SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DE ENFERMAGEM: REVISÃO INTEGRATIVA DA LITERATURA

BURNOUT SYNDROME IN NURSING PROFESSIONALS

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10681575


Ana Carolina Carvalho Pinto¹;
Giovana Pires Marques²;
Carla Natalina da Silva Fernandes³.


Resumo

Este estudo teve como objetivo identificar na literatura científica evidências da Síndrome de Burnout em profissionais de enfermagem. Trata-se de um estudo do tiporevisão integrativa da literatura, utilizando o acrômio PICO para a elaboração da questão norteadora: Existem evidências científicas sobre a ocorrência da síndrome de burnout entre profissionais de enfermagem? Como bases de dados utilizou-se Institute for Scientific Information Web of Science, PubMed e Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS). Foram identificados 291 artigos, destes foram incluídos 04 artigos. A distribuição temporal foi entre os anos de 2020 a 2022. Em relação ao idioma todos os artigos foram publicados em Língua Inglesa. A partir da análise do resultado de todos os estudos, foram associados alguns fatores ao desenvolvimento da síndrome de burnout entre enfermeiros, sendo eles: ser mulher, experiência de trabalho, idade do enfermeiro e hierarquia de cargo, carga excessiva de trabalho nas instituições de saúde e no domicílio, estresse emocional, trabalho não avaliado e remuneração insuficiente, conflitos com funcionários, falta de apoio social, conflitos com outros enfermeiros e conflitos com médicos. Frente aos achados destes estudos, torna-se evidente a necessidade de criar estratégias a fim de diminuir o estresse no ambiente de trabalho, para compreender e minimizar os seus efeitos na vida das pessoas.

Palavras-chave: Esgotamento profissional. Exaustão emocional. Enfermagem.

Abstract

This study aimed to identify scientific literature evidence about Burnout Syndrome among nursing workers. This is an Integrative Literature Review conducted according to the PICO acronym to develop the clinical question: Is there scientific evidence on the occurrence of burnout syndrome among nursing professionals? Searches were carried out in the Institute for Scientific Information Web of Science, PubMed, and Latin American and Caribbean Literature in Health Sciences (LILACS) databases. 291 articles were identified, of which 4 articles were included. The studies were between the years 2020 and 2022. About language, all articles were published in English. According to the analysis of all studies, some factors were associated with the development of burnout syndrome among nurses, such as: being a woman, work experience, nurses’ age and job hierarchy, excessive workload in health institutions and at home, emotional stress, unevaluated work and underpayment, lack of social support, conflicts with other nurses and with doctors. Given the findings, it becomes evident the need to create strategies to reduce stress in the workplace, to understand and minimize its effects on people’s lives.

Keywords: Professional burnout. Emotional exhaustion. Nursing.

1. INTRODUÇÃO

O trabalho pode ser entendido como uma atividade que possibilita a socialização, a construção da identidade e a sobrevivência dos indivíduos. Contudo, observa-se que o impacto do trabalho e sua grande influência na construção do sujeito, pode favorecer a expressão da subjetividade das pessoas promovendo a saúde ou as adoecendo. Isso somado ao fato de o capitalismo globalizado com suas marcas de exigência de produtividade e da imponderabilidade em ter/manter emprego, promove o desmonte do processo de proteção social, que por vezes causa o medo do desemprego impactando diretamente na saúde mental do trabalhador (FRANCO; DRUCK; SILVA, 2010).

Neste sentido, o estresse no trabalho é decorrente da inserção do indivíduo num contexto laboral desfavorável, pois o trabalho pode representar fonte de insatisfação. Isso acontece devido ao trabalho ser entendido como um ambiente ameaçador para o indivíduo, ressoando no plano de vida pessoal e profissional, como consequência da alta demanda exercida sobre os trabalhadores serem maiores do que suas capacidades de enfrentamento. Além disso, nas instituições hospitalares os profissionais de enfermagem são diariamente expostos a riscos ocupacionais (biológico, ergonômico, físico e mental) aqueles relacionados a estressores que podem desencadear seu adoecimento físico e mental (SOUZA; SILVA; COSTA, 2018).

