“SÍNDROME DE BURNOUT EM PROFISSIONAIS DA SAÚDE: EPIDEMIOLOGIA, IMPACTO E ESTRATÉGIAS DE ENFRENTAMENTO NO CONTEXTO BRASILEIRO”

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10286062


Vanessa Cristina de Castro Aragão Oliveira1
Augusto Oliveira de Moura2
Cassio de Salgado Rego3
Enzo Candeira Costa Seixas4
Gabriel Brito da Silva5
Helder Junior Gualter Sales6
Jamylla santos Lonsdale7
Matheus Christovam Borges Luz8
Nathan Candeira Costa Seixas9
Roque Lages Furtado Filho10
Serafim Santana de Sousa Filho11


Resumo

A epidemiologia da Síndrome de Burnout é uma condição de saúde pública global que afeta significativamente profissionais da área da saúde, especialmente durante a pandemia de COVID-19. No Brasil, 30% da população economicamente ativa sofre com a síndrome, caracterizada por alto nível de estresse. A revisão de literatura indica que o Burnout é mais prevalente em profissões com alto nível de estresse diário, como na área da saúde, onde 78% dos profissionais apresentaram sinais da síndrome durante a pandemia, com prevalência de 74% entre enfermeiros. A metodologia empregada é a revisão de literatura, que destaca a vulnerabilidade dos profissionais da saúde ao Burnout, marcado por exaustão emocional, falta de realização pessoal no trabalho e despersonalização. A síndrome é descrita como uma crise do indivíduo com seu trabalho, não necessariamente com as pessoas do trabalho, e é influenciada pelo ambiente social de trabalho. As conclusões apontam para a necessidade de aprofundar estudos e prevenção da síndrome, dada sua complexidade e impacto nocivo. O tratamento envolve estratégias de enfrentamento para gerenciar o estresse crônico no trabalho, com esforços cognitivos e comportamentais para manejar demandas percebidas como sobrecargas aos recursos pessoais do indivíduo.

EPIDEMIOLOGIA DA SÍNDROME DE BURNOUT

Concebe-se que, a Síndrome de Burnout emerge como uma questão de saúde pública mundial, onde em estudo realizado pela International Stress Management Association (ISMA), associação responsável por pesquisa e prevenção ao tratamento do estresse, a primeira colocação aponta o Japão, atingindo 70% da população economicamente ativa (ISMA, 2020).

Vale ressaltar, países que se destacam respectivamente em segundo, terceiro e quarto lugar, apresentando o Brasil, com 30%, China com 24% e Estados Unidos com 20% com pessoas afetadas pela Síndrome de Burnout, caracterizada pelo alto nível de estresse no mundo. Tais estudos pontuam a alta vulnerabilidade de profissionais com a síndrome e o crescente aumento de profissionais da enfermagem acometidos pela patologia no cenário brasileiro, que relatam sofrimento e sentimento de impotência, medo, insegurança, ansiedade bem como, sentem-se desqualificados, desamparados (FERREIRA, et al., 2017).

No final de 2020, foi realizado um estudo pela PEBMED, demonstrando que 78% dos profissionais de saúde tiveram sinais de Síndrome de Burnout no período da pandemia, prevalecendo 74% entre enfermeiros; em que tal síndrome caracteriza-se por situações em que a tensão e o estresse provocados pelas condições de trabalho são tão grandes que levam a pessoa ao esgotamento profissional. Contudo, esses profissionais passam diariamente por situações de fortes emoções, sobrecargas de trabalho e momentos estressantes, agravadas sobremaneira pela pandemia.

Conceitualmente, a Síndrome de Burnout corresponde ao conjunto de sintomas associados à exaustão emocional, falta de realização pessoal no trabalho e despersonalização; haja vista que, a referida exaustão é marcada pela sensação de insuficiência de energia e de recursos emocionais para o enfrentamento de situações corriqueiras do trabalho. Enquanto isso, a diminuição da realização pessoal no trabalho aponta para a tendência do trabalhador a se autoavaliar de forma negativa, sentindo-se incapaz, insuficiente e desmotivado. Por conseguinte, a despersonalização resulta do desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas no qual predomina a dissimulação afetiva e o distanciamento em relação às pessoas que entram em contato direto com o profissional; apresentando ainda alienação, ansiedade, irritabilidade e desmotivação, constituintes das dimensões interpessoais do Burnout (BATISTA et al., 2010; TAMAYO; TÓCCOLI, 2009).

