SIGNIFICADOS DA ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM NO PÓS-OPERATÓRIO ONCOLÓGICO

MEANINGS OF NURSING CARE IN THE ONCOLOGICAL POSTOPERATIVE PERIOD

REGISTRO DOI: 10.5281/zenodo.8040660


Alexander Alkimim Silva1, Irenice Juliana Gonçalves dos Santos1, Henrique Andrade Pereira2, Héllen Julliana Costa Diniz2, Rene Ferreira da Silva Junior2, Maria Clara Lélis Ramos Cardoso2, Anáira Gisser de Sousa Ribeiro2, Natália Gonçalves Ribeiro2, Nathália de Moura Figueiredo3, Rodrigo Marques Batista da Rocha2, Davila Dayane Martins Souza4, Carlos Antunes Dutra5, Eduardo Mendes Guimarães1, Cristiane Vieira da Silva2, Marlete Scremin6, Lucinei Santos Alves1


RESUMO

As vivências proporcionadas pela rotina de serviço no setor oncológico resultam em uma aprendizagem significativa para a equipe de enfermagem, visto que essas vivências atuam como modeladoras do comportamento profissional, pois, enfermeiros, que cuidam de pacientes com câncer, trazem crenças e convicções, que fazem parte de suas experiências de vida. Esta abordagem remete à problemática da subjetividade no significado da assistência de enfermagem ao paciente oncológico em pós-operatório. A partir dos dados coletados, da observação direta e de relatos verbais de profissionais de enfermagem, os indicadores foram examinados, com base em pressupostos teóricos do interacionismo simbólico e conteúdo referencial, o que permitiu reconhecer a transformação no cotidiano do profissional-paciente, após o início dos cuidados no pós-operatório, aproximando, assim, o paciente ao significado da assistência e aos processos do tratamento e propiciando a verificação da interação social do profissional de enfermagem.

Palavras-chave:Assistência de enfemagem. Câncer. Cirurgia. Pós-operatório.

ABSTRACT

The experiences offered by the service routine in oncology sector result in significant learning for the nursing staff , as these experiences act as shaping professional behavior because , nurses , who care for patients with cancer , bring beliefs and convictions , which make part of their life experiences . This approach leads to the problem of subjectivity in the meaning of nursing care to cancer patients in the postoperative period. From the collected data , direct observation and verbal reports of nurses , the indicators were examined , based on theoretical assumptions of symbolic interactionism and referential content, which allowed us to recognize the transformation in the daily professional -patient , after early postoperative care , thus approaching the patient the meaning of care and treatment processes and providing verification of social interaction nursing professional.

KeyWords:Nursing care. Cancer. Surgery. Postoperatively.

INTRODUÇÃO

Nas últimas décadas, com a adesão de novos métodos técnico-científicos, em especial diagnósticos, o tema oncologia tem ganhado um espaço significativo na medicina moderna, configurando-se como um evidente problema de saúde pública, visto que a estimativa para o desenvolvimento de câncer na população mundial, segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), para o ano de 2030 é de 27 milhões de novos casos, gerando 17 milhões de mortes e 75 milhões de portadores convivendo com a neoplasia, sendo notório o aumento de casos em países de baixa e média renda, o que acarreta aumento na necessidade de tratamento, a exemplo: quimioterapia, radioterapia, imunoterapia, terapias alternativas e cirurgias oncológicas (OPAS, 2020).

O tratamento cirúrgico do câncer foi a primeira modalidade de tratamento empregada no curso histórico das neoplasias, com intuito da retirada total do tumor ou da área delimitada, propiciando impacto tão positivo no tratamento do câncer que ainda é modalidade preferencial em adultos e crianças com neoplasias sujeitas a exérese. A aplicação das técnicas cirúrgicas no câncer em estado inicial tem finalidade curativa, entretanto o seu uso pode ser também para diagnóstico, profilaxia, paliação e reparação/reconstrução. Assim, o tratamento se dará por meio de uma equipe multiprofissional (OLIVEIRA; CRUZ; MATSUI, 2011).