O estresse ocupacional dentre as possibilidades de conceito pode ser compreendido como o vínculo entre uma demanda psicológica excessiva e o pouco domínio acerca do trabalho. Normalmente é gerado em um contexto desagradável, que impacta na qualidade de vida física e emocional, esta ideia se forma a partir da percepção do trabalhador de que o ambiente de trabalho o qual está inserido ameaça a sua integridade e saúde física e/ou mental, pois acredita que este espaço exerce demandas intensas e excessivas (PERNICIOTTI et al., 2020).

Ressalta-se que apenas o estresse não é capaz de acarretar alguma enfermidade do corpo ou algum distúrbio de caráter relevante, isto acontece exclusivamente quando está relacionado a outras situações. Os prováveis indícios da exibição prolongada do trabalhador ao estresse ocupacional é o desencadeamento da Síndrome de Burnout (SB) ou esgotamento profissional, o qual ocorre em profissionais, afetando principalmente os que estão em grande contato com os usuários de seus serviços, entre eles os profissionais da saúde, policiais, educação, assistentes sociais, entre outros (PERNICIOTTI et al., 2020).

Diante disso surgiu a necessidade de pesquisar tal temática que teve como questão norteadora: Existem evidências científicas sobre a ocorrência da síndrome de burnout entre profissionais de enfermagem?

Assim sendo, o objetivo do estudo foiidentificar na literatura científica evidências de Síndrome de Burnout em profissionais de enfermagem (enfermeiros, técnicos de enfermagem e auxiliares de enfermagem).

2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

A SB é um processo iniciado com excessivos e prolongados níveis de estresse (tensão) no trabalho. As características individuais associadas às do ambiente e às do trabalho propiciaram o aparecimento dos fatores multidimensionais da síndrome: exaustão emocional, despersonalização e diminuição da realização pessoal (TRIGO; TENG; HALLAK, 2010).

A exaustão emocional se refere ao esgotamento de recursos tanto físicos como mentais e resulta ao sentimento de carência de energia e entusiasmo em relação ao trabalho. A despersonalização não pertence ao fato do indivíduo mudar a sua personalidade repentinamente, relaciona-se aos sentimentos de atitudes negativas e insensíveis, de cinismo e de ironia, tendo como resultado a diminuição do envolvimento emocional no trabalho em relação às pessoas com as quais o sujeito trabalha. A diminuição da realização profissional caracteriza-se por um sentimento de insatisfação e incompetência com o desenvolvimento profissional, que promovem o abandono da profissão (OKWARAJI; AGUWA, 2014).

Assim, o trabalho ao qual são inseridos traz impacto à saúde física e mental desses profissionais, podendo induzir a insatisfação e exaustão, afetando diretamente a qualidade do serviço prestado. Nesse contexto, favorece o surgimento de agravos biopsicossociais, apresentando sintomas de estresse até agravar seu quadro e evoluir para a SB (DOS SANTOS et al., 2022).

Percebe-se que esta síndrome pode afetar o indivíduo como um todo com diferentes manifestações de sintomas, como por exemplo: comportamentais podendo apresentar desde irritabilidade, diminuição na concentração para execução de tarefas, negligência, resistência às mudanças, dificuldade em se relacionar com os colegas de trabalho entre outros. Sintomas físicos como, dores musculares, falta de apetite, cefaleia, enxaqueca, insônia, respiração disfuncional e alterações cardiovasculares, etc. Sintomas psíquicos, manifestados por ansiedade, angústia, sentimentos de fracasso e insegurança, depressão, impaciência, falta de atenção, etc. Por fim os sintomas defensivos em que a pessoa pode sentir vontade de ficar isolada, manifesta falta de comprometimento e interesse com o trabalho, ironia, entre outros (DOS SANTOS et al., 2022; OKWARAJI; AGUWA, 2014).

O contexto do cuidado de enfermagem perpassa por uma rotina de trabalho desgastante, de altas demandas. Cabe ressaltar que, além de o enfermeiro vivenciar o cuidado direto ao paciente nas unidades de saúde, ele também é responsável por acolher as famílias que muitas vezes se encontram em momento de fragilidade, exigindo ampla responsabilidade (DOS SANTOS et al., 2022).

