REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8370911
Raissa Freitas Borges1
Rodrigo Pires de Souza Lima2
RESUMO
Introdução: Este trabalho teve como objetivo realizar uma revisão da literatura sobre a simpatectomia torácica como abordagem terapêutica para o tratamento da hiperidrose. Metodologia: Foi realizada pesquisa bibliográfica na base de dados PubMed, no período de 15/05/2023 à 31/05/2023 e selecionados artigos de 2016 a 2023, escritos em inglês ou em português, utilizando os seguintes termos: “sympathectomy”, “hyperhidrosis”, “treatment” e “video-assisted thoracoscopic” associados às suas respectivas variações, de acordo com o MeSH. Foram encontrados 454 artigos e foram 55 escolhidos para a leitura do resumo. Após a leitura, foram selecionados 10 artigos para leitura na íntegra que preenchiam os critérios desejados. Resultados: Os resultados destacam a importância de uma abordagem individualizada no tratamento da hiperidrose, considerando as necessidades e preferências específicas de cada paciente. Além disso, enfatizam a necessidade de uma avaliação rigorosa dos riscos e benefícios associados à simpatectomia torácica e a outras opções terapêuticas disponíveis. A finalidade última de qualquer intervenção é proporcionar um alívio duradouro da hiperidrose, contribuindo assim para a melhoria da qualidade de vida dos pacientes e permitindo que eles vivam de maneira mais confortável e confiante. Conclusões: É importante uma abordagem individualizada no tratamento da hiperidrose, com base nas necessidades e preferências do paciente, bem como na avaliação rigorosa de riscos e benefícios. O objetivo final é proporcionar alívio duradouro da hiperidrose, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e permitindo que eles vivam de forma mais confortável e confiante.
ABSTRACT
Introduction: This study aimed to conduct a literature review on thoracic sympathectomy as a therapeutic approach for the treatment of hyperhidrosis. Methodology: A literature search was conducted on the PubMed database from May 15, 2023, to May 31, 2023, selecting articles from 2016 to 2023, written in English or Portuguese, using the following terms: “sympathectomy,” “hyperhidrosis,” “treatment,” and “video-assisted thoracoscopic,” along with their respective variations, according to MeSH. A total of 454 articles were found, and 55 were chosen for abstract reading. After review, 10 articles meeting the desired criteria were selected for full-text reading. Results: The results highlight the importance of an individualized approach in the treatment of hyperhidrosis, taking into account the specific needs and preferences of each patient. Additionally, they emphasize the need for a thorough assessment of the risks and benefits associated with thoracic sympathectomy and other available therapeutic options. The ultimate goal of any intervention is to provide long-lasting relief from hyperhidrosis, thereby contributing to the improvement of patients’ quality of life and enabling them to live more comfortably and confidently. Conclusions: An individualized approach in the treatment of hyperhidrosis, based on the patient’s needs and preferences, along with a rigorous evaluation of risks and benefits, is crucial. The ultimate goal is to provide long-lasting relief from hyperhidrosis, enhancing the quality of life of patients and enabling them to live more comfortably and confidently.
Descritores: simpatectomia, hiperidrose, tratamento
INTRODUÇÃO
A simpatectomia é um procedimento cirúrgico que busca interromper as fibras nervosas simpáticas responsáveis por estimular as glândulas sudoríparas em determinadas áreas do corpo, com o objetivo de tratar a hiperidrose primária e localizada. A hiperidrose é um distúrbio de sudorese excessiva além do esperado para as condições ambientais e necessidades termorreguladoras, na ausência de causas discerníveis. A hiperidrose primária afeta significativamente a qualidade de vida dos pacientes, causando prejuízos psicológicos e sociais substanciais, além de desafios médicos.
Atualmente, dispõe-se de diversas abordagens terapêuticas, dentre elas: medicamentos tópicos (mais comumente cloreto de alumínio), iontoforese, injeções de toxina botulínica, medicamentos sistêmicos (incluindo glicopirrolato e clonidina) e cirurgia (mais comumente simpatectomia torácica endoscópica [ETS]). Entretanto, como os tratamentos conservadores não se mostram muito eficazes nessa condição, faz com que os procedimentos cirúrgicos sejam altamente indicados. Além disso, os estudos demonstram que a maioria dos pacientes submetidos a simpatectomia são adolescentes ou adultos jovens, tendo em vista que a puberdade pode ser um fator agravante para essa afecção. Ademais, associa-se ao quadro fisiológico uma maior necessidade de socialização e início no mercado de trabalho, fazendo com que esse público procure com mais frequência uma abordagem cirúrgica.
