesse sentido, os estudos desse autor indicaram que os terapeutas ocupacionais examinados manifestam sintomas característicos de esgotamento profissional, com elevados níveis na subescala exaustão emocional (JANUS et al., 2018).

Durante a pesquisa de Park (2021), associações significativas entre variáveis pessoais foram relacionadas com estado civil, cargo, idade e escolaridade, apesar de não apresentarem grande tamanho de efeito. Ainda, no levantamento realizado por Kim et al. (2020), os terapeutas em hospitais de pequeno e médio porte tendem a apresentar níveis mais elevados de estresse no trabalho e esgotamento profissional, particularmente as mulheres na faixa dos 20 anos demonstraram maior vulnerabilidade à elevação do nível de estresse orgânico e esgotamento profissional. 

O esgotamento também pode resultar na redução da produtividade, na medida que aumentam o absenteísmo, custos com cuidados na saúde e intenções de abandonar a profissão (DELOS REYES, 2018). 

À medida que aumenta a qualidade dos serviços prestados nos hospitais e a busca pela satisfação dos pacientes, aumentam também os esforços organizacionais para potencializar a expressão emocional na prestação de serviços (PARK, 2021). Sob essa premissa, a exaustão psicológica entre os terapeutas ocupacionais é uma emblemática crítica que necessita de medidas contra-activas, por ameaçar o bem-estar psicológico e ser difícil de reverter (PARK, 2021). 

Dessa forma, é visível que o esgotamento também pode resultar na redução da produtividade, na medida que aumentam o absenteísmo, custos com cuidados na saúde e intenções de abandonar a profissão (DELOS REYES, 2018). 

Janus et al. (2018) ressaltam que trabalhar com indivíduos que enfrentam limitações pode ser exaustivo, sendo esse um cenário observado especialmente em casos em que um terapeuta ocupacional apresenta uma visão excessivamente idealista da profissão e seu confronto com a realidade leva a perda de energia e determinação no trabalho. 

Ademais, referindo-se aos diferentes preditores psicossociais relacionados a Síndrome de Burnout, o conflito de papéis, interação negativa entre o trabalho e a casa, o neuroticismo e o enfrentamento previram a exaustão emocional (JUY et al., 2022). Entretanto, a exaustão emocional não consegue captar todo o impacto do esgotamento na relação entre as pessoas e os seus empregos (DELOS REYES, 2018). 

Em seu tempo, o distanciamento é a reação inicial e instantânea à exaustão, o que sugere uma forte relação entre a exaustão emocional e a despersonalização, da mesma maneira que ambas podem estar presentes em uma situação de trabalho exigente combinada a uma perspectiva negativa dos clientes, o que também pode afetar o sentimento de realização de um indivíduo (DELOS REYES, 2018). 

Nesse sentido, a investigação, defesa e políticas futuras devem abordar os fatores estruturais e organizacionais relacionados ao esgotamento, visando mitigar consequências associadas e alavancar uma força de trabalho com produção de qualidade e próspera na Terapia Ocupacional (SHIN et al., 2022). 

Portanto, ficam evidentes os aspectos que atingem os profissionais com maior evidência, conectados esses, principalmente, a elementos como exaustão e esgotamento emocional, devendo-se empregar ações e medidas que desvendam e busquem maneiras efetivas de intervenção para com os profissionais assim afetados. 

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 

Observa-se que os contextos laborais mais intensos, caracterizados por elevada rotatividade e menores retornos financeiros, contribuem para o desconforto e o esgotamento dos profissionais de terapia ocupacional. Essa condição, somada ao escasso reconhecimento da profissão interdisciplinarmente e à limitada existência de uma rede de apoio individual, configura um ambiente propício para o desenvolvimento da Síndrome de Burnout. 

Fatores protetivos devem ser aplicados visando o bem-estar dos terapeutas ocupacionais, de modo que estes possam realizar suas atividades ocupacionais em sua máxima potencialidade. 

Ao descrever os fatores ocupacionais que contribuem ou reprimem pretensões sintomáticas da Síndrome de Burnout, espera-se contribuir para a prevenção e reconhecimento de casos, bem como dos aspectos de maior prevalência da doença nesse grupo, de forma que os fatores beneficentes elencados possam nortear futuras intervenções. 

Foi possível alcançar os resultados esperados, de maneira a ampliar saberes e conhecimentos acerca da Síndrome de Burnout. Dessa forma, contemplando os objetivos propostos pela pesquisa. Entretanto, durante a pesquisa, notou-se o déficit de artigos e produções científicas que tenham como ênfase essa temática, principalmente no que diz respeito ao cenário das atuais produções brasileiras, de modo que esse estudo almeja contribuir para com a área da saúde mental e saúde do trabalhador, buscando gerar maiores possibilidades de estudos e intervenções futuras voltadas a essa área. 

Recomenda-se à comunidade científica que aprofunde suas pesquisas e reflexões acerca da Síndrome de Burnout e a saúde mental do trabalhador, com destaque para os profissionais atuantes na área de Terapia Ocupacional, de forma a gerar mais conteúdos para futuros estudos na área. 

REFERÊNCIAS

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1Discente do Curso Superior de Terapia Ocupacional da Universidade do Estado do Pará Campus CCBS II e-mail: adriele.jimenes@gmail.com
2Docente do Curso Superior de Terapia Ocupacional do Instituto de Ciências da Saúde/ Faculdade de Fisioterapia e Terapia Ocupacional da Universidade Federal do Pará. Mestre em Psicologia (PPGP/UFPA). e-mail: samantha.simoes13@gmail.com