Com isso, fica evidenciada a elevada suscetibilidade de profissionais que demandam alto nível de stress no dia a dia à Síndrome de Burnout, especialmente nos profissionais da área da saúde; em que em campos como Medicina a presença desta síndrome é crítica: a nível mundial está presente em 1 a cada 2 médicos; um terço destes é afetado de maneira considerável; e um décimo, de forma grave com aspectos irremediáveis. No contexto brasileiro 23,1% dos médicos apresentam a Síndrome em alto grau em uma amostra de 7,7 mil profissionais de todos os estados (CARLOTTO; PALAZZO, 2006; GATTI, 2010).

Diante disso, o estudo sobre Burnout cresceu devido a três fatores: o primeiro refere-se as modificações introduzidas no conceito de saúde e o destaque dado a melhoria da qualidade de vida pela Organização Mundial da Saúde (OMS); o segundo relativo ao aumento da demanda e das exigências da população com relação aos serviços sociais, educativos e de saúde; e o terceiro abordando a conscientização de pesquisadores, órgãos públicos e serviços clínicos com relação ao fenômeno, entendendo a necessidade de aprofundar os estudos e a prevenção da sua sintomatologia, devido a complexidade e caráter nocivo projetado (PERLMAN; HARTMAN, 1982).

Apesar de inúmeras pesquisas abordando Burnout no continente norteamericano

e europeu, o Brasil permanece com estudos reduzidos, sendo que, as publicações sobre Burnout no Brasil é incipiente comparada com a internacional; haja vista que, a publicação nacional inaugural foi realizada pelo médico cardiologista Hudson Hubner França em 1987, na Revista Brasileira de Medicina (BENEVIDES-PEREIRA, 2003).

Logo, a Síndrome de Burnout tem sido considerada um problema social de grande relevância e vem sendo investigada em diversos países, uma vez que se encontra vinculada a grandes custos organizacionais. Alguns destes custos devem se a rotatividade de pessoal, absenteísmo, problemas de produtividade e qualidade e também por associar-se a vários tipos de disfunções pessoais, como o surgimento de graves problemas psicológicos e físicos podendo levar o trabalhador a incapacidade total para o trabalho (CARLOTTO; CAMARA, 2008).

DEFINIÇÃO, CLASSIFICAÇÃO E HISTÓRICO DA SÍNDROME DE BURNOUT

O Ministério da Saúde pontua acerca da Síndrome de Burnout ou Síndrome do Esgotamento Profissional como um distúrbio emocional com sintomatologia envolvendo exaustão extrema, estresse e esgotamento físico decorrente de situações de trabalho desgastante, requerendo competitividade ou responsabilidade elevadas, apresentando como principal causa o excesso de trabalho (BRASIL, 2021); comumente observada em profissionais que atuam diariamente sob pressão e com responsabilidades constantes (JARRUCHE; MUCCI, 2021).

A Síndrome de Burnout é identificada como uma forma de stress no trabalho que acomete profissionais que lidam com qualquer tipo de cuidado, geralmente profissões que envolvem serviços, tratamento ou educação (MASLACH; LEITER, 1999), havendo relação de cuidado e atenção direta e contínua com outras pessoas; ocorrendo dentro de um complexo contexto de relações sociais.

Assim, Burnout constitui uma crise do indivíduo com o seu trabalho, não necessariamente uma crise no relacionamento com as pessoas do trabalho; sendo que, “burnout não é um problema do indivíduo, mas do ambiente social no qual o indivíduo trabalha” (MASLACH; LEITER, 1997, p.18).

Historicamente, o termo burnout, foi empregado em meados de 1970 pelo psicólogo clínico Freudenberger; porém, é possível considerar a hipótese de que ele apenas nomeou um sentimento que já existia e havia sido experimentado por muitos (CODO; VASQUES-MENEZES, 1999). Com isso, Freudenberger e Richelson (1991)

delinearam um indivíduo com burnout como estando frustrado ou com fadiga  desencadeada pelo investimento em determinada causa, modo de vida ou  relacionamento que não correspondeu às expectativas. Em 1977, Maslach utilizou o termo fazendo referência a uma situação que afeta, frequentemente, aquelas pessoas que, em decorrência de sua profissão, mantêm um contato direto e contínuo com outros seres humanos.