A enfermagem é uma profissão que atua com pessoas em todas as fases do ciclo da vida e no processo de morte, assim, são atribuídas muitas responsabilidades para esses profissionais no constante contato com as pessoas e seus familiares, culminando numa sobrecarrega e podendo provocar grande instabilidade emocional. Além disso, vale ressaltar que as relações com os outros profissionais, o ambiente de trabalho, a baixa valorização profissional, também podem influenciar diretamente na ocorrência de estresse e incidência do SB quando as interações de trabalho são desfavoráveis (KOINIS, 2015; ROCHA et al., 2020; OKWARAJI; AGUWA, 2014).

3. METODOLOGIA

Trata-se de uma revisão integrativa da literatura, que se caracteriza como um método que permite sintetizar o conhecimento por meio de um processo metodológico sistemático e rigoroso. Foram percorridas as seis etapas propostas pelo método: 1) elaboração da pergunta da revisão; 2) busca e seleção dos estudos primários; 3) extração de dados dos estudos; 4) avaliação crítica dos estudos primários incluídos na revisão; 5) síntese dos resultados da revisão e 6) apresentação da revisão (MENDES; SILVEIRA; GALVÃO, 2019).

Para a elaboração da questão norteadora utilizou-se o acrômio PICO (Population/Intervention/Control/Outcome) o qual considerou sendo P= Profissionais de enfermagem; I=não se aplica; C=não se aplica; 0= síndrome de burnout. Assim, a questão norteadora elaborada foi: “Na literatura científica há descrição de estudos sobre a evidência de síndrome de burnout entre profissionais de enfermagem?” (SANTOS; PIMENTA; NOBRE, 2007).

Para a sistematização da busca foram elegidos os Descritores em Ciências da Saúde (DeCS) “esgotamento psicológico”; “equipe de enfermagem” e “prevalência” combinados com o operador booleano “AND” e os MeSH Terms combinados da seguinte maneira

“Burnout, psychological”; AND “administrator, nurse”; OR “aide, nurses”, AND “prevalence”. Após tal determinação, foi realizada a busca primária no mês de agosto de 2023 nas bases de dados: National Library of Medicine of Medicine National Institutes of Health (PubMed), Literatura Latino-Americana e do Caribe em Ciências da Saúde (LILACS) e Institute for Scientific Information Web of Science.

Os critérios de inclusão determinados, foram artigos completos, originais e na íntegra, disponíveis em plataformas online, publicadas na língua portuguesa, inglesa e espanhola, publicadas no período de 2019 a 2023 e que abordavam o tema selecionado. Os critérios de exclusão foram teses, dissertações, resumos, artigos de revisão integrativa, revisão sistemática, capítulos de livros, artigos repetidos e todos aqueles que não compreendiam os parâmetros supracitados.

Para análise de dados foi realizada a tradução e leitura compreensiva dos artigos selecionados, com uma subsequente hand search nas referências dos estudos que compreenderam os critérios de inclusão, iniciou-se o fichamento de acordo com o formulário validado por Ursi e Galvão (2006) e adaptado às especificidades deste estudo. Dessa forma, após a avaliação dos estudos incluídos nesta pesquisa, foram analisados para o resultado, os seguintes dados: título, autoria, periódico, ano de publicação, país, idioma, base de dados, nível de evidência, amostra, palavra-chave, síntese dos resultados e conclusão.

O nível de evidência científica por tipo de estudo dos artigos selecionados para esta RI foram dados por meio da classificação apresentada por Galvão, Sawada e Mendes (2003, p. 45) que apresentam a categorização da Agengy for Helthcare Research and Quality (AHRQ) dos Estados Unidos da América, estabelecida em seis níveis:

“nível I: metanálise de múltiplos estudos controlados; nível II: Estudo Individual com desenho experimental; nível III: estudo com desenho quase-experimental como estudo sem randomização com grupo único pré e pós- teste, séries temporais ou casocontrole; nível IV: estudo com desenho não-experimental como pesquisa descritiva correlacional e qualitativas ou estudos de caso; nível V: relatórios de caso ou dado obtido de forma sistemática, de qualidade verificável ou dados de avaliação de programas; nível VI: opiniões de autoridades respeitáveis baseada na competência clínica ou opinião de comitês de especialista, incluindo interpretações de informações não baseadas em pesquisas; opiniões reguladoras ou legais”.