A fase pós-operatória se divide em três períodos importantes, a saber: imediato, mediato e tardio. Assim, como nas demais fases da cirurgia, os profissionais que atuam no pós-operatório, tem que ter clareza dos procedimentos a que o paciente oncológico foi submetido, para entender os riscos mais comuns e mais graves a que esse está sujeito, essa filosofia de trabalho dinamiza as implementações, que identifica as principais ocorrências e programa as intervenções apropriadas (OLIVEIRA; CRUZ; MATSUI, 2011). No pós-operatório imediato, o paciente pode estar presente em uma das três unidades: sala de recuperação pós-anestésica, unidade de internação ou unidade de terapia intensiva. Já no período mediato, as ações se voltam para o preparo do paciente e dos familiares para a alta hospitalar, onde o paciente, caso tenha condições, ou seu cuidador, acompanhe um técnico de enfermagem nos procedimentos a serem realizados. Na fase pós-operatória tardia, o esclarecimento e a adaptação do paciente às demandas do cuidado estarão mais evidentes, no entanto alguns sinais ou sintomas podem aparecer, o que implica interação entre cuidador, paciente e serviços de saúde (OLIVEIRA; CRUZ; MATSUI, 2011).

Nesse sentido, o objetivo desse estudo foi compreender a assistência de enfermagem prestada ao paciente oncológico, em pós-operatório, entendendo o significado do tratamento, da experiência profissional e das relações sociais, entre a equipe de enfermagem e o paciente oncológico.

MÉTODOS

Trata-se de uma pesquisa de abordagem qualitativa com fundamentação teórica embasada no método do Interacionismo Simbólico, como suporte técnico-conceitual, sendo uma teoria onde o significado é o conceito central (PRODANOY; FREITAS, 2013).

O estudo foi desenvolvido em um hospital referência localizado em um município no Norte de Minas Gerais, Brasil. Essa instituição possui Unidade de Assistência de Alta Complexidade em Terapia Nutricional e Oncologia (UNACON I), composta de serviços de Quimioterapia, Radioterapia e Cirurgia Oncológica.

Os participantes da pesquisa foram profissionais da equipe de enfermagem do setor oncológico e clínica cirúrgica que trabalhavam no hospital. Todos aceitaram participar da pesquisa assinando o Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE). Foram realizadas visitas, previamente agendadas, à equipe de enfermagem, que aconteceram no turno matutino, vespertino e noturno, a fim de que todos, com interesse em participar da pesquisa, tivessem oportunidade. Os entrevistados foram convidados a se dirigirem a uma sala para o início das entrevistas, com duração média de 30 minutos. Ao final, as falas foram transcritas, na íntegra, para melhor análise e interpretação, com o objetivo de assegurar a autenticidade de todas as informações fornecidas.

Os participantes foram selecionados por meio de amostragem por conveniencia. Foi utilizado roteiro semiestruturado com 3 perguntas, a saber: 1) Como é tratar de um paciente com câncer em pós-operatório? 2) Que procedimentos de enfermagem são específicos no cuidado de um paciente com câncer no pós-operatório? 3) Como é a sua relação com os pacientes oncológicos em pós-operatório?

Foi utilizada a técnica de análise de conteúdo, que permitiu compreender a construção de significados que os entrevistados expressam no discurso. Esse método foi composto por três fases: a pré-análise, em que foi organizado todo o material, já com a identificação dos participantes pela letra E (de enfermagem) e numeração arábica, que determinou a sequência das entrevistas de acordo com os objetivos da pesquisa. Na segunda etapa, o material já constituía uma estrutura da pesquisa, em que se buscou sínteses de ideias que coincidiam ou não, para a montagem do trabalho, sendo feitos recortes de frases e expressões que respondiam ao objetivo da pesquisa. A última fase, de análise propriamente dita, foi reservada para a interpretação dos dados (MENDES; MISKULIN, 2017).

Para avaliação das entrevistas, as etapas da análise de conteúdo temático foram seguidas. Inicialmente, procedeu-se à etapa de pré-análise, que compreende leituras sucessivas das transcrições para identificação de similaridades e divergências entre as falas, para sua categorização. Foi realizada a exploração do material, com criação de títulos para as categorias emergentes; e, posteriormente, o tratamento dos resultados, que permite confrontar os achados com a literatura científica (MENDES; MISKULIN, 2017). Desta forma, foram constituídas três categorias conceituais e nove subcategorias baseadas nos princípios do interacionismo simbólico (Figura 1). O estudo foi aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da Soebras, com parecer consubstanciado nº 633.361.

