SÍNDROME DA HIPERESTESIA FELINA – RELATO DE CASO

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.10420982


André Gustavo Froz De Borba1
Ermila Maria Dos Santos Rojas2
Orientadora: M.V. Msc. Amanda Paula Ferreira Danin3
Coorientadora: M. V. Laís Silva Barbosa4


RESUMO

A Síndrome da Hiperestesia Felina é caracterizada por uma variedade de sintomas como sensibilidade na área da coluna, comportamentos obsessivos, agitação repentina, automutilação e convulsões. Embora a etiologia da SHF ainda seja objeto de debate, alguns especialistas sugerem que desequilíbrios neuroquímicos podem desempenhar um papel, enquanto outros apontam para alergias, dores neuromusculares ou fatores emocionais como possíveis desencadeadores. Objetivou-se neste trabalho relatar um caso de SHF em um felino macho, SRD, 2 anos de idade e castrado que apresentava episódios de euforia, perseguição da cauda e convulsões focais e generalizadas. Após o diagnóstico ter sido feito por exclusão, o animal foi submetido ao tratamento com Gabapentina na dose de 10 mg/kg duas a três vezes ao dia e enriquecimento ambiental, alcançando uma resposta satisfatória ao tratamento. Entende-se que a Síndrome da Hiperestesia Felina é uma condição misteriosa que desafia nossa compreensão e destaca a complexidade da vida dos felinos de estimação.

Palavras-Chaves: Síndrome. Comportamento. Gabapentina. Felino.

1 INTRODUÇÃO

A Síndrome da Hiperestesia Felina, também conhecida como “síndrome do gato nervoso” ou “ataque do nervo do gato,” é um fenômeno comportamental e neuromuscular em gatos, que envolve uma sensação exagerada de irritabilidade na região lombar, cauda e base da cauda. Essa síndrome pode levar a comportamentos anormais, como agitação, automutilação, perseguição da cauda e convulsões (MORALES; MONTOLIU, 2019).

Alguns especialistas sugerem que desequilíbrios neuroquímicos podem desempenhar um papel, enquanto outros apontam para alergias, dores neuromusculares ou fatores emocionais como possíveis desencadeadores. O diagnóstico geralmente envolve a exclusão de outras condições clinicas que possam causar sintomas semelhantes, tornando o processo complexo e muitas vezes demorado (BATLE, 2018).

O tratamento da síndrome deve ser estabelecido conforme o diagnóstico da causa primaria (VIANA et al., 2020). Todavia, fenobarbital na dose 1-3 mg/kg a cada 12 ou 24 horas (Little, 2003), Amitriptilina na dose de 1mg/kg a cada 24 horas, Gabapentina na dose de 10mg/kg a cada 8 ou 12 horas (COSTA et al, 2021) e enriquecimento ambiental (RUSBRIDGE, 2020) tem sido empregados com sucesso.

2 RELATO DE CASO

Em 29 de julho de 2023, foi atendido um paciente felino, SRD, com aproximadamente dois anos de idade e castrado. Os tutores queixavam-se que o animal apresentava episódios ocasionais de euforia e perseguição de sua cauda, principalmente quando seu tutor chegava em casa. Além disso, foi exposto que, embora anteriormente o gatilho fosse sua chegada em casa, o paciente passou a apresentar os sinais mesmo enquanto dormia, levando a algumas quedas e resultando em convulsões focais e generalizadas relacionadas à perseguição da cauda.

Na anamnese, o paciente apresentou um bom estado de saúde geral, se alimentava com ração seca e úmida, ingeria água adequadamente e usava uma caixa de areia para suas necessidades fisiológicas.

Antes de confirmar o diagnóstico de SHF, foram realizados exames adicionais para descartar outras doenças que pudessem explicar os sintomas clínicos. Dessa forma, foi realizado uma radiografia que revelou leves alterações articulares degenerativas, principalmente na articulação do quadril esquerdo e exames laboratoriais que resultaram dentro da faixa normal para a espécie.