Encontrou-se um total de 291 artigos, distribuídos da seguinte maneira nas bases de dados: 291 artigos na PubMed, 0 artigos na LILACS e 0 artigos na Institute for Scientific Information Web of Science. Destes foram excluídos 287 artigos. A amostra final foi constituída de 04 artigos. As estratégias de busca, inclusão e exclusão foram apresentadas no fluxograma (Figura 1), como recomendado pelo grupo PRISMA (GALVÃO; PANSANI, 2015).

Figura 1. Fluxograma da inclusão dos estudos. Brasil, 2024.

4. RESULTADOS E DISCUSSÃO

Os resultados demonstraram um panorama restrito referente à quantidade de estudos disponíveis nas bases de dados que abrangiam a temática especificada para responder a questão norteadora, considerando que foram obtidos n=04 (100%) artigos. Dos estudos identificados evidencia-se a distribuição temporal das publicações de 50% (n=02) em 2021, 25% (n=01) em 2020 e 25% (n=01) em 2022. Em relação ao idioma todos os artigos foram publicados em língua inglesa, sendo dois periódicos de origem brasileira, um chinês e um etíope. Conforme apresentado no quadro 1, ainda se observou que o nível de evidência dos estudos foram 50% (n=02) nível IV (estudo com desenho não-experimental como pesquisa descritiva correlacional e qualitativas ou estudos de caso) e 50% (n=02) nível III (estudo com desenho quase experimental como estudo sem randomização com grupo único pré e pós- teste, séries temporais ou caso-controle).

Quadro 1– Síntese dos estudos primários incluídos na revisão integrativa. Brasil. 2024