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Caracterização dos participantes

Foram entrevistados 12 indivíduos, dentre os quais quatro homens e oito mulheres com idades variando entre 24 e 39 anos, observando-se que todos os participantes da pesquisa apresentavam uma média de 29 anos de idade. Quanto à procedência, todos os indivíduos residem na região Norte de Minas Gerais e são moradores da zona urbana. A maioria se considera parda ou branca (91,6%) e a minoria negra (8,3%). Todos os entrevistados concluíram o ensino médio, exercem a profissão de enfermeiros e estão trabalhando atualmente, trabalham na área de oncologia a mais ou menos três anos e recebem de um a dois salários mínimos (99,9%). A maioria se considera católica, (66,6 %) e a minoria se divide entre protestantes (24,9 %) e espíritas (8,3%).

Figura 1: Categorias conceituais e subcategorias do significado da assistência de enfermagem no pós-operatório de cirurgias oncológicas.

O Interacionismo Simbólico tem sido utilizado com frequência na enfermagem, obtendo bons resultados por se tratar de uma teoria em que o significado é o conceito central, uma vez que as ações individuais e coletivas são construídas a partir da interação entre os seres, levando às atividades interpretativas, determinadas pela situação e interação entre os indivíduos (LOPES; JORGE, 2005).

Nos últimos anos, a cirurgia oncológica propiciou um impacto tão positivo no tratamento que ainda é modalidade preferencial em adultos e crianças com neoplasias sujeitas a exérese (OLIVEIRA; CRUZ; MATSUI, 2011).

Categoria 1 – Significado do tratar no pós-operatório:

Subcategoria1A-“dedicaréterresponsabilidade…

Em um sentido geral, o tratar de um paciente com câncer no pós-operatório envolve o cuidado sensível, humanizado e atencioso, que extrapola o sentido da palavra “tratar” na abordagem médica.

E5: “É o ato de cuidar do paciente da melhor forma possível, saber se colocar nolugarde quem estáaqui,pratermaishumanidade aocuidar”.

E4:(…) dedicar é ter responsabilidade naquilo que faz, tratar bem, ter carinho, daratenção, principalmente na parte psicológica. O paciente já esta abalado você temque tentarfazeromáximo quevocê pode”

E10: “(…)écuidar, éajudaro paciente,tratarbemdopaciente”.

Como qualquer outra doença crônico-degenerativa, o câncer deve ser tratado com os métodos mais efetivos e que ofereçam, ao mesmo tempo, os menores efeitos colaterais possíveis. Cirurgia, radioterapia e quimioterapia são as modalidades principais no tratamento do câncer (LOPES; IYEYASU; CASTRO, 2008).

A relação paciente-profissional é cercada de momentos em que se privilegiam o trabalho com os sentimentos, como aqueles momentos em que o profissional de enfermagem conforta o paciente e lhe transmite esperança. Nessas oportunidades o profissional de enfermagem acaba por desenvolver uma relação de segurança e confiança, colaborando com a recuperação pós-cirúrgica.

E6: “No meu caso, gosto muito de brincar com os pacientes. Eles já estão comaqueladoença.Cânceréumadoençamuitograve,entãoelesficammuitodeprimidos, se nós já entramos com um sorriso, um bom dia, mais alegres, até osalegra mais”.

E9: “(…) confortar tanto o paciente como a família, sempre dando muito amor,carinho,sempredizendopalavrasdeforça,paranãodesistirdavidaporquesimplesmenteperdeuummembrode seu corpo(…)”.

Nesse aspecto, o paciente com câncer em estágio avançado apresenta várias manifestações, responsáveis pelo sofrimento e perda da qualidade de vida e para que sejam tratadas, é necessário uma avaliação detalhada dos aspectos físicos, culturais, emocionais, espirituais, sociais e econômicos (SILVA et al., 2012).