Desse modo, o termo Síndrome de Burnout desenvolvido nos Estados Unidos por Freudenberger (1974), fundamentado em observações feitas em uma clínica para viciados em drogas em Nova York, percebendo que muitos colegas da equipe de trabalho passaram a sofrer perdas progressivas de energia, idealismo, empatia com os pacientes, além de exaustão, ansiedade, depressão e desmotivação com o trabalho (JARRUCHE; MUCCI, 2021).

Desta forma, Maslach em sua descrição da síndrome, limitou-a a profissionais que interagem com pessoas em seu trabalho (como profissionais de saúde, assistência jurídica, serviço social, atividade policial e de bombeiro) (MASLACH,1998).

De outro modo, Pines e Aronson (1988) afirmaram que as fronteiras estabelecidas por Maslach e argumentam que qualquer tipo de profissional pode sofrer com tal desgaste, mesmo que não forneça ajuda a outras pessoas (como profissionais de saúde).

Maslach, Schaufeli e Leiter (2001) conceituam três dimensões da síndrome:

exaustão emocional, caracterizada por uma falta ou carência de energia, entusiasmo

e um sentimento de esgotamento de recursos; despersonalização, que se caracteriza por tratar os clientes, colegas e a organização como objetos; e diminuição da realização pessoal no trabalho, tendência do trabalhador a se autoavaliar de forma negativa.

A exaustão emocional é caracterizada por um sentimento muito forte de tensão emocional que produz uma sensação de esgotamento, de falta de energia e de recursos emocionais próprios para lidar com as rotinas da prática profissional e representa a dimensão individual da síndrome. A despersonalização é o resultado do desenvolvimento de sentimentos e atitudes negativas, por vezes indiferentes e cínicas em torno daquelas pessoas que entram em contato direto com o profissional, que são sua demanda e objeto de trabalho. Num primeiro momento, é um fator de proteção, mas pode representar um risco de desumanização, constituindo a dimensão interpessoal de burnout. Por último, a falta de realização pessoal no trabalho caracteriza-se como uma tendência que afeta as habilidades interpessoais relacionadas com a prática profissional, o que influi diretamente na forma de atendimento e contato com as pessoas usuárias do trabalho, bem como com a organização (MASLACH, 1998).

Trata-se de uma síndrome na qual o trabalhador perde o sentido da sua relação com o trabalho, de forma que as coisas não lhe importam mais e qualquer

esforço lhe parece inútil. Finalmente, a síndrome de burnout tem sido negativamente

relacionada com saúde, performance e satisfação no trabalho, qualidade de vida e

bem-estar psicológico (RABIN; FELDMAN; KAPLAN, 1999).

TRATAMENTOS E MEDICAÇÕES USADOS

A vivencia crônica do estresse no trabalho, leva os profissionais a reagirem e buscarem estratégias para desenvolver as atividades sob sua responsabilidade. As estratégias de enfrentamento se referem aos esforços cognitivos e comportamentais voltados para o manejo de exigências ou demandas internas ou externas que são avaliadas como sobrecarga aos recursos pessoais do indivíduo, que visa manter o equilíbrio, amenizando os efeitos das situações estressantes. Essas estratégias são diversificadas e variam desde hábitos de vida saudáveis, práticas de lazer prazerosas e/ou tempo de sono restaurador. A literatura aponta que intervenções coletivas podem atuar como fatores de proteção e estarem associadas às estratégias adotadas pelos trabalhadores (MOJSA-KAJA et al., 2014; MORENO et al., 2011).

O tratamento da Síndrome de Burnout é feito basicamente com psicoterapia, mas também pode envolver medicamentos (antidepressivos e/ou ansiolíticos). O tratamento normalmente surte efeito entre um e três meses, mas pode perdurar por mais tempo, conforme cada caso. Mudanças nas condições de trabalho e, principalmente, mudanças nos hábitos e estilos de vida.

A atividade física regular e os exercícios de relaxamento devem ser rotineiros, para aliviar o estresse e controlar os sintomas da doença. Após diagnóstico médico, é fortemente recomendado que a pessoa tire férias e desenvolva atividades de lazer com pessoas próximas – amigos, familiares, cônjuges, etc. (BRASIL, 2023).