Após excluir outras possíveis doenças que pudessem explicar a condição do paciente, o diagnóstico de Síndrome da HIperestesia Felina foi confirmado, pois os sintomas clínicos e a ausência de anormalidades significativas nos exames adicionais eram consistentes com a síndrome.

Como tratamento inicial, a administração do medicamento anticonvulsivante Gabapentina na dose de 10 mg/kg duas a três vezes ao dia foi recomendada, o que resultou em melhora. Como terapia complementar, foram indicadas atividades recreativas regulares, enriquecimento ambiental e alimentar. Isso incluiu a disponibilização de arranhadores, papelão ou tecido pela casa, bem como jogos ou petiscos escondidos que simulam comportamentos de caça, estimulando a perseguição, captura de brinquedos e tornando o dia do paciente mais produtivo, reduzindo o tempo ocioso. O paciente obteve melhora significativa e realiza ajustes na dosagem conforme necessário.

3 DISCUSSÃO

Segundo o autores Ciribassi, 2009 e Batle, 2018, a SHF é um transtorno que tem sua etiologia pouca esclarecida, no entanto, sugerem-se que fatores neurológicos, alérgicos e emocionais podem levar o animal ao estresse, excitação, conflito, frustração e ansiedade, desencadeando comportamentos autodestrutivos no mesmo. Com base nesse estudo, o fator emocional juntamente com ansiedade podem ser elementos desencadeadores desta síndrome. No caso em questão, o animal vivia em um apartamento onde haviam poucos estímulos ambientais e sensoriais promovendo um maior tempo de ócio, além disso, foi possível identificar na anamnese que o gatilho inicial para as crises era a chegada do tutor em casa.

Causas de origem dermatológica também estão associadas a síndrome, principalmente estímulos inflamatórios e hipersensibilidades, como alergia a picada/saliva da pulga, infecções bacterianas e fúngicas, ácaros, hipersensibilidade alimentar, doenças imunomediadas e atopia que levam a dor e irritação local (LANDSBERG et al. 2013), no entanto, no relato aqui exposto o animal não apresentou áreas de alopecia, eritema ou crostas no corpo, descartando assim, essa possibilidade.

O tratamento para esse tipo de síndrome deve ser personalizado de animal para animal levando em consideração seus sinais clínicos e anormalidades acometidas, geralmente usa-se benzodiazepínicos, anti-inflamatórios, inibidores seletivos da recepção da serotonina, anticonvulsivantes e antidepressivos tricíclicos (CIRIBASSI 2009 e AMORIM et al, 2017). O felino retratado neste estudo recebeu desde o início do seu tratamento a gabapentina na dose de 10mg/kg duas a três vezes ao dia, corraborando com os autores Costa et al, 2021 que sugerem a Gabapentina na dose de 10mg/kg a cada 8 ou 12 horas. Este medicamento reduz a hiperexcitabilidade dos neurônios do corno dorsal da coluna espinhal (CLIVATTI et al, 2009). Devido a este fator, a gabapentina é um dos medicamentos de predileção para o tratamento da SHF, demonstrando resultados satisfatórios para o paciente.

Adicionalmente, o emprego de cannabis medicinal para o tratamento da dor crônica é visto como vantajoso, pois o sistema endocanabinóide está envolvido nos processos fisiopatológicos da dor. Embora os efeitos em animais ainda estejam sob estudo, experimentos indicaram benefícios para diversas condições, como distúrbios cardiovasculares, tratamento oncológico, terapia para dor, distúrbios respiratórios ou metabólicos, entre outros (LARISSA et al, 2023). No entanto, o tutor não optou por esse tipo de tratamento devido ao alto custo.

Portanto, os relatos evidenciam o uso promissor da gabapentina no tratamento da Síndrome da Hiperestesia Felina (SHF) em gatos de diferentes idades e com sintomas variados. A administração da gabapentina, em dosagens distintas, resultou em melhorias significativas nos sinais de desconforto, agitação e lambedura excessiva em ambos os animais. Contudo, a resposta ao tratamento variou ao longo do tempo, destacando a importância do monitoramento individualizado e da necessidade de ajustes nas dosagens para gerir eficazmente a SHF em gatos (HUDEC, 2020).