Neste estudo, abordaremos a técnica cirúrgica da simpatectomia videoassistida, o tempo de cirurgia, as complicações associadas a esse procedimento e as diferentes abordagens terapêuticas disponíveis para o tratamento da hiperidrose primária.”
MÉTODO
O objetivo desta revisão integrativa é capturar, reconhecer e sintetizar o conhecimento disponível sobre a simpatectomia realizada por videotoracoscopia no tratamento da hiperidrose, com foco na técnica cirúrgica, fatores de risco para reincidência, opções conservadoras de tratamento e complicações pós-operatórias. Trata-se de uma revisão integrativa da literatura que busca captar, reconhecer e sintetizar a produção do conhecimento acerca de um assunto ou tema. Foi realizada pesquisa bibliográfica na base de dados PubMed, no período de 15/05/2023 à 31/05/2023 e selecionados artigos de 2016 a 2023, escritos em inglês ou em português, utilizando os seguintes termos: “sympathectomy”, “hyperhidrosis”, “treatment” e “video-assisted thoracoscopic” associados às suas respectivas variações, de acordo com o MeSH. Foram encontrados 454 artigos e foram 55 escolhidos para a leitura do resumo. Foram incluídos todos os artigos originais com delineamento observacional, realizado em humanos, que apresentavam como temática principal a simpatectomia realizada por videotoracoscopia para o tratamento da hiperidrose. Entre estes artigos, foram selecionados aqueles que abordam sobre a técnica cirúrgica, fatores de risco para reincidência, opções conservadoras para o tratamento da hiperhidrose, aqueles que analisavam as complicações no pós-operatório ou aqueles que abordavam, mesmo que indiretamente, estes aspectos. Foram excluídos os artigos que analisavam outras técnicas cirúrgicas além da videoendoscópica, a qualidade de vida do paciente após o procedimento cirúrgico e o pós-operatório. Após a leitura dos resumos, foram selecionados 10 artigos que preenchiam os critérios inicialmente propostos e foram lidos na íntegra.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
TÉCNICA CIRÚRGICA
A simpatectomia torácica por vídeo é uma técnica consagrada para o tratamento da hiperidrose. Várias técnicas são estudadas: simpatectomia bilateral, uniportal, biportal em um ou mais tempos diferentes, e, de acordo com os estudos, não foi encontrado diferenças significativas entre cada uma delas e os resultados que são obtidos (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
Para realização da simpatectomia por vídeo geralmente coloca-se o paciente em decúbito dorsal em posição semi-sentada com o tronco elevado a 45 graus. Ademais, acrescenta-se duas almofadas atrás dos ombros do paciente, a fim de criar um espaço entre as axilas e a mesa cirúrgica, para que evite-se o esforço do plexo braquial. Associado a isso, prende-se o quadril, as pernas, cabeça e o tubo orotraqueal, para evitar o movimento durante a lateralização da mesa cirúrgica, com o intuito de melhor exposição da área a ser operada. Utilizamos duas portas de entrada, uma de 5mm e outra de 10mm. A primeira será para os instrumentos e deve ser colocada no segundo ou terceiro espaço intercostal da linha axilar média e a segunda porta será para a câmera de vídeo, que no homem está localizada na borda da aréola e na mulher na linha submamária (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
Após o correto posicionamento do paciente, inicia-se a dissecção das cadeias simpáticas. Para isso, é necessário que os pulmões estejam colapsados e os instrumentos no campo. O reconhecimento da cadeia simpática é realizado através da pleura parietal, que geralmente é vista como cordão longitudinal multinodular branco que corre sobre as cabeças e arcos costais e pode ser palpado. Então, conta-se as costelas e identifica-se o nível do(s) nódulo(s) simpático(s) a ser(em) removido(s). O ponto mais importante da operação é definir corretamente em que nível (ou níveis) o tronco simpático será interrompido. Depois da identificação, realiza-se a marcação no limite superior e inferior de onde a seção será feita. Com eletrocautério monopolar, abre a pleura parietal e expõe o segmento da cadeia a ser ressecado. Vale salientar que é necessário tomar cuidado com as bordas inferiores das costelas, tendo em vista que é a região onde os feixes neurovasculares intercostais se encontram e lá se cruzam abaixo da cadeia simpática (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