Estudos empíricos realizados por Van der Heijden et al. (2019) apoiam fortemente que os locais de trabalho que reduzem a demanda quantitativa dos profissionais da saúde levarão à maior diminuição da intenção de rotatividade de pessoal. Especificamente, essa redução nas demandas quantitativas levará a níveis de esforço percebidos muito mais baixos, menor desgaste e, finalmente, menor probabilidade de intenção de rotatividade ocupacional. Além disso, o aumento dos recursos no emprego, ou seja, qualidade de liderança, oportunidades de desenvolvimento e apoio social de supervisores e colegas próximos, aumentará os níveis de significado do trabalho, diminuirá o esgotamento e resultará em menor probabilidade de intenção de rotatividade ocupacional. Por outro lado, quanto maior a demanda de trabalho dos profissionais da saúde, maior o nível de desgaste e maior a probabilidade de eles deixarem a profissão ao longo do tempo.

Algumas ações para o tratamento do burnout foram apontadas por Santos (2009), visando prevenir e diminuir a incidência de profissionais acometidos pela síndrome. Sugere-se instituir a proposição de políticas públicas na área de emprego, trabalho e de saúde, que contemplem a forma de organização do trabalho e outras necessidades emergentes para a promoção da qualidade de vida no trabalho e a busca de resultados que diminuam o impacto que a manifestação à síndrome acarretaria no ambiente de trabalho.

Os estudos de Korczak, Wastian e Schneider (2012) apontam que a terapia cognitiva comportamental leva à melhora do esgotamento emocional na maioria dos estudos. Complementam esses dados a pesquisa realizada por Ezenwaji et al. (2019), que mostram que o desenvolvimento e a aplicação de intervenções baseadas em evidências para aliviar o esgotamento podem ser úteis para os médicos que buscam avançar nas decisões de políticas públicas de saúde e promover melhorias na saúde e no bem estar dos trabalhadores. Tais intervenções são necessárias para trabalhadores com burnout, uma vez que o burnout pode resultar em emoções disfuncionais e desempenho reduzido. As intervenções de tratamento psicológico com componentes cognitivo-comportamentais podem ser úteis para gerenciar os sintomas de burnout. A abordagem comportamental cognitiva pode ser aplicada para ajudar os trabalhadores a superar crenças e suposições autolimitantes que os impedem de se desenvolver pessoal e profissionalmente, e podem ter um impacto benéfico nos sintomas de burnout, aliviando  significativamente os sintomas da síndrome.

Smoktunowicz et al. (2019) apontam algumas ações a serem implementadas

como ferramenta de saúde para os funcionários:

a) Relaxamento: consiste em quatro exercícios guiados por voz: (1) respiração, (2) relaxamento progressivo, (3) visualizando o calor e o peso do corpo e (4) visualizando um local calmo. Esta técnica visa fornecer ferramentas para relaxamento ativo e ajuda a diminuir a tensão e a tensão 11 muscular. Os participantes estarão livres para realizar qualquer número desses exercícios a qualquer momento durante a intervenção.

b) Mindfulness: consiste em quatro exercícios guiados por voz ou texto: (1) como o corpo e a mente reagem aos pensamentos? (2) escaneamento do corpo, (3) respiração e sons, e (4) atenção às emoções. Todos os exercícios são projetados para fortalecer a atenção, o corpo, os pensamentos e a consciência emocional para reduzir o estresse percebido. Novamente, os participantes podem fazer qualquer número escolhido desses exercícios durante a intervenção.

c) Reestruturação cognitiva: três exercícios constituem esta técnica: (1) opinião ou fato, (2) identificando armadilhas para o pensamento e (3) qual a importância disso no futuro? Esta técnica fornece uma visão da técnica de terapia cognitiva comportamental de identificação e alteração de pensamentos indutores de estresse. Os participantes podem escolher um exercício ou fazer todos eles a qualquer momento durante a intervenção.

d) Estilo de vida: esta técnica consiste em dois exercícios: (1) atividade física e (2) atividades agradáveis, que incentivam os participantes a planejar e implementar atividades que promovam a redução do estresse. Os usuários podem fazer apenas um ou ambos os exercícios durante a intervenção. Há evidências de que as iniciativas de bem estar baseadas em grupo e individuais podem trazer benefícios (HART; PAETOW; ZARZAR, 2019).