Subcategoria1B:“muitocomplicado…”

Cuidar de um paciente com câncer no pós-operatório é na maioria das vezes definido como complicado e complexo, devido ao estado de fragilidade propiciado pela doença de base e pela delicada recuperação da cirurgia oncológica. No contexto de enfermagem, o tratar envolve o real manejo do cuidado em seus vários segmentos psicológicos, burocráticos e assistenciais.

E3:“Muitocomplicado!Porquealémdeserumpacientequerequercuidadoredobrado,pelofatode serum paciente jácom diagnósticode câncer,ele vemaindade uma cirurgiade umpós-operatório,entãorequer muito cuidado”.

E6:“(…) ai é muito complicado sim, ai agente tenta passar a melhor confiança”.

E7:“Ébastantecomplicado,porqueopacientecomcâncertemosistemaimunológicobastantedeficiente,sãopacientesimunossuprimidos,elesexigemumaatenção maior, um cuidadomaior”.

Os cuidados de enfermagem realizados em pacientes submetidos à cirurgias oncológicas passarão por toda a assistência perioperatória geral, juntamente com os cuidados específicos relacionados à idade, à distúrbios de coagulação, à imunidade alterada, à déficits nutricionais e ao comprometimento orgânico, que podem aumentar os riscos de complicações pós-operatórias, como: infecção, cicatrização prejudicada da ferida, função pulmonar ou renal alterada e o desenvolvimento da trombose de veias profundas (SMELTZER etal., 2008).

A percepção do tratar também envolve características especificas de cada cuidador, particularidades e especificidades que definem o perfil da assistência prestada ao paciente.

E7:“Tratardeumpacientes empós-operatóriopedenãoquestõestécnicas,conceituais, porque é um paciente que tem que privar um pouco mais que outrospacientes, mas ter embasamento teórico, ter embasamento científico, ter protocolosbem definidos e também tem essa perspectiva psicológica, que mexe bastante com ocuidar”.

E7:“Envolve não só essa parte da enfermagem que é de executar e de realizarmedicações,mastambémdeimplementarcuidadosespecíficosdeenfermagemquea própriaSAEdefine,”.

Categoria 2- Experiências adquiridas com os procedimentos de enfermagem:Subcategoria2A:temprocedimentosque estão correlacionadoscomadoençadebase

A assistência de enfermagem prestada ao paciente oncológico em pós-operatório advém de cuidados pré-estabelecidos e protocolados pelas instituições de referência, sendo embasados em literatura científica, comprovando sua devida eficiência.

E12:“Eledescedobloco,agentevaifazerumaadmissãodopacientecomoseeletivessechegandonaclínica(…)”.

E7:“Alémdoscuidadosbásicos,dehigiene,cuidadoscomaprópriaferidacirúrgica,temprocedimentosqueestãocorrelacionadoscoma doençadebase”.

E1:Oh, a gente aqui na instituição tem o prazo certo pra fazer o curativo. Opaciente no pós-operatório fica de 24 à 48 horas com o curativo, só que quandotemalgumasujidadea gentetemquelimpar,quandotemumasujidademuitogrande”.

E2:(…) observações dos drenos, o estado de consciência do paciente, medicaçãoprescrita,exemplo:morfina,antibiótico,cuidadocomincisãocirúrgica,sangramento e curativos”.

O sucesso da cirurgia oncológica advém de cuidados específicos, tais como: incisão cirúrgica ampla e adequada, proteção da ferida operatória com campos secundários, realização de inventário minucioso de cavidades, laqueação das veias antes das artérias, dissecação centrípeta da peça operatória, isolamento do tumor com compressas, manuseio cuidadoso da área afetada, cuidados para não se cortar o tecido tumoral, remoção tumoral com margem de segurança, resecção em bloco do tumor primário e das cadeias linfáticas, quando indicada, troca de luvas, de campos operatórios e de instrumental cirúrgico, após o tempo de ressecção tumoral e marcação com clipes metálicos, sempre que necessário, para orientar o campo de radioterapia pós-operatório (BRASIL, 2008).

Subcategoria 2B:perdeu aspernas, perdeuos braçoseestá aí,sorrindo…”

As vivências proporcionadas pela rotina de serviço no setor oncológico resultam em uma aprendizagem significativa para a equipe de enfermagem, visto que essas vivências atuam como modeladoras do comportamento profissional.