Fibras colaterais, chamadas de nervos de Kuntz, surgem do tronco simpático e estão presentes em um número variável de pacientes. Eles atuam como uma via neural alternativa ao plexo braquial e podem ser responsáveis pela hiperidrose persistente. Em decorrência disso, é recomendado estender a interrupção da cadeia cerca de 2 cm lateralmente na parte interna das costelas até que o periósteo seja desnudado, para que esses pequenos nervos sejam seccionados corretamente (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
Após o correto dessecamento e exposição do segmento a ser removido, divide-se a cadeia simpática com tesoura endoscópica. Nesse momento, pode-se utilizar o eletrocautério, bisturi harmônico ou outros instrumentos mais sofisticados. Então, realiza-se o controle da hemostasia e retira-se o segmento do campo. Sempre realizamos bloqueios dos nervos intercostais com bupivacaína, para o correto manejo da dor (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
Repetimos o mesmo procedimento do lado oposto. Depois de realizada a simpatectomia bilateralmente, deve-se verificar a hemostasia local e, caso haja necessidade, testar os pulmões para observar se não há vazamento de ar. Ao descartar sangramentos ou vazamentos de ar, o pneumotórax que foi causado durante o procedimento cirúrgico é evacuado por um tubo torácico fino. Então, o pulmão é totalmente reinflado e não há vazamento de ar, o dreno torácico é retirado e as incisões são suturadas (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
COMPLICAÇÕES PÓS-OPERATÓRIAS
A simpatectomia torácica endoscópica (STE), um procedimento cirúrgico minimamente invasivo utilizado para tratar a hiperidrose e outras condições, geralmente é considerada segura, mas como qualquer cirurgia, ela pode estar associada a algumas complicações pós-operatórias. É importante notar que nem todos os pacientes experimentam complicações, e a maioria tem uma recuperação tranquila. No entanto, aqui estão algumas das complicações pós-operatórias que podem ocorrer após a simpatectomia:
- Sudorese compensatória (SC): A SC é uma das complicações mais comuns após a simpatectomia. Após a cirurgia, alguns pacientes podem começar a suar excessivamente em outras partes do corpo, como o tronco, pernas ou costas, como uma resposta compensatória ao bloqueio da produção de suor nas áreas tratadas. A SC pode variar em gravidade e, em alguns casos, pode ser mais incômoda do que a condição original.
- Sudorese gustativa: Alguns pacientes relatam sudorese gustativa após a simpatectomia, o que significa que começam a suar na face, na cabeça ou no pescoço ao comer alimentos picantes ou saborosos. Isso ocorre porque os nervos que controlam a sudorese nessas áreas podem ser afetados durante a cirurgia.
- Pneumotórax: O pneumotórax é uma complicação rara, mas séria, que pode ocorrer quando há acúmulo de ar entre os pulmões e a parede torácica. Isso pode causar dor no peito e dificuldade respiratória e geralmente requer tratamento médico imediato.
- Lesões vasculares: Embora incomuns, as lesões vasculares podem ocorrer durante a cirurgia, resultando em sangramento ou hematomas no local da incisão. Isso geralmente é tratado cirurgicamente ou com procedimentos minimamente invasivos.
- Síndrome de Horner: Em casos raros, a simpatectomia pode resultar na síndrome de Horner, que é caracterizada por ptose palpebral (queda da pálpebra superior), miose (constrição da pupila) e anidrose (falta de sudorese) na metade do rosto afetada. Essa síndrome ocorre quando há uma interrupção inadvertida dos nervos simpáticos durante a cirurgia.
- Infecção da ferida: Como em qualquer procedimento cirúrgico, existe o risco de infecção na área da incisão. Isso geralmente é tratado com antibióticos.