Se a resposta não for adequada, a medicação pode ser adicionada. Para depressão moderada a grave, geralmente é recomendada uma combinação de antidepressivos e terapia cognitiva comportamental desde o início. Na realidade, fatores adicionais, como atitudes sobre medicamentos ou disponibilidade de serviços psicológicos acessíveis, geralmente desempenham um papel importante na determinação dos tratamentos (HART; PAETOW; ZARZAR, 2019).

EPIDEMIOLOGIA DA SÍNDROME DE BURNOUT NAS PROFISSÕES

Os estudos sobre burnout tiveram início com profissionais de serviços de saúde, ou seja, com aqueles profissionais que pela natureza de seu trabalho necessitavam manter contato direto e constante com outras pessoas (trabalhadores de saúde e saúde mental e serviços sociais). De acordo com Delgado e colaboradores (1993), estes profissionais são mais afetados por este tipo de síndrome, pois possuem uma filosofia humanística em seu trabalho; defrontando-se com um sistema de saúde geralmente desumanizado e despersonalizado, ao qual tem que se adaptar.

Foram constatados dados preocupantes em meados dos anos 1980; identificando-se sintomas em grupos profissionais que até então não eram considerados população de risco, pelo contrário, por tratar-se de profissões consideradas vocacionais acreditavam que estes profissionais obtinham gratificações em todos os níveis, dos pessoais aos sociais. Também foram encontrados resultados que mostravam a ocorrência de burnout em pessoas com personalidades aparentemente ajustadas e equilibradas até entrar em contato com ambientes de trabalho específicos. Importantes perdas de recursos humanos e econômicos foram detectadas pelas organizações, principalmente educativas e de saúde, onde os estudos foram realizados, indicando altos níveis de burnout, ocasionando principalmente ausências por doenças, fadiga, desilusão, absenteísmo e declínio da motivação (DELGADO et al.,1993).

Vários autores têm realizado estudos com professores primários, secundários,  universitários e de escolas especiais, tendo proporcionado consistência com relação aos resultados obtidos e gerando modelos explicativos importantes sobre sua ocorrência. A severidade de burnout entre os profissionais de ensino já é, atualmente, superior à dos profissionais de saúde, o que coloca o Magistério como uma das profissões de alto risco (WOODS, 1999; LENS; JESUS, 1999; MOURA, 1997).

O burnout foi reconhecido como um risco ocupacional para profissões que envolvem cuidados com saúde, educação e serviços humanos (MUROFUSE et al., 2005). No Brasil, o Decreto nº 3.048, de 6 de maio de 1999, aprovou o Regulamento da Previdência Social e, em seu Anexo II, trata dos Agentes Patogênicos causadores de Doenças Profissionais. O item XII da tabela de Transtornos Mentais e do Comportamento Relacionados com o Trabalho (Grupo V da Classificação Internacional das Doenças CID-10) cita a “Sensação de Estar Acabado” (“Síndrome de Burnout”, “Síndrome do Esgotamento Profissional”) como sinônimos do burnout, que, na CID-10, recebe o código Z73.0. Estresse, depressão e/ou ansiedade constituem a maior causa de afastamento das atividades laborais e são responsáveis por 46% do absenteísmo.

Pesquisa realizada no Reino Unido comparou o nível de estresse vivenciado pelos profissionais em diferentes profissões e concluiu que os professores apresentavam duas vezes mais estresse, depressão e ansiedade que a média dos outros profissionais. No Brasil, os professores ocupam o segundo lugar das categorias profissionais com doenças de caráter ocupacional. Esta avaliação pode estar subestimada, pois depressão e ansiedade podem ser decorrentes do Burnout e não o diagnóstico principal (BATISTA; CARLOTTO, 2010; 2011).

Conclusões

Em face dos desafios impostos pelo cenário laboral contemporâneo, especialmente no âmbito da saúde, a Síndrome de Burnout emerge como uma patologia ocupacional de crescente relevância. Caracterizada por um estado de exaustão emocional, despersonalização e redução da realização pessoal, esta síndrome tem se mostrado prevalente entre profissionais da saúde, cujas rotinas são marcadas por elevadas demandas e estresse crônico.

A incidência desta condição no Brasil, notadamente entre médicos e enfermeiros, reflete uma crise no sistema de saúde que transcende as fronteiras do individual e adentra o domínio das estruturas organizacionais e da própria gestão de recursos humanos. A pandemia de COVID-19 exacerbou essa realidade, evidenciando a urgência de medidas preventivas e terapêuticas.