E12: “Agente passa para o paciente que perdeu a mama, por exemplo, a gente fala:tem paciente que perdeu as pernas, os braços e está ai sorrindo, está vivendo. Agentepassa históriasde outrospacientes, para passarsegurança para eles”.

E2:“(…)tiveumcasofamiliarbempróximo.Diadasmães,minhamãefaleceuaqui e eu cuidei dela, uma neoplasia uterina, mas o emocional de um lado e oprofissional do outro, porque eu tive essa frieza de profissionalismo. Se eu faço prosoutros porque eu não faço para minha mãe? Tanto ela ficou confortada quanto eutambém”.

E1:“(…) eles se preocupam com a mãe, eles não se preocupam com eles. A maioriados pacientes pediátricos faz desenho da mãe chorando, como vão ficar se a mãeficartriste,não é como elesvãoficar,elesse preocupamcomosfamiliares”.

Além disso, enfermeiros, que cuidam de pacientes com câncer, trazem suas crenças e convicções, que fazem parte de suas experiências de vida. Através delas, percebem a si mesmos e aos outros. (SILVA et al., 2012).

Categoria 3 – As relações interpessoaisSubcategoria

3A“tentarpassaresperançapraele..”

As relações interpessoais são pontos importantes na qualidade de vida das pessoas, por quanto a conquista de uma vida harmônica depende de se obter compreensão e respeito pelas limitações dos indivíduos acometidos por doença terminal. Destarte, a harmonia na convivência familiar e com os amigos, a possibilidade de se conhecer melhor e de trocar informações, são importantes para a qualidade de vida do paciente oncológico submetido à cirurgia oncológica.

A equipe de enfermagem percebe a religião como um meio de suporte e sustento fundamental no momento do tratamento. A espiritualidade está presente na ciência, visto que os profissionais falam de Deus como uma forma de fortalecimento e auxílio no enfrentamento da doença, ao mesmo tempo procuram não se relacionar diretamente com os pacientes, para evitar um possível sofrimento com a ausência do mesmo, devido ao prognóstico imprevisível. Isso resulta em um profissionalismo dinâmico e imparcial não deixando transparecer seu emocional e ao tempo transmitindo confiança e esperança ao paciente.

E5“Euparticularmente tratoopaciente,como se ele tivesse um estadogeralcomum, como se aquilo fosse algo comum de acontecer, até porque se agente trataro paciente: Estou com dó de você! Pena de você! a própria pessoal se sente assim,abalada. Procuronão me envolverno ladoemocionaldopaciente”.

E7: “agente tem que oferecer o máximo de suporte emocional, mesmo não sendoprofissionaldepsicologia,masnamedidadopossívelagentetentapassaresperança praele”.

E4: “faço o máximo que eu posso para estar do lado e atender o atendimento deles.Me sinto abalada as vezes, as vezes quando chego na minha casa fico muito triste,sem saber se quando eu voltar no outro dia vou encontrar o paciente aqui, mas emcompensação, o que eu puder falar das coisas de Deus, que ele a cada dia maistenha fé epaciência, verquaissão osplanosde Deusnavida de cada um”.

E8:“agentetrabalhacomaespiritualidade,temososencontrostantodeevangélicosquantode católicos e comoqualqueroutrareligião”.

O enfermeiro é um intercessor social que significa o fenômeno das interações interpessoais na ação de cuidar do paciente no espaço oncológico por meio da intersubjetividade, utilizando seu nível de conhecimento científico (COSTA; RODRIGUES; PACHECO, 2012).

A fé é uma fonte de energia, uma força que nos impulsiona no dia a dia. A força proporcionada pela fé capacita e concede ao paciente uma nova perspectiva, transmitindo esperança, amor e buscando em Deus serenidade e conforto, fundamentais no apoio ao enfrentamento das situações difíceis no decorrer do tratamento. Segundo o autor, a fé pode

contribuir para que o paciente enfrente o tratamento médico de forma mais serena, com maior compreensão e clareza de vida (TEIXEIRA, LEFÈVRE, 2006).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Buscou-se nesse estudo, compreender a assistência de enfermagem prestada ao paciente oncológico submetido à cirurgia, descrever o cotidiano intra-hospitalar dos profissionais de enfermagem, avaliar se os entrevistados perceberam a real importância da assistência de enfermagem nos âmbitos gerenciais, técnicos, e entender as relações interpessoais da equipe de enfermagem com o paciente oncológico.