- Cicatrizes: Embora a simpatectomia endoscópica envolva incisões pequenas, algumas pessoas podem desenvolver cicatrizes visíveis ou queloides na área da incisão.
Em um estudo que foi realizado com 260 pacientes com relação às complicações após simpatectomia videoassistida. Desses, 6% apresentaram pneumotórax unilateral e 19% apresentaram hiperidrose compensatória como complicações. Já em outro estudo com 270 pacientes, em que o objetivo era comparar a simpatectomia unilateral em dois estágios ou bilateral por um estágio, o pneumotórax foi observado em 6% dos pacientes de um estágio e 8% dos pacientes em dois estágios. Entretanto, nenhum dos pacientes desenvolveu a síndrome de Horner (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
Já outro estudo com um grupo de 100 pacientes, foram observadas complicações pós-operatórias em 4% dos pacientes, como por exemplo pneumotórax, sendo que 75% destes necessitam de drenagem pleural. Todos evoluíram de forma satisfatória e receberam alta no dia seguinte após retirada do dreno (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
Um estudo realizado com 25 pacientes, adolescentes e crianças, demonstrou que a taxa de complicações foi de 20%, todas transitórias. Três pacientes apresentaram enfisema subcutâneo, que se resolveu em 24-48 horas. Um referiu dor importante por 24 horas e outro dor na zona de punção, que melhorou com analgésico comum até desaparecer em três meses. Diversas outras pesquisas relataram ausência de complicações referentes ao pós-operatório (NICOLINI EM; COSTA VO; MONTESSI J; RODRIGUES GA; CANGUSSU VV; REIS AFM; MARQUES FILHO FV, 2019).
É importante notar que a maioria dos pacientes que se submete à simpatectomia não experimenta complicações graves, e a cirurgia pode proporcionar um alívio significativo dos sintomas da hiperidrose. No entanto, é fundamental discutir todos os riscos e benefícios com um cirurgião experiente antes de decidir pela simpatectomia e seguir todas as orientações pós-operatórias cuidadosamente para minimizar o risco de complicações. Cada paciente é único, e os resultados e complicações podem variar.
REINCIDÊNCIA APÓS SIMPATECTOMIA
Para muitos pacientes que sofrem com hiperidrose grave e debilitante, a simpatectomia torácica endoscópica (STE) é frequentemente considerada como uma opção de tratamento eficaz. No entanto, a reincidência da hiperidrose após a simpatectomia é um desafio importante que os médicos e pacientes devem estar cientes.
Embora a simpatectomia possa proporcionar alívio significativo da hiperidrose para muitos pacientes, a reincidência da condição após o procedimento é uma preocupação real. Vários fatores podem contribuir para a reincidência da hiperidrose após a simpatectomia, incluindo:
- Regeneração nervosa: Os nervos simpáticos podem se regenerar ao longo do tempo, o que pode restaurar a capacidade do corpo de produzir suor excessivo.
- Mudança nas áreas de transpiração: Após a simpatectomia, alguns pacientes podem notar um aumento da sudorese em outras áreas do corpo, compensando a redução nas áreas tratadas.
- Variação individual: A resposta à simpatectomia pode variar de pacientepara paciente. Enquanto alguns experimentam alívio duradouro, outros podem enfrentar uma recorrência mais rápida da hiperidrose.
- Fatores desconhecidos: A hiperidrose é uma condição complexa, e nem todos os fatores que contribuem para a sua recorrência são completamente compreendidos.
É importante enfatizar que a reincidência da hiperidrose após a simpatectomia não é incomum, e os pacientes que consideram o procedimento devem estar cientes desse risco potencial. Antes de optar pela cirurgia, os pacientes devem discutir detalhadamente os benefícios, os riscos e as alternativas disponíveis. Além disso, os médicos devem fornecer orientações pós-operatórias adequadas e acompanhamento cuidadoso para monitorar a eficácia do procedimento e a possibilidade de recorrência (SILVA SL DA; FIORELLI RKA; MORARD MRS, 2017)
Em resumo, a reincidência da hiperidrose após a simpatectomia é uma preocupação que deve ser considerada ao avaliar o tratamento para essa condição. Embora a cirurgia possa proporcionar alívio significativo para muitos pacientes, não é garantido que a hiperidrose não volte a ocorrer em algum momento após o procedimento. Portanto, uma abordagem cuidadosa, individualizada e com acompanhamento médico é essencial para gerenciar essa condição de forma eficaz.