Para mitigar a incidência da Síndrome de Burnout, é imperativo adotar uma abordagem multifacetada. Primeiramente, a implementação de programas de bem-estar e suporte psicológico nas instituições de saúde é fundamental. Estes programas devem oferecer serviços como aconselhamento, terapia em grupo e técnicas de manejo de estresse, visando fortalecer a resiliência dos profissionais.

Ademais, a reestruturação das cargas de trabalho, com a adequação das jornadas e a inserção de pausas estratégicas, pode contribuir significativamente para a redução do esgotamento profissional. A promoção de um equilíbrio entre a vida profissional e pessoal deve ser um objetivo central das políticas organizacionais.

A capacitação contínua dos gestores em saúde para o reconhecimento precoce dos sinais de Burnout e a implementação de estratégias de intervenção também se faz necessária. A liderança deve ser capacitada para criar um ambiente de trabalho que valorize a comunicação aberta, o reconhecimento do esforço dos colaboradores e a construção de uma cultura organizacional positiva. Por fim, é essencial que haja um investimento contínuo em pesquisa para monitorar a prevalência da Síndrome de Burnout e avaliar a eficácia das intervenções. A colaboração entre instituições de saúde, entidades governamentais e acadêmicas pode fomentar o desenvolvimento de políticas públicas efetivas e sustentáveis, que não apenas tratem, mas previnam o surgimento da síndrome, garantindo assim a saúde e o bem-estar dos profissionais que são o alicerce do sistema de saúde.

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Vanessa Cristina de Castro Aragão Oliveira – Doutora em Saúde Publica – Graduada em Enfermagem – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaiba
Endereço: Av São Sebastião 2500 pindorama CEP 64.215-261 – Vanessa.aragao@iesvap.edu.br1
Augusto Oliveira de Moura – Graduando em Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – Endereço: Rua Estudante Joao Fortes Sobrinho 1664 CEP 64049725 – Email: augustomoura23@outlook.com – https://orcid.org/0009-0001-6943-163X2
Cassio de Salgado Rego – Graduando em Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – Endereço: Travessa Felipe Neves 226 apt 8 CEP 64202-455
Email: cassio.rego@gmail.com – https://orcid.org/0000-0002-8831-085X3
Enzo Candeira Costa Seixas – Graduando em Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – Endereço: Rua Vivenda Santa Lucia, 190. CEP 64.202-550 – Email: enzoccse4@gmail.com – https://orcid.org/0009-0004-8341-52084
Gabriel Brito da Silva – Graduando em Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – Endereço: Rua Esperanza Fontenele de Carvalho nº 5360 CEP 64207010 – Email: bielgnr@hotmail.com – https://orcid.org/0000-0002-9765-10745
Helder Junior Gualter Sales – Graduando em Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaiba – Endereço: Loteamento Conviver IV
quadra 18 – casa 06,Bairro Floriopolis, CEP: 64205750 – E-mail: helderjr21@gmail.com – https://orcid.org/0009-0004-4541-32366
Jamylla santos Lonsdale – Graduando no curso de Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – Avenida leonardo de carvalho castelo branco 4690 bairro São judas Tadeu 64260206 – jamylla.santos@hotmail.com7
Matheus Christovam Borges Luz – Graduando em Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaiba – Endereço: Rua Continental, número 3234, Apt 03,Bairro rodoviária, Parnaíba-Pi. CEP:64212-293 – E-mail: matheuschristovamborgesluz@gmail.com – https://orcid.org/0009-0005-6287-24238
Nathan Candeira Costa Seixas – Endereço: Rua Vivenda Santa Lúcia, 190 CEP: 64202-550 – E-mail: nathanseixas@gmail.com9
Roque Lages Furtado Filho – Graduando no curso de Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – Endereço: rua do fio, bairro de Fátima, n 186 – Barras Piauí 64100000 – E-mail: roquelages123@hotmail.com10
Serafim Santana de Sousa Filho – Graduando no curso de Medicina – Instituição: Instituto de Educação Superior do Vale do Parnaíba – Endereço: Rua Joaquim Santos, 216, ap 4, bairro São Francisco da Guarita, CEP: 64215-110, Parnaíba-PI. – E-mail: serafimfilho74@gmail.com – https://orcid.org/0009-0003-0079-336211