TítuloAutoresAno/ País/Base de dados/ Nível de evidência/ AmostraPalavraschavesSíntese dos resultadosConclusão
Prevalência e fatores associados à síndrome de Burnout entre enfermeiros em hospitais públicos, sudoeste da Etiópia.Alemayehu Sayih Belay, Melak Menberu Guangul, e Gizachew Ayele Manaye.2021/ Etiópia/ nível III/ PubMed/ 282 enfermeiros.Síndrome de Burnout, Fatores, Enfermeiros, Prevalência, Etiópia.Foi realizado um estudo transversal de base institucional, utilizando as escalas de Apoio Social de Oslo, Self-Reporting Questionnaire versão 20 (SRQ 20), escala de insônia de Atenas (AIS). Obteve como resultado a prevalência global da síndrome de burnout entre enfermeiros globais foi de 11,23%. A região da África Subsaariana, Sudeste Asiático e Pacífico tiveram a taxa mais alta (13,68%), seguida pela América Latina e Caribe (10,51%) de síndromes de burnout, enquanto a região da Europa e Ásia Central teve a mais baixa.Este estudo revelou que uma proporção considerável de enfermeiros apresentava síndrome de burnout. No entanto, observa-se que um melhor estatuto educacional e um forte apoio social devem ser encorajados entre os enfermeiros que trabalham no ambiente de saúde para a melhoria dos serviços de saúde, incluindo a satisfação no trabalho e a qualidade dos cuidados em geral.
Burnout e estresse ocupacional associado entre enfermeiras chinesas: um estudo transversal em três hospitaisYasira Kabakleh, Jing-ping Zhang, Yuan Li.2020/ China/ PubMed/ Nível III/ 487 enfermeiros de três hospitais.Despersonaliz ação, Síndrome de Burnout, enfermeirosA partir de um estudo transversal, qualitativo foram empregados quatro questionários validados na avaliação de burnout, autoestima, relação esforço recompensa e favorabilidade do local de trabalho da enfermagem; Inventário de Maslach-Burnout (MBI), Autoestima de Rosenberg (RS), Desequilíbrio Esforço-Recompensa (ERI) e questionários Escala de Ambiente de Trabalho (WES). Observou-se que o estudo envolveu uma discussão com 846 enfermeiros que trabalhavam em três hospitais nomeados na China. Dos 846 enfermeiros, um total de 359 foram excluídos devido ao não cumprimento dos critérios de inclusão e o receio de os dados serem recolhidos pela autoridade. Todos os 487 restantes foram avaliados. Maior autoestima esteve associada a menor nível de exaustão emocional (Coeficiente não padronizado: -0,579, p-Valor<0,001); e menor nível de despersonalização (Coeficiente não padronizado: -0,212, valor p = 0,001). A relação entre autoestima e realização pessoal não alcançou significância estatística. Uma relação esforço-recompensa mais elevada foi associada a uma menor probabilidade de os enfermeiros considerarem o seu ambiente de trabalho favorável (estimativa Logit de -0,832, valor p 0,014).A baixa autoestima está associada ao aumento do esgotamento. Uma maior relação esforço-recompensa está associada a uma maior percepção do ambiente de trabalho como desfavorável. Foram Recomendados programas de intervenção psicossocial e alterações nas políticas de enfermagem para melhorar o desequilíbrio esforço-recompensa entre os enfermeiros chineses.
Burnout entre enfermeiros: um estudo multicêntrico comparativo.Elisabete Maria das Neves Borges, Cristina Maria Leite Queirós, Margarida da Silva Neves de Abreu, Maria Pilar Mosteiro Dias, Maria Baldonedo Mosteiro, Patricia Campos Pavan Baptista, Vanda Elisa Andres Felli, Miriam Cristina dos Santos Almeida, Silmar Maria Silva.2021/Portugal e Espanha/ Pubmed/ Nível IV/ 1052 enfermeirosBrasil; Esgotamento Profissional; Estudo Multicêntrico; Enfermagem; Portugal; Espanha.A partir de um estudo quantitativo, descritivo, correlacional, comparativo e transversal, utilizando o questionário sociodemográfico e o Maslach Burnout Inventory, obteve-se como resultado que aproximadamente 42% dos enfermeiros apresentaram níveis moderados/altos de burnout, não sendo encontradas diferenças entre os países (Portugal e Brasil com 42%, Espanha com 43%). Apenas a dimensão despersonalização apresentou diferenças entre os países, com um nível mais elevado na Espanha e mais baixo em Portugal. A análise comparativa mostrou níveis mais elevados de burnout em enfermeiros jovens e naqueles que trabalhavam em turnos. Em relação às escalas de trabalho, a burnout foi associada ao trabalho por turnos em Portugal e aos horários fixos na Espanha e no Brasil.Os resultados obtidos sugerem que essa síndrome em enfermeiros é um fenômeno global. Estressores diários e maiores demandas da profissão de enfermagem são elementos cruciais para preparar os enfermeiros para lidar com situações complexas, evitar burnout e reduzir o impacto negativo na sua saúde e na qualidade dos cuidados que prestam.
Prevalência da síndrome de Burnout em enfermeiros de um hospital públicoThays Silva Marcelo, Beatriz Francisco Farah, Maria Teresa BustamanteTeixeira, Luiz Cláudio Ribeiro2022/ Brasil/ Pubmed / Nível IV/ 171 enfermeir osEnfermeiras e Enfermeiros; Estresse Ocupacional; Esgotamento Profissional; Esgotamento Psicológico.A partir de um estudo transversal, utilizando o Maslach Burnout Inventory- Human Service Survey (MBIHSS). Sintetizou-se os resultados e obteve: 9,9% dos participantes apresentaram alta exaustão emocional (EE), 7% alta despersonalização (DE) e 59,1% baixa realização profissional (RP). EE e DE foram associadas a modalidade contratual do tipo estatutário e recebimento de dois ou mais incentivos no exercício do trabalho. Pouca realização de atividades educativas foi associada a EE e a ausência de filhos a baixa RP.Evidenciou-se uma alta prevalência da Síndrome de Burnout (62,6%). Reforça-se a importância de ações preventivas e de diagnóstico precoce que contribuam para a preservação da saúde física e mental desses trabalhadores e, consequentemente, para melhoria da qualidade da assistência.
Fonte: Autores, 2024.