OUTROS TRATAMENTOS PARA HIPERIDROSE
Além da simpatectomia, existem várias opções de tratamento para lidar com a hiperidrose. A escolha do tratamento depende da gravidade da condição, das áreas afetadas e das preferências do paciente. Aqui estão algumas alternativas à simpatectomia:
- Antitranspirantes de prescrição: Antitranspirantes com maior concentração de cloreto de alumínio podem ser prescritos por um médico para uso tópico. Eles são geralmente mais eficazes do que os produtos de venda livre.
- Iontoforese: Este tratamento envolve a imersão das áreas afetadas, como as mãos ou os pés, em água com uma corrente elétrica suave. A iontoforese pode ajudar a bloquear temporariamente as glândulas sudoríparas.
- Toxina botulínica (Botox): A injeção de Botox em áreas afetadas, como as axilas, as mãos ou os pés, pode bloquear temporariamente os sinais nervosos que estimulam a sudorese. Os resultados geralmente duram vários meses e, em seguida, podem ser repetidos.
- Medicamentos orais: Alguns medicamentos, como anticolinérgicos, podem ser prescritos para reduzir a sudorese em todo o corpo. No entanto, esses medicamentos podem ter efeitos colaterais significativos e não são adequados para todos os pacientes.
- Terapia psicológica: A hiperidrose pode causar angústia emocional e psicológica. A terapia cognitivo-comportamental (TCC) pode
- ajudar os pacientes a lidar com o estresse e a ansiedade associados à condição.
- Tratamentos tópicos: Além dos antitranspirantes, existem cremes e loções disponíveis que podem ajudar a reduzir a produção de suor quando aplicados diretamente nas áreas afetadas.
- Cirurgia minimamente invasiva: Além da simpatectomia, existem outras opções de cirurgia minimamente invasiva, como a lipoaspiração das glândulas sudoríparas, que pode ser considerada para reduzir a sudorese.
- Terapia com laser: Algumas modalidades de laser, como o laser de dióxido de carbono (CO2), podem ser usadas para destruir as glândulas sudoríparas e reduzir a produção de suor em áreas específicas.
- Eletrocoagulação: Este procedimento utiliza energia elétrica para destruir as glândulas sudoríparas. É geralmente realizado em pequenas áreas, como as axilas.
É importante lembrar que a eficácia de cada tratamento pode variar de pessoa para pessoa, e é essencial discutir todas as opções com um médico especializado em hiperidrose. O tratamento escolhido dependerá das necessidades individuais do paciente, da gravidade da condição e dos riscos e benefícios associados a cada opção. Além disso, os tratamentos não cirúrgicos geralmente são tentados antes de considerar procedimentos mais invasivos como a simpatectomia.
Atualmente, existem diversos estudos específicos para o tratamento e manejo da hiperhidrose. Por isso, tornou-se muito mais fácil para o médico fazer o manejo dessa afecção, além de que muito mais opções estão disponíveis e uma abordagem gradual costuma ser eficaz. Há uma gama de medicamentos tópicos e sistêmicos para o tratamento da hiperidrose. Essas terapias são simples, mas eficazes e, muitas vezes, são capazes de proporcionar alívio sintomático satisfatório.
A primeira linha de tratamento são as soluções sais de alumínio, como, por exemplo, o cloreto de alumínio. O mecanismo de ação do cloreto de alumínio é através da danificação das células epiteliais ao longo do lúmen dos ductos sudoríparos formando, assim, um tampão que obstrui os ductos sudoríparos distais. Atualmente, é um dos antitranspirantes mais utilizados. Em um estudo realizado, 87% dos pacientes mostraram-se satisfeitos com os resultados obtidos com o uso dessa medicação. Deve ser utilizado por 3 a 4 noites, depois todas as noites se necessário. É mais eficaz para o tratamento da hiperidrose axilar, mas mostrou ser menos eficaz na hiperidrose palmar, por ocorrer uma maior necessidade do produto, acarretando em maiores efeitos colaterais, dentre eles, podemos citar prurido e irritação da pele (BRACKENRICH J; FAGG C, 2022). Por ocorrer renovação da função das glândulas sudoríparas juntamente com a renovação epitelial, é necessário reaplicação uma ou duas vezes por semana.