Percebeu-se que os profissionais de enfermagem que lidam com o paciente oncológico apresentam uma metodologia de trabalho bastante peculiar, visto que são profissionais que caracterizam o cuidado como bastante complexo, delicado e humanizado. A demanda de serviço exige desses profissionais uma agilidade e nível de conhecimento técnico e científico diferenciados, uma visão de previsibilidade bastante aguçada e um preparo psicológico que dê conta de resignificar as suas visões de vida e morte e esclarecer as principais dúvidas dos pacientes. em relação ao processo saúde-doença.

Compreende-se que, mesmo não se relacionando diretamente com os pacientes, buscando evitar sofrimento devido a imprevisibilidade do prognóstico, o profissional de enfermagem busca fazer da estadia do paciente no hospital o mais humanizada possível, através de uma observação mais atenta e de um cuidar mais individualizado. Isso resulta em um profissionalismo dinâmico e imparcial não deixando transparecer o seu emocional e ao tempo transmitindo confiança e esperança ao paciente.

A interação entre o paciente e o enfermeiro, surge no desenvolver de comunicações estabelecidas no decorrer de todo o tratamento de enfermagem no pós-operatório, elo fundamental para a interação empenhada na descoberta de novos valores e símbolos permitindo a ressignificação de todo processo saúde – doença.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Ministério da Saúde. Estimativa 2012: incidência de câncer no Brasil. Instituto Nacional de Câncer José Alencar Gomes da Silva. Rio de Janeiro: Inca, 2011.

BRASIL. Ministério da Saúde. Instituto Nacional do câncer. Ações de enfermagem para ocontrole do câncer: uma proposta de integração ensino-serviço. 3 ed., Rev. Atual. Ampl, Rio de Janeiro: Inca, 2008.

LOPES, A.; IYEYASU, H.; CASTRO, R.M. Oncologia para aGraduação. 2 ed., São Paulo: Tecmedd, 2008.

LOPES, C.H.A.F.; JORGE, M.S.B. Revista Escola deEnfermagem. v. 37, n. 1, p.103-108, 2005.

MENDES, R.M.; MISKULIN, R.G.S. A análise de conteúdo como uma metodologia. Cad. Pesqui. v.47, n.165, p.,1044-1066, 2017.

ORGANIZACAO PANAMERICANDA DE SAÚDE. Folha informativa atualizada em outubro de 2020. Disponível em: https://www.paho.org/pt/topicos/cancer

OLIVEIRA, S.C.; CRUZ, S.C.G.R.; MATSUI, T. Curso de especialização profissional de nível técnico em enfermagem-livro doaluno:oncologia. São Paulo: FUNDAP, 2011.

PRODANOV, C.C.; FREITAS, E.C. Metodologia do trabalhocientifico: métodos e técnicas da pesquisa e do trabalho acadêmico. 2 ed., Novo Hamburgo: Feevale, 2013.

SILVA, J.T et al. Prática profissional de enfermeiras que cuidam de pacientes com câncer em hospitais gerais. Revista Bras Enferm. v. 65, n. 3, p. . 460-465, 2012.

SMELTZER, S.C et al. Brunner & Suddarth, Tratado de enfermagem medico-cirúrgica. 11 ed., Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2008.

TEIXEIRA, J.V.; LEFÈVRE, F. Religiosidade no trabalho das enfermeiras da área oncológica: significado na ótica do discurso do sujeito coletivo. RevistaBrasileiradeCancerologia. v. 57, n. 2, p. 159-166, 2007.


1Faculdades Unidas do Norte de Minas Gerais.

2Universidade Estadual de Montes Claros.

3Universidade Federal de Minas Gerais.

4Faculdade de Saúde e Humanidades Ibituruna.

5Universidade Presidente Antônio Carlos.

6Instituto Federal de Santa Catarina.