Na análise dos resultados, evidenciou-se que todos os estudos utilizaram o Maslach Burnout Inventory (MBI) para coleta de dados. Este instrumento consiste na medida mais utilizada para determinar à SB, de maneira independente à origem da amostra e das características ocupacionais (SANTOS et.al., 2022). Acrescentando o uso dos seguintes questionários aos estudos Belay et al. (2021): Apoio Social de Oslo, Self-Reporting Questionnaire versão 20 (SRQ 20), Escala de insônia de Atenas (AIS); Kabakleh et al (2020): Autoestima de Rosenberg (RS), Desequilíbrio Esforço-Recompensa (ERI) e questionários Escala de Ambiente de Trabalho (WES) para coleta de dados.

Este estudo identificou nos artigos desta revisão integrativa que enfermeiros que atuam em serviços hospitalares, mesmo em países diferentes, apresentam uma elevada prevalência da SB. Os resultados obtidos indicam que a SB em enfermeiros é um fenômeno global, que independe da diversidade cultural e geográfica, e sim das demandas apresentadas a classe profissional e aos estressores diários que trazem sobrecarga e desencadeiam as fases supracitadas da síndrome (MARCELO et al, 2022; BELAY et al., 2021; BORGES et al., 2021; KABAKLEH et al., 2020).

Assim como Paiva et al. (2019) demonstram, que SB está atrelada a fatores existenciais presentes na vida do profissional de saúde. Analisando 81 hospitais de diversas capitais brasileiras, foi identificado que aqueles profissionais que possuíam horas prolongadas de trabalho, em ambiente físico inadequado, remuneração desproporcional e jornada dupla de trabalho, apresentaram maior probabilidade de desenvolverem SB, independentemente do local de trabalho, os profissionais que possuíam maior demanda no serviço se destacaram por terem índices mais elevados para surgimento da síndrome (PAIVA et al., 2019).

No estudo de Marcelo et al. (2022) os resultados apresentaram que 9,9% dos participantes foram identificados com alto índice de exaustão emocional, 7% alta despersonalização e 59,1% diminuição da realização profissional. Já no estudo, Borges et al. (2021) cerca de 42% dos enfermeiros demonstraram moderados/altos níveis de SB, inexistindo diferenças entre os países estudados (Portugal e Brasil com 42%, Espanha com 43%). A dimensão despersonalização apresentou diferenças entre os seguintes países Espanha com pontuação mais alta [mediana=1,60 (IQI-Intervalo interquartil=1,80)] e Portugal pontuação mais baixa [mediana=0,60 (IQI=1,20)] (MARCELO et al., 2022).

Apresentar um alto resultado para a dimensão supracitada significa que o indivíduo se sente desconfortavelmente desconectado de seus próprios sentidos e eventos que o envolvem, equivalente a um observador externo ao ambiente e pessoas que o cercam (SILVA et al., 2016). Nessa perspectiva, a saúde emocional deve estar em equilíbrio, pois ela é peça chave para o controle da ansiedade, do medo entre outras emoções, diminuindo assim, a probabilidade de erros e contribuindo para integralidade da assistência ofertada às pessoas (BRANDÃO et al., 2020).

Com uma prevalência de 34% da SB entre os enfermeiros participantes, o estudo de Belay et al. (2021) sendo as variáveis que apresentaram maior impacto no desenvolvimento da SB, baixa escolaridade, cargos assistenciais, maior tempo de serviço, fadiga e baixo apoio social. Já no estudo de Kabakleh et al. (2020) houve a associação entre autoestima, exaustão emocional e despersonalização revelando que os profissionais com baixa autoestima apresentaram níveis mais elevados de exaustão emocional e cem por cento dos enfermeiros com baixa autoestima tinham níveis mais elevados de despersonalização. E, quanto maior a relação esforço-recompensa, menor a probabilidade de os enfermeiros considerarem o seu ambiente de trabalho favorável. Assim, a relação entre Burnout no estudo revelou relação negativa com exaustão emocional, despersonalização e auto estima e relação positiva com realização pessoal (KABAKLEH et al., 2020).