Estudos recentes trouxeram o tosilato de glicopirrônio tópico (pano pré-umedecido contendo solução de glicopirrônio a 2,4%) como uma das alternativas para tratar a transpiração (BRACKENRICH J; FAGG C, 2022).
Os agentes tópicos apresentam potencial de sensibilizar a pele e alguns, como ácido tânico e permanganato de potássio, também podem causar descoloração da pele. Tais agentes parecem diminuir a transpiração desnaturando a queratina e, dessa forma, ocluindo os poros das glândulas sudoríparas. Sendo assim, possuem uma duração de efeito muito curta (BRACKENRICH J; FAGG C, 2022).
Pacientes que não respondem de forma satisfatória à terapia tópica ou que apresentam sintomas mais generalizados, podem fazer uso de medicamentos anticolinérgicos orais, incluindo a oxibutina 5mg a 10mg por dia ou glicopirrolato tópico 0.5% a 2.0%. Como efeitos adversos, os agentes anticolinérgicos podem desencadear olhos secos, boca seca, retenção urinária e constipação (BRACKENRICH J; FAGG C, 2022).
Em situações em que o tratamento tópico ou oral falharam, pode-se fazer uso de iontoforese duas a três vezes por semana e injeções de toxina botulínica A a cada 3 a 4 semanas. A iontoforese é um tratamento de longo prazo e, na melhor das hipóteses, seus efeitos são leves. Muitos agentes podem ser adicionados à água, mas a adesão a esse tratamento é baixa.
A toxina botulínica, por sua vez, é eficaz, mas apresenta um custo elevado e necessita de reaplicações constantes. A toxina botulínica A atua clivando a proteína SNAP-25. Impedindo, assim, a ligação e a fusão pré-sináptica das vesículas de acetilcolina com o terminal nervoso e, dessa maneira, bloqueia a liberação de acetilcolina. É o tratamento mais adequado após a falha de antitranspirantes tópicos e anticolinérgicos orais. A diminuição da transpiração pode durar de 6 a 24 meses. As injeções são geralmente realizadas em ambas as axilas. Porém, também podem ser úteis nas palmas das mãos e nas plantas dos pés (BRACKENRICH J; FAGG C, 2022).
Medidas terapêuticas mais invasivas estão disponíveis, incluindo simpatectomia ou excisão local como último recurso. Muitos procedimentos cirúrgicos foram desenvolvidos para controlar a hiperidrose, incluindo simpatectomia, ablação por radiofrequência, lipoaspiração subcutânea e excisão cirúrgica das áreas afetadas. De todos estes, a simpatectomia parece ser o melhor tratamento que é um tanto permanente. Envolve a excisão dos gânglios (T2-T4) responsáveis pela transpiração. A ressecção dos gânglios T1 é feita para sudorese facial, T2 e T3 para sudorese palmar e T4 para sudorese axilar (BRACKENRICH J; FAGG C, 2022).
Caso haja suspeita de uma causa secundária, recomenda-se o tratamento do distúrbio subjacente ou a descontinuação do medicamento suspeito, além da terapia regular.