4 CONCLUSÃO

Em virtude dos fatos mencionados, compreendeu-se que a Síndrome da Hiperestesia Felina é uma condição intrigante e complexa que requer abordagem cuidadosa e colaborativa por parte dos profissionais de saúde animal e dos proprietários de gatos. Embora o diagnóstico e o tratamento possam ser desafiadores, o bem-estar do gato é uma prioridade, e a pesquisa contínua é essencial para aprofundar o entendimento das causas e desenvolver abordagens terapêuticas mais eficazes.

Por fim, é importante expor que educar os proprietários de gatos sobre os sintomas da SHF, as opções de tratamento e a importância do acompanhamento veterinário é crucial para o manejo adequado dessa condição. Além disso, nota-se que a conscientização pode ajudar a identificar casos precocemente e melhorar o prognóstico.

5 REFERÊNCIAS

AMORIM, A. P. G; SOUZA, M. F. A; BRUM, K. B. Uso de atropa belladonna como simillimum em um gato com suspeita de síndrome de hiperestesia felina. Oitavo congresso de homeopatia veterinária da AMVHB. Londrina, nov, 2017. P. 84. Disponível em: https://www.crmvsp.gov.br.

BATLE, P.A et al. Feline hiperaesthesia syndrome with self-trauma to the tail: retrospective study of seven cases and proposal for integrated multidisciplinary diagnostic approach. Journal of Feline Medicine and Surgery. UK, fev. 2018. Disponível em: https://www-periodicoscapes-gov-br.ez45.periodicos.capes.gov.br/index.php/buscador-primo.html.

CIRIBASSI, J. Feline hyperesthesia syndrome. Compendiumvet.com, mar, 2009. Disponível em: https://www.researchgate.net/profile/Louis-Philippe-De-Lorimier/publication/236941239_Feline_hyperesthesia_syndrome/links/00b4953beec

3d88209000000/Feline-hyperesthesia-syndrome.

CLIVATTI, J.; SAKATA, R. K.; ISSY, A. M. Revisão sobre o uso de gabapentina pata controle da dor pós-operatória. Revista Brasileira de Anestesiologia, Campinas, jan./fev. 2009, v. 59, n. 1, p. 87-98. Disponível em: https://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0034- 70942009000100012&script=sci_abstract&tlng=pt

COSTA, L.G; ARRUDA, P.M; NOGUEIRA, R.B. Síndrome da hiperestesia em felino. Brasilian Journal of Development, Curitiba, v.7, n.2, p.19037-10039, fev. 2021. Disponível em: https://www.brazilianjournals.com/index.php/BRJD/article/view/25196.

HUDEC CP, Griffin CE. 2020. Changes in the stress markers cortisol and glucose before and during intradermal testing in cats after single administration of pre-appointment gabapentin. J Feline Med Surg. 22(2):138–145. doi:10.1177/1098612X19830501.

LARISSA S.; MURILO V.; FATIMA A. G. M.; CARLA F. M. Síndrome Da Hiperestesia Felina – Relato De Caso. 2023. Disponível em: file:///C:/Users/Ermila%20Rojas/Downloads/1130-Texto%20do%20artigo-4316-5203-10-20230710-1.pdf. Acesso em: 04 de dezembro de 2023.

LANDSBERG GM et al. 2013. Behavior Problems of the Dog and Cat. 3.ed. London: Elsevier. 472p.

MORALES, C.; MONTOLIU, P. Contracciones musculares involuntarias. 2019.

RUSBRIDGE, C. Distúrbios neurocompartamentais. Vet Clin Small Anim. 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1016j.cvsm.2020.06.009. VIANA, D.B. et al. Síndrome da hiperestesia felina – Relato de caso. Revista de Ciências Agroveterinárias, Lages, jun. 2020. Disponível em: https://periodicos.udesc.br/index.php/agroveterinaria/article/view/15086.