A partir da análise do resultado de todos os estudos, foram associados alguns fatores ao desenvolvimento da SB entre enfermeiros, sendo eles: experiência de trabalho, idade do enfermeiro e hierarquia de cargo, carga excessiva de trabalho nas instituições de saúde e no domicílio, estresse emocional, trabalho não avaliado e remuneração insuficiente, conflitos com funcionários, falta de apoio social, conflitos com outros enfermeiros e conflitos com médicos (MARCELO et al., 2022; BELAY et al., 2021; BORGES et al., 2021; KABAKLEH et al., 2020).

Nos estudos realizados no Brasil (MARCELO et al., 2022; BORGES et al., 2021) destacam-se que o perfil dos profissionais mais acometidos pela SB foram: profissionais do sexo feminino, com cônjuge, atuando em turnos fixos, em área hospitalar e com experiência profissional superior a 13 anos.

De acordo com Dos Santos (2022) a SB apresenta níveis mais elevados em jovens e recém-formados, pela alta demanda de trabalho que ainda deve ser aprendida e níveis mais baixos em profissionais mais velhos, que supostamente são dotados de estratégias de enfrentamento para as variáveis da SB.

O estudo de Koinis et al. (2015), contrapõe os achados dos resultados deste estudo e ressalta que os profissionais de saúde mais novos desenvolvem relações sociais mais saudáveis e desfrutam de melhor saúde mental e física em comparação com aqueles que trabalham há mais de 10 anos, ao fato de que, os trabalhadores mais novos geralmente não tentam resolver os problemas de forma ativa, talvez por causa de contratos de curto prazo, ou das suas funções profissionais que ocupam.

O estudo de Marcelo et al. (2022) evidencia que possivelmente o fato de ter uma maior prevalência de SB entre profissionais do sexo feminino esteja relacionado a fatores históricos, os quais constituem a enfermagem enquanto profissão. A princípio, a mesma era praticada por mulheres, solteiras e religiosas, juntamente com a crença de que o cuidado deveria ser realizado exclusivamente por mulheres, apesar de ser notável que atualmente homens estão cada vez mais inseridos dentro desta ocupação (DOS SANTOS et al., 2022).

Identificaram-se que entre os limites deste estudo estão o número restrito de estudos identificados, o nível de evidência dos mesmos, a falta de uso de uma linguagem padronizada para identificar os estudos, e a necessidade de avanço de estudos nessa temática.

5. CONCLUSÃO

Frente aos achados destes estudos, torna-se evidente a necessidade de criar estratégias a fim de diminuir o estresse no ambiente de trabalho, para compreender e minimizar os seus efeitos na vida das pessoas. Assim, consequentemente reduzir a prevalência da SB entre profissionais da enfermagem.

Há necessidade de uma reestruturação organizacional que promova o diálogo entre gestores e profissionais, visando a promoção da saúde a partir de condições de trabalho mais favoráveis e melhor qualidade de vida. Garantindo inclusive relações hierárquicas justas, ambientes saudáveis, relações esforço-recompensa positivas, valorização do trabalho e acolhimento do profissional que passa pelo adoecimento mental.

REFERÊNCIAS

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¹Discente do Curso de Graduação em Enfermagem do Instituto de Biotecnologia da Universidade Federal de Catalão (IBIOTEC/UFCAT). e-mail: anacarolinacarpi@hotmail.com
²Discente do Curso de Graduação em Enfermagem do Instituto de Biotecnologia da Universidade Federal de Catalão (IBIOTEC/UFCAT). e-mail: giovana_marques@discente.ufcat.edu.br
³Docente do Curso de Graduação em Enfermagem do Instituto de Biotecnologia da Universidade Federal de Catalão (IBIOTEC/UFCAT). Doutora em Ciências (EERP/USP). e-mail: carlanatalina@ufcat.edu.br