Tabela 1– Tratamento da hiperidrose de acordo com cada região acometida
Hiperidrose axilar | Leve (HDSS = 2) Passo 1: Cloreto de alumínio tópico a 20% (Drysol) Passo 2: Se o tratamento tópico falhar, onabotulinumtoxinA (Botox) injeção Grave (HDSS = 3 ou 4) Passo 1: Cloreto de alumínio tópico a 20% ou injeção de onabotulinumtoxinA Passo 2: Se ambos os tratamentos falharem, considere o uso de cloreto de alumínio e onabotulinumtoxinA em combinação Todas as gravidades Passo 3: Considerar anticolinérgicos orais se os tratamentos acima falharem isoladamente ou em combinação com os anteriores Passo 4: Considere a terapia de micro-ondas Passo 5: Considerar cirurgia local Passo 6 (último recurso): Desnervação simpática (i.e., simpatectomia torácica endoscópica) |
Hiperidrose craniofacial | Passo 1: Cloreto de alumínio tópico a 20% ou glicopirrolato tópico a 2% Passo 2: Se o tratamento tópico falhar, considere anticolineraicos orais (sozinhos ou em combinação com tratamento tópico) Passo 3: Considere a injeção de onabotulinumtoxinA Passo 4 (último recurso): Desnervação simpática |
Hiperidrose palmar | Leve (HDSS = 2) Passo 1: Cloreto de alumínio tópico a 20% Passo 2: Se o tratamento tópico falhar, considere onabotulinumtoxinA ou iontoforese Grave (HDSS = 3 ou 4) Etapa 1: injeção tópica de cloreto de alumínio a 20% mais onabotulinumtoxinA ou iontoforese; todos os três são considerados tratamento de primeira linha Todas as gravidades Passo 2 ou 3: Considere anticolinérgicos orais sozinhos ou em combinação com os anteriores Etapa 3 ou 4 (último recurso): denervação simpática |
Hiperidrose plantar | Leve (HDSS = 2) Passo 1: Cloreto de alumínio tópico a 20% Etapa 2: Se o tratamento tópico falhar com injeção de toxina botulínica A ou iontoforese Grave (HDSS = 3 ou 4) Passo 1: Cloreto de alumínio tópico a 20% mais injeção de onabotulinumtoxina A ou iontoforese: todos os três são considerados tratamento de primeira linha Todas as gravidades Passo 2 ou 3: Considerar anticolinérgicos orais isoladamente ou em combinação com as opções acima |
Fonte: McConaghy JR, Fosselman D. Hyperhidrosis: Management Options. Am Fam Physician. 2018 Jun 1;97(11):729-734. PMID: 30215934.
CONCLUSÃO
Em conclusão, a simpatectomia torácica endoscópica (STE) tem sido uma opção eficaz no tratamento da hiperidrose, uma condição que pode ter um impacto substancial na qualidade de vida dos pacientes. Este trabalho explorou os principais aspectos relacionados à STE como uma intervenção terapêutica para a hiperidrose, destacando seus benefícios, considerações cirúrgicas e complicações potenciais.
A STE demonstrou ser uma abordagem valiosa para pacientes que não obtiveram alívio suficiente por meio de tratamentos não cirúrgicos. Sua alta taxa de sucesso na redução da sudorese excessiva em áreas como as axilas, mãos e face, oferece esperança para aqueles que sofrem dessa condição debilitante. Além disso, a técnica minimamente invasiva da STE resulta em tempos de recuperação mais curtos e menos desconforto pós-operatório em comparação com procedimentos cirúrgicos tradicionais.
No entanto, é fundamental reconhecer que a simpatectomia torácica não está isenta de desafios e complicações potenciais, como a sudorese compensatória e riscos cirúrgicos. A avaliação cuidadosa dos candidatos a STE e a discussão completa dos riscos e benefícios com os pacientes são essenciais para tomar decisões informadas sobre o tratamento.
Além disso, a pesquisa e o desenvolvimento contínuos de alternativas não cirúrgicas, como a terapia com toxina botulínica e medicamentos orais, oferecem opções adicionais para pacientes que desejam evitar procedimentos invasivos ou para aqueles em que a STE não é a melhor escolha.
Em última análise, este estudo reforça a importância da abordagem individualizada no tratamento da hiperidrose, com base nas necessidades e preferências do paciente, bem como na avaliação rigorosa de riscos e benefícios. O objetivo final é proporcionar alívio duradouro da hiperidrose, melhorando a qualidade de vida dos pacientes e permitindo que eles vivam de forma mais confortável e confiante.
REFERÊNCIAS
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1Acadêmica de medicina da Universidade Tiradentes
Instituição: Universidade Tiradentes (UNIT)
2Mestrado profissional em Mestrado Profissional Associado à Residência Médica – MEPAREM pela Universidade Estadual Paulista (UNESP)
Instituição: Universidade Tiradentes (